Caminho das Memórias escrita por Ainsworth


Capítulo 19
Memórias de um passado jamais contado - Parte Final


Notas iniciais do capítulo

Ora poisss. Mais um sábado de manhã trazendo capítulo novo. Bem que eu gostei dessa rotina *-* Mas logo, chegaremos ao grandiosíssimo final... Talvez tenhamos mais um mês... Ou mais... Ou menos... Quem sabe? xD Mas por hora, chega de especulações, its time to read! Então, eis o 19° capítulo. Boa leitura ^^



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Memórias de um passado jamais contado – Parte Final

 

2 anos atrás...

            

As flores de cerejeira balançavam graciosamente com o soprar do vento. Agraciadas com a benção da primavera, elas agora inundavam a pequena cidade de Tomoeda com uma imensa beleza, trazendo sentimentos de alegria, paz e gratidão para seus moradores.           

Em meio a esta beleza, uma jovem garota de cabelos curtos e dourados, olhos esmeralda e uma face ofegante, corria apressada. Seu nome era Sakura Kinomoto, e aquele era um dia extremamente importante para ela, pois estava, enfim, ingressando no colegial, no pequeno, porém renomado Colégio Tomoeda. Estava com pressa, pois estava atrasada para cerimônia de entrada. Mesmo com as más experiências no ginásio, não havia perdido por completo esse mau hábito, nem tão cedo perderia.           

Com certo esforço, conseguiu chegar antes de a cerimônia começar, e para sua sorte, não chamou muita atenção, pois a maioria das pessoas ali estava ansiosa ou nervosa de mais para reparar em atrasados. Conforme se aproximava do mar de cadeiras dentro do ginásio, tentava localizar sua amiga e prima, Tomoyo Daidouji, dando pescoçadas, contudo, não bem sucedidas. Novamente, para sua sorte, enquanto andava meio perdida, a própria Tomoyo a localizou e chamou por seu nome:

— Sakura! Aqui! - Chamou, a garota de longos cabelos negros e olhos violeta, enquanto acenava.

— AH! – Surpresa e feliz por ter encontrado a amiga, Sakura se dirigiu até ela, sentando no banco ao seu lado que estava vazio, provavelmente sendo reservado para ela mesma – Tomoyo, como é bom te ver! Achei que fosse ficar sozinha... – Falou, praticamente se jogando nos braços da amiga.

— Ora, Sakura, uma coisa dessas não aconteceria, pode ter certeza. Mas seus atrasos também não ajudam muito...

— Ahahahaha... Eu acho que não... – Riu, sem graça.           

Neste momento, algo chamou a atenção de Sakura. A umas três ou quatro fileiras de cadeiras à frente, estava a figura de uma pessoa, que pelos cabelos curtos e bagunçados e o porte físico desenvolvido, fez Sakura constatar de que era um garoto. E apesar de não conseguir ver seu rosto, sentiu uma estranha proximidade com aquela pessoa, como se fosse alguém familiar a ela.           

No entanto, antes que pudesse continuar sua observação e seus questionamentos internos, o diretor da escola subiu ao palco para iniciar a cerimônia. Assim, todos os alunos se levantaram, e Sakura não teve mais contato visual com seu alvo, perdendo-o de vista. Ainda que curiosa sobre, decidiu deixar de lado por hora, tratando de prestar atenção nas palavras do diretor.

 

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— Ei, vocês não acham que aquele discurso foi meio cansativo?

— Nem brinca, só não peguei no sono porque estávamos o tempo todo sentando e levantando.           

Agora, Sakura, juntamente com suas amigas, Tomoyo e Chiharu, aguardavam na sala de aula para o definitivo início das aulas. Muitos ali já se conheciam, vinham da mesma escola ou eram simplesmente amigos de infância, e então conversavam alegre e naturalmente. Outros arriscavam e tentavam se enturmar com os colegas ainda não conhecidos em busca de amizade. E havia também aqueles que se mantinham quietos em seu canto, sem chamar muita atenção, fosse por opção ou por falta de escolha mesmo.               

Sakura tinha sorte. Em sua sala estavam duas de suas melhores amigas, com quem teve aula durante todo o ginásio, Tomoyo e Chiharu. Fora ,é claro, vários colegas que já conhecia, tal como o icônico Yamazaki, grande contador de mentiras, que era sempre punido por Chiharu.

— Pois é, não é uma experiência que você gostaria de ter todo ano... – Comentou Chiharu.

— Pois eu acho que é uma experiência adorável e muito especial, pois marca o início de nossas vidas colegiais, abrindo um portal para um mundo novo de aventuras e paixões... – Disse Tomoyo, com os olhos brilhando e as mãos unidas.           

A reação das outras duas amigas, foi rirem sem graça ficando com uma gota d´agua na testa.

— Ahahaha... Como esperado da Tomoyo, adora romantizar as coisas...           

Sem que pudessem continuar a conversa ou fazer mais comentários, a professora finalmente chegou à sala, fazendo todos retornarem as suas carteiras, aguardando em silêncio.

— Bem, bom dia. Já lhes foi dito mais cedo, mas, sejam bem-vindos ao Colégio Tomoeda. Vocês ficaram durante alguns anos nesta instituição e espero que durante esse tempo possamos aprender bastante juntos. Meu nome é Furukawa Misaki – Escreveu o nome no quadro – Serei a professora de Japonês de vocês. Mas antes de começarmos, façamos primeiro uma apresentação. Comece, por favor – Ordenou.           

E então, cada aluno ia levantando, um por vez, para se apresentar. Dizendo seu nome e algo como “Por favor, tomem conta de mim”. Apesar de aquele processo ter começado na fileira da janela, que era justamente a que Sakura sentava, por se sentar na última carteira poderia relaxar, ainda teria um tempinho até chegar à sua vez. E para falar a verdade, desde que a professora parou de falar, Sakura passou a olhar para a janela ao seu lado, observando a paisagem do lado de fora. Não era como se desprezasse seus colegas que estavam se apresentando, apenas estava pensativa demais.

— Colegial, é? – Pensou.           

Diferente de muitas pessoas a sua volta, não estava tão entusiasmada com aquela nova fase. Não estava muito animada com o desconhecido, com o novo. Não tinha esse ânimo. Tinha baixas expectativas do que aqueles três anos poderiam lhe proporcionar.           

Talvez... Talvez a causa fosse ele?... Talvez ela ainda esperava que ele realmente voltasse?... Não... Não era uma boa ideia ficar sustentando uma memória tão antiga assim, da qual ela já nem se lembrava tão bem.           

Balançou a cabeça, tentando afugentar aqueles pensamentos.

— Não... É melhor pensar que algo bom vai acontecer... – Pensou e sorriu.           

Foi então que chegara a vez da pessoa que se sentava duas carteiras a sua frente se apresentar. Quando se levantou, devido a sua altura, chamou a atenção de Sakura, fazendo-a arregalar os olhos quando percebeu que era a mesma pessoa que havia chamado sua atenção na cerimônia de entrada.           

Curiosa para saber quem era, manteve seu olhar fixo naquele ser. E quando ele finalmente virou um pouco o rosto, de modo que fosse possível para Sakura vê-lo, ficou boquiaberta, sentindo o chão sumir de seus pés.

— Meu nome é Syaoran Li. Sou de Hong-Kong e vim para estudar aqui no Japão. Acho que não tenho nenhum tipo de hobbie, mas espero que, por favor, tomem conta de mim – Finalizou se curvando.           

Como era de costume, após alguém se apresentar, o restante da turma batia palmas, mas no caso de Syaoran, foi diferente. Além do volume das palmas ter sido um pouco maior, também era possível ouvir um “Ohh...”, além de comentários como “Então os boatos estavam certos...” “É ele mesmo...”.           

Mesmo que não quisesse, sua presença ali chamou a atenção de muita gente. Sentou-se novamente com uma expressão um pouco incomodada.           

Sakura, por sua vez, sentia-se perdida e confusa. Memórias de muito tempo atrás passaram por sua cabeça. Era ele mesmo? Era Syaoran? Aquele garoto com quem fez uma promessa há muito tempo atrás? A pessoa por quem nutriu um sentimento especial todo esse tempo? Que não via há 6 anos e agora aparecia a sua frente? Mas... Se era ele, não reparou nela? Não notou sua presença? Não... Se lembrou?

— Kinomoto? Kinomoto?           

Era coisa de mais para Sakura pensar, fazendo-a fritar a cabeça. Demorou a se tocar que a professora a chamava já que era sua vez de se apresentar, e em vez de o fazer, estava “concentrada” em seus pensamentos, olhando fixamente e estranhamente para sua carteira.

— KINOMOTO! – Gritou a sensei.

— AQUI! - Com o grito da professora, Sakura despertou, dando um pulo e ficando de pé bruscamente, de modo que todos riram de sua cara – Hoe? Hoe!? – Ainda que desperta, não entendeu porque todos riam de sua cara, mas se sentiu extremamente envergonhada.

— É a sua vez de se apresentar, Kinomoto... – Explicou a professora Misaki com toda a calma do mundo.

— A-a-a-a-ah desculpe – Implorou – M-meu nome é Sakura Kinomoto, eu estudei na Escola Fundamental de Tomoeda. E-eu me dou bem com a maioria das atividades esportivas, e... Acho que isso é tudo... AH! E espero que, por favor, tomem conta de mim!           

Muitos também riram de sua apresentação devido ao seu notável nervosismo. Cheia de vergonha, Sakura tornou a sentar, ruborizada.

— Ai, ai, ai, que belo começo – Pensou.           

As apresentações se sucederam tranquilamente após aquilo. Mas algo que Sakura notou foi que em momento algum Syaoran virou de costas.

 

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Na hora do almoço, Sakura novamente corria com pressa. Assim que foram liberados, não conseguiu sair, pois suas amigas a seguraram, fazendo comentários sobre as aulas da manhã, e planejando almoçarem juntas. Syaoran, por sua vez, saíra da sala na hora, e reparando nisso, Sakura quis ir atrás dele de qualquer jeito. Assim que consegui dispensar as amigas, bateu em disparada.

— Preciso falar com ele, ele deve apenas não ter me visto... É... foi isso – Pensava.           

Foi então que chegando às escadas, finalmente o alcançou. Lá estava ele, após tanto tempo. Não aguentava mais. Do topo da escada exclamou:

— Syaoran!           

Instintivamente, o rapaz olhou surpreso para quem lhe chamava, surpreendendo-se ainda mais com quem vira.           

Sakura o olhava com um sorriso nos lábios, esperou tanto tempo por aquele reencontro. Aguardava a reação de Syaoran. Infelizmente, quando ela veio, sua animação se esvaeceu.

— Posso... Te ajudar? – Perguntou o rapaz sem muita expressão.           

Sakura quebrou por dentro. Aquela era sua reação? Ele não a havia reconhecido? Por quê?... Qual era o motivo para agir assim?           

Queria perguntar, mas não conseguiu. Aos poucos, aquele alegre sorriso se foi, dando lugar a uma expressão sem graça.

— A-ah, desculpe... Não preciso de nada... Até mais! – Tão rápido quanto chegou, bateu em retirada, descendo apressadamente as escadas, deixando o rapaz para trás, sem que pudesse falar nada.           

Syaoran ficou ali parado sem entender nada.

— Aquela garota...?           

Enquanto corria, Sakura pensava:

— Syaoran idiota...

 

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Sakura choramingava sentada atrás de um arbusto na parte exterior da escola.

— Aquele Syaoran... Como ele pôde ser tão rude... O que tinha com ele?...           

Resmungava para si mesma tentando entender o porquê daquela situação anterior. Teria ele se esquecido dela?

— Não, não! – Sakura balançou a cabeça – Ele não se esqueceria... Fizemos uma promessa jurando que iríamos nos reencontrar. Syaoran não esqueceria isso.           

De maneira alguma iria admitir algo daquele tipo. Por mais que estivesse brava, o sentimento especial que tinha por Syaoran havia durado por todos aqueles anos, ainda que muitas vezes o mantivesse bem fundo no coração, nunca o esqueceu.

— Certo! – Cerrou o punho – Ele só deve não ter me reconhecido. Já faz muitos anos desde aquilo, assim que eu esclarecer as coisas nós—

— Então, está sabendo sobre aquele novo aluno da classe 1-C que veio de Hong Kong?

— Ah... Sim, sei sim...           

No momento em que Sakura ia se levantar para sair de seu esconderijo, ouviu duas vozes passando no corredor que estava atrás de si, e bem ali, havia uma janela, a qual se Sakura se levanta-se seria possível vê-la, e não pretendia ser pega naquela situação.           

Mas até que foi oportuno, a descrição que a pessoa deu foi a de Syaoran. Reconheceu pela voz que se tratava de dois professores. E se dois professores estavam falando sobre Syaoran, com certeza estava interessada.           

Por hora, decidiu guardar posição, e ouvir o que aqueles professores estavam falando.

— Bom, acho que você não sabe, mas.... Há 6 anos, esse rapaz, Syaoran Li, estava no voo C-31.

— Espere... Você diz... Aquele voo C-31?

— Sim.

— Oh meu Deus... Ele devia ser só um garotinho... Graças a Deus, ele teve muita sorte.

— Pois é, mas seu pai nem tanto...

— Oh não... Você quer dizer...?

—Sim...           

Sakura estava confusa. Que voo era aquele? O que tinha acontecido com o pai de Syaoran? Mas... 6 anos atrás... Foi quando conheceu Syaoran. Poderia ter sido o seu voo de volta para Hong Kong...?

— Mas não acaba por aqui. Embora não tenha tido grandes danos na maior parte do seu corpo, um único impacto na cabeça fez com que Syaoran Li tivesse de carregar um peso para toda a vida.

— O que aconteceu?...

— Infelizmente, ele perdeu as memórias dos dois anos anteriores.           

Ouvir isso, fez Sakura desabar. Instantaneamente seus olhos se inundaram de lágrimas.

— Oh Deus...

— Sim... Deve ter sido muito difícil para um garotinho da idade dele, mas soube que posteriormente...           

Sakura já não ouvia mais a voz dos professores. Haviam se distanciado no corredor. Agora, lágrimas desciam intensamente pelo seu rosto. Agora, tudo fazia sentido.           

Sentido até de mais.

 

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Naquela tarde, Sakura não voltou para a sala de aula. Ficou apenas chorando em seu esconderijo. Assim que deu a hora de ir embora, esperou os outros alunos irem primeiro, para que assim tivesse um tempo para lavar o rosto e ir pegar suas coisas na sala de aula sem que ninguém a visse.           

Enquanto jogava água no seu rosto no banheiro, encarava-se no espelho. Não era Syaoran que não reconhecia Sakura. Para ele, Sakura simplesmente não existia. Nunca soube quem era. E nunca teve culpa por isso.           

Assim que chegou a sala, viu Tomoyo, sentada em sua carteira, esperando por ela.

— Tomoyo?

— Sakura!? O que aconteceu? Onde esteve esse tempo todo?

— Ah... Desculpe, hahaha... – Sorria sem graça – Eu passei um pouco mal, então fui para a enfermaria, e acebei dormindo lá...

— Minha nossa... Você deveria ter me avisado.

— Verdade... Me desculpe.           

Algo parecia estar errado ali. Tomoyo sentia isso. Mas não sabia se perguntava ou não.

— Bom, acho melhor irmos para casa, não é? – Sugeriu Sakura.

— É, você está certa. Vamos indo.           

Assim acabava aquele primeiro dia de aula.           

E enquanto caminhavam de volta para casa. Tomoyo reparava no olhar triste de Sakura.

 

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O restante dos dias daquela semana decorreu de maneira triste para Sakura. Por mais que tentasse esconder sua tristeza, algo sempre ficava a mostra. Um suspiro, um gemido, uma desviada de olhar. Juntando cada pequeno gesto era possível construir a imagem de uma Sakura deprimida e angustiada. Tudo isso Tomoyo percebia, mas quando, aflita, perguntava a Sakura do que se tratava, recebia uma desculpa evasiva como resposta. Compreendia que o que Sakura falava não condizia com seu estado. Sabia que tinha mais coisa aí. Porém, nada poderia fazer se Sakura não cooperasse.           

Já para Sakura, não era nada fácil. Decidira guardar sua dor para si. Decidira tentar reprimir aquele sentimento. Dançar conforme a música. Tentar fingir que aquele passado realmente não havia existido. Que aqueles três dias não tiveram importância alguma. Queria privar os outros de sofrerem por si. Iria acabar com isso ela mesma, e seguir sua vida como podia.           

Mas não era capaz disso.           

Noite após noite chorava. Indignada com a injustiça. Angustiada com a realidade. Sofria em silêncio, mantendo aquela tempestade de tristeza dentro do coração.           

Sábado à tarde, estava sozinha em casa. Seu pai estava trabalhando na universidade e Touya estava em algum de seus bicos. Passava pelos canais da TV, procurando por algo interessante, mas na verdade nem prestava atenção no que era mostrado na tela.           

Até que então, ouviu o soar da campainha. Surpresa, foi atender a porta. Assim que a abriu, deparou-se com uma personalidade inesperada.

— Olá, boa tarde – Saudou Yukito.

— Yukito, boa tarde.

—Tudo bem com você, Sakura?

— Tudo e você?

— Ah, eu estou ótimo.

— Que bom. O que faz aqui? Meu irmão está trabalhando.           

Touya e Yukito já eram amigos de longa data. E Yukito estava acostumado a frequentar a casa do amigo.

— Ah, é verdade. Eu acho que me esqueci, hahaha... – Riu sem graça.           

Sakura, em silêncio, apenas acompanhou aquela reação.

— Bem, nesse caso... – Ergueu uma sacola que tinha em mãos – Eu trouxe aqui alguns doces, então... Gostaria de fazer companhia para mim? – Perguntou todo sorridente.

— Claro, eu adoraria.           

Sakura tinha grande admiração e respeito por Yukito, além de gostar muito de sua companhia. Então mesmo em sua situação, convidou-o para entrar, e logo estavam comendo bolos deliciosos.           

Sentados nos sofás da sala, agora com a TV desligada, saboreavam aquelas deliciosas sobremesas. E mesmo que não seja educado falar enquanto come, o silêncio daquele local começava a se tornar torturante.           

Sakura não tinha o que falar. Normalmente era uma garota elétrica e ativa, que quase não ficava sem dizer alguma coisa. Contudo, devido àquela ultima semana, seu comportamento estava muito diferente do habitual. Isso a incomodava, mas não sabia como mudar.           

Yukito se mantinha calmo e passivo. Não queria apressar nem retardar as coisas. Fazia bem o seu estilo. Após uma garfada, enfim, quebrou o silêncio.

— E então, como foi o início desse semestre?

— Hã? – Respondeu Sakura distraída.

— Quero dizer, na escola. Como foi o início das aulas?

— Ah... Acho que foi tudo certo... – Respondeu brevemente.

— Humm...Que bom. Ainda continua na mesma sala que as suas amigas?

— Sim, embora algumas tenham ficado em outras salas, ainda estou na mesma classe que Tomoyo e Chiharu.

— Ah, isso é ótimo – Comentou sorrindo.

— Sim... – Concordou, forçando um sorriso.           

Era bem nítido o desanimo de Sakura. Seu tom de voz e expressão denunciavam isso. Era mais do que o suficiente para Yukito tentar interferir.

— Sabe Sakura, Touya me disse que você esteve bastante triste essa semana – Iniciou.

— Hehe, é mesmo? – Disse, pouco surpresa. Era bem óbvio que seu irmão notaria seu comportamento, mas também não era sensível o suficiente para saber como ajudar.

— Sim, e pelo que estou vendo, ele tinha mesmo razão.           

Sakura se manteve olhando para baixo, tentando sorrir.

— Há algo te incomodando?           

Balançou a cabeça negativamente.

— Tem a ver com o início das aulas?           

Tornou a balançar a cabeça.           

Yukito suspirou. Aquela não seria uma missão fácil. Mas estava longe de desistir. Recompondo o sorriso terno, continuou:

— Sabe, Sakura, eu entendo que talvez você queira guardar isso que está te atormentando só para você, para que assim você não traga problemas para ninguém, no entanto, por mais nobre que isso seja, eu não acho que seja o correto a se fazer.           

Sakura ergueu o rosto e encarou Yukito intrigada.

— Fazendo isso, as pessoas ao seu redor também vão sofrer, pois elas verão uma Sakura acuada que não quer compartilhar sua dor, sofrendo em silêncio, que não as dá chance para ajudar. E isso é horrível. Pois pior do que sofrer, é ver alguém sofrendo sem poder ajuda-lo.           

Lágrimas começaram a brotar aos montes nos olhos de Sakura, simbolizando seu arrependimento. Yukito sentou-se ao seu lado, e confortou-a em seus braços.

— Então, Sakura, por mais sem solução que seja a sua angústia, compartilhe-a com as pessoas ao seu redor. Não suporte tudo isso sozinha. Deixe-nos ao menos ter conhecimento da causa de seu dor. Não tenha medo de passa-la à frente.           

Sakura chorava e gemia:

— Desculpe... Desculpe...           

Ficaram abraçados por um tempo em quanto as lágrimas de Sakura desciam. Yukito aguardou sem nenhuma pressa ela se recuperar.           

Quando finalmente se acalmou, pôs-se a falar:

— Eu reencontrei uma pessoa... Uma pessoa pela qual nutri um sentimento especial por muito tempo... Esperei por ele durante anos, e quando finalmente nos reencontramos... Ele já não se lembrava de mim...

— Ele se esqueceu de você? – Perguntou Yukito.

— Não, não é como se ele tivesse apenas se esquecido... Não é tão simples assim...

— Então...?

— Ele teve um acidente e perdeu suas memórias...           

Yukito se espantou.

— Eu fui completamente varrida da sua cabeça. Para ele, é como se eu nunca tivesse existido...           

Silêncio. Nenhum dos dois falava mais. Sakura continuava triste, mas se sentia um pouco melhor por enfim, falar sobre isso com alguém.

— Bom, mas você existe, e ainda o ama – Yukito quebrou o silêncio.

— O que? – Sakura não entendeu.

— Sabe, como sentimento, o amor é uma coisa muito forte. Dizem que é até capaz de cruzar tempo e espaço. É realmente algo lindo – Sorriu – E se é algo tão especial assim, não creio que possa sumir do nada.

— O que você quer dizer?...

— Eu quero dizer que, se você nutre um sentimento tão especial por essa pessoa, só o que você tem que fazer é despertar novamente esse sentimento nela – Afirmou, levantando o indicador.

— Mas... Mas... – Sakura tornou a olhar para o chão – Isso é mesmo possível? Eu... Eu posso mesmo fazer algo assim?...

— Isso você terá que descobrir por si mesma – Yukito se levantou – Não dá pra prever algo assim. Você terá que acreditar que consegue. Você vai ter que ser forte. Mas eu tenho certeza que isso será muito melhor do que apenas sofrer em silêncio sem tentar fazer nada.           

Sakura tremia ouvindo as palavras de Yukito. Seria ela capaz de realizar aquilo? Perguntava-se com intensidade. Mas de uma coisa tinha certeza, aquela era sua única alternativa. Sua única saída de um caminho de tristeza e remorso. Lembrou-se dos dias que passou com Syaoran naquele verão, e da felicidade que sentia a cada momento ao seu lado. Demorou para compreender porque se sentia daquele jeito com aquele garoto. Mas logo realizou que aquilo era assim porque o amava. E não iria desistir daquele amor tão facilmente.           

Determinada, cerrou os punhos e também se levantou.

— Tentar isso, será muito melhor do que se arrepender depois por não ter feito nada, pode apostar – Disse Yukito, depositando a mão sobre o ombro de Sakura.

— Obrigada, Yukito – Falou segurando a mão do amigo, enquanto sorria lindamente com os olhos novamente brilhando – Suas palavras realmente me tocaram... Eu me decidi!           

Yukito retribuiu com um belo sorriso.

— A partir de agora, você terá apenas que confiar em si mesma – Concluiu, apontando para o coração de Sakura.

 

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Dias atuais...

 

— Graças a Yukito, eu pude seguir em frente. Eu pude tentar alcançar minha felicidade – Dizia Sakura.           

Tomoyo ouvia tudo em silêncio, porém, emocionada com o que lhe era dito.

— Mesmo assim, fiquei por quase dois anos sem progresso algum. Ou eu tinha vergonha de mais para me aproximar, ou acontecia um ocorrido, ou eu simplesmente tinha medo de ele me odiar. Nada dava certo. Até que naquele dia, surgiu uma esperança. O trabalho de história – Pausou e sorriu – Eu estava tão feliz e nervosa ao mesmo tempo que pensei que iria explodir. Me pergunto até hoje se ele notou aquilo. Nem faz tanto tempo, mas... De lá pra cá passamos por tantas situações, e... Eu sentia que estava conseguindo. Ficando cada vez mais próxima dele, imaginei que uma hora ele...           

Parou de falar. Levantou o rosto e olhou para o céu. As nuvens de antes já estavam indo embora.

— Talvez ele viesse a se lembrar de mim. Pode até ser egoísta pensar assim, mas... Eu realmente achei que ele pudesse se lembrar de mim – Lágrimas se formaram em seus olhos – Porém, no fim... Eu estraguei tudo, não foi? – Encarou Tomoyo, sorrindo e chorando ao mesmo tempo.           

Tomoyo não aguentou. Levantou-se e abraçou a amiga, envolvendo-a com força entre os braços.

— Eu não fui honesta... Quis fazer as coisas do meu jeito... Fui egoísta... E gerei uma situação horrível... Tomoyo... – Desabou em prantos – Eu mereço mesmo estar vivendo?           

Enquanto Sakura soluçava e gemia, Tomoyo a apertava com mais força, repetindo:

— Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem...           

As nuvens abriam cada vez mais, até que foi possível ver o Sol, que se pondo, emanava uma forte luz, que iluminava os corações daqueles que sofriam.

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Notas finais do capítulo

É, a vida também não fui muito fácil para Sakura. Mas acho que é como Tomoyo falou. Vai ficar tudo bem ;-;
Bom, eu espero que vocês tenham gostado.
AH! ( imitando Sakura xD) no meio da semana eu postei uma one-shot original sobre drama, quem puder dá uma olhadinha lá ^^
E acho que é isso. O próximo capítulo vai ser feels do começo ao fim, mas garanto que será SHOW DE BOLA.
Então, assim me despeço. Até mais ^^



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