Humanidade: A Queda escrita por Daniel A Soares


Capítulo 15
(Parte II) Capítulo 6 - Pássaros


Notas iniciais do capítulo

Aaaaah :/ Já estamos no penúltimo capítulo, acho que até o próximo sábado eu finalizo a história para vocês. Está sendo ótimo postar essa história aqui e receber esse retorno, fico feliz que tenham gostado dessa história que fiz com tanto carinho para um amigo que não gostava muito de ler. Não recebi nenhum comentário no último, queria saber o que acharam da mudança do Daniel, mas estou aqui fazendo outro capítulo que está mais matador, fiquem atentos e até as notas finais.



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Capítulo 6 — Pássaros

Várias pessoas estavam sobrevivendo juntas em um grande condomínio fechado, o condomínio localizado no bairro do Renascença, agora abrigava várias famílias que tinham sobrevivido aos últimos acontecimentos, entre os sobreviventes dali, menos de 20% eram sobreviventes do próprio condomínio.

O dia estava bem quente, nada que não fosse comum na cidade de São Luís, tudo parecia normal até uma revoada de pássaros barulhentos passarem pelo céu, eram variados tipos de pássaros e não pareciam seguir uma formação coerente. Lógico que ninguém se ateve muito aos fatos, talvez se alguém com mais conhecimento acerca das aves estivesse ali, eles poderiam ter notado que algo estava terrivelmente errado, mais errado do que quando os mortos começaram a levantar e tentar devorar outros seres humanos. Então, naquele dia ninguém parecia prestar atenção a nada, todos estavam tranquilos em sua bolha de segurança, algumas crianças brincavam na piscina, enquanto outras brincavam de esconde-esconde.

— Carlinha. — um garotinho de 9 anos se aproximou de uma moita e viu um belo passarinho de costas para si bicando algo. — Um passarinho! Vem cá passarinho.

O garotinho começou a se aproximar, quando o pássaro virou e ele pode constatar duas coisas terríveis: a primeira delas era que o pássaro estava bicando um olho humano, e a segunda era que duas órbitas vazias e brancas adornavam a face do animal. O garoto gritou e uma revoada de pássaros saíram da moita atacando o garoto, com bicadas que arrancavam grandes pedaços de pele. O garotinho sabia que nunca tinha sentido dor igual, nem mesmo quando sua avó tinha batido nele com cipó de goiaba, ou quando ele caiu da bicicleta em uma rua cheia de pedras. Seu corpo doía em partes que ele nem sabia que existia, ele correu para buscar ajuda, mas assim que saiu da área arborizada do condomínio viu algo assustador, pessoas corriam sendo despedaçadas, a piscina agora estava cheia de sangue e corpos humanos boiando, ele parou sentindo-se perdido, ouvia gritos, tiros, pancadas e ele não tinha mais forças para correr, caiu de frente e cobriu a cabeça com os braços enquanto bicos como agulhas perfuravam sua roupa, pele, ossos e órgãos e ele finalmente iria entender o que era a morte, entretanto apenas uma última coisa passou pela sua mente e ele a disse antes que tudo se apagasse.

— Espero que a Carlinha tenha se escondido muito bem.

°°°°

— Ele parece bem. Você tem certeza que não tem mais nenhum monstro dentro dele querida? — acenei para a garotinha confirmando que ela poderia falar.

— Você tirou todos mamãe. — ela parecia contente apesar de tudo, agora a gente tinha companhia.

— Ele vai ficar bem. — segurei o ombro de Milena e a mesma me puxou para um abraço.

— Desculpa. — ela disse chorando no meu ombro.

— Tudo bem. Eu entendo sua dor, todos entendemos. — fiz um sinal e a garotinha também abraçou Milena que deu um sorriso em meio ao choro. — Logo ele vai melhorar e vocês poderão seguir viagem.

— É esse o problema, nós não sabemos pra onde ir. — Milena respirou pra controlar o choro. — Nos perdemos dos nossos amigos. Eles nem devem saber que a gente sobreviveu ao desabamento da delegacia.

— Ah. — foi o que consegui dizer.

Não me julguem, eu estava ali sobrevivendo bem, apenas eu e minha criança, iria dar um jeito sozinha de tirar ela dali, não passava pela minha mente a idéia de acrescentar mais gente ao nosso mini grupo de sobreviventes. Parte de mim queria poder ajudar, mas o instinto de sobrevivência gritava em minha mente.

Iria falar algo quando um barulho alto de pássaros atraiu minha atenção. Concentrei minha audição e percebi se tratar de vários tipos de pássaros juntos, abri os olhos e me deparei com a criança assustada olhando para o alto como se pudesse enxergar através do teto e quando ela levantou um dedo trêmulo eu entendi o que era.

— Se escondam rápido, saiam de perto das portas e JANELAS. — tive que começar a gritar, o barulho ficava cada vez mais intenso. — RÁPIDO.

°°°°

Já faz muito tempo desde a última vez que Daniel apareceu, acho que finalmente consegui apagar ele dentro dessa mente. Estou começando a adquirir pleno conhecimento de tudo, é incrível como tudo fica cada vez mais claro. Me livrei de um problema, mas ainda tenho outro para lidar, eu sou a evolução e ninguém vai me parar.

°°°°

Thais sabia que era um plano arriscado, mas infelizmente não podia fazer mais nada para ajudar. Nos últimos dias, ela tivera notícias de dois locais de sobreviventes que tinham sofrido o ataque dos pássaros e tinha ouvido de pelo menos mais três ataques. Todos fatais, dos cinco locais com sobreviventes atacados, somente três pessoas tinham escapado com vida e uma delas morreu posteriormente devido a infecção causada pelos ferimentos sofridos.

O céu em breve ficaria negro com aquela praga, milhares de pássaros, sedentos de carne e sangue em breve chegariam ali.

— O que você acha Ale? — Thais sentia uma segurança e espírito de liderança vindo de seu amigo.

— Acho que não temos escolha. Podemos ficar de braços cruzados e morrer da forma mais dolorosa possível ou podemos lutar e mostrar que não temos medo de um bando de pássaros mortos-vivos. Qual é gente? A humanidade já passou por tanta coisa. Admito que ultimamente as coisas chegaram a um nível alarmante, mas não é por isso que iremos desistir. Somos humanos, sabemos sobreviver e mesmo que demore anos para evoluirmos, nós podemos nos adaptar assim como nossos ancestrais.

— Iniciaremos os preparativos então. Podem organizar as equipes, iremos pôr o plano em prática, estamos sem tempo.

°°°°

— Ela está infectada né? — o homem perguntou sem receber uma resposta — Doutor! Você condenou várias pessoas no aeroporto por estarem infectados e prestes a virar zumbis. A sua filha agora está infectada, o que você vai fazer?

— Ela... não...

— Vai começar a mentir agora Doutor? Achei que os médicos faziam algum tipo de juramento para salvar vidas. Manter um zumbi conosco só vai acabar com tudo. — o homem de repente para ao sentir sangue escorrer do seu nariz. — Que merda é essa?

— Todos estamos infectados.

O doutor pegou a arma do homem e o mesmo caiu, quando Rebeca em um rápido movimento quebrou o pescoço dele. O doutor olhou para sua filha, não havia medo, era mais como se ele tivesse cansado de tudo.

— Ele iria nos matar Papai. — Rebeca choramingou ao ver que tinha se deixado levar. — Eu tô ficando igual ao Dani né? — a garota abaixou a cabeça e chorou mais enquanto o pai a envolvia em um abraço.

°°°°

Milena tinha saído da casa, só então tinha se tocado que estava no bairro do Sá Viana. Olhou bem e viu que os pássaros seguiam em direção ao centro da cidade, por sorte eles não demoraram muito ali no bairro, mas algo interessante iria ocorrer no lugar para onde eles se encaminhavam. Voltou e contou tudo aos outros que estavam dentro da casa, Pedro já se encontrava acordado, mantinha uma expressão de força, mas seu rosto pálido e olhos fundos indicavam o contrário.

— Precisamos ir para a direção contrária. Talvez possamos encontrar um grupo de sobreviventes. — a anfitriã deles falou preocupada.

— Ouvi dizer que tem um grupo de sobreviventes em Barreirinhas. — Pedro comentou.

— Ótimo. — Milena comentou e fez um sinal para a mulher que os tinha recebido e a mesma foi com ela para fora.

A garotinha foi conversar com Pedro, mesmo correndo risco de levar bronca. Do lado de fora Milena estava nervosa, precisou respirar fundo algumas vezes e quando falou não conseguiu evitar uma pergunta inicial.

— Qual seu nome?

— Porque isso agora?

— Eu preciso confiar em você para o que vou fazer agora.

— Pode me chamar de Daysa. — ela falou meio desconfiada. — O que pretende fazer?

— Eu vou para o centro da cidade.

— Você é louca? — Daysa nem disfarçou seu estupor.

— Eu preciso encontrar meus outros amigos. Naquela direção fica uma base do exército que acreditávamos estar ocupada por sobreviventes. Se eles estiverem lá estão correndo risco e eu queria tentar chegar antes e poder ajudar.

— E como você... Ah esquece. O que você quer que eu faça? Seu amigo aleijado como fica?

— Eu queria que levasse ele até Barreirinhas. Até que eu volte com nossos amigos. Provavelmente a gente vai se encontrar no meio do caminho.

Daysa não conseguiu esconder uma expressão insatisfeita, já não bastava ter que cuidar de uma criança, agora tinha um doente para cuidar. A vida realmente tinha péssimas surpresas e adorava pregar peças.

— Se for mesmo acho melhor não demorar. Aqueles bichos não vão demorar a chegar no destino deles. Vou inventar algo.

— Você pode ser sincera com eles. Eu disse ao Pedro que iria em busca dos nossos amigos e avisei que infelizmente ele só iria atrapalhar. — Milena falou com certo pesar na voz. — Bom é melhor eu ir logo. Espero reencontrar vocês.

Se despediram com um rápido abraço, logo em seguida Milena correu, precisava encontrar uma moto.

°°°°

O doutor olhou para Rebeca que estava deitada, parecia um anjinho dormindo, mas carregava algo terrível dentro de si. Ele sabia exatamente o que devia fazer, suspirou frustrado e tirou um pequeno rádio que ele tinha escondido em uma prateleira do porão em que estava. Ativou o rádio e assim que o sinal foi emitido ele falou a frase que tinha adiado por tempo demais.

— Estou pronto. Pode vir.

°°°°

Me aproximo lentamente da base militar, meu exército de pássaros segue atrás de mim, formando uma nuvem negra, barulhenta e sangrenta. Posso sentir uma sensação esquisita percorrer meu corpo, é uma sensação que posso classificar como sendo boa. Não que eu saiba identificar uma sensação boa. Lembro que mais tarde preciso ir no centro da cidade em busca de Clicia, preciso me livrar de algumas pessoas ainda. Mais primeiro vem a prioridade: Luís Arthur. O único ser humano que representa alguma ameaça para mim, o único que eu realmente desejo matar mais que tudo, o ser humano que meu hospedeiro teme.

Avisto a base do exército, parece reforçada, tem carros tombados à frente, tudo se encontra fechado, me permito sorrir, mesmo que seja uma atitude sem sentido para mim e mando minha primeira horda de zumbis para abrir caminho. Se as informações estiverem certas, o grupo de sobreviventes dali era forte e eu teria um dia bem interessante.

°°°°

Milena chega ao centro histórico, ela olha um pequeno dispositivo uma luz piscante e decide que vai investigar. Está tudo irritantemente calmo, um número pequeno de zumbis se encontra vagando em algumas ruelas, casas históricas parecem mais assustadoras com seus novos moradores mortos-vivos, algumas lojas se encontravam fechadas com grades e zumbis se debatiam lá dentro. Um zumbi aleijado se arrastava pelas ruelas, várias barracas de camelô ainda estavam abertas, algumas sujas de sangue. O centro de São Luís que outrora foi um lugar movimentado, parecia ter sido o palco recente de uma guerra, marcas de tiros, armas brancas e muito sangue podia ser visto tingindo o chão e as paredes.

Milena por um momento deixou uma lágrima escapar, pensou nas várias vezes que andou naquelas mesmas ruas e sentiu o calor do povo que andava sempre apressado por ali. Ela ainda sentia falta de como as coisas eram, uma pequena parte sua queria acreditar que tudo ainda daria certo, que as coisas poderiam voltar ao normal, mas ela não podia criar tantas expectativas, sabia que isso era algo distante na atual realidade, mas não pode deixar de imaginar como seria.

Olhou novamente o pequeno aparelho que carregava, a luz piscava incessante e ela suspirou, estava na hora de fazer algo pela humanidade.

°°°°

Os pássaros descem e me envolvem como um imenso enxame protegendo sua colméia. Entramos na base, mas algo está errado, não ouço gritos, não ouço tiros e aparentemente não tem ninguém para meus zumbis atacarem. Até que uma voz soa e eu cancelo o ataque.

— Daniel? Veio me procurar? — reconheço a voz de Luís Arthur.

Os pássaros se afastam abrindo caminho e eu olho para todos os lados, apenas para me certificar de algo que eu já sabia: só estamos nós dois ali.

°°°°

Pedro segue firme ao nosso lado, está se apoiando em uma muleta improvisada que fiz com uma vassoura. Ele fez questão de vir à frente e eu permiti que ele segurasse uma .38 para ajudar na nossa proteção. Eu sinceramente não sabia como faria para proteger uma criança e um homem aleijado, o qual eu tinha amputado o pé na noite anterior sem nenhum tipo de cuidado médico necessário. Olho para a pequena garotinha ao meu lado, Kelly, um belo nome, mas de que adianta ter um nome e não sobreviver? Eu prometi a mim mesma que cuidaria dela, agora estou aqui presa a minhas promessas, não que seja ruim, eu me sinto bem cuidando dessa criança, mesmo não sendo realmente minha filha, eu posso sentir o amor maternal por ela. Acho que eu realmente mudei, meus pais ficariam orgulhosos.

Andamos mais um pouco e paramos em uma lanchonete, apenas para usar o toldo para se proteger do sol enquanto eu distribuía um pouco dos nossos alimentos e água. De repente um barulho chamou minha atenção, olhei para Kelly esperando alguma reação, mas não havia pavor nem medo, ela parecia esperançosa. Olho para o fim da rua e vejo o que parece um daqueles jipes do exército se aproximando e um ônibus logo atrás. Talvez a vida não fosse tão ruim afinal.


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Notas finais do capítulo

O encontro de Daniel (vírus) e Luís Arthur finamente ocorreu. O que vai sair daí? Quem você acha que vai levar a melhor nessa? E o que foi esse início? Tadinha da Carlinha, espero que esteja bem escondida. Comentem o que estão achando, favoritem, recomendem (por favor, nunca pedi nada rsrs) e fiquem atentos para o capítulo final que provavelmente será postado no sábado. Já estou com saudades da história. Bjs :* vejo vocês nos comentários



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