Lágrimas da Realeza escrita por ShinySaturn


Capítulo 3
Capítulo 2: É um prazer voltar aqui


Notas iniciais do capítulo

A velha comandante, Hessonite, parte em missão ao chegar, por fim, a um Planeta hostil, deixando a sua Pérola encarregada de uma pequena, mas dificílima tarefa, na Nave.



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A aterragem fora um tanto complicada, mas aquela pesada atmosfera do planeta não era nada que uma poderosa Nave Imperial não conseguiria superar, apesar de todas as dificuldades sentidas.

As Jóias, e a sua própria tecnologia, adaptavam-se rapidamente, de forma quase automática, aos inúmeros ambientes dos mais variados planetas e astros de toda a galáxia, porém, em Orbmev 71, a situação pareceu, á primeira vista, completamente nova…

Aterrou, e tal tecnológica pirâmide invertida ficou imóvel no chão graças á penetração no solo de quatro grandes espigões existentes nas suas laterais, que também adotavam o papel de grandes canhões de guerra da própria nave quando necessário.

Vários escudos mágicos invisíveis, deveras poderosos e especiais, foram activados a pedido da comandante, fazendo assim aquele vasto transporte intergaláctico acabar protegido enquanto estaria ali fixado no solo de tal planeta hostil.

Antes de saírem para a missão propriamente dita, cada Jóia ligou um pequeno dispositivo específico á sua pedra, e ao ativarem este, seus corpos físicos compostos por massas feitas de luz acabaram, tal como acontecera com a própria nave, protegidos por uma invisível camada protectora de energia mágica. Também começaram a suportar, preso em outra parte do seu físico, um outro dispositivo igual, também ativo, só por precaução, caso o principal acabe estragado durante toda a operação.

A Pérola Rosa ajudava, de forma clara, cada uma das guerreiras durante aquele serviço, pareceu algo inicialmente simples, mas auxiliar a ligação de cada uma destas pequenas máquinas uma a uma ás pedras de cada um dos soldados, era, na verdade um processo manual muito demorado e extremamente delicado, especialmente pela quantidade de guerreiras ali expostas á espera de sofrer tal processo, dificuldade esta que também piorava devido as jovens mãos inexperientes da criada.

No princípio foi árduo, emocionalmente frustrante, mas de modo instintivo aprendera rápido, e depois de já habituada e familiar com todo o modo de instalação, conseguiu aumentar um pouco mais o seu ritmo, o que fez a Hessonite dar um pequeno sorriso de satisfação ao ver todo o novo bom trabalho da sua empregada.

Porém, esse sincero sorriso desaparecera de seguida, quando virou sua atenção ao planeta onde sua nave acabara de aterrar.

— Orbmev 71… É um prazer voltar aqui… - Exclamou Hessonite numa voz calma, um tanto irónica, ao observar o ambiente ao redor através da janela principal, além de alguns ecrãs que transitavam imagens do exterior com qualidade profunda. Seus olhos reflectiam tudo menos saudade e conforto por estar novamente naquele lugar.

A Pérola desviou um pouco a cabeça, e encarou a superfície de tal planeta de relance pelo mesmo grande visor que a sua grande senhora encarava, fê-lo num movimento simples e imperceptível pelos restantes presentes, enquanto instalava o dispositivo já numa das últimas guerreiras que sobravam.

O planeta parecia completamente vazio, não existia nada ali além de destruição, pequenos rochedos flutuavam no ar devido ás peculiares leis da sua gravidade, e embatiam no escudo exterior da nave. Acabavam desintegradas por choques grandes, causados por uma espécie de energia eléctrica do mesmo, fazendo assim a superfície metálica da Nave Imperial não sofrer quaisquer arranhões.

Era notório que tal planeta fora uma antiga colónia das Jóias, á milénios atrás, agora totalmente abandonada, perdida no tempo.

A comandante, depois de ver, finalmente, todas as suas guerreiras já equipadas com os dispositivos especiais, deu determinadas instruções á Pérola Rosa, pediu-lhe exclusivamente para ir buscar a um determinado compartimento da nave, armas físicas para equipar aqueles soldados, entre outras máquinas e equipamentos específicos, tanto de pequeno e grande porte. E assim, a criada apressadamente o fez.

Para não estar sozinha nesses movimentos, já que Hessonite parecia não confiar totalmente em novatas, duas simplórias guerreiras Rubi a acompanharam, mas a dupla pouco ou nada a ajudaram durante tamanho e demorado serviço.

Depois de, com gestos nervosos, deambular perdida nos vários setores da nave, retornou alguns longos minutos depois, com muitas espadas, lanças, e outras miscelâneas relacionadas com combate em seus braços, além das máquinas exigidas. As duas Rubis apenas observam todos os passos da Pérola Rosa, e unicamente riam com todos os erros e demonstrações de nervosismo desta. Fora necessário várias viagens de ida e retorno para esta empregada, totalmente a solo, conseguir carregar tudo, com o máximo dos cuidados, até a cabine principal.

Ao terminar tal pedido, as Rubis retornaram a seus devidos postos, depois de um pequeno agradecimento da comandante, no momento que esta Hessonite saiu de sua poltrona flutuante. Ela começou a distribuir esses mesmos equipamentos ao seu grupo de guerreiras de modo estratégico. Aquele grupo que se preparava para sair deveria contar com, no total, cinquenta Jóias: De modo mais específico, cerca de vinte Jaspes, vinte Ametistas e dez Rubis, todas que claramente foram, de modo prévio, ali mesmo reagrupadas.

— Lembrem-se… A superfície deste planeta é muito corrosiva, mantenham-se juntas – Avisou, inicialmente, e todas concordavam, era lógico que já sabiam de tal informação, apesar disso, a Hessonite preferiu repetir a mesma, era algo importante, e teria que entrar melhor nas mentes de suas guerreiras.

A Pérola, era a única que desconhecia tais detalhes, desejava poder saber mais, mas simplesmente, era uma empregada novata e não esteve presente na nave durante as primeiras explicações relevantes daquela missão. As Pérolas passavam muito tempo ao lado dos seus mestres, conhecendo desse modo muitos dos seus segredos, e esta simples Pérola Rosa ainda tinha muito que aprender sobre a sua Hessonite, já que nem a conhecia á menos de cinco horas.

 A tal comandante, de seguida, segurou sua longa capa brilhante, movendo esta para o lado, num gesto majestoso, mostrando a pequena máquina presa a sua pedra lapidada, perto do seu pescoço.

— Com estes dispositivos ligados ás nossas Jóias, ativados, estamos protegidos por um escudo mágico invisível, não seremos assim afectados pela atmosfera corrosiva deste planeta, tal como a própria nave. Aguentamos a nossa estadia durante as próximas duas semanas, se os mesmos, e os sobresselentes, não se avariarem nesse período – Elevou ela, ainda mais a sua voz, com tamanhas explicações, enquanto voltava a endireitar sua capa e, consequentemente, seu cabelo, de modo elegante - É o tempo mais que suficiente para recolher a maior quantidade possível de exemplares nas Ruinas. Vai ser bem trabalhoso, mas temos que ser rápidas… Eu não gosto deste planeta… - Murmurou por fim.

Depois de entregar todos os equipamentos e concluir tal discurso, esta comandante voltou a sentar-se na sua cadeira flutuante, e conduziu-a até o centro de toda a sala de pilotagem, a parte inferior desta era igual a uma forma gravada no chão, que existia no interior de um círculo verde, um símbolo da Era 2 que ilustrava as três e atuais grandes matriarcas do Mundo dos Cristais. Todas as guerreiras agora preparadas para o conflito entraram no interior do tal círculo com suas coisas, e a Hessonite conduziu, com vários gestos de seus dedos, a cadeira até o chão, encaixando-a de modo perfeito no centro do símbolo.

— Pérola… - Disse, de voz lenta e calma, ao fitar a sua empregada com um pequeno olhar severo – Pelas minhas observações recentes, tenho a certeza… És inofensiva… – Argumentou, dando uma mera ideia de que a empregada já não precisaria de grande supervisão de Rubis ou alguma outra soldado, uma clara permissão de que esta podia, em principio, caminhar pela nave, de modo parcialmente livre enquanto realizava seus deveres - Vai limpar todos os estragos que aquelas desordeiras fizeram ao corredor da minha nave… Quando terminares, volta para a aqui, e simplesmente não saias daqui até segunda ordem.

Pérola Rosa concordou, ao baixar a cabeça e encolher os ombros, um pouco trémula, segurando o seu vestido e realizando uma vénia simples.

— Como sempre, a Jaspe Corte 129 da Interface 102F vai ficar no comando da nave enquanto eu estiver fora – Comentou, ao apontar para uma Jóia grande de pele laranja dotada de um grande cabo que se estendia pelas costas. Esta que dava um passo em frente, aproximando-se da principal superfície de controlo da nave – Durante a missão, enviarei constantemente informações á nave com nossos progressos. Não se esqueçam de apontar as mesmas nos relatórios exigidos pela Diamante Amarelo.

Todas concordaram, e seguidamente, tal como a Pérola fizera, realizaram um gesto de saudação ao cruzarem os braços, executando o típico gesto que honrava as Diamantes, face a Hessonite, esta que suspirou, talvez um tanto nervosa, reflectindo sobre o que esperar por aquela missão.

Depois de observar tais gestos de devoção, esta líder então tocou num determinado botão que estava sobressaído no braço da sua poltrona. Através daquele sistema, todas as Jóias, incluindo a própria líder, que permaneciam localizadas no interior daquele símbolo cravado em tal cumprida superfície metálica, foram imediatamente teletransportadas para o exterior.

Assim, esta nobre criada acabou sozinha com as Nephrites, Jóias estas que só serviam e se responsabilizavam pelo controlo da própria nave em combates durante as viagens espaciais, com algumas guardas Rubis e Ametistas entre mais algumas outras Jóias em minoria, guerreiras que sobraram e ali foram mantidas para, exclusivamente, proteger a nave, de modo claro, além de adotarem um  papel de possíveis sobresselentes caso aconteça problemas com aquelas que estavam a enfrentar o alegado desconhecido ao lado da sua comandante.

Uma única Jaspe que permanecera na nave, assumiu então totalmente e quase de imediato após da saída da principal líder, o comando, e esta ordinária Jaspe, no caso, parecia ter uma grande ligação com a Hessonite, além de parecer a mais velha de todas as restantes. Sentou-se numa cadeira menor que estava perto da superfície de controlo principal da nave, inspeccionando então, através dos inúmeros ecrãs em frente, toda a situação no interior, e exterior, desta, além de esperar pacientemente por mensagens da Hessonite.

A Pérola encarou então esse mesmo grande ecrã, para conhecer melhor o exterior, só por mera curiosidade, e nesse mesmo instante, visualizou a Hessonite a se afastar daquele local numa marcha pesada, ao lado das suas cinquenta poderosas guerreiras, esta comandante manteve-se sempre sentada pacientemente em sua poltrona flutuante, que sobrevoava o redor. Este grupo de Jóias também estavam acompanhadas por alguns robôs armados e de tamanho humanóide, que foram invocados, por mais alguns outros pequenos dispositivos que carregavam nas mãos, na altura da saída, quando já estavam no exterior da nave.

Ela então, ao noticiar o olhar pesado das Nephrites, que observavam sem nenhum ânimo leve a empregada mesmo ali parada, além da expressão impaciente da Jaspe que assumira o comando de modo temporário, decidiu então voltar a sua rotina.

Sabia perfeitamente como começar tal pedido da sua Jóia superior, a briga daquela outra Jaspe e das três Ametistas tinha causado bons estragos naquela área do corredor da nave.

Durante todo aquele tempo que se manteve, ali, exposta, ao lado das guerreiras, quase como uma decoração valiosa, fora de realçar que a Pérola manteve sempre tal rara caixa rectangular nas suas mãos, a Hessonite não pareceu nada preocupada, era lógico e mais do que óbvio que ela sabia que a empregada ainda mantinha tal entre seus dedos, mas não pronunciou nada sobre isso até agora, talvez não tinha tendência para tal no momento.

Quando fora buscar os vários equipamentos para a missão das guerreiras a pedido de sua Hessonite, já tinha descoberto os locais onde se guardavam tudo, é claro que tal fora uma análise realizada de relance, mas sua memória não lhe mentiu.

Então não tardou, numa das divisões, em encontrar uma peculiar invenção de limpeza da sociedade das Jóias, uma grande esfera que, em seu interior, guardava inúmeros instrumentos variados, era como um aspirador altamente avançado. A Pérola sabia que tal era usado para limpezas, pois aprendera isso durante os experimentos leves que sofrera no Jardim de Infância. Na altura não tinha interagido sozinha com um, nem nunca explorado todas as suas funcionalidades de modo total, especialmente aquelas que eram as mais adequadas para a profunda limpeza que estava prestes a realizar.

Assim, carregou tal engenho até o local do corredor, onde acontecera o incidente, e antes de começar então a limpar e reparar as placas metálicas amolgadas das paredes, posou tal equipamento de limpeza perto de si, sobre o chão com cuidado, e decidiu encarar, mais uma vez, a peculiar máquina cubica que sempre suportou em suas mãos ao longo daquele dia.

Passou seus dedos cheios de leveza na superfície lisa, analisou com um olhar profundo todas as anomalias, desejando ativar este objecto e conhecer o mistério que aquilo escondia, mas de seguida, conseguiu ignorar o chamamento da tentação, evitando então abrir-lho através do mesmo processo que a Hessonite havia demonstrado anteriormente.

Decidiu assim guardar esta dentro da sua pedra, mais uma simples habilidade mágica que aquele povo alienígena concebia desde os primórdios das suas origens. Aproximou-a do seu ventre, fazendo a leve pedra lisa e oval que continha em sua pele, concentrar alguma energia e brilhar, era a primeira vez que executava esta habilidade, mas não sentiu grandes dificuldades em conseguir fazer esta máquina ser absorvida para o interior da sua Jóia. Agora sim, estava finalmente com as mãos livres e prontas para realizar um melhor trabalho, e além disso, podia recuperar esse mesmo instrumento quando quisesse e quando fosse necessário, independentemente do local onde se encontraria.

Voltou então a carregar e a ativar aquele aspirador carregado de inovação, porém, a tal luta das desordeiras causou estragos na área que pareciam irreparáveis, o que iria causar claramente determinadas dificuldades em todo o processo de limpeza.

Começou por se ajoelhar e observar de perto tal coisa, com um olhar confuso que transmitia interesse e de modo igual, curiosidade, inúmeros botões sobressaiam em sua superfície lisa, incluindo um que abria uma porta na própria superfície da máquina e entregava ás mãos daquela ordinária Pérola Rosa um controlo remoto. Ao início não compreendeu como a coisa funcionava realmente, nem como controlar todas as suas funcionalidades através de tantos botões sem descrição, e para piorar, aquele aspirador avançado não vinha com quaisquer instruções.

Pegou nesse mesmo comando, visualizando todas as suas opções nos mais diversos ângulos, depois clicou, mais uma vez, num destes de modo aleatórios, e observou os resultados.

 Um líquido viscoso fora expelido de um género de dedo flutuante que saira daquele peculiar aspirador avançado por um estreito orifício existente em sua lateral, depois da Pérola ativa-lho inconscientemente, dedo este que ela própria, graças á magia daquele pequeno controlo remoto, conseguiu controlar á distância.

Agora, com uma leve ideia sobre como tal comando era assim funcional, de modo desajeitado, tentou conduzir o dedo flutuante até uma das menores áreas danificadas em tal corredor, até chegou a colocar com sucesso o tal líquido nesses mesmos locais dotados só com arranhões superficiais, o mesmo restaurou essa mesma parte de uma forma estupenda.

Muito feliz com tal resultado inicial, como se fosse a sua maior conquista, a Pérola entusiasmou-se então, e continuou a controlar este dedo flutuante, fazendo o mesmo gerar tal líquido de forma constante, cobrindo o chão, reparando-o e limpando-o de uma forma mais estendida. Porém, este local que no momento estava a tratar, por ser uma das determinadas áreas que não continham grandes estragos que necessitassem de tamanha quantidade, causou então derramamento em excesso, que não desaparecera, pois não continha mais nada para reparar.

Acabou, mais uma vez, confusa, com a nova consequência dos seus atos, este líquido viscoso permanecera ali, e a nobre empregada, ao aperceber-se do que agora ocorria, tentou uma aproximação do local, observando o dedo voador de perto, para se certificar se estava em condições ou avariado, pensando que a culpa seria de alguma falha em tal tecnologia. Porém, não tomou atenção ao local onde colocava os pés, e acabou assim, de forma inesperada, por escorregar, aterrando com o nariz no chão.

Suspirou, tremula, passou a mão pela sua própria face, não acreditando no que acabara de lhe acontecer. Quando reparou, estava em cima do maldito comando do aspirador, que tinha deixado cair quando escorregara, e este, agora despedaçado, fez a máquina em si acabar descontrolada. Depois de mais uma ou outra escorregadela, sempre finalizando tais quedas com a cara no chão, conseguiu com certa dificuldade erguer seu corpo com sucesso, e fora então tentar parar aquela coisa que, feroz, activava e desactivava constantemente todas as suas funcionalidades.

Aproximou-se e, repleta de nervosismo, não sabia como acabar com tal caos, caos que fora estendido a quase todo o lado. Líquido era expelido para todos os cantos, menos nos devidos locais do corredor que necessitavam de uma real reparação, e a máquina lançava mais dedos flutuantes e outras coisas aleatórias que eram tanto avançadas em comparação com os materiais típicos de limpezas que conhecemos, que até é impossível criar a sua completa descrição…

Decidiu arriscar, através de uma maior aproximação face a esta máquina, com o objectivo de procurar algum botão de desligar na superfície do próprio aspirador, mas daquela esfera saiu de modo imediato um tubo que começou a sugar tudo á sua volta, fazendo um barulho ensurdecedor. Apesar de tudo, Pérola sentiu-se um tanto satisfeita nesse momento, pois começara a reparar que, automaticamente, tal aspirador propriamente dito, aspirava o líquido encontrado em excesso agora alastrado em quase todo o corredor.

Mas esse alivio e felicidade demorara poucos segundos, o cenário da situação mudou por completo de seguida.

Assustou-se, dando um pulo enorme, quando tal longa coisa atacara sua perna, que era fina o suficiente para caber no seu interior. De modo instintivo começou a sacudir o tubo, e a correr ás cegas e ás voltas, com alguns gemidos de fúria e um tanto de pânico, na tentativa de se libertar totalmente da máquina. Porém, a outra perna em liberdade acabou pousando sobre uma área molhada no chão, vestígios do tal líquido viscoso, o que fez esta pobre empregada cair, mais uma vez, e outra, e mais outra, e ainda mais uma outra azarada vez. Caiu tantas vezes que, numa delas, sua perna deu um determinado movimento milagroso que fez a mesma quebrar o tubo do aspirador, soltando-se por fim.

A Pérola então conseguiu uma aproximação da máquina, por fim.

Desligou-a num movimento rápido pelo devido botão antes que aquela coisa lhe atacasse a perna com outro tubo, de novo. Por sua mera sorte, tal fora o botão correto, mesmo tendo sido accionado aleatoriamente. Os dedos flutuantes que esvoaçavam e expeliam líquido por tudo o que era canto, desapareceram assim num brilho. Apesar disso, o produto em si não desaparecera, e ainda existia muita coisa que necessitava de uma devida e cuidada reparação nas paredes do corredor.

Mais aliviada por observar uma nova paz que a máquina agora inactiva finalmente a proporcionou, decidiu então parar, encarando o redor, e ao fazer tal simples e inocente gesto, sua expressão mudou drasticamente. 

Apenas já não sabia como perseguir com toda a limpeza, toda a sujeira sentida parecia pior do que a originalmente vista ali momentos antes, e ela estava com pavor de ativar a máquina novamente, já que era a única invenção dedicada a limpezas que existia naquela vasta nave, não queria correr o risco de ter a sua perna presa mais uma vez no interior de um tubo mágico qualquer.

Observou o produto viscoso por ali espalhado, que não desaparecia, todo concentrado só nas zonas já limpas e brilhantes que não dotavam de quaisquer danos, e assim ela, ganhou uma ideia. Decidira, com seus pensamentos excitados, prosseguir tudo manualmente. Começou por segurar num pouco do líquido e esfregar este nas grandes paredes amolgadas e sujas ainda ali vistas, com suas próprias mãos.

Esfregou, esfregou, e continuou a esfregar e recolher mais líquido de certos locais do chão, e a voltar a esfregar e esfregar cada vez mais. Nada disso funcionou ou possibilitou tal reparação mágica. Será que estava a fazer todo o processo de modo correto?

Agora a situação invertera-se. A parede do corredor, não se reparava (ou automaticamente se lavava quando exposta aquele produto), por estar, de modo simples, já limpa. Por outro lado, e aquilo que realmente aconteceu, já nada ali se regenerava porque as placas de metal que compunham a parede já estavam encontradas num estado de bagunça total sem qualquer reparação plausível, era só uma destruição profunda. A magia do líquido viscoso não era forte o suficiente para reparar danos de tamanhas dimensões.

Parecia que tudo já estava dando em doido. Não sabia o que fazer, e já imaginava a reacção da sua Hessonite em ver que não conseguira limpar o corredor, como ela ordenava… Pelo contrário, estava agora num estado bem pior. Algum pânico imediatamente percorreu seu corpo.

Portanto, já emocionalmente exausta, e com certa ferocidade e raiva, além de profundo stress e preocupação, entre pequenos gritos e resmungos de raiva e inquietação, deu um pontapé impulsivo na parede, ao observar que nada do que fazia resultava, e que a reparação da própria parede estava muito aquém das suas capacidades e do que ela própria continha á disposição.

Para sua surpresa, tal golpe fora forte o suficiente para fazer uma das danificadas placas de metal mais frágeis, encontradas perto do teto, cair-lhe em cima, e a pobre empregada, apanhada com um grande golpe que cortou-lhe literalmente o corpo inteiro, apenas estoirou. Em instantes, o seu corpo físico desaparecera num brilho, e a pequena Pérola oval de superfície lisa caíra no meio do chão, mesmo debaixo dos grandes destroços que acabavam de cair.

Ironicamente, durante todas as horas que permanecera ali naquela missão impossível, nenhuma guerreira passara por aquele corredor, talvez porque a maioria daquelas que usufruíam grande parte do tempo em tal área da nave tinham ido em missão, ou então, as que se encontravam presentes, não quiseram incomodar os trabalhos da empregada da gloriosa Hessonite ao colocarem os seus pés nessa área destruída.

Para a própria Pérola, fora mais um golpe de sorte, assim ninguém teria visto tais comportamentos vergonhosos. Estava exausta, tanto fisicamente como psicologicamente, e a regeneração da sua Jóia, e todo o processo que iria sofrer até voltar novamente a sua forma física, demoraria desse modo, uma tremenda e possível eternidade.

 

***

 

— Três dias… - Murmurou de forma repentina, uma voz de tonalidade rouca, mas um tanto doce – Eu não permiti que fizesses uma pausa durante três dias, especialmente no primeiro dia do teu trabalho… Mas, de uma forma ou outra, foi o melhor que aconteceu…

Sentiu seu corpo voltar ao normal, envolta em luz, a rosada pequena pedra oval retornava então, aos poucos, a sua forma física.

Estranhamente, estava envolta nos braços de Hessonite, que, por algum motivo, demonstrava numa observação inicial, certa felicidade no meio de uma profunda tristeza em seu olhar, depois de encarar a Pérola Rosa, ainda atordoada, abrir finalmente seus olhos. Porém, tal misterioso observar reconfortante, pareceu, segundos mais tarde, apenas uma mera alucinação.

Sua expressão mudara completamente á medida que a Pérola, abria cada vez e cada vez mais os seus olhos e tentava fitar o perímetro em volta com cada vez mais atenção, caindo assim, parcialmente, na realidade que a rodeava.

A nobre empregada não tardou a aperceber-se de imediato que estava deitada, nos braços fortes e um pouco aconchegantes da sua comandante, o que a deixou muito incomodada, não esperava este género de gesto de aproximação assim tão repentino. E assim, acabou então, muito encolhida e profundamente envergonhada, enquanto a sua mestre a observava com um novo olhar agora muito opressor.

Seguidamente, a cada lento segundo que despertava demoradamente, acabou ouvindo estranhos ruídos, murmúrios predilectos.

Ao sentir uma vagarosa brisa de vento movimentar-lhe os cabelos, não tardou em reparar que já não estava no interior da nave, no mesmo local onde, logo depois da luta exaustiva contra o aspirador, fora acidentalmente esmagada, fazendo assim seu corpo humanóide formado por uma massa de luz mágica (uma habilidade, característica comum com todas as outras alienígenas daquela raça em todo o universo) estourar e assumir a forma Jóia.

Confusa, tentou compreender o que ocorria. Sentia-se ainda muito tonta, já que fora a primeira vez na sua vida que sofrera danos os suficientes de modo a sua forma física ser desestabilizada. Todos os seus reais sentidos, voltavam a uma velocidade vagarosa, e apenas continuou a tentar combater suas tonturas.

Até que pode ouvir vários gritos entre tais murmúrios, á medida que apurava sua audição, atendendo cautelosamente, seguindo o seu instinto, a tais barulhos misteriosos trazidos pelo vento. Tentou olhar para os lados porém, num gesto súbito, a Hessonite apertou numa violência repentina a cabeça da Pérola contra seu peito, impedindo-a de observar certas criaturas estranhamente horrendas que se mexiam e remexiam constantemente no solo em toda aquela agreste área.

Apesar de tudo, especialmente pela lenta regeneração de seu físico, a sua audição contínuo liberta, fazendo-a assim, de modo claro, constantemente ouvir respirares pesados e barulhos de ataques longínquos, magias que em investidas simples destruíam e cada vez mais maltratavam guerreiros em condições insalubres… Não sabia o que era, não estava totalmente ciente do que se aproximava da sua localização. Os passos e aterrorizantes murmúrios e incógnitos sons pareciam cada vez e cada vez mais intensos á medida que sua consciência, a um ritmo quase inaudível, voltava á realidade.

Não sentiu muito medo, mas também não sentiu uma total confiança e conforto, acabou somente neutra a tal, com um toque de confusão lhe percorrendo o corpo, talvez uma consequência da situação que se encontrava originalmente, pois estava agora fora da nave, longe do local que começara a conhecer e a habituar-se de simplesmente viver. Fora uma mudança repentina, estava num sítio, e depois, enquanto manteve-se longe de sua real consciência, acabou em outro, e isto fora algo que lhe trouxe imensas incertezas.

A comandante, elevou o braço, movimentando os dedos como se escrevesse algum código colossal no ar, durante um gesto calmo e cuidadoso, e a pobre empregada, de seguida, sentira tudo a estremecer. Consequentemente, o vento acabou cada vez mais intenso, embatendo em sua pele cor de magenta, e os estranhos barulhos e gritos desesperantes eram cada vez, e cada vez mais longínquos, até desaparecerem para longe, com o som do ar em movimento, e tal, fora como um pequeno alivio na consciência de Hessonite, mas algo que aumentou cada vez mais as dúvidas da empregada.

Agora, a uma distância considerada segura, Hessonite soltou sua Pérola do outro seu braço que a prendia, com certa ferocidade. A empregada, tentou aguentar-se em pé sobre aquilo que parecia ser uma mediana nave dourada em formato de prancha, que antes fora uma simples cadeira voadora. Encontrara-se em constante movimento, bem longe do solo negro, a uma grande altitude que traspassava algumas nuvens enegrecidas.

Quando deu por si, mais uma vez, outra parte dos seus sentidos se despertaram, estava com um dos tais dispositivos presos á sua própria Jóia, na sua barriga, o que a fez, depois de se aperceber de tal, sentir o ar queimar ao redor de todo o seu corpo, como se estivesse na influência de algum escudo que lhe cobrisse toda a pele. Era um simples e estranho queimar que não lhe proporcionava qualquer dor, apenas uma sensação térmica bem esquisita sobre a pele. Não tardou muito tempo a habituar-se, foi como se essa mesma impressão tivesse desaparecido.

Agora livre dos braços exigentes de Hessonite, facilmente fitou o redor, observou o ambiente, dando um simples passo em frente, permanecendo na outra extremidade da prancha, com cautela para não cair. Ainda estava confusa, mas tentou absorver tudo com seu olhar.

Apesar da longa distancia onde se encontravam, conseguiu observar com clareza as características do solo, as montanhas destruídas ao longe, e todas as ruinas de infra-estruturas daquilo que em outros tempos fora uma complexa colónia das Jóias.

No momento, ambas sobrevoavam um local, que lhe soava bem familiar, pelo simples facto de estar repleto de buracos humanóides sobre todas as rochas, cobrindo então as paredes de um modo tão recorrente que chegara a ser um tanto assustador. Era outro Jardim de Infância, mas este, pareceu diferente, além da cor e de outras características geológicas menores, os buracos sobre as paredes não estavam alinhados, ao contrário daquele pela qual a Pérola havia nascido na Interface 120. Era notório que fora um trabalho feito ás pressas.

 Fitou, ainda confusa com tudo aquilo, o redor, mais uma e outra vez, um monte de questões e incertezas borbulhavam em sua jovem mente. Recuou, e então, num raciocino simples, tomou uma leve decisão, e virou-se, encarando a sua Jóia superior olhos nos olhos. A face e o silêncio de Hessonite eram marcados por uma tremenda expressão facial que não anunciava quaisquer notícias boas, em todos os possíveis sentidos. Devido a tal olhar ameaçador gravado nesta comandante, a Pérola Rosa sabia que não seriam aceites quaisquer questões que ela pretendia criar, nem mesmo a mínima das perguntas que fosse…

Mas… O que de facto aconteceu? Porque ela estaria ali, e onde estava a nave, e como é que ela estava ao lado da sua líder, que anteriormente tinha partido em uma importantíssima missão?... Que misteriosos seres, e seus aterrorizantes sons, foram aqueles que ela tanto pressentiu mal acordara?...

E quanto á sua comandante? Do que ela estaria a pensar? O que esconderia, porque parecia tão raivosa, e ao mesmo tempo, nervosa e preenchida de medo e preocupação?...

A Pérola Rosa sabia que todas estas suas questões permaneceriam sem resposta, durante muito tempo… Isto era, e não passava, de só uma questão de paciência, pois a melhor altura para tamanhas revelações, em breve chegaria… Portanto, virou novamente as costas, e prosseguiu, de boca fechada, sigilo inquestionável, as suas observações face a todo aquele planeta hostil, procurando uma explicação própria em sigilo, nem que seguisse uma simples, mas quase misteriosa e desconhecida, lógica das mais óbvias que pudessem existir…

 Um estranho silêncio prevaleceu, indeterminadamente, silêncio este marcado por tais meras reflexões e pensamentos que borbulhava em cada uma das suas mentes. E assim, em olhares distantes da pura realidade, esta dupla, á medida que a prancha atravessava o ar, veloz e equilibrada, observava o céu ficar escuro, um anoitecer calmo, sereno… Um sol distante era visível ao lado de muitas gigantescas luas que embelezavam o cenário de pura negra terra agreste, que rasgavam a paisagem, criando um peculiar paraíso sombrio com elegância, cenário este que acabava cada vez mais desvanecido e misterioso á medida que a dupla sobrevoava e penetrava ainda mais a fundo em tal abandonado Jardim de Infância...

Misterioso como toda a situação que as incertezas de Pérola tentavam buscar explicação…

E desvanecido, tal como todas as esperanças de Hessonite, esperança de sequer conseguir voltar…


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