Caminho das Memórias escrita por Ainsworth


Capítulo 5
Conflitos – Parte lIl


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou novamente, trazendo o 5° capitulo dessa saga. O que será que aconteceu com Sakura? Ficaram ansiosos? Acho que sim :P Então, sem mais enrolar, eis o capitulo. Boa leitura ^^



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Conflitos – Parte lll           

 

Sakura se viu em queda livre já a poucos metros do chão. Precisava pensar rápido em algo para evitar que se esborrachasse com o solo. Então, aplicando todo o sua experiência com ginástica, conseguiu girar o corpo de modo que ficasse em posição vertical com os pés apontados para o chão. E ao passo que se chocou com o solo, distribuiu a força do impacto para as pernas, de maneira que flexionando-as, realizou um rolamento, seguido de uma impulsão com os braços, saindo mais uma vez do solo para finalizar com uma pose digna de ginasta olímpica.           

As pessoas que testemunharam tal feito ficaram abismadas com tamanha habilidade. Até mesmo Sakura se surpreendeu com sua façanha. Mas, surpresa mesmo ficou quando percebeu que logo a sua frente estava Syaoran, ofegante, pois a distância que percorreu da linha de fundo de Miyazono até onde a torcida de Tomoeda estava não era lá das menores. Nos poucos instantes em que Sakura esteve no ar, Syaoran teve o tempo de reação e a aceleração necessários para se deslocar até ela, no intuito de evitar que colidisse com o chão. Apesar de a garota ter se virado sozinha, dizer que o esforço do rapaz fora inútil seria passivo de ofensa.           

Já mais calma, e com a adrenalina mais baixa, Sakura compreendeu melhor o que acontecera. Não pode evitar abrir um sorriso pela ação de Syaoran.

— Eu estou bem, desculpe pelo susto. Volte lá e dê o seu melhor – Disse Sakura sorrindo, olhando nos olhos de Syaoran, posteriormente se reunindo novamente com seu grupo.           

Todas estavam espantadas e preocupadas. Mas assim como as pessoas da plateia, algumas batiam palmas para o feito de Sakura.

— Estou bem meninas. Eu acabei me desequilibrando, mas no fim dei sorte de pensar rápido, hehe – Zombou tentando mudar o clima – Esse jogo ainda não acabou, vamos dar o nosso melhor na torcida! – Exclamou com os pompons para cima.          

Ainda meio perdidas com a situação, as líderes de torcida resolveram apenas seguir as palavras de Sakura, de maneira que todas exclamaram em resposta:

— Sim!           

As pessoas à volta, tanto jogadores como o público do jogo e também o árbitro da partida, ficaram mais tranquilos ao ver que Sakura estava sã e salva. Syaoran, que havia ficado meio vermelho com as palavras e o sorriso de Sakura, agora retornava ao campo, aliviado pela garota de olhos verdes estar bem.

— Sério! Ela ainda me mata do coração! – Pensou aliviado, enquanto o jogo reiniciava.           

Naquela partida, Satoru ainda viria a marcar mais um gol, fechando o jogo com um resultado de 3x1 para Tomoeda, recompensando a todos pelos seus esforços.           

Ao término da partida, Touya juntamente de outra pessoa, que estavam escondidos em meio ao público, iam se distanciando do local.

— Ei Touya, foi um grande jogo, não acha? – Perguntava a pessoa.

— Hã? Ah. Sim, foi.

— Que bom que a Sakura não se machucou também, ela realmente pensou muito rápido naquela hora e se saiu incrivelmente bem.

— Uhum.           

Touya não falava muito e apenas caminhava com as mãos nos bolsos, aparentando não querer muito assunto. Mas seu parceiro era persistente.

— Mas sabe, eu percebi sua preocupação naquele momento. Eu vi que você tentou correr para salvá-la.

— Aquilo foi uma reação involuntária, meu corpo apenas se mexeu sozinho – Explicou Touya.           

Durante alguns passos, persistiu-se o silêncio.

— Mas apesar de tudo, não iria adiantar nada, eu nunca ia conseguir alcança-la, diferente daquele pirralho, que foi rápido o suficiente para chegar até ela em milésimos – Constatou Touya, quebrando o silêncio.

— Aquele... Era o garoto com o qual você teve um desentendimento ontem, não é?

— Sim, ele mesmo.

— Nossa – Sorriu – Apesar de vocês terem brigado, ele esteve excepcional no jogo de hoje, nem parecia machucado. E ainda teve aquela reação extremamente rápida para tentar salvar Sakura.

— Tsc... – Touya resmungou.

— O que foi?

— Aquele maldito nem se feriu ontem...

— Como assim? Vocês não tinham brigado?

— Sim, mas eu não fui capaz de acertá-lo em cheio.

— Sério? E logo você?

— É, é isso aí. Não precisa ficar me lembrando.

— Hahaha me desculpe – Riu – É. Você deve gostar mesmo da sua irmã.           

Silêncio.

— Mas seria bom se coisas assim não voltassem a acontecer.

— Eu venho ouvindo isso desde ontem, Yuki. Já aprendi a lição.

— Eu não quero te dar uma lição Touya. Só quero te apoiar como amigo.

— Tá tá, entendi. Vamos indo agora.

— Okay – Concordou Yukito enquanto ambos seguiram caminhando.

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Após o jogo, graças à vitória conquistada, os jogadores de Tomoeda seriam recompensados por seu treinador, que iria os levar até uma lanchonete e pagar tudo o que quisessem comer. Não era uma das melhores ideias considerando que se tratava de um time inteiro de jovens em fase de crescimento, cansados, e com muita fome. Mais tarde o treinador viria a se arrepender.           

Syaoran, após tomar um merecido banho, caminhava de encontro aos seus colegas na entrada da escola para seguirem junto com os outros para a lanchonete. Junto a ele, estava Takeru. A atuação do dois foi essencial para aquela vitória. Mais a frente estavam Satoru, Ryougo e Yamazaki esperando. Acenavam para Syaoran e Takeru indicando o que parecia ser pressa. Logo entenderiam que não se tratava disso.           

Fato foi que ao caminhar mais um pouco, conseguiram notar uma Sakura encostada no tronco de uma árvore, repousando sob a sombra da mesma. A garota estava um pouco distraída, mas percebendo a presença dos rapazes deu um pequeno pulo para frente.

—Err.. – Sakura tentava dizer algo.           

Syaoran não demonstrava intenções de interromper a tentativa da garota de falar alguma coisa. Coube a Takeru ler a situação e optar por deixar o casal a sós, torcendo para que assim conseguissem se comunicar.

— Bem, eu vou lá com os rapazes por agora, depois você alcança a gente Li – Disse Takeru, já se retirando em seguida.           

Encontrando-se com o restante dos rapazes, Takeru dialogou com o grupo para que seguissem sem Syaoran. O motivo era bem convincente e todos estavam de acordo, alguns inclusive, com imensa inveja do chinês. Com um aceno de confirmação, Takeru deu sinal verde para que Syaoran não se preocupasse e despendesse do tempo que precisasse.           

Muito agradecido, Syaoran acenou de volta. Era bom ter amigos, ainda mais se estes fossem bons leitores de situações.

— Desculpe por fazer você se separar dos seus colegas... – Falou Sakura em tom triste.

— Não tem problema, depois eu me encontro com eles. Aposto que quando chegar lá, ainda estarão comendo com muita vontade. O treinador disse: “Como recompensa para meus jogadores que atuaram muito bem hoje, iremos a uma lanchonete e eu irei pagar tudo o que quiserem comer! Hohohoho” – Syaoran imitou a voz e risada rouca do velho treinador.

— Hahahahahaha, que treinador bonzinho – Riu Sakura.           

Ver aquele sorriso e ouvir aquela risada sempre deixava Syaoran feliz. Inconscientemente, ele passou a sorrir enquanto olhava para Sakura. A garota, ao perceber, não pode disfarçar certa vergonha, e acabou vermelha. Depois de alguns segundos, Syaoran tomou consciência do que estava fazendo.

— UAHH... Desculpe... – Disse Syaoran envergonhado.

— Não... Não foi nada...           

E novamente silêncio. Comicamente, os dois tentaram quebrar aquela ausência de palavras ao mesmo tempo.

— Sabe...!? – Exclamaram os dois em uníssono.           

Ficaram surpresos com a sincronia. Mas iam se surpreender de novo:

— Pode falar... – Proferiram novamente ambos.           

A essa altura, só o que podiam fazer era rir, como já estavam.

— Certo. Você fala, Syaoran – Ordenou Sakura.

— Okay – Respirou fundo e se preparou para falar – Bom, ontem, mesmo eu te prometendo que não iria, eu—

— Eu já sei.

— Desculpe?

— Eu sei o que aconteceu ontem.

— O que!? – Exclamou Syaoran surpreso – Mas Tomoyo prometeu que não falaria...

— Ela não falou nada. Eu descobri por mim mesma – Sorriu tristemente – Sabe, não é todo dia que seu irmão chega surrado em casa. Eu só, meio que liguei os fatos....

— Ah... – Foi a única coisa que Syaoran conseguiu dizer.           

Tomando coragem, Syaoran ergueu a cabeça para falar:

— Eu... Eu estou completamente arrependido! Fui irresponsável e negligente. Por favor, aceite minhas desculpas! – Disse curvando-se bruscamente.           

Sakura se assustou um pouco com a atitude do rapaz.

— Uah... Hã... Claro... – Pigarreou – Você deve saber por si mesmo que o fez foi muito errado, então acho que não preciso ficar repetindo. Mas de qualquer forma, não torne mais a fazer algo assim! Entendeu?

— Sim, senhora! – Respondeu Syaoran, batendo continência.           

A garota não pôde evitar rir.

— Bw... Bwahahahahaha. Ai, o que foi isso? Hahahaha.           

Inconscientemente o rapaz se juntou aos risos por algum tempo.

— Mas e você? O que queria falar? – Perguntou Syaoran.

— AH! É mesmo!           

Recuperou o fôlego que perdera rindo, e após exibir aquele sorriso encantador que enfeitiçava Syaoran, disse:

— Parabéns pela vitória, você foi incrível!           

De imediato, Syaoran corou.

— Ah... Obrigado... – Foi o que conseguiu dizer, enquanto olhava para baixo.

— AH! Também tem isso. Muito obrigada por ter corrido para me salvar.

— Ah, aquilo? Não foi nada. Eu só me mexi inconscientemente. Você que foi incrível. Conseguiu se virar sozinha.

— Hahaha, não foi nada mesmo, só tive sorte – Disse envergonhada.

— Não me pareceu sorte. Pareceu habilidade pra mim.

— Como líder de torcida, eu tenho que ter alguns conhecimentos de ginástica. Eu acho muito interessante essa área, então acabei me aprofundando mais e ganhei experiência em certas coisas. – Explicou a garota.

— Hummm... Legal, talvez eu me torne líder de torcida também, parece muito divertido – Comentou Syaoran ironicamente.

— Ha ha ha, até parece, hahahaha.           

Os dois pararam de rir, e passaram a se encarar. Desta vez porém, não houve vergonha de nenhuma parte. Ambos olhavam no interior dos olhos que estavam a sua frente. Estavam sorrindo. Uma brisa agradável passava pelo local no momento. As folhas da árvore iam caindo lentamente, envolvendo o ambiente num aspecto quase místico. Talvez ficassem naquela situação por uma eternidade, se não fosse por uma folha que pousou no nariz de Syaoran. Após um pequeno choque, voltaram para a realidade.

— Hahaha, por acaso está virando uma árvore, Syaoran? – Debochou Sakura.

— Não sei, mas se fosse o caso, eu seria a única árvore com folhas no inverno por aqui.

— É, seria mesmo hahaha – Sakura passou a observar as folhas caindo – É... Logo logo chegará o inverno.           

Syaoran se juntou a ela na observação das folhas.

— Sim. Logo logo... – Comentou aparentando estar um pouco triste.           

Sakura pensou ter percebido uma tristeza nas palavras de Syaoran, mas procurou evitar que aquele momento ganhasse um aspecto infeliz.

— Eeee então. O que você normalmente faz nas férias de inverno? – Sakura tentou caminhar para um assunto mais animado.

— Bem, assim como no ano passado, eu pretendo voltar para casa.

— Para casa, você diz...?

— Hong Kong.

— Ah, verdade. Tinha me esquecido, hehe – Fazendo-se ironicamente de boba.

— Eu vou ficar por uns dias lá, rever minha família, e também tratar de alguns assuntos do clã.

— Clã? AH! Sim, o clã Li é uma família muito importante e de grande influencia. Imagino como algumas questões devem ser difíceis para você lidar.

— De certa forma, algumas coisas são bem chatinhas. Questões burocráticas, tradições, só coisas para encher a cabeça. Mas o próximo líder da família não pode fugir de suas obrigações, infelizmente – Disse Syaoran dando de ombros.           

Sakura ficou em silêncio. Pareceu se lembrar de algo, mas por fim, sorriu.

— Espero que dê tudo certo para você – Falou.

— Obrigado. E você, o que pretende fazer nas férias?

— Hum... Eu não sei ao certo. Talvez eu fique alguns dias na casa de Tomoyo. Mas no Natal eu vou ficar com meu pai e meu irmão. Fazemos isso todo ano, e apesar das provocações de Touya, é um evento em família muito divertido... AH! ME LEMBREI! PODE FICAR TRANQUILO QUE EU TAMBÉM VOU DAR UMA BRONCA NO TOUYA, ELE TAMBÉM DEVE SE ARREPENDER PELO QUE FEZ!

— Haha, relaxa. De qualquer forma, parece um momento em família muito interessante. Lá em casa eu também brigo bastante com minhas irmãs, mas no fim, gosto muito de todas elas.

— Irmãs!? Você tem irmãs!? Quantas!? – Sakura agora tinha os olhos brilhando semelhante aos de Tomoyo.

— Err... 4... –Respondeu Syaoran coçando a cabeça.

— O QUEEEEEEEEEEEEEE!!!??? Você tem 4 irmãs!!??

— S-sim...

— E como elas são!? Me conta!

— Bom, de certa forma cada uma tem sua personalidade própria, mas incrivelmente elas conseguem ser chatas e incômodas na mesma intensidade quando querem. Pode-se dizer que são um pé no saco – Falou Syaoran com uma cara azeda.

— Aaaaah, mas eu tenho certeza que você ama elas não é? Quais são as idades delas?

— São todas mais velhas que eu, e é exatamente esse o problema.

— Hã? Como assim?

— Por serem mais velhas, sempre se aproveitaram de mim, teve uma vez que elas até mesmo... – Ia falar algo, mas parou no meio do caminho.

— O que? Fala.

— Não... Prefiro não falar...

— Aaaaah, não vale! Você não pode simplesmente não falar agora. Vai. Me conta!           

Sakura se mostrava persistente. Syaoran viu que não tinha muitas alternativas.

— Ah... Teve uma vez... Que elas... Elas... Me maquiaram... – Disse relutante.           

Sakura ficou sem expressão por um momento, meio incrédula com o que ouviu, porém logo recobrando a razão e compreendendo o que ouvira, pôs se a rir:

— Pffffff..... HAHAHAHAHAHAHAHA. Não acredito! Isso é sério? – Perguntou quase chorando de rir.

— É, é sim. Difícil de acreditar, não é? – Disse Syaoran emburrado.

— É, um pouquinho – Disse a garota enquanto secava as lágrimas.

— Apesar disso e de várias outras coisas... Elas são boas irmãs, e gosto muito delas – Falou Syaoran sorrindo ao fim da fala.           

Sakura contemplou o sorriso sereno no rosto de Syaoran.

— É... Que bom.           

Aos poucos, iam ficando mais íntimos. Conhecendo cada vez mais um ao outro. Ambos estavam felizes por isso.

— Bom, eu acho que você devia ir agora, não é? – Comentou Sakura quebrando o silêncio.

— Ah, sim, quase me esqueci.

— Se não fosse por mim você ficaria perdido, hahaha. – Debochou – Vá lá pegar sua merecida recompensa junto aos seus companheiros.

— Sim, senhora! – Disse Syaoran, batendo continência novamente.

— Hahaha, deixa disso.           

Syaoran então caminhou para o portão do colégio. Chegando lá, virou-se para Sakura, sorriu, acenou, e exclamou:

— Obrigado pela torcida!

— Não tem de quê! – Respondeu aos gestos e ao agradecimento.           

Após o garoto se distanciar, Sakura voltou a observar as folhas. Estendeu a mão para que sobre ela pousasse uma folha vermelha. Admirando-a, murmurou sorrindo:

— Então você realmente se tornou o próximo líder, não é mesmo...? Parece que eu perdi afinal.           

E assim soltou a folha de volta ao vento, por onde pairou seguindo seu rumo pelo céu de outono de Tomoeda.

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— Cheguei – Anunciava Touya enquanto chegava em casa acompanhado de Yukito.

— Desculpe o incômodo – Disse Yukito ao entrar.           

Sakura veio correndo da cozinha ao ouvir a voz de Yukito.

— Yukito! Você também veio!? Vai ficar para o jantar não é? – Perguntou animada.           

Yukito era um pouco mais baixo que Touya. Tinha cabelos grisalhos e usava óculos. Uma aparência simples, mas um coração muito gentil. Já há alguns anos cultivava uma profunda amizade com Touya, de maneira que frequentava com frequência a casa dos Kinomoto.

— Será que eu posso? – Perguntou o rapaz se abaixando até ficar na altura de Sakura.

— Com certeza – Respondeu sorrindo gentilmente.

— Muito obrigado – Também sorriu.           

Em meio aos sorrisos, estava Touya, emburrado.

— Ei, eu também estou aqui.

— Ah... Oi Touya. Nem te percebi. Pensei que Yukito estava acompanhado de um poste, hehe – Sorriu debochada.

— Estou morrendo de rir. E além do mais, é minha vez de fazer o jantar. Não vá oferecendo aos outros se não é você que vai cozinhar.

— Aaaaah deixa disso. Eu até já comecei para você. E também, Yukito iria ficar para jantar de uma forma ou de outra.

— Nossa, para uma monstrenga, você é altamente perspicaz – Sorriu sarcástico.

— EI! NÃO ME CHAME DE MONSTRENGA!           

Diante da discussão entre os irmãos, Yukito apenas sorria e observava.

— De qualquer forma, eu vou continuar ou tentar salvar o que você já começou. Vamos Yuki – Disse Touya se direcionando à cozinha.

— Alto lá! – Exclamou Sakura se pondo a frente do irmão.

— O que foi agora?

— Nós precisamos conversar um pouco.           

Os dois ficaram se encarando. Touya obviamente compreendera de imediato o motivo daquela abordagem. Yukito, também compreendendo o que se tratava, resolveu se esquivar:

— Olha, eu acho que dar continuidade lá na cozinha. Eu ia te ajudar mesmo, Touya. Depois você vai para lá – Disse e seguiu para a cozinha.           

Os irmãos continuavam a se encarar.

— Já falei que sua perspicácia é incrível?

— Sem gracinhas, Touya.

— Aaah... – Coçou a cabeça – Sabe, essa vai ser a terceira vez que sou repreendido. A primeira foi pela Tomoyo, a segunda foi o cara da cozinha, e agora, você.

— Deu pra perceber que o que fez foi errado então, não é?

— Sim... – Respondeu emburrado.

— Escuta. Eu só tenho uma coisa a dizer.

— Ainda bem.           

Sakura não demonstrou emoção. Apenas olhou no fundo dos olhos do irmão, e disse:

— Por favor, não volte a se machucar daquele jeito de novo. Isso é tudo – Pôs-se a subir as escadas – Eu vou fazer algumas coisas no meu quarto agora. Quando o jantar estiver pronto me avise – Seguiu escada acima.           

Touya ficou parado, tentando entender o significado daquelas palavras. Após muito pensar, riu. Riu pela ironia da situação. Sua irmãzinha era mais madura do que pensava. Seguiu para a cozinha, onde encontrou Yukito mexendo com algumas panelas.

— Sakura realmente cresceu muito, não acha? – Perguntou o rapaz de óculos.

— Pode-se dizer que sim.

— Mas os dois continuam muito teimosos um com o outro, como sempre – Disse Yukito sorrindo.

— Ah cala a boca.  Vamos terminar logo isso – Resmungou enquanto continuava as preparações para o jantar.

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— E então, deu tudo certo? – Perguntava Tomoyo do outro lado da linha.

— Sim. Ele pareceu um pouco chocado, mas no fim tenho certeza que entendeu o que eu quis dizer.           

Após o jantar, Sakura estava em seu quarto conversando com Tomoyo ao telefone.

— Aaah, que bom. Fico feliz.

— Eu sei que meu irmão compreendeu o que fez. Tenho certeza que não se repetirá.

— Isso mesmo. Touya sabe aprender com seus erros. Apesar de tudo, ele é alguém maduro.

— É, você está certa.           

Ficaram algum tempo em silêncio, mas logo Tomoyo disse:

— E quanto a Syaoran, você também falou com ele, não foi?

— AH! Sim. Eu falei com ele sim...           

Sakura pareceu meio constrangida ao proferir aquelas palavras. Tomoyo notou prontamente.

— E como foi a conversa de vocês?

— Bem, eu dei uma bronca nele pelo que fez, mas depois nós apenas conversamos... Casualmente...

— Hummm... Entendo...

— O que? Por que está falando assim? – Perguntou Sakura desconfiada.

— Hehehe, não sei do que está falando.

— Ora, pare de me provocar! Hmpf – Resmungou irritada.

— De qualquer forma, ficou tudo certo entre vocês então?

— Sim, com certeza – Dizia Sakura, sorrindo, enquanto observava o luar daquela noite.           

De fato, no céu de Tomoeda naquela noite, pairava uma lua muito bonita, impossível de não se admirar.           

Não era a toa que, de seu apartamento, um jovem rapaz de cabelos bagunçados e olhos âmbares, observava também aquele lindo satélite natural.           

Havia sido um belo dia aquele. Jogou, ganhou, e o mais importante, resolveu as coisas com Sakura. Agora o único tormento que o perseguia, era o retorno à sua casa no inverno. Não era o retorno o problema, mas sim, as perguntas que deveria enfrentar. A pressão de sua mãe sobre sua estadia no Japão seria ainda mais forte dessa vez. Mas resolveu não encher muito a cabeça com isso, por hora. Primeiro teria de enfrentar os exames finais, aí então deveria se preocupar com a volta para Hong Kong.           

Sentindo a brisa gélida que vinha de fora, resolveu ir se deitar, amanhã, novamente, voltavam as aulas. Caminhou até sua cama, deitou-se, e não demorou muito a cair no sono.

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— Ei, como você espera ser um líder se não consegue nem mesmo saltar por um pequeno riacho?           

Estava sentado nas pedras de um pequeno riacho. Havia tentado pular pelas pedras, mas acabou por escorregar. A sua frente, estava a figura que acompanhava.

— Não acho que você possa ser um líder de verdade se não consegue pular pelas pedras desse riacho – Disse a pessoa.

— Cala a boca! Não é isso que vai me fazer ser um bom líder ou não. Uma coisa não tem nada a ver com a outra – Bufou Syaoran irritado.

— Hummm... Mas eu consigo e você não.

— Ninguém liga!

— Olha, eu acho que eu deveria ser a líder!

— O QUE!? Você é louca!? Nem faz parte da família!

— Mas um líder tem que ser capaz de fazer mais coisas que as outras pessoas não é? Caso contrário, qual o porquê de um líder? ....           

Seus olhos abriram. Não estava num riacho. Estava em sua cama, deitado. Olhando o relógio, viu que faltavam poucos minutos para tocar o despertador. Pelo menos isso.           

Mais um sonho. Porém esse foi diferente. Pela primeira vez pôde falar com aquela pessoa que já há algum tempo estava presente em seus sonhos. No entanto, não conseguiu ver seu rosto, estava embaçado, não havia como identificar quem era ou com quem se parecia.

— O próximo líder heim...? Hum... O que esses sonhos querem dizer...? – Murmurou para si mesmo passando as mãos pelo cabelo, cabisbaixo, sentado em sua cama.           

O celular vibrou. Surpreendeu-se. Era cedo demais para receber uma mensagem. Mas vendo o visor, compreendeu o porquê de receber uma mensagem tão cedo. Respondeu, e seguiu para iniciar sua rotina da manhã.

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Tendo passado o jogo, e acertado as coisas com Sakura, aquela semana estava bem tranquila. O outono ia chegando ao seu fim e dando início ao inverno. As pessoas estavam cada vez mais agasalhadas. A chegada do frio era iminente e logo Tomoeda seria encoberta por neve. Mas isso ainda iria demorar mais algumas semanas.           

Aquela semana seria a última que haveria treinos do clube de futebol. Não haviam mais jogos previstos, então os rapazes poderiam descansar pelo restante das aulas até a chegada da primavera. Syaoran não se importava de treinar no frio, mas respeitava a opção de seus colegas. Aproveitaria para jogar mais vezes com as crianças do caminho para sua casa.           

Era fim de tarde, e ele estava indo embora após o treino. Sakura não tinha atividades aquele dia, então não teria companhia na volta a casa. Porém, saindo do colégio, Syaoran sentiu uma presença. Alguém estava esperando por ele. Correu os olhos pela paisagem e pôde ver a figura de Touya um pouco distante. Estava encostado em uma moto, e tinha dois capacetes consigo. Compreendeu de prontidão o motivo de o rapaz estar lá.

— E então, vai me levar para jantar? – Provocou Syaoran ao se aproximar de Touya.

— Eu não tenho esse tipo de interesse em pirralhos como você. Pega aí – Disse e jogou um dos capacetes para Syaoran.

— Opa – Pegou o capacete jogado por Touya – Aonde vamos então?

— Apenas suba logo.           

Ainda com um pé atrás, Syaoran, colocando o capacete, subiu na garupa. De imediato, Touya acelerou, e seguiram sem rumo previsto.

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Notas finais do capítulo

E é isto. Nosso casal, cada vez mais próximo, treta resolvida (ou não), tudo nos conformes, hehe. Agradeço muito pelo apoio de todos. Seu feedback é o que me motiva a continuar escrevendo com tanta paixão. Espero que tenham gostado do capitulo. Até mais ^^



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