Caminho das Memórias escrita por Ainsworth


Capítulo 15
Garoa


Notas iniciais do capítulo

Meu amigo, que semana corrida! O pior é que a próxima não vai estar muito melhor não ;-; Mas enfim, chega de sofrimento... Ou será que não?... Hehehehe.... Bom, eis o 15° capítulo. Boa leitura ^^



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Garoa

            

Alguns minutos após Kaho e Touya saírem, Eriol agora estava sentado e aguardava por notícias enquanto meditava. De certo, estava preocupado com o amigo, quem não estaria? Mas conseguia manter o seu estado de espírito calmo, pois assim como Touya, algo lhe dizia que Syaoran iria sair bem dessa. Afinal, para quem sobreviveu a um acidente de avião, um simples caminhão não deveria ser nada de mais.           

E era nessa calmaria que se mantinha aguardando, sentado, naquela sala. Enquanto o tempo passava, refletia sobre os acontecimentos.

— Imagino como Kaho está se saindo... – Pensou.           

Entretanto, sua solidão não iria durar para sempre, pois da mesma forma que subitamente Touya batera na porta há algum tempo, novamente se ouviu o barulho do bater, requisitando permissão para entrar.

— Com licença, estou entrando – Disse uma suave e doce voz feminina, enquanto batia e abria a porta.           

Eriol foi despertado de seus pensamentos de maneira brusca. Atordoado pela beleza daquele ser que adentrava pela porta, ficou boquiaberto. Mal ele saía de um transe e já estava entrando em outro. A delicadeza e formosura de Tomoyo arrebatou todos os sentidos de Eriol, que se viu confuso e pela primeira vez em muito tempo, intimidado.

— Aah, com licença, meu nome é Tomoyo Daidouji. Eu sou colega de classe de Syaoran Li. Você é...? – Tomoyo se apresentou com uma reverencia.           

Eriol a princípio não soube o que responder, mas mantendo a calma e retomando a postura de costume, se apresentou:

— Meu nome é Eriol Hiiragizawa, sou amigo de infância de Syaoran. É um prazer conhece-la, Miss Daidouji - Eriol fez a reverencia mais cavalheiresca possível.

— O-o prazer é todo meu... – Tomoyo respondeu com certa vergonha devido ao cavalheirismo de Eriol.

— Devo presumir que veio atrás de notícias de Syaoran, correto?

— Sim. Eu estava até agora a pouco com minha amiga Sakura, que estava no local junto a Li quando tudo aconteceu.

— Aaah... A garota dos olhos esmeralda. Imagino que esteja abatida com a situação.

— Sim, exatamente. Ela está muito ansiosa pra saber sobre Li, no entanto, não se sentia disposta para vir até aqui, e por isso vim em seu lugar para informa-la com rapidez a situação.

— Hum... Entendo, entendo... – Eriol resmungava enquanto coçava o queixo – Lamento informa-la que no momento não têm se notícia alguma, ainda que já façam quase duas horas que Syaoran está na sala de emergência.

— Ah... Entendo... – Tomoyo comentou com um olhar triste em seu rosto.

— Mas não há motivo para angústia. Tenho certeza que logo o doutor irá aparecer trazendo boas novas sobre o nosso amigo – Eriol tentou anima-la ao ver sua tristeza.

— É... Eu espero que sim... – Um sorriso se formou nos lábios de Tomoyo, fazendo o coração de Eriol disparar.

— D-de qualquer forma, por favor, sente-se. Não há por que ficarmos esperando de pé – Eriol aconselhou enquanto se sentava no banco atrás de si.

— Ah, é verdade – Tomoyo copiou o ato sentando-se no banco de frente para o de Eriol, no lado oposto da pequena sala.           

Nesse ponto, o diálogo se encerrou. Os dois ficaram ali, sentados, de frente um para o outro, sem trocar qualquer palavra. Tomoyo reparava nos pequenos detalhes que aquela sala possuía, tentando passar uma atmosfera natural. Na outra via, porém, os olhos de Eriol se mantinham em Tomoyo. Agora, com mais calma, silenciosamente reparava em cada detalhe da feição da garota, na delicadeza das mechas de seus negros cabelos, na tonalidade extremamente clara de sua pele, em tudo. E obviamente, em certo ponto Tomoyo percebeu a maneira como Eriol mantinha o olhar fixo nela, o que causava certo incômodo.           

Por mais que quisesse agir o mais natural possível, Tomoyo não conseguiu simplesmente ignorar tamanha contemplação da parte do rapaz, e resolveu intervir:

— Err... Desculpe, mas tem algo lhe incomodando?           

Eriol, que novamente havia entrado em transe, deu um leve pulo ao se dar conta da pergunta.

— A-Ah, perdão... – Arrumou os óculos – Qual foi sua pergunta? – Disse sorrindo.

— Perguntei se havia algo lhe incomodando.

— Ah... Não, nada em especial.

— É mesmo? Entendo. Pensei que houvesse algo em meu rosto. Você não para de encara-lo há algum tempo – Afirmou ironicamente, enquanto apoiava a mão sobre o rosto.

— Ah... Hahahaha, acho que agi muito indiscretamente. Desculpe, não há nada em seu rosto. Eu apenas me esqueci de como as mulheres japonesas são lindas.           

Tomoyo se espantou com aquela fala, engasgando-se.

— P-Pois não? – Fez-se de desentendida.

— Eu moro fora do Japão, e já faz algum tempo que não venho para cá, mas... – Posicionou a mão sobre o queixo – Não imaginava que fosse me surpreender tanto.

— Acho que você está exagerando um pouco... – A esta altura, Tomoyo já estava vermelha.

— Hum... Quem sabe? – Eriol desfez a pose e sorriu docemente.           

Tomoyo apenas virou o rosto, tentando evitar contato com Eriol, reação que apenas acentuou a graça e pureza da garota para Eriol.           

Tal como se Tomoyo fosse salva pelo gongo, batidas na porta tornaram a ser ouvidas, mas dessa vez não era um simples visitante, e sim alguém muito aguardado.

— Com licença – Dizia o Doutor Kurosaki enquanto entrava na sala.

— Doutor – Eriol se levantou para recebê-lo, e Tomoyo fez o mesmo.

— Finalmente conseguimos estabilizar seu quadro – Suspirou – Entretanto, haverá algumas sequelas – Afirmou com voz firme.           

Eriol manteve a expressão facial séria e calma. Tomoyo juntou as mãos, nervosa, esperando pelo decreto.

— Diga, Doutor – Eriol deu sinal verde.

— Felizmente, a batida na perna foi apenas de raspão, o que significa que voltará a andar normalmente, mas precisará ficar de cadeira de rodas e usar muletas posteriormente por algum tempo.           

Aquela era, no geral, uma boa notícia. Eriol e Tomoyo não mudaram suas posturas pois sabiam que o pior ainda estava por vir.

— E também... – O Doutor iniciou, mas pausou novamente para suspirar – Gostaria de lhe fazer uma pergunta antes – Direcionou-se a Eriol.

— O que seria? – Respondeu de prontidão, curioso.

— Aquele rapaz... Por acaso, já perdeu as memórias anteriormente?         

Aí estava. A pergunta que Eriol previa vir. Enrijeceu a expressão facial para responder.

— Sim... Há 8 anos Syaoran estava no voo C-31. Ele sobreviveu, mas perdeu as memórias dos 2 anos anteriores.

— Meu Deus... Ele esteve naquele desastre... – Kurosaki, espantado, levou uma das mãos a cabeça.           

Tomoyo cobriu a boca com as mãos enquanto arregalava os olhos. Após quase 2 anos de convívio com o colega, jamais ouvira algo como aquilo.           

Eriol reparou na reação assustada de Tomoyo e procurou conforta-la.

— Depois de algum tempo, ele se recuperou e voltou a viver normalmente. Syaoran não gosta de preocupar as pessoas desnecessariamente, deve ser por isso que ele não contou a você.           

Ao ouvir as palavras de Eriol, Tomoyo asserenou o olhar.

— Eu suspeitava que isso houvesse acontecido, há traços de uma antiga lesão cerebral – Pausou para respirar profundamente – No entanto, infelizmente, lamento que o mesmo possa vir a acontecer novamente.           

Com isso, até mesmo Eriol perdeu a postura. Sentiu as pernas bambas e faltar-lhe ar.           

Tomoyo caiu de joelhos.

— Não... Mentira... – Balbuciava com as mãos sobre a boca.           

Kurosaki se esforçava para manter-se rígido. Eriol, com os punhos se fechando e semblante sério e firme, se aproximou do doutor.

— Doutor, o senhor está certo do que diz? – Perguntou encarando-o olho no olho.           

Kurosaki sentiu a pele arrepiar com aquele olhar imponente.

— Sinceramente... Não posso dar total certeza – Respondeu a altura – O impacto do crânio com o solo gerou uma lesão diretamente na região responsável pelas memórias, o que fez uma bagunça. Não posso afirmar com convicção o que vai acontecer, mas é necessário ter em mente de que o pior pode acontecer.           

Eriol se manteve encarando Kurosaki, medindo suas palavras e expressões, avaliando a veracidade daquelas palavras. Kurosaki apesar de tentar manter a postura de Doutor, estava acuado. O clima continuou tenso por alguns instantes, até Eriol baixar a cabeça soltando um longo suspiro.

— Entendo. Bom, ele já pode receber visitas? – Perguntou com o habitual olhar calmo.

— S-Sim... – Kurosaki respondeu surpreso com a repentina mudança de humor.

— Ótimo – Dirigiu-se até a porta – Pode me levar até seu quarto?

— Claro, m-mas...

— Hã? – Eriol compreendeu a confusão de Kurosaki – Deve estar se perguntando por que estou tão calmo. Bom... – Abriu um sorriso – Eu jamais posso perder a esperança no meu amigo. E acima de tudo, preciso ter um sorriso no rosto quando ele acordar.

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Sakura vagava pelas ruas de Tomoeda sem destino. Os olhos ainda estavam vermelhos de tanto chorar, e de vez em quando, uma lágrima ou outra caía deles. Não importava o que via pela frente, a imagem de Syaoran numa cama de hospital não saía de sua cabeça, e o sentimento de culpa pesava em sua consciência a todo momento.           

Em certo ponto, parou de andar. As lágrimas voltaram a escorrer com força, enquanto gemia o nome de Syaoran.

— Syaoran... – Seu sofrimento estava estampado em sua face.           

Naquele momento, uma figura conhecida passava pelo local. Era Yukito que retornava do mercado com uma sacola de compras. Assim que avistou Sakura naquele estado, correu para ampara-la.

— Sakura! – Aproximou-se rapidamente – O que aconteceu com você!? Por que está assim!?

— Yukito... – Ao perceber a presença do amigo as lágrimas só aumentaram – É tudo culpa minha... – Desabou em lágrimas.

— Acalme-se. Antes de tudo, vista isso. Está muito frio – Yukito tirou seu casaco e colocou sobre os ombros de Sakura.           

Distraída consigo mesmo, Sakura se esqueceu de vestir algo quente para protegê-la do frio. Tamanho era seu sofrimento, que até esqueceu-se de como tremia com o vento gelado.

— Venha, vamos para outro lugar – Passou o braço por cima de Sakura e a guiou em direção ao Parque do Rei Pinguim.           

Lá, debaixo de uma grande árvore, após se acalmar e secar as lágrimas, contou todo o relato para Yukito, que prestara atenção em cada detalhe.

— Entendo, então foi isso que te deixou assim...

— Sim, mas nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido uma incompetente – Bufou.

— Sakura, esta é uma palavra muito forte – Advertiu.

— Eu sei, mas é a mais pura realidade! Eu falei algo que não deveria, eu me expressei mal... Eu causei tudo isso, e preciso tomar responsabilidade... – As lágrimas novamente tendiam a voltar.           

Yukito nada falou, apenas deixou Sakura desabafar.

— Mesmo com o seu conselho, Yukito. Eu não fui capaz... De trazer ele pra mim... Eu estraguei tudo! – A luta contra as lágrimas era intensa.           

Com as palavras de Sakura, Yukito se sensibilizou. E enquanto observava o balançar das folhas daquela árvore, tomou palavra:

— Sabe, na vida, cometemos muitos erros. Alguns reparáveis, outros não. Alguns grandes, outros pequenos. Mas se há algo que todos eles têm em comum, é o fato de que todos os erros servem para nos fazer aprender alguma coisa. Não importa o que seja, todo erro sempre irá nos trazer algo benéfico, e é por isso que errar é humano. Ser humano, estar vivo, não é algo sem propósito. Vivemos para nos melhorar moralmente a cada dia. Vivemos para crescer, para evoluir. Para um dia chegarmos mais próximos do que consideramos como ideal. E um dos caminhos para isso, é cometer erros. Erros não são simples acontecimentos infelizes ou trágicos, eles são oportunidades. Oportunidades para evoluirmos como pessoa.           

Sakura sentiu o impacto as palavras de Yukito.

— Portanto, o primeiro passo para aproveitar essas oportunidades, é se levantar, e encarar os fatos. O que aconteceu não pode ser desfeito. A questão é o que você irá fazer a partir disso. Lastimar? Desejar que nunca houvesse acontecido? Ou aceitar, e procurar um caminho para primeiramente, não fazer aquilo de novo, e tirar algum proveito do fato para o futuro? Pense, quantas pessoas você pode ajudar apenas sabendo que algo não deve ser feito? Isso é ser humano. Levantar, encarar, e prosseguir. Isso é o que nos faz pessoas, isso é o que contribui para o aperfeiçoamento de cada um.

— Yukito... – Os olhos de Sakura agora brilhavam.

— Então, Sakura – Pôs as mãos sobre os ombros da garota – Antes de tudo, não perca a fé em Syaoran. Você deve saber melhor do que qualquer um o quão forte ele é. Não desista, batalhe. Apenas chorar, não aliviará sua dor para sempre. Você tem que ser forte, por você e por ele. Se você cometeu um erro, perdoe-se. Não carregue esse fardo desnecessariamente – Yukito sorriu – Desse jeito, fica muito mais difícil sorrir assim. Remorso complica as coisas – Afastou-se – Logo, levante-se, Sakura. Levante-se e lute. E acima de tudo, sorria. Você fica muito mais bonita assim, e aposto que Syaoran também pensa o mesmo.           

Novas lágrimas brotavam e escorriam pelo rosto de Sakura. No entanto, não eram lágrimas de tristeza ou sofrimento. Eram lágrimas de felicidade e alívio, com ainda um toque de preocupação. Aproximando-se de Yukito, enterrou o rosto em seu peito.

— Eu amo muito ele... Muito... – Balbuciava.

— Eu sei. É por isso que você não deve se culpar. Aguente, e quando chegar a hora, entregue todo esse amor para ele.

— Mesmo se ele me odiar?

— Mesmo se ele te odiar. Não desista sem lutar, lembre-se.

— Sim... – Sakura concordou em meio a lágrimas.           

Permaneceram abraçados por algum tempo. Yukito aguardou pacientemente Sakura colocar tudo para fora. A confusão na cabeça da garota cessava gradualmente. Até que de repente o celular da garota tocou, surpreendendo-a de leve.         

— É a Tomoyo! – Exclamou ao visualizar o visor, atendendo em seguida – Alô, Tomoyo?

— Oi, Sakura – Tomoyo respondeu ainda na sala de espera.

— E então, você tem notícias de Syaoran? – Perguntou ansiosa.           

Tomoyo hesitou em responder.

— Sim, eu tenho – Preparou-se – Li terá de ficar algum tempo de cadeira de rodas, mas após se recuperar, voltara a andar normalmente. No entanto... Ele também bateu forte com a cabeça, e... O Doutor disse que talvez...

— Talvez...? Talvez o que, Tomoyo? O que ele disse!? – Sakura suplicou.

— Talvez Syaoran acabe perdendo suas memórias... – Decretou tristemente.           

O coração de Sakura quase parou. Sentiu fraqueza e caiu para trás.

— Sakura? – Yukito a segurou.           

O que aquilo significava? Perder as memórias? De novo? Não, aquilo era demais. Milhões de coisas passaram pela cabeça de Sakura enquanto o ar começa a lhe faltar. Culpa, tristeza, solidão, agonia. Tudo veio de uma vez, numa forte intensidade. Estava pálida e seu semblante não apresentava expressão nenhuma.

— Sakura? Sakura!? – Tomoyo chamava pela amiga temendo pelo pior.

— Sakura! – Yukito também o fez, chacoalhando levemente a garota em seus braços.           

Em meio ao turbilhão que se formara em sua cabeça, Sakura despertou, virando-se para encarar Yukito, com os olhos saltados e face sem vida. Yukito devolveu aquele olhar com outro sério e concentrado.

— Recomponha-se. Lute – Disse.           

Dito isso, a respiração de Sakura foi voltando ao normal aos poucos, bem como seus batimentos cardiácos. A tempestade cessava, dando lugar a chuva, que no fim se tornava apenas uma garoa. O rubor voltava para sua face, e seu semblante tomava expressão novamente. Com um longo suspiro, voltou a si. Com um olhar calmo e sereno.

— Muito bom – Yukito disse ao sorrir.           

Sakura assentiu com a cabeça. Levou o celular que quase deixara escapar das mãos novamente para o ouvido.

— Sakura!? Responda, Sakura! Sakura!? – O chamado de Tomoyo não cessava.

— Tomoyo, desculpe por preocupar. Eu entendi a situação – Falou com calmas palavras.

— V-Você... Entendeu...? – Tomoyo estranhou a resposta calma de Sakura.

— Sabe, eu acho que agora é uma boa hora para lhe contar sobre aquilo entre mim e Syaoran.

— Você tem certeza...? – Tomoyo estava descrente do que ouvia.

— Sim – Respondeu decidida – Poderia vir até onde estou? Estou no Parque do Rei Pinguim.

— O que!? Por que você está ai? Pensei ter pedido para ficar em casa – Tomoyo disse, incrédula.

— Sim, me desculpe por isso. Mas estou bem. Agora, estou bem – Sorriu levemente olhando para Yukito – Enfim, pode vir até aqui?

— C-Claro, já estou indo. Não saía daí! – Colocou-se a andar.

— Pode deixar, estou esperando.

— Chego já, até logo.

— Até.           

Desligou.           

Virou-se para Yukito, agora com uma face bem melhor.

— E então, se decidiu?

— Acho que sim.

— Maravilha, isso é muito bom.

— Sim – Concordou com um sorriso terno – Eu vou ficar bem agora, Yukito. Tomoyo já está vindo para cá, pode levar essas coisas para casa agora – Referiu-se a sacola com suas compras.

— Tem certeza? Não quer que eu a espere com você?

— Não – Balançou a cabeça – Eu já tomei muito tempo de você. E estou muito agradecida por isso. Você me ajudou imensamente, muito obrigada – Reverenciou.

— Ei, não precisa disso – Yukito coçou a cabeça, envergonhado – Eu estarei aqui sempre que você precisar – Passou a mão na cabeça de Sakura.

— Sim! – Sakura retribuiu sorrindo.

— Bem, se você não precisa mais dos meus serviços... – Pegou sua sacola do chão – Acho que vou indo então.

— Ok. Muito obrigada, Yukito – Tornou a reverenciar-se.

— Certo, até mais – Despediu-se acenando.

— Até mais – Retribuiu o aceno enquanto Yukito se distanciava.           

Enquanto caminhava, o rapaz pensava:

— Vai ficar tudo bem com ela. Assim como o irmão, também é muito forte, não importe pelo que passe...

            Sakura ficava para trás. Todavia, era agora uma Sakura diferente de antes. Mais calma e mais forte.           

Aguardou por Tomoyo, e não derramou mais nenhuma lágrima.

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Syaoran jazia deitado, em sono profundo, naquela cama de hospital. Parecia dormir tranquilo, como se não houvesse nada de errado. Eriol estava ao seu lado, observando o terno semblante do amigo, imaginando o que se passava na cabeça de Syaoran.

— Com licença – Kaho batia e entrava pela porta – Vim assim que me mandou a mensagem.

— Kinomoto não veio com você? – Eriol estranhou a falta de Touya.

— Ah, assim que soube foi atrás da irmã para ficar com ela.

— Entendo – Voltou-se novamente para Syaoran – Também recebi uma visita.

— Quem? – Surpreendeu-se Kaho.

— Bem, não fui exatamente eu quem recebi. Era uma colega de Syaoran – Lembrou-se de como Tomoyo o encantou – Mas já foi embora há algum tempo. E sem se despedir

— Hum... Entendo.           

Kaho também se aproximou para observar Syaoran. Tinha algumas faixas na cabeça, e também ao longo do corpo. E claro, sua perna estava engessada.

— É uma situação complicada – Kaho comentou – Já notificou a mãe dele?           

Eriol não respondeu.

— Eriol? Você não a notificou?

— Eu... Eu apenas acho que não é necessário.

— Como assim?

— Eu sinto, Kaho, que não devo fazer isso. Que não preciso fazer isso. E isto é uma coisa boa, porque é um bom sinal, não concorda comigo? – Eriol a fitou.

— Não posso dizer que concordo, nem que discordo. Considero como falta de responsabilidade da sua parte, mas se tratando de você, talvez você esteja certo em agir assim – Esclareceu.           

Eriol sorriu.

— Fico feliz que me entenda.

— É o mínimo que posso fazer.           

Voltaram a fitar Syaoran. Nada havia mudado em seu estado. Aquela era uma situação um tanto quanto desconfortável, e Eriol notou isso:

— Sabe, não há mais muito o que possamos fazer. Só nos resta esperar. Eu me ofereci para ficar aqui com ele, então, você pode ir para o apartamento, Kaho.

— Pretendo ficar ao seu lado, Eriol. Essa é minha função.

— Mas—           

Kaho o encarou com um olhar imponente, fazendo Eriol brecar.

— Tudo bem, ao menos, sentemo-nos – Sugeriu, dando de ombros.

— Certamente.           

Sentaram nas duas poltronas que havia no quarto. Naquele ambiente, o silêncio dominava, e o único som que se ouvia era o tic-tac do relógio na parede.           

Com o tempo, Kaho foi entrando num transe, e seus olhos foram fechando aos poucos. Lutava contra o sono, mas teve de ceder, e por fim, adormeceu.

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— Kaho, Kaho – Eriol chamava enquanto chacoalhava a conselheira.

— Hum... – Kaho resmungava na medida em que ia despertando.

— Você dormiu por algumas horas. Deve estar cansada, esta se esforçando muito ultimamente.

— Não... Isso não é nada... – Tentava acordar.

— Não diga isso. Ande – Ajudou-a a levantar – Volte para nosso apartamento por hoje. Aproveite para descansar.

— Não, eu não posso deixar você.

— Está tudo bem – Eriol sorriu, tentando convencê-la – Eu vou ficar bem, apenas certifique-se de descansar.           

Kaho fez uma careta, ainda não convencida.

— Vai ficar sem comer nada?

— Mais tarde eu compro algo aqui mesmo para comer. Não se preocupe com isso.           

Kaho então se viu sem motivos para negar.

— Então... Acho que irei...

— Muito bem.

— Se acontecer alguma coisa, me avise imediatamente.

— Sim, senhora.

— Certo, até amanhã – Abriu a porta e posteriormente fechou-a atrás de si.

— Até amanhã.           

Eriol ficou alguns segundos parado em frente à porta, mas depois voltou-se para Syaoran e caminhou em sua direção, parando ao lado do amigo de infância.

— Meu amigo. Por favor, volte para nós como o Syaoran que nós conhecemos. Creio que você é capaz disso – Dizia enquanto segurava uma das mãos de Syaoran.           

Após isso, voltou para sua poltrona, onde sentou-se, e recostando a cabeça, resolveu tirar um cochilo. Também estava bastante cansado com todos aqueles acontecimentos, e há muito tempo não recarregava as baterias.                   

Assim, com os olhos fechados, adormeceu juntamente a Syaoran.

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Syaoran se viu, de pé, em um espaço totalmente branco. Não importava para onde olhasse, só via branco, e não sabia distinguir onde começava ou onde terminava. Era uma imensidão de puramente nada, apenas ele e aquele espaço vazio.

— Onde eu est—

— Ei!           

Ia balbuciando, quando ouviu uma voz vinda de trás dele. Surpreso, virou-se hesitante para ver do que, ou melhor, de quem se tratava.           

E virando-se, pode constar que se tratava de uma criança. Cabelos bagunçados, olhos cor de chocolate, e um sorriso arrogante. Demorou, mas enfim percebeu que aquele que estava em sua frente, era na verdade uma versão 8 anos mais jovem de Syaoran.

— Você—

— Você está perdido, não é? – Sua versão mais nova o cortou – Talvez eu possa te mostrar o caminho. Me siga – E com isso, pôs-se a correr.

— Espere!           

Syaoran nada pode fazer a não ser perseguir aquele garoto. Não sabia se era o certo o fazer, não sabia se deveria fazer, mas sabia que era a única coisa que poderia fazer.           

Correu para alcança-lo o mais rápido que pôde, e quando estava quase encostando-o com a mão, uma luz muito forte começou a se formar em sua frente. Parecia como uma janela se abrindo num dia de sol. A intensidade do brilho só aumentava e tudo parecia ficar em câmera lenta.

— Está quase lá, não pare agora.           

Ouviu o garoto pronunciar essas palavras, e assim o fez. Seguiu adiante, rumo ao paredão de luzes que se formava em sua frente.           

Até não ver mais nada.

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Os raios de Sol começavam a passar pela janela do quarto. Fazia certo tempo que um dia amanhecia daquele jeito. O céu estava azul e o Sol brilhava no horizonte.           

Aos poucos, Eriol foi despertando. Limpou os olhos e se espreguiçou.           

Então, teve a maior surpresa que poderia ter. Na cama, em sua frente, Syaoran gemeu e abriu os olhos. Ao perceber, Eriol pulou da poltrona.

— Syaoran! Meu amigo, você voltou... – Dizia sorrindo.           

Syaoran tentou se sentar.

— Acalme-se não precisa ter pressa, você precisa repousar – Aconselhou o amigo.           

Ignorando o que ouvia, com certo esforço e com certa cara de dor, Syaoran conseguiu se sentar na cama, colocando a mão na cabeça que aparentemente doía.           

Ainda que soubesse que não era uma boa ideia, Eriol não conseguiu se conter, e perguntou:

— Syaoran, você sabe quem eu sou?           

Ouvindo aquela pergunta, aos poucos Syaoran desfez o semblante de dor, formando uma face confusa e desentendida.           

Ao ver a reação de Syaoran a sua pergunta, Eriol já esperava pelo pior.           

No entanto, lágrimas se formaram nos olhos de Syaoran, para surpresa do amigo.

— Eriol... Eu me lembrei... Me lembrei de tudo.

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Notas finais do capítulo

Meeeeeeeu amigo, quanta coisa aconteceu rapaz... Syaora acordou, e disse aquelas palavrinhas... Acho que estão agora curiosos para saber o que vai acontecer a seguir não é? Por favor, não pensem que eu faço isso de propósito, eu realmente vou estar muito ocupado na semana que vem, e não faço ideia de quando próximo capitulo vai sair, mas em verdade eu digo! Um dia, não sei ao certo quando, ele há de sair! Essa história vai ter uma conclusão, só peço paciencia nessas próximas duas semanas, porque o bicho vai pegar ;-; Então, acho que é isso. Obrigado pelo apoio, e até a próxima, seja lá quando for ^^



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