Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 10
X.




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O dia seguinte foi uma quente manhã de sexta-feira. Junípero Serra estava agitada pela animação de seus alunos com a chegada tão esperada do final de semana, além da tão prometida festa de Asher.

Alex chegou na sala como quem acabou de sair do túmulo. Suas pálpebras mal se abriam e no primeiro deslize ele cochilou.

Sua noite havia sido movimentada pelo lançamento repentino de um jogo que ele havia esperado muito e sem perceber jogou até o amanhecer.

Mas ele não se arrependia e a cada bocejo um sorriso de satisfação cobria-lhe o rosto. 

Seus amigos​ estavam tão eufóricos com a festa do dia seguinte que sequer o notaram e o dia passou rápido.

Quando voltou para casa Alex resmungou ao abrir a porta de seu quarto, lembrando-se de biologia. Mas quando seus olhos percorreram o cômodo vazio a realidade caiu como um balde de água fria sobre sua cabeça.

Hoje Arabella não lhe daria aulas. 

O conhecimento desse fato o fez sentir-se desanimado e num movimento rápido ele jogou a bolsa sobre a poltrona, prosseguindo com seu ritual. 

Mas ao invés de lançar-se na cama, ele caminhou lenta e pacientemente até ela, esquadrilhando todos os lugares a procura da cabeleira negra da garota.

— Hoje ela não vem – repetiu em alto e bom som para si mesmo.

Sua voz ecoou vagamente no quarto enquanto o corpo do mesmo desabava na cama, cansado e triste.

Alex respirou fundo antes de acomodar-se no colchão, ainda com sua roupa da escola, e ouviu antes de adormecer a voz de Arabella lhe dando boas vindas.

 

•••

 

Arabella, sentada no sofá de seu apartamento, mudou de câmera pela terceira vez observando Alex cair lentamente no sono. Ao seu lado jazia uma caixa quase vazia de suco e um prato preenchido apenas com farelo de pão.

Em seu colo se encontrava um laptop no qual a garota passava rápida por diversos arquivos, dentre eles, a ficha escolar de Alex em conjunto com as diversas advertências que ele recebera de professores e que nunca chegaram as mãos de sua mãe.

Arabella, ao passar pelo último documento, soltou um longo suspiro de alívio por terminar seu trabalho. Estava, desde que acordara, coletando dados escolares do garoto para pôr em prática mais um plano.

Seus olhos pousaram uma última vez sobre a televisão e um sorriso de canto surgiu em seu rosto. Olhá-lo dormir havia se tornado algo normal para a mesma nos últimos dias, tanto quanto estudar biologia.

Com esses pensamentos seus olhos desceram da televisão para uma pilha de livros sobre a mesa de centro da sala e ela fez um muxoxo. Tirando com cuidado o laptop do colo e pondo-o de lado, ela levantou.

Alongou-se, pôs o prato na pia, jogou a caixa de suco fora e tomou um longo banho. Após trocar de roupa e pentear os complicados e longos cabelos ela sentou no chão e se apoiou na mesa no meio da sala.

— Só faltam vocês – disse num desafio para os livros.

Durante toda a tarde ela estudou a matéria anotando tudo que lhe parecia importante, inclusive o quanto Alex odiaria determinado assunto, assim como adoraria outros. Ao notar que fazia tais observações ela riu sozinha.

Aquele garoto estava sempre presente, no que quer que o ela estivesse fazendo, e mesmo sabendo que era por causa de sua missão de monitora-lo, algo parecia fora do lugar. Como se pensar sobre ele não fosse obrigação.

Ela correu seu olhar para a televisão, mas esta, desligada, lhe fez suspirar. Alex era uma parte sua há muito tempo enterrada que parecia voltar a todo pensamento sobre ele.

Encarando o caderno a sua frente e os últimos livros ela sorriu. A ideia de que Alex pudesse realmente estar se infiltrando na empresa que havia lhe contratado parecia simplesmente surreal.

O que houve para ele se tornar suspeito? Quais provas a empresa tinha sobre isso?

Os questionamentos foram se formando um sobre o outro em sua cabeça até o sorriso do garoto lhe interromper os devaneios. Ela suspirou mais uma vez e fechou o caderno na sua frente. 

Estava na hora de se aprofundar ainda mais na história de Alex, além da parte sobre biologia.

Arabella organizou sua pequena bagunça e caminhou, agora com um copo de café, até a grande janela de seu apartamento. Com os olhos fixos na parte de baixo da paisagem ela admirou as pessoas que passavam agasalhadas, de um lado para o outro, pela rua.

Tomando um longo gole do líquido ela engatou uma pesquisa rápida pela pilha de papéis que lhe foi fornecida para o caso Alex, e lá ela encontrou uma pasta azulada com o logotipo​ de sua organização.

— Hora da verdade – sussurrou pondo os outros papéis no lugar.

Arabella seguiu determinada até o sofá e sentando abriu a pasta. Os primeiros arquivos falavam exatamente o que ela havia acabado de avaliar pelo laptop, mas os segundos eram completamente diferentes. 

Eram recortes de jornais de anos atrás que ressaltavam notícias sobre grandes descobertas de um professor.

Ela leu, atenta as entrelinhas, o artigo completo. O homem engajado na descoberta, era Alexandre Martin, pai do garoto.

Seus olhos saltaram ao notar a semelhança entre eles e suas mãos, curiosas, passaram para o próximo documento. Havia pensado em examinar eles com cuidado quando tivesse certeza de que possuía uma boa relação com o garoto e sua família, mas aquela descoberta mudava todo o rumo de seu plano.

O resto da tarde ela passou lendo os artigos de jornais e ressalvas de seu contratante. Alexandre, pai de Alex, havia feito uma descoberta histórica que prejudicaria muitas pessoas, inclusive uma grande rede de empresas. Sabendo disso e deixando bastante implícito nos documentos, a empresa que a contratou o matou, afim de silenciar o caso.

Haviam diversos artigos pequenos sobre a morte do homem, mas nenhum de relevância, deixando assim sua morte passar despercebida. Arabella sabia muito bem que as empresas costumavam silenciar tudo aquilo que os ameaçasse, e o pai de Alex, infelizmente, havia sido mais um.

No último papel da pasta se encontrava uma ficha com todas as informações sobre Alex, incluindo peso e altura, além do nome de seus familiares. O nome Alexandre estava circulado com caneta vermelha e mais embaixo, como que confirmando o pensamento da garota, a grande questão da sua missão.

Estaria Alex tentando se infiltrar para roubar a descoberta do próprio pai para vingar sua morte?

Arabella juntou todos os papéis de volta a pasta e o lançou sobre o sofá, tomando o último gole do café já frio. Todas as informações pareciam dançar em seus pensamentos e ela encarava aturdida a televisão desligada na sua sala.

Ela teria que começar a investiga-lo rápido, porque se fosse verdade, o seu destino poderia já estar traçado. 

Arabella ligou a televisão no piloto automático e ao ver a cena a sua frente, sentiu o coração apertar.

Alex jazia sentado no meio do seu quarto lendo um de seus livros de biologia com uma expressão de confusão. 

Ele estava se esforçando nos estudos influenciado por ela, mas tudo que ela podia fazer era espiona-lo, afinal, aquilo era tudo que foi ensinada a fazer.

— Me perdoa Alex – sussurrou encarando a imagem – eu não sou merecedora.

Foi a primeira vez que ela, sem estar dentro de qualquer personagem, teve o sentimento de culpa.

Não sabia o que estava acontecendo consigo, havia enganado e machucado tantas pessoas, mas por que aquele jovem a fazia se sentir tão podre?

Alex tinha um futuro pela frente e podia, a qualquer momento, morrer pelas mãos de humanos egoístas. Que usariam as mãos dela para isso. O olhar de Arabella caiu sobre suas mãos e ela as fechou em punhos.

Todos os seus alvos anteriores eram pessoas terríveis, que se encontravam enroscados nas atrocidades daquele mundo. Mas ele não, ele era diferente.

— Eu vou descobrir a verdade – falou para o garoto dentro da televisão – e vou ajudar você.


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Notas finais do capítulo

Ai como eu adoro a nossa menina ~



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