Lágrimas da Realeza escrita por ShinySaturn


Capítulo 4
Capitulo 3: Na minha autêntica vergonha


Notas iniciais do capítulo

De forma incógnita, a Pérola Rosa é a principal culpada por uma autêntica desgraça, pondo então, em perigo, todas as intrigantes daquela importantíssima missão.



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Aquela peculiar prancha, a controlo da Hessonite, então, aos poucos, fora perdendo altitude, e diminuindo a velocidade. Continuou a conduzir tal estranho meio de transporte como se já conhecesse todos os recantos de tal abandonado planeta, sempre com a mão erguida e dando comandos silenciosos com suaves gestos em seus dedos.
Poeiras e rochedos peculiares esvoaçavam o redor da prancha flutuante, mas ela fora conduzindo-a com cautela o suficiente para evitar algum empate contra estes. Pérola continuava a reflectir sobre tudo o que persentiu e visualizou ao seu redor, durante todos esses mesmos leves minutos que se passara, depois de devidamente desperta. Já Hessonite manteve sempre sua negativa expressão facial anteriormente descrita.

A prancha desceu o suficiente, permanecendo então próxima do chão, a empregada ao início não entendera tanta aproximação daquele solo rochoso, mas decidiu manter a calma e não fazer nenhuma pergunta, continuando no silêncio exigido por Hessonite, silêncio este que fora o melhor a fazer, já que qualquer pergunta sobre tal acabaria, de forma parcial, em tal momento, totalmente desnecessária durante os próximos segundos.

Uma grande saliência, entre uma estranha neblina, gravou-se numa das paredes do Jardim de Infância, á medida que se aproximavam da mesma. Não era um buraco de saída de alguma Jóia, muito menos alguma coisa que as antigas habitantes do local haviam construído. Fora uma saliência que, analisando pela sua estrutura ainda húmida, fora escavada recentemente.
Hessonite comandou aquela peculiar nave então penetrar neste negro túnel. Pérola estremeceu, quando viu-se no meio de um intensa escuridão que pareceu não ter fim, e então, trémula, fechou os olhos, até sentir, depois de alguns minutos, mais uma vez, embater nas sua pupilas, o doce e aconchegante tocar da luz desvanecida que marcava tal anoitecer.

Abriu os olhos, fitou o seu olhar, tentando focar este, penetrando entre a pequena claridade que marcava toda a área. As sombras da noite já dominavam em partes o local, mas conseguiu ver que ambas estavam localizadas bem no centro de um género de cavidade rodeada por paredes altas, com outros buracos e túneis semelhantes, parecia uma parte, antiga, mais caída e desvanecida, do Jardim de Infância, sendo que as formas humanóides que marcavam as paredes já pareciam ter sofrido um grande desgaste pelas mãos da natureza peculiar de tal planeta. Toda a zona lembrava um estreito desfiladeiro.

Uma luz acabara de se ligar, cintilando bem forte no meio de tal entardecer, seguida por outras, que se moviam, ligavam, e desligavam constantemente, á medida que mudavam de direcção, quase como se estava a esconder-se entre os vastos rochedos escuros. Isto fora algo que acontecera mal a prancha, com leveza, por fim, aterrou, totalmente no solo, bem no centro de tal profunda cavidade, quando tais recém-chegadas presenças foram pressentidas por aqueles que já estavam ali presentes.
Depois de Pérola sair de cima de tal tecnologia, esta mesma prancha especial, transformara-se na sua forma original, a poltrona especial de Hessonite, e esta mesma comandante voltou a se sentar sobre o assento, com bastante rigidez em seus plenos gestos.
Porem, continuou, agora com mais calma, a seguir em frente.

Pérola de forma lógica, seguiu a sua senhora, passos firmes e cuidadosos entre a poeira e afiadas pedras sempre gravadas no chão, tomando assim uma maior aproximação daquilo que fora outrora uma suposta e quase indestrutível nave de guerra imperial, localizada entre uma estranha poeira e névoa intensa, que fez seu corpo estremecer cada vez mais a cada passo que executava.

Ela reconhecera bem os grandes destroços daquilo que, de forma trémula, analisava no momento, gravado entre os grandes rochedos comuns de tal escavada paisagem negra. A nave em formato de pirâmide invertida, totalmente desfeita, recheada de afiadas marcas de garras e armas gravadas nas placas metálicas que a compunha, indicava a existência de uma feroz batalha que á pouco tempo ocorrera.
Agora sim, Pérola começava a estremecer, não um estremecer de dúvida e incerteza, como constantemente fora descrito nos momentos anteriores, mas sim, um estremecer marcado por um constante medo, repleto de ainda mais confusão. Ainda não raciocinava bem o que ainda estava por vir…

Cada vez mais que se aproximava, conseguia entender melhor as formas, graças as luzes, leais combatentes da escuridão, que de entre tais peças encaixadas entre si e calhaus dos arredores, saíram em alguns flashes constantes.
A nave desfeita, ou muitas, a maioria de suas peças, estavam devidamente amontoados e organizados como se fosse um género de forte, apesar de ser algo aparentemente construído ás pressas, mas dotado com uma estrutura bem resistente, que não quebraria de forma fácil durante algum e talvez novo ataque, apesar de construída somente com materiais rudimentares que existiam ao dispor, logo depois daquilo incógnito que supostamente aconteceu.

A poltrona então parou, mesmo fora da entrada de tal peculiar forte. Várias guerreiras estavam mesmo por ali, atarefadas, e tais luzes, imponentes lanternas, saíram das suas jóias que compunham seus corpos, independentemente dos locais para onde se movimentavam, iluminando as zonas para onde se dirigiam em suas jornadas e deveres.
Aproximaram-se então ainda mais da entrada de tal forte, e umas dessas, autenticas saudáveis guerreiras, então pararam para honrar Hessonite com a tal peculiar e típica saudação das Diamantes, e algumas outras mantiveram-se imóveis, pois não receberam bem a presença da Pérola, por algum motivo que lhe era totalmente incógnito.
Também fora de realçar que, tal como acontecera com aquela simplória Pérola Rosa e sua senhora Hessonite, essas mesmas Jóias, de modo igual, mantiveram aqueles protetores dispositivos presos ás suas pedras.

Um pequeno alarme suou, vindo do interior da desfeita nave, como se fosse um aviso de perigo, era um alarme pequeno, que não ecoou na área, atravessando as paredes antigas e desfeitas, sendo persentido assim no outro lado daquele local, ou em outros recantos do planeta. Só aqueles, no interior ou próximos o suficiente de tal forte, o conseguiriam ouvir, com clareza e uma total segurança.

A empregada encarou o redor, ainda confusa, foi quando reparou, então, numa peculiar neblina que saira, de forma intensa, do interior de uma cratera, mesmo encontrada ali ao seu lado. Era um fumo esverdeado, intenso, misturou-se com o ar, tornando-se incolor, e invadido a atmosfera do planeta. Sentiu uma dor, durante este contacto direto com tal, e neste momento, era como se a sua Jóia na barriga estivesse rachando. Se não fosse o dispositivo protector que suportara, possivelmente cairia na maldição da sua morte.
Pérola não sabia que neblina fora aquela, mas sentiu um momento de angústia terrível invadir-lhe seu corpo tremente. Encarou o redor, mais uma e outra vez, entre o breve pânico que sentira, procurando uma forma de aliviar tamanha dor… Dor esta que não tardou a passar quando este mesmo fumo se dissipou totalmente com uma pequena brisa de vento.
Reparou que toda a zona estava cheia de tais crateras semelhantes, que igualmente expeliram aquele nevoeiro terrível, como também reparou que todas as Jóias ali presentes sentiram o mesmo desespero, porém mantiveram-se em tal instante totalmente firmes, talvez já estavam habituadas a tal dor, e sabiam que estavam protegidas pelo dispositivo mágico que constantemente suportavam.
Ainda mais perguntas começaram a borbulhar em sua novata mente, mente esta que ainda teria muito que aprender, muito que acumular, e muito que superar…

Acalmou-se tudo de seguida, e todas outras Jóias ali encontradas, então adotaram um tom, tanto em expressão facial de sua personalidade, como em posição física, de profunda ignorância face a esta situação delicada, tentando então manter a mesma seriedade pela qual encontraram-se nos instantes anteriores.
Tal fora como se estas não tivessem pressentido tal dor, como se tal intenso e doloroso fumo não tivesse existido e quase exterminado seus corpos, reduzindo de tal modo, suas Jóias em fragmentos.

Uma guerreira, de pele alaranjada e estrutura forte, saira da entrada daquela mesma arranjada base, depois do alarme terminar de soar, esta aproximou-se então de Hessonite, e ambas mantiveram-se frente a frente. Era a tal Jaspe que havia ficado no comando da nave, no momento quando a grande líder havia-se ausentado para partir na missão.

— Vejo que já voltou… Então, como correu, vossa excelência? - Procedeu, formalmente, e tal questão pareceu nem ser bem-vinda. Hessonite não queria resolver qualquer pergunta, tal como tudo indicou, este tempo todo.

A comandante, suspirou, tentava controlar sua raiva interior, não sabia como se pronunciar, especialmente em relação á sua empregada, face a tudo o que acontecera enquanto esta esteve fora. Igualmente e simplesmente, parecia não querer falar nada de relevante em frente a sua Pérola ordinária, por alguma questão incógnita. Talvez, como não estava habituada, a estar com uma Pérola a seu lado, não quisesse proceder á explicação de tais segredos em frente á mesma.
Uma líder militar de tamanho estatuto, autêntica Jóia da Elite, grandes senhoras da guerra e de total confiança das autênticas e honoráveis Diamantes, não estavam habituadas a conter, sempre aos seus lados, sua própria Pérola, pois tal era algo muito pouco usual nesta classe de hierarquia, hierarquia focada no lado da batalha, e uma Pérola, puro brinquedo que só servia para limpar, segurar e arrumar coisas, no meio de um autêntico campo de guerra ou em missões perigosas relacionadas com luta e conquistas algures no vasto cosmos, parecia ser algo praticamente impensável. Desse modo, as Pérolas eram, para estas guerreiras de tamanha categoria, presentes demasiado raros, quase impossíveis de obter.
E assim, era bem notório, então, uma ideia que merece ser repetida vezes e mais vezes sem conta: Esta Hessonite, devido a todos os seus serviços leais ao Mundo dos Cristais, conquistou tal pura sorte.

— Como correu?... Ainda tens o descaramento de perguntar? Foi o mesmo de sempre, claro… - Depois de vários momentos a refletir sobre toda a situação, Hessonite finalmente prosseguiu na sua resposta, realizada sem muitas delongas, recorrendo a uma voz pesada – E aqui? Algumas notícias?
— Não… Aqui também está tudo na mesma… - A Jaspe piscou os olhos, depois de um suspiro bem pensativo e preocupante, como reacção, e de seguida, observou em volta, tentando puxar alguma outra conversa de relevância – Bom, e eu já vi que sua Pérola finalmente retornou á forma física… - Analisou, ao fitar a empregada, que estava devidamente posicionada atrás de Hessonite, a poucos centímetros de distância dali, de cabeça baixa, esperando pacientemente alguma nova ordem.
— Sim... Finalmente. Ela ainda é nova e demorou bastante… - Respondeu, e sem inclinar muito seu corpo, movimentou seus olhos na direcção desta, fitando-a de modo lateral.
— Compreendo - Comentou brevemente, observando-a agora com uma nova expressão, depois, continuou – Qual o castigo que vais implementar nela? Sabemos que depois da porcaria que ela fez, ela não é nada apta para realizar quaisquer serviços sem supervisão, tais como limpar armas ou escrever relatórios…
— Relatórios?... Afff… - A comandante suspirou, de mau humor, ao colocar a mão sobre a sua face, pareceu pensar em alguma coisa, relembrando-se de algo que a profundamente incomodava ao ouvir a tal palavras, ‘’relatórios’’, e depois começou a elevar a voz, de modo assustador – Achas mesmo que eu tenho paciência para relatórios? Especialmente AGORA? Nesta porra de situação! Principalmente escritos por essa Pérola, escritos por um grande calhau inútil?!

De seguida, já não pareceu assim tão calma, foi como se esta comandante tivesse explodido de um modo icónico. Sua paciência original já estava a ser pouca, e o comentário de tom inocente de Jaspe, pareceu ser o bastante para ela rebentar, por fim, com tudo. Quanto á reacção da própria nobre Pérola face a tal, ela apenas deu um pulo de assustada, pois não compreendera nada do que ouvia.

— Vossa excelência que tenha calma… Não fui isso que eu quis dizer… - Respondeu, ao erguer as mãos, para ver se a sua líder se tranquilizava – Eu sei que essa Pérola é demasiado nova para esse serviço de relevância, só estava a dar um exemplo um pouco inconsciente…

Porém, pareceu não ouvir o que a Jaspe estava a dizer, continuando a ignorar, sendo levada por tamanha irritação que pressentia no corpo. Inclinou a sua poltrona flutuante na direção da empregada, apertou o punho, e depois, num grande gesto impulsivo, a Pérola só conseguiu sentir uma estalada em sua face, com tanta força que a fez recuar inúmeros passos, até tropeçar com o pé numa pedra e cair, embatendo com as costas no chão.
Hessonite manteve-se numa posição furiosa, observando-a caída, sem piedade, enquanto a pobre criada tentava processar todos os motivos daquela repentina agressão, e as motivações que fizeram a Hessonite agir assim. Várias outras Jóias ali encontradas começaram a rir, e a comentar coisas típicas como ‘’bem feito’’ entre outros comentários incrédulos, que afetaram, de forma clara, profundamente a mente da pobre vítima.
Estava confusa, totalmente, sentiu que sua jóia pareceu estourar de tanta negativa agitação que sentira, e apenas, com um olhar aterrorizante, sentou-se sobre o chão rochoso, e passou a sua própria mão com leveza na face, no lugar onde sentira tamanha chapada. Focava seus olhos cintilantes, imóvel, em frente, uma serena e apavorada lágrima escorreu-lhe na face, cobrindo a marca causada, agora muito inchada, que lhe fora imediatamente desenhada na bochecha.

— Então excelentíssima senhora… - Comentou uma das Jóias que se encontrava ali perto, esta, ao contrário de todas as outras, adotava um ar mais sério, sem qualquer sorriso de gozação, de uma forma que até pareceu tentar proceder a uma defesa da própria novata – Ela não tem culpa do que aconteceu!
— Não tem culpa? NÃO TEM CULPA? – Logo começou a responder, numa algazarra – Todas as provas estão mesmo aqui á minha frente! - Gritou, ao dar um soco numa placa de metal da desfeita nave, a força fora a suficiente para amolgar esta, de imediato, estremecendo a base em si.
— Sim, mantenha calma… Acredito que ela tenha uma boa explicação para o que aconteceu… - Comentou a mesma, novamente, e por algum motivo, a tal Jaspe pareceu concordar.
— Eu não preciso de explicações. Achas mesmo que eu quero ouvir as palavras do meu próprio brinquedo? Como se eu fosse um ser orgânico de baixa categoria? - Falou, quase aos gritos de uma profunda raiva – Além disso, de que serve explicações quando já está tudo estragado! Os comunicadores estragados, o sinalizador estragado, perdi mais de metade das minhas guerreiras! Não existe qualquer esperança de contactar a minha nave principal para sair-mos daqui!
— Vamos todas conseguir resolver isto… Não se preocupe… - Agora era a vez da Jaspe comentar, ao tomar uma aproximação da poltrona de Hessonite – Nós as duas já perdemos outras missões e já superamos situações bem semelhantes a esta, e ainda estamos aqui vivas… Vamos conseguir ultrapassar, mais uma vez…
— Outras missões?... Situações semelhantes?... Dizes tu… Não sabes o quanto eu odeio este planeta! Eu sei perfeitamente o que este gigantesco calhau moribundo é capaz de nos fazer, eu já estive aqui antes, durante e depois da guerra, ao contrário de todas vocês! - Comentou, ao apertar o punho e dar um soco no próprio braço da sua poltrona, quase como um gesto impulsivo – Podem ter a certeza que enquanto estivermos aqui, temos todas uma restrita data de validade, estamos apenas ao merece do tempo… De que servirá a calma?
— Acredito que as Nephrites da nave principal vão achar estranho a nossa falta de envio constante de informações e relatórios, e portanto, vão enviar uma nave para nos virem procurar o mais breve possível… - Comentou, para ver se a mesma se acalmava mais, apesar dessa tentativa, ela fora fracassada, Hessonite continuou preocupadíssima e extremamente irritada.
— Espero, mas se sim, já o deviam ter feito, porque estamos aqui presas á uns três dias! Aquele bando de inúteis incompetentes… Além disso, o que eu irei por no meu relatório para as Diamantes? Que uma Pérola simples estragou toda a minha missão? Que uma criada destruiu uma vasta Nave Imperial? - Respondeu ao colocar a mão sobre sua face, seguidamente com um tom mais leve na voz, apesar de ainda estar zangada – Eu demorei muitos milénios para conseguir este cargo, e agora que finalmente sou recompensada decentemente por todo o meu sacrifício, o meu próprio prémio transformou-se na minha autêntica vergonha.
— Então… Faz como quiseres, Vossa Excelentíssima Rainha Soberana do Universo… - Depois de ouvir aquele argumento, a Jaspe fechou os olhos, e comentou, pensativa. Dissera aquilo com um profundo tom extremamente irónico, já cansada de tamanho discurso – Enlouquece para ai, sozinha, como se fosses a única em risco de seres estilhaçada pelas próprias Diamantes por causa de uma importantíssima missão fracassada - Ela então, mal pronunciara tal, apenas virou as costas, e, afastou-se, em passos pesados, enquanto murmurava palavras, pequenas reclamações que vinham á sua mente á medida que caminhava para o interior do forte - Odeio quando ela fica assim…

Hessonite parecia ser bem teimosa, além de um tanto egoísta, apesar de todas as suas qualidades como guerreira dos altos exércitos do Mundo dos Cristais. Não valia mais apenas discutir tal, e este soldado de pele laranja o sabia, e, portanto, sem mais nenhuma outra longa palavra que continha como objectivo acalmar esta Jóia da Elite, virou as costas e voltou á sua rotina.
Já a comandante, deu um suspiro longo, fechando os olhos, agora com ambas as mãos sobre a face, era claro que ainda estava zangada, mas pareceu criar sobre si um maior momento de reflexão. Voltou a abrir estes, encarando atenciosa o redor: os rochedos, a nave despedaçada, os desvanecidos buracos gravados nas paredes de tal Jardim de Infância… Sempre pensativa, vivendo em memórias… Até acabar desperta, ao fitar a Pérola, ainda em choque, ali mesmo ao seu lado, ainda imóvel, sobre o solo.

— Porque estás ai parada, seu calhau inútil? - Suplicou, friamente – Vai lá para dentro, e não saias dai até segundas ordens, tens de limpar umas peças importantes, muita coisa que fazer… Quando entrares, segue sempre em frente no corredor, e já vais descobrir logo o que é, desgraçada inútil… E experimenta estragar mais alguma coisa…. Pois podes ter a certeza, depois de destruíres minha nave, eu deveria era ter despedaçado ainda mais a tua cara.

Era muita informação para processar. Pérola só compreendera pela tonalidade adotada ao longo de toda aquela conversa sentida que tudo aquilo fora sua culpa. De alguma outra forma, ela não conhecia nenhuma das motivações para tal coisa que contemplava, tremula, ao seu redor, pura desgraça, ter acontecido… E assim, podia estar de forma clara, profundamente inocente.
Ao erguer o corpo, começou a tremer, uma lágrima escorreu-lhe o rosto.
Tudo, ou quase tudo, podia estar potencialmente explicado, bastava um pouco mais de reflecção Porém a sentimentalidade da Pérola não raciocinou tal no momento... Todas as provas, todas as frases ditas, todos os acontecimentos descritos, potencial material para criar teorias que sem dúvidas estariam corretas. Ou então, caso não fosse inteligente o suficiente em relação a tamanhas lógicas, bastava um pouco mais de atenção nos próximos acontecimentos que ai vinham…

Hessonite movimentou sua poltrona para longe dali, pareceu ir na mesma rota, mas procedente a uma direcção oposta, por onde ali naquela forçada base havia chegado nos instantes anteriores. Pretendia assim retornar ao local do conflito sentido. Durante todo tamanho processo, até desaparecer no interior daquele vasto túnel negro, permanecera com os olhos pregados em Pérola Rosa, com tal observar opressor, o que fez esta mesma empregada sentir-se ainda mais, de certa forma, culpada por tudo o que acontecera. Recuou uns passos, e mais lágrimas escorreram do seu rosto.

— Ei.. Não te preocupes, ela não está nos seus melhores dias… - Ouviu uma voz, de tonalidade suave e ao mesmo tempo, grave e forte, sentira uma presença atrás de si, seguida de e uma mão a tocar com leveza em seu ombro.

Assustou-se, dando um pulo bem sobressaltada, quando se virou, limpou imediatamente as lágrimas ao reparar que estava sobre a presença da tal grande Jaspe, que acabava de voltar do interior daquela base com muitos peculiares equipamentos debaixo de um dos braços, no interior de uma caixa que os suportavam facilmente de forma organizada, eram ferramentas de construção, que iriam ser usadas para reforçar ainda mais as peças que compunham a superfície daquele mesmo forte. Esta também estava acompanhada por algumas Nephrites, que tal como ela, conjuntamente carregavam matérias com objectivos semelhantes.
Observou a guerreira, e recuou, mais uma vez, os seus passos, em deslocações velozes, dando o devido espaço para suas companheiras daquela líder substituta, passarem com as mercadorias que carregavam, e, igualmente, procurando uma forma de se afastar de tal imponente figura, recorrendo a esse mesmo pretexto. Ainda sentia profundo medo, e confusão.

Aquela guerreira era bastante alta, então, inclinou um pouco o seu corpo para a frente, fazendo este ficar em um tamanho semelhante ao daquela ordinária Pérola, observando-a olhos nos olhos mais facilmente. A mesma, incomodada, movimentou a cabeça para os lados, não querendo observar a face de Jaspe daquele modo direto, deixou-se levar pela vontade de fugir daquela comandante substituta, até a mesma voltar a colocar seu corpo no tamanho normal, á medida que dava um sorriso sincero, um tanto curioso, e acariciava os longos cabelos de cor magenta profundo da pobre empregada.

— Sei que estás muito confusa face a tudo o que aconteceu… E bem… Eu queria ajudar, mas não tenho muito o que comentar. Só posso afirmar uma coisa, que tudo não passou de um acidente… És nova, os erros fazem parte da nossa própria existência - Falou calmamente, com certas pausas, de modo que a própria Pérola pareceu se acalmar. Ela relaxou o corpo duro e os ombros que manteve sempre encolhidos, consequência das emoções que sentira em todo o momento presenciado. De tal modo, esta criada pareceu compreender, também, perfeitamente as palavras da guerreira.

A Jaspe colocou a caixa de ferramentas que suportava no solo, e endireitou seus longos cabeços, relaxando os músculos do seu braço. De seguida, apontou para o seu redor, enquanto observava os negros rochedos gravados na paisagem de tal peculiar desfiladeiro.

— Eu nasci no mesmo Jardim de Infância da Hessonite, num planeta distante, que atualmente está abandonado, como este mesmo planeta… Acho que é por isso que ela confia em mim, nós passamos por muito juntas, quase sete mil anos a respirar e a lutar… Anos que não foram marcados somente por triunfos, também foram muito preenchidos por erros e perdas que quase custaram nossas vidas…

Uma pequena brisa de vento abrandou o local, e uma escuridão imensa preenchia cada vez mais a zona, consequentemente, as Jóias que ali fora já se encontravam em diversos afazeres voltaram para o interior da base, enquanto as Nephrites recém-chegadas assumiam os postos. Pérola, depois de ouvir aquele discurso, baixou a cabeça, mas também reparou facilmente que elas estavam a fazer um sistema de turnos. As restantes guerreiras agora iram descansar daquele longo dia, deixando a noite para as antigas engenheiras da nave, que pretendiam reforçar alguns escudos mágicos de segurança.
Jaspe, depois de ver o novo movimento, mais descansada, prosseguiu com certas indicações, e Pérola apenas observava tudo ao seu lado. Esta mandou umas fazer certo dever, outras, um dever aleatório completamente diferente, como uma boa líder.
Quando terminou com tais aleatórias indicações, voltou a encarar a Pérola, com um olhar sério que se transformara num pequeno sorriso. Pretendia prolongar um pouco mais a conversa.

— Então… Já vi que és de poucas palavras, hêem?... - Analisou com curiosidade no olhar – És realmente uma Pérola perfeita, já vi outras Jóias de hierarquia alta que se queixam das suas empregadas, constantemente a falar e a resmungar…

Mas… Como assim Pérola perfeita?...
Depois de ouvir aquelas palavras, esta empregada deu um pequeno pulo, confusa, sem saber de forma exata a lógica das situações que compunham toda a situação. Jaspe reparou em tal, e deu uma pequena gargalhada como reacção ao ver a Pérola tremendo devido a uma mais nova profunda confusão que percorrera o seu corpo.
Agora alguém a chamava de ‘’Pérola perfeita’’?... Depois de tudo o que ela supostamente fez? Depois de todos os insultos que recebera por parte das Jóias ali presentes? E, principalmente, depois das reclamações e da enorme agressão gestual de Hessonite? Como assim esta Pérola era ‘’perfeita’’?
Essa questão borbulhou na mente da nobre empregada, e ela não sabia exactamente como reagir de outra forma senão esta aqui descrita, repleta de confusão. Para piorar, encaixou tudo o que viu e tudo o que pressentiu logo depois de acordar nos braços de Hessonite… Piorou. Realmente não sabia de forma exata em que pensar, e, consecutivamente, o que dizer ou como reagir. Apenas passou a mão com leveza na cara, sobre a marca da bochecha, que ainda lhe ardia…

— Vejo que estás confusa. Como já disse, não te posso ajudar muito. Tens que encontrar as respostas e explicações para as tuas questões sozinha, neste momento. Mas quero que fiques sempre com algo em mente, que te poderá auxiliar sempre, com quase tudo, no meu ver…

Jaspe comentara ao aproximar-se ainda mais, e num gesto um tanto sedutor, murmurou certas palavras no ouvido da jovem Jóia, com bastante calma e pronuncia que demonstrava carinho e conforto, apesar de ainda manter a sua voz rouca, grave e imponente, típica de guerreiras como ela. E apesar do arrepio que pressentiu no seu ouvido devido a tamanha aproximação, a frase seguinte que ouvira, de certa forma misteriosa, acalmou, e muito, a própria empregada.
Esta mais uma vez encontrou certa serenidade ao ouvir o discurso daquela Jaspe.

— Á vezes, é das coisas mais simplórias que temos, que nós devemos nos orgulhar.


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