Caminho das Memórias escrita por Ainsworth


Capítulo 18
Memórias de um passado jamais contado - Parte III


Notas iniciais do capítulo

Bom, o que será que aconteceu com Syaoran e Sakura? Pra mostrar isso acabei me excedendo e esse capitulo ficou estupidamente maior do que o normal ;-; ( E eu ainda tirei algumas coisas que queria colocar ;-; v2) Mas bem, acho que valeu a pena *-* Então, sem mais demora, eis o 18° capítulo. Boa leitura ^^



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Memórias de um passado jamais contado – Parte III

 

         

Syaoran sentiu o corpo fraquejar.

— O que!? – Questionou.

— Eu sei, você está se divertindo aqui, até fez uma amiga... – Levantou-se e caminhou até o filho – Mas me desculpe, uma reunião urgente foi marcada com algumas pessoas importantes em Hong Kong, por isso teremos que ir embora antes do previsto.           

Syaoran até então se mantinha quieto.

— Eu sinto muito... – Concluiu Xiao Long.

— Trabalho, reuniões... – Syaoran cerrou os punhos – Pra você só importa isso, não é, pai?... – Disse baixinho.

— Xiao Lang, você sabe que isso não é—           

Foi interrompido por Syaoran que bateu em retirada, não só da mesa de jantar, como também da própria cabana.

— Xiao Lang! – Seu pai tentou o impedir, mas era impossível – Droga... Espero que ele entenda....           

Syaoran corria entre as árvores com todas as suas forças. Lágrimas de frustação corriam por seu rosto. “Por quê?”, ele se perguntava. Era sempre o trabalho de seu pai que acabava com os melhores momentos. Por quê? Por que tinha que ser um Li, por que deveria haver tanta ocupação em sua vida? Era isso que o aguardava no futuro? Uma vida cheia de trabalho, reuniões, compromissos e nada de diversão, tranquilidade, ou lazer? Sentiu-se infeliz por ter como destino esse futuro.           

Cansado após correr tão rápido, parou para descansar, além de chorar, também estava ofegante.

— Droga... – Resmungava.

— Hã? Syaoran? – Perguntou uma voz do alto.           

Erguendo o rosto, pôde ver Sakura, sentada no galho de uma árvore, encarando-o com curiosidade.

— Syaoran, o que aconteceu com você? – Perguntou preocupada ao ver que ele chorava.           

Syaoran virou-se de costas, tentando secar as lágrimas. Não queria que Sakura o visse assim.           

Insistente, a garota habilmente desceu da árvore e se aproximou de Syaoran, colocando uma das mãos sobre o ombro do garoto.

— O que foi? Por que está assim?           

Lentamente, Syaoran foi se virando para Sakura, mas olhando para baixo, sem a encarar.

— Supostamente, eu iria embora só amanhã, mas pelo visto, tenho que ir embora ainda hoje...           

Sakura se assustou. Havia se esquecido de que uma hora Syaoran teria que ir embora daquele lugar, assim como ela. Mas não pensava que seria assim tão subitamente.

— Então, você vai voltar pra casa é?...           

Syaoran confirmou acenando com a cabeça.

— Mas... Vai ser mais tarde, né? A gente ainda vai poder brincar um pouco... Né?... – Perguntou esperançosa.

— Não... Meu pai falou que logo após o café, já era pra eu arrumar minhas coisas. Eu corri, e aqui estou...

— Ah... – Soltou tristemente.           

Um silêncio se instaurou entre os dois. Syaoran voltou a cerrar os punhos. Rangia os dentes, com raiva e tristeza.

— Então, não temos muito tempo... – Sakura disse.

— O que? – Syaoran, desperto de sua ira, encarou-a confuso.

— Vamos – Pegou a mão do garoto – Temos que nos apressar – E começou a andar.

— Sakura? Aonde nós vamos?

— Você vai ver.           

Confuso, apenas se deixou ser guiado pela garota.

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Após andar um pouco, estavam novamente de frente para a enorme árvore do dia anterior.

— Por quê?... – Perguntou Syaoran.

— Achei que você gostaria de vir aqui antes de ir embora, uma última vez – Sorriu – Vamos – Começou a escalar.           

Syaoran não estava afim de contra argumentar, optou apenas por segui-la em silêncio. Subindo pelos galhos, refletiu que aquela era mesmo a última vez que subiria naquela árvore tão alta. A última vez que teria aquela vista tão ampla daquele local. Não conseguiu evitar ficar triste.           

Olhou para cima, e viu que Sakura já o aguardava com a mão estendida, assim como antes. Chegando até ela, com um puxão, subiu até o galho onde estava sentada.

— Aaaaaaaaahhhh, eu realmente não me canso de subir aqui! – Dizia Sakura enquanto se espreguiçava.           

Syaoran se manteve em silêncio, tinha o olhar vazio enquanto observava a paisagem ao redor. Sakura olhava tudo isso pelo canto do olho.

— Eu odeio ser um Li – Disse Syaoran, quebrando o silêncio, surpreendendo Sakura – De que adianta ter tanto poder se a sua vida se resume a deveres, obrigações e trabalho? Se eu pudesse escolher, escolheria nunca ter nascido um Li.           

Sakura ouviu cada palavra. Refletiu sobre a tristeza e revolta de Syaoran.

— Sabe, Syaoran, meu pai sempre diz que as coisas acontecem porque tem que acontecer, tudo tem um motivo e um destino, mas esse destino não é inalterável, as pessoas são capazes de fazer seus destinos e caminhar pelos caminhos que quiserem. Pra falar a verdade, eu ainda não entendo isso muito direito hehehehe... – Coçou a cabeça, sem graça – Mas eu acho, que todo mundo deve tentar ser feliz, sabe? Sem se importar com quem é, onde vive, ou o quanto tem.           

Aquelas palavras atraíram a atenção de Syaoran.

— Ahahaha, desculpa, eu só devo estar falando um monte de besteiras, né? Hehehe... Mas... – Fechou os olhos – Se tem uma coisa que eu sei, é que devemos agradecer por tudo o que somos e tudo o que temos! – Concluiu abrindo um lindo sorriso.           

Naquele momento, uma forte rajada de vento bateu em Syaoran, clareando, juntamente com as palavras de Sakura, muitas coisas em sua cabeça.

— E também, se você não fosse quem você é, talvez nós nem mesmo tivéssemos nos conhecido, não acha? – Disse Sakura.           

Syaoran a encarou nos olhos. Ela sorria docemente. Estava certa. Era verdade. Se Syaoran não fosse filho de Xiao Long, que garantia teria de que algum dia viria até o Japão, até aquela cabana, e conheceria aquela pessoa a quem se sentia estranhamente atraído e ofuscado.

— Meu pai também costuma dizer que... Se duas pessoas são separadas, e quiserem muito se reencontrar, elas vão conseguir, não importa o que for. Então... – Segurou as mãos de Syaoran, surpreendendo-o e o deixando extremamente vermelho – Eu tenho certeza que algum dia a gente vai se ver de novo, não importa quanto tempo demorar!           

Enquanto dizia aquilo, Sakura sorria de maneira linda e emocionada. Era possível ver que uma lágrima também descera pelos seus olhos. Mas o que ela mais queria naquele momento era tranquilizar Syaoran, e a ela mesma também.

— Ei, por que não faz isso uma última vez também? – Perguntou enquanto abria os braços e fechava os olhos.           

Syaoran nada disse, apenas copiou o ato. Abriu os braços e sentiu aquela brisa bater contra seu corpo, lavando sua alma, e levando consigo suas lágrimas. Chorou. Se dando conta de como era sortudo por ser quem era, e de que como era ingênuo ao tanto reclamar. Aquilo tudo devia a Sakura, quem o ajudou a esclarecer seus conflitos internos. Quem o apoiou, mesmo num momento tão triste.           

Abriu os olhos e viu que ela o encarava sorrindo. Algumas lágrimas ainda escorriam por seu rosto.

— Melhor irmos, né? – Perguntou a garota.           

Syaoran secou suas próprias lágrimas e respondeu:

— Sim.

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Voltando para a cabana de Syaoran, os dois caminhavam de mãos dadas. Syaoran andava cabisbaixo, pensando em como encararia o pai, depois de ter fugido mais cedo. Mas não podia ficar se deprimindo, se tocou de como estava agindo egoistamente, e precisava se desculpar por isso de cabeça erguida.           

Syaoran se surpreendou quando se deu conta de que já haviam chagado ao seu destino. Lá estava Xiao Long arrumando as últimas coisas no carro. Quando reparou na presença das duas crianças, se aproximou.           

Syaoran estava hesitante e inseguro. Mas Sakura o puxou pela mão, colocando-o mais frente, enquanto cochichava:

— Vai lá!           

Syaoran parou em frente ao seu pai, que aguardava com um semblante sério. Lentamente, Syaoran levantou seu rosto até conseguir fitar seu pai nos olhos. Tremia, mas aquela não era hora para fraquejar.

— Eu quero... – Engoliu em seco – Eu quero pedir desculpas por ter fugido mais cedo. Eu só estava pensando em mim mesmo, e agi de maneira egoísta... Então... Desculpe-me, pai...           

Ficou aguardando a reação de Xiao Long, que demorava a vir. Com isso, tremeu ainda mais.           

No entanto, Xiao Long logo abriu um sorriso e se ajoelhou.

— Você já está um homenzinho, não é? – Dizia enquanto passava a mão nos cabelos de Syaoran – Eu entendo a maneira como você se sente. Para você ainda é difícil entender algumas coisas nessa idade, e é normal ser um pouco egoísta. Mas eu fico aliviado, ao ver que você será um grande homem quando crescer – Passou os braços por detrás de Syaoran – Sei que terei muito orgulho.           

Syaoran teve que se segurar muito para não voltar às lágrimas. Apenas concordou:

— Sim...           

Se separando do filho, Xiao Long voltou sua atenção para Sakura, que se mantinha calada, apenas observando e sorrindo.

— Você é a amiga de Xiao Lang, não é? Qual o seu nome? – Perguntou se aproximando.

— Sim! Meu nome é Sakura Kinomoto, prazer! – Reverenciou.

— O prazer é todo meu, sou Xiao Long Li. Fico feliz que meu filho tenha feito uma amiga tão educada como você. É uma pena que tenhamos de ir embora...

— Ahahaha... – Sakura sorriu sem graça.           

Xiao Long voltou seu olhar para seu carro.

— Bom, eu vou terminar de ajeitar as últimas coisas para partimos. Aproveite para se despedir de Sakura, Xiao Lang – Disse, deixando-o a sós.           

Sakura e Syaoran ficaram frente a frente em silêncio. Nenhum dos dois sabia o que dizer. Sakura abriu a boca para falar algo, mas Syaoran foi mais rápido.

— Eu vou tentar voltar o mais rápido possível – Disse com firmeza.           

Surpresa, Sakura sorriu.

— Promete?

— Sim.

— Então... – Ergueu o dedo mindinho.           

Syaoran, ainda que corado, fez o mesmo, e ali, com os dedos unidos, prometeram que iriam se rever o mais rápido possível.

— Xiao Lang, vamos? – Chamou seu pai.           

Confirmou com um aceno de cabeça.

— Então... Até mais...

— É... Até logo!           

Entrou no carro, e com Xiao Long acelerando, partiram.           

Olhou no retrovisor e viu uma Sakura ainda parada naquele mesmo lugar. Acenava, e também percebeu que dizia algo, mas já estava longe demais para ouvir.

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Mais tarde, já no avião, Syaoran olhava pela janela, relembrando aquela curta, mas inesquecível viagem. Sentiu-se extremamente triste por ter que ir embora. Decidiu colocar a culpa no pai, e em seu trabalho. Mas não era exatamente esse o motivo. A causa de sua ira era simplesmente o fato de que ele não queria se distanciar de Sakura. Entendeu isso quando falou com ela antes de se despedirem. As últimas palavras que trocaram, aqueles últimos momentos, tudo fez clarear sua mente. Compreendeu enfim, o que sentia por ela. E confirmava, agora, mais uma vez, consigo mesmo, que precisava voltar para lá o mais rápido possível.           

Olhou para seu pai ao seu lado, e o chamou:

— Pai?

— Hum? – Respondeu enquanto lia um livro.

— Obrigado pela viagem.           

Xiao Long arregalou os olhos e olhou para Syaoran. Estava sério, mas era possível reparar num sorriso de lado se formando em seu rosto.

— Tudo bem, Xiao Lang – Passou a mão nos cabelos do filho – Nós iremos voltar em breve.

— Ok – Syaoran, feliz, concordou.           

O que nem Syaoran, nem seu pai esperava, era que, naquele momento, tudo estava prestes a mudar.           

Já sobrevoavam Hong Kong e logo o avião iria pousar. No entanto, o avião chacoalhou, assustando-o a todos os passageiros. Aconteceu uma segunda vez, e então, mais uma. Até que se ouviu o seguinte aviso do piloto:

— Senhores passageiros, tivemos um problema em um de nossos motores, e teremos que realizar um pouso de emergência. Peso que mantenham a calma e aguardem pacientes.           

A partir disso, sussurros e conversas eram ouvidos por todo o avião. Obviamente, todos ficaram preocupados com aquele aviso, ainda mais com as chacoalhadas anteriores.           

Com Syaoran não foi diferente. Sentiu-se com medo e olhou para o pai procurando algum consolo. Este, apenas manteve o mesmo sorriso calmo de sempre, passou a mão nos cabelos de Syaoran como fazia habitualmente, e o abraçou.

— Vai ficar tudo bem, meu filho, vai ficar tudo bem... O papai te ama...           

Com aquelas palavras reconfortantes, Syaoran relaxou. Segurou o braço do pai e sorriu. Estava feliz pelo pai que tinha.           

Após isso, mais chacoalhadas foram sentidas ficando cada vez mais frequentes, até que não se sentiu mais nada.

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Quando abriu os olhos, Syaoran olhava para um teto branco. Sentiu a cabeça doer muito. Com esforço, olhou para o lado e viu algumas pessoas vestidas de branco e também a sua mãe. Falavam alguma coisa, mas não conseguia compreender o que era. Sua mãe se virou e percebeu que ele enfim estava acordado. Correu até ele e o abraçou. Começou a chorar. Syaoran não entendia o porquê daquilo, sentia-se tonto e fraco. Adormeceu novamente, ouvindo sua mãe balbuciar:

— Xiao Lang... Xiao Lang...

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Mais tarde, Syaoran finalmente conseguiu abrir os olhos com clareza. Sentou-se na cama em que estava e observou o espaço a sua volta. Era um quarto totalmente branco com apenas uma poltrona e uma mesinha onde estava um vaso de flores, além de, é claro, sua cama.           

Estava sozinho, e sentiu-se confuso. Como havia parado lá? Não se lembrava. Pra falar a verdade, não se lembrava de muita coisa.           

De repente, batendo na porta, sua mãe entrou. Observou-o sentado, e sorriu.

— Ora, então você finalmente acordou? – Perguntou, se aproximando com flores novas, as quais trocou com as do vaso.

— Ah, sim... – Syaoran respondeu.           

Contudo, reparando bem, Syaoran percebeu que aquele sorriso no rosto de sua mãe, era triste.

— Como você está se sentindo?

— Eu...             

Syaoran simplesmente não sabia como responder. Era uma sensação estranha, a qual nunca havia experimentado.

— Entendo... Acho que deve ser difícil... – Sentou-se na poltrona, desviando o olhar – Mas... Você terá que ser forte.           

Syaoran se assustou com aquelas palavras, temendo pelo que viria a seguir.

— Escute, Xiao Lang, é complicado de entender, mas...           

Yelan hesitou. Syaoran ficou aguardando, preocupado.           

Inevitavelmente, lágrimas começaram a descer do rosto de Yelan, aumentando de intensidade rapidamente.

— Mamãe!? – Syaoran se levantou para consola-la, ainda que sem entender o motivo daquelas lágrimas – O que aconteceu?           

Hesitante, em meio a soluços, Yelan finalmente disse:

— Xiao Lang... Seu pai... Seu pai está morto...

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Uma semana após receber alta do hospital, Syaoran visitava o tumulo de seu pai pela primeira vez. Não chorava, pois esgotara todas as lágrimas chorando diariamente durante os vários dias que decorreram após receber aquela notícia. Aquele dia em si, fora o pior de todos. No momento que sua mãe lhe contara, sentiu o chão sumir de seus pés. Sentiu-se fraco, ainda mais do que já estava. Ficou repetindo a palavra “mentira” várias vezes, mas de nada adiantava e nada iria mudar. Por mais triste que fosse, aquela era a sua realidade.           

Finalmente, estava novamente à frente daquele quem considerava como o seu herói, sua inspiração, e seu exemplo. Aquele, que por mais curtos que fossem, jamais esqueceria os bons momentos com quem passou junto. Ou pelo menos era esse o seu desejo.           

Ficou durante um bom tempo, apenas ali, observando o tumulo. Sua mãe estava ao seu lado, e mais distante, seu mordomo, Wei, os aguardava. Nunca imaginou que aquele momento chegaria tão cedo. Pra falar a verdade, como ainda era uma criança, nunca imaginou que um momento como aquele chegaria. Mas como a sua mãe lhe disse, precisava ser forte. Forte, como jamais antes precisou ser, e como jamais precisaria. Por que além da morte de seu pai, ainda enfrentaria um outro problema, que, entretanto, não lhe importava em nada naquele momento.

            - Xiao Lang. É hora de irmos – Disse Yelan.           

Syaoran, no entanto, não desviou o olhar, muito menos se mexeu. Vendo isso, Yelan apenas se retirou em silêncio para onde Wei estava, a fim de aguardar Syaoran se despedir.           

Voltaria inúmeras vezes para aquele local, sabia disso. Mas a primeira memória, de estar ali, em frente ao tumulo de seu pai, pela primeira vez, jamais esqueceria.           

Rangeu os dentes, e respirou fundo.           

Era hora de seguir em frente.

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Dois anos já haviam se passado desde que Syaoran perdera o pai. Ainda carregava essa dor, mas conseguia viver sua vida normalmente. A outra grande fatalidade gerada por aquele infeliz acidente, foi a sua perda de memória. Após alguns exames, constatou-se que perdera as memórias de cerca dos dois anos anteriores. Com algum esforço, repôs os conhecimentos que perdera, tanto com aulas complementares e reposições na escola, como com aulas que sua própria mãe lhe dava. Ensino era algo muito importante, e precisava ser valorizado. Em pouco tempo, conseguiu alcançar seus colegas, e já estava pronto para retomar as aulas normalmente. Com isso, teria quitado as dívidas geradas por sua perda de memória. Ou pelo menos, era o que pensava.           

Naquela tarde, estava sentando num balanço em um parque próximo a sua casa. Não se balançava, apenas pensava, como vinha fazendo já havia algum tempo. Algo começava a angustia-lo. Sentia um incômodo, e tinha total consciência de que era culpa das memórias que havia perdido. Mas o que poderia ser? Era algo realmente importante? E se era, conseguiria algum dia se lembrar?           

Colocou uma das mãos sobre o rosto, fazendo uma expressão de dor. Sempre que começava pensar e se perguntar de mais sobre seu passado desconhecido, começava a sentir dores de cabeça. Fora orientado por médicos e também por sua mãe diversas vezes, a evitar fazer esse tipo de coisa, pois só lhe causaria dor. Contudo, era algo inevitável.

— Syaoran?           

Ouvindo uma voz familiar lhe chamar, levantou a cabeça, tirando a mão do rosto para ver quem era. A sua frente, viu a figura de Eriol Hiiragizawa, um garoto de pela bem clara, cabelos num tom marinho, possuindo óculos em seu rosto.

— Está tudo bem com você? – Perguntou Eriol.

— A-ah, sim...           

Conheceu Eriol três anos antes do acidente, então ainda possuía memórias sobre ele e sua amizade, que foi ainda mais confirmada com todo o apoio que Eriol lhe deu durante sua reabilitação. De fato, tanto na escola como em sua própria casa, Eriol procurava lhe ajudar nos estudos, sempre que era possível. Devia muito a ele.           

O garoto japonês se sentou na balanço ao seu lado.

— Anda pensando muito em suas memórias? – Perguntou, balançando-se de leve.

— Hã!? – Syaoran exclamou assustado – Como você...

— Bem, eu apenas senti. Ultimamente você está mais sério do que o normal, e às vezes faz cara de dor, como agora a pouco, então imaginei que fosse algo assim...

— É... Você está certo. Eu venho sentindo algo me incomodando há algum tempo. Mas eu não sei o que é, e por mais que eu me esforce para lembrar, sempre acabo apenas com dor de cabeça.

— Humm, entendo – Comentou Eriol já se balançando alto – Acho que faz sentido, devido a sua situação. Deve haver muitas coisas que você queira saber, e coisas que talvez só você saiba que aconteceram.           

Syaoran se manteve cabisbaixo, em silêncio.

— Olha – Eriol brecou os pés no chão, cessando o balançar – Eu não sei se tem muitas coisas em que posso ajudar com relação a isso, mas... – Levantou-se – No que eu puder fazer, estou aqui – Concluiu sorrindo.           

Ouvir aquilo deixava Syaoran feliz e aliviado. Fazia o sentir relaxado e tranquilo, pois sabia que alguém estava lá para apoia-lo.

— Obrigado, Eriol – Agradeceu, também sorrindo.

— Hehe. Olha, eu estava indo jogar bola com os outros garotos, você vem?           

Meio hesitante, Syaoran se levantou. Precisava mesmo esfriar um pouco a cabeça.

— É claro.

— É assim que se fala!

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Mais alguns anos se passaram. Em poucos meses, Syaoran entraria no colegial, época tão importante e marcante na adolescência. Mas não era isso que o preocupava. De fato, deixava tal coisa de lado, o que lhe interessava era a angústia que vinha sentindo já havia anos. Aquela sensação de falta, misturada com culpa e saudade, apenas se intensificava. E queria muito entender o que era isso.           

Estava na escola, a aula era geografia. Como achava chata, não prestava muita atenção naquela aula. Abria o livro na página que a professora mandava e se perdia no mundo dos pensamentos. Naquela aula não estava sendo diferente, estava imerso em seus devaneios, até que ouviu a professora pronunciar a palavra “Japão”, que sem entender, chamou sua atenção. De imediato, reparou que a página em que o livro estava aberto exibia um mapa destacando o Japão. Observou aquela figura curioso, tentando entender, o que uma porção de terra no meio do oceano como aquela tinha para lhe chamar a atenção daquele jeito.           

De repente, sentiu uma forte dor de cabeça, diferente das normais, forçando-o a colocar as duas mãos sobre a cabeça, de maneira que daquele jeito tentasse cessar a dor. A professora reparou e ficou preocupada:

— Li? Está tudo bem com você?           

De imediato, todos na sala viraram para encarar o rapaz, inclusive Eriol, que se sentava a algumas cadeiras de distância.

— A-ah, desculpe... Não é nada... – Desculpou-se envergonhado.

— Tem certeza? Não acha melhor ir até a enfermaria?

— Isso não—

— Professora – Cortou Eriol, levantando-se subitamente – Eu o acompanharei até a enfermaria.

— Obrigado, Hiiragizawa, é melhor assim.           

Sem poder contrariar, Syaoran assim o fez.

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Mais tarde, Syaoran estava deitado em uma das camas na enfermaria. Eriol aguardava sentado numa cadeira.

— Você não tem que voltar pra aula? – Perguntou Syaoran.

— Preocupo-me mais com você, além do mais, aquela aula estava bem chata.           

Syaoran sorriu. Em alguns aspectos, os dois eram bem parecidos.

— Ei, Eriol, você morou no Japão, não é?

— Não é a toa que sou japonês – Ironizou.

— Me diga, o que tem por lá? – Perguntou, sentando-se na cama.           

Estranhando a pergunta, Eriol encarou o amigo.

— De onde veio esse súbito interesse no Japão? – Perguntou.

— Não sei direito, mas... Quando olhei para aquele mapa, durante a aula, senti uma sensação muito estranha, como se houvesse... Algo além do que já sei a respeito... Algo que talvez eu esqueci, alguma coisa importante... Não acho que consigo explicar, mas me senti atraído de certa forma. E então, veio aquela dor...

— Hum... – Eriol colocou a mão sob o queixo – Poderia ser que... Talvez... Tenha alguma coisa a ver com suas memórias perdidas?           

Ao ouvir essa pergunta, Syaoran arregalou os olhos. Imagens e flashs passaram por sua cabeça em grande intensidade. Pensou que iria explodir, sentiu falta de ar e quase caiu da cama.

— Syaoran!? – Eriol exclamou, segurando o amigo, impedindo-o que viesse ao chão.           

Aos poucos, Syaora se recuperou, pousou a mão sobre a cabeça e abriu um sorriso.

— Syaoran, você está bem? – Eriol perguntou preocupado.

— Hehe... Então era isso...

— Syaoran?—           

Subitamente, o chinês se soltou dos braços de Eriol, pulando para fora da cama.

— Mas o que voc—

— Eu acho que finalmente entendi, Eriol, finalmente... – Syaoran disse, virando-se com um sorriso convicto na face – Já sei o que devo fazer.

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Pedir coisas para sua mãe era algo ao qual Syaoran não estava muito habituado a fazer, e por tanto, não o sabia direito como fazer. Mas agora era diferente, havia um motivo importante e não podia ter receio de fazer aquilo. Estava de pé em frente ao escritório de Yelan, e, por mais que se sentisse inseguro com aquilo, não poderia voltar para trás. Engoliu em seco e bateu na porta.

— Pode entrar – Ouviu.           

Respirou fundo, e adentrou. Como sempre, o escritório de sua mãe, que um dia fora de seu pai, era um lugar muito bem organizado e limpo. Havia muitos livros e documentos, mas todos estavam em seus devidos lugares, organizados em estantes, gavetas e fichários. Yelan folheava e analisava alguns documentos em sua mesa. Olhou de relance para Syaoran.

— Oh, é você, Xiao Lang? Em que posso ajudar? – E continuou olhando para os papéis em suas mãos.

— E-eu gostaria de pedir algo.

— Oh, é mesmo? E o que é?           

Era agora. Não poderia fraquejar.

— Eu quero ir para o Japão! – Exclamou, decidido.           

Imediatamente, Yelan parou o que estava fazendo e voltou seu olhar penetrante para o filho, fazendo-o tremer.

— Ora, e por que quer fazer isso?

— Porque... – Cerrou os punhos – Eu sinto... Que preciso ir para lá.        

Yelan se levantou de sua cadeira e caminhou até Syaoran, parando a sua frente.

— O que quer dizer com “sente” que precisa ir para lá?

— Eu... Toda essa angústia que senti durante esses anos, todo esse vazio, essa sensação ruim... Hoje, de alguma forma, eu senti que posso entender isso se for ao Japão! Eu não sei como explicar, mas... Pensar que indo para lá... Poderei me lembrar de alguma coisa importante, me fez clarear tudo! Então...           

Aguardou Yelan dar uma resposta. Esta, contudo, apenas suspirou e se virou, caminhando lentamente de volta a sua mesa, parando em frente à janela.

— Então era isso? É perda de tempo – Decretou.

— O que!? Como pode dizer isso!? – Syaoran exclamou espantado.

— Eu sei o que estou falando, é uma perda de tempo. Não há porque você ir ao Japão – Reforçou.           

Não contente com aquilo, Syaoran rangeu os dentes e foi até sua mãe, ficando ao seu lado.

— Eu fui lá com meu pai, não foi? É o que todos me contaram, não foi? Algo deve ter acontecido lá, deve haver algo que eu tenho que fazer ou procurar lá!

— Isso não quer dizer nada, não há a necessidade de—

— Eu tenho sonhos! – Syaoran a cortou – Eu sonho com algum lugar, não é nada nítido, mas eu devo ter ido a algum lugar lá onde aconteceu alguma coisa. Esse sonho se repete quase todas as noites...           

Agora era a vez de Yelan se surpreender, Syaoran não havia comentado sobre isso ainda.

— Você—

— Eu sei! Não há nada concreto nisso, mas... – Encarou-a nos olhos – Eu estou sofrendo por isso, mãe. Eu quero saber. Saber por que me sinto assim. Eu quero entender o motivo por trás disso, e não é ficando parado que vou conseguir. Por ser até mesmo que indo lá eu não encontre nada, mas... Por menor que seja, eu tenho que perseguir essa pista! Senão...           

A essa altura, lágrimas já se formavam no rosto de Syaoran. Yelan estava espantada. Nunca virá o filho assim. Sendo tão insistente com algo, tão convicto. Mas algo a impedia de mudar sua conduta.

— Mesmo assim... Não posso permitir sua ida ao Japão, é irresponsabilidade de mais. Eu entendo você, mas as coisas nem sempre são como queremos.

— O que?... – Syaoran não acreditava no que ouvia, mesmo com seus esforços, não conseguia fazer sua mãe mudar de opinião?

— Se isso é tudo que tem para me dizer, acabamos. Estou saindo – Dizia Yelan direcionando-se para a porta do escritório.           

Porém, antes que a abrisse, Syaoran exclamou:

— ENTÃO VOCÊ ESTÁ TENTANDO ME PROTEGER!? É ISSO, MÃE!?           

Assustada, Yelan virou-se com olhos arregalados. Era esse mesmo seu filho?

— MAS DE QUE ADIANTA PROTEGER UM FILHO INFELIZ!? HEIM!? – Esbravejou.

— Xiao Lang, você não entende—

— NÃO, MÃE, É VOCÊ QUE NÃO ENTENDE! – Lágrimas agora desciam por seu rosto – Papai me entenderia. Ele me deixaria correr atrás de meus sonhos...           

Yelan colocou as mãos sobre a boca. Falar sobre Xiao Long, numa hora dessas.

— Mas eu vou mostrar a você. Vou provar que sou capaz...

— Xiao... Lang... – Tentou tocá-lo, mas este saiu correndo em alta velocidade do escritório – Xiao Lang!? – Yelan tentou impedi-lo, mas era impossível.           

Surpreendeu-se ainda mais quando viu que Wei estava parado do lado de fora.

— Minha senhora, sabe muito bem que não sou de ouvir conversa alheia, mas não pude deixar de me preocupar com o alto tom de voz do jovem mestre, assim que eu o ouvi – Explicou o mordomo.

— Está tudo bem, Wei, eu entendo...

— Se a senhora me permite dizer, às vezes, o momento de deixar nossas crias abrirem as asas e voar, pode chegar antes do esperado. Ainda que não consigamos entender, devemos tentar respeitar essa motivação que os faz querer descer do ninho com tanta vontade. Portanto, tentar impedir, não é, normalmente, uma boa opção.          

Yelan se espantou com aquelas palavras.

— Wei... Você...

— Agora, se me permite, vou voltar ao meu trabalho, com licença.

            Yelan ficou ali, parada. Observando Wei indo embora. Olhando para o chão, enquanto refletia sobre tudo o que o filho lhe dissera.

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Syaoran corria. Corria com todas as suas forças. Seu rosto cheio de lágrimas. Mas não estava triste, nem com raiva. Não nutria esses sentimentos. Aquele choro carregava sua determinação. Depois daquele dia, estudaria como nunca. Se esforçaria em casa. Faria de tudo para mostrar a sua mãe como era digno, e como precisava de fato ir àquele lugar, e tentar de alguma forma recuperar suas memórias, para acabar com aquele sentimento ruim. Não desistiria. Não voltaria atrás. Não tinha arrependimentos. Tinha apenas a vontade, de resolver de uma vez por todas, aquele seu problema.           

E era indo para o Japão, que sentia que enfim, faria isso.

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         Dias atuais...           

Tomoyo chegava apressadamente no Parque do Rei Pinguim. Estava ofegante e preocupada. Sem muita dificuldade, avistou Sakura sentada num dos balanços do parquinho. Assim que notou sua presença, sorriu para a amiga. Imediatamente caminhou até ela.

— Pensei ter pedido para que ficasse em casa – Bufou.

— Desculpe, eu realmente precisava sair... – Desculpou-se sem graça.

— Bom, que seja – Sentou no balanço ao lado – E então?...           

Sakura olhava para o chão. Em seus lábios havia um sorriso triste. Virando-se para a amiga, disse:

— Acho que tenho uma longa história para te contar.

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Notas finais do capítulo

É, pois é. Coisas tristes, agonias, vontades, quase 5 mil palavras... Hehehehe. É isso, né, no fim, o que nos move é nossa determinação. E como vimos, Syaora nunca desistiu da sua.
Então, espero que tenham gostado.
Agora no meu perfil tem o twitter que criei direcionado exclusivamente para essa vida de fanficqueiro, onde eu vou postar umas atualizações sobre o andamento das fics assim como interagir com quem quiser, então, se estiver afim, da uma olhada lá xD
E acho que é isso, obrigado por tudo, e até mais ^^



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