Caminho das Memórias escrita por Ainsworth


Capítulo 14
Chuva


Notas iniciais do capítulo

Olaaa, e o coração como ta? Continua no mesmo lugar? Espero que sim xD Creio que estão bem curiosos e ansiosos, então não vou enrolar muito. Portanto, eis o 14° capítulo. Boa leitura ^^



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Chuva

           

O caminhão se aproximava enfurecidamente, e Sakura congelando de medo, ficou incapaz de se mexer.

— CUIDADO!           

Num rápido movimento, Syaoran saltou uma distância incrível para conseguir empurrar Sakura e tira-la da rota de colisão do caminhão.           

Sakura foi ao chão. Teve alguns arranhões, mas fora isso estava ilesa. No entanto, Syaoran não teve a mesma sorte. O motorista do caminhão acordou no momento exato, e conseguiu frear o veículo, muitos metros à frente antes que colidisse com outro alvo. Porém, antes disso, atingiu a perna direita de Syaoran, na hora em que se jogou para proteger Sakura. Isso fez o rapaz ser arremessado para um pouco de longe de Sakura, onde jazia desacordado.           

Ao tomar consciência de sua situação, Sakura correu desesperada na direção de Syaoran.

— SYAORAN!? NÃO! POR FAVOR, NÃO!           

A garota gritava enquanto tomava o rapaz em seus braços, balançando-o sem resposta.

— Médico... Você precisa de um médico!           

Nesse momento, um carro todo preto estacionou com agilidade ao lado do casal, surpreendendo Sakur. Desse carro desceram Eriol e Kaho.

— Oh meu Deus, estamos atrasados! – Exclamou Kaho espantada.

— Não, Kaho. Creio que esse acontecimento era algo inevitável – Disse Eriol calmamente enquanto se agachava próximo a Sakura e Syaoran.

— Quem... Quem é você? – Perguntou Sakura extremamente confusa.

— Meu nome é Eriol Hiragizawa, sou um amigo de Syaoran, e estou aqui para ajuda-lo.

— Não... Pode ser... - Disse alguém que chegava ao local.         

Neste instante, mais um personagem se juntava àquela cena. Era Touya, que se espantou não somente com a situação de Syaoran, como também com a presença da mulher de cabelos castanho-avermelhados.

— Kaho... É você...? – Dizia Touya boquiaberto.

— Touya... – Kaho também se surpreendeu.           

Os dois se encararam por alguns instantes até Eriol interromper:

— Eu odeio interferir no seu reencontro, mas alguém aqui precisa de atendimento médico urgente!

— Ah... Desculpe... – Kaho se aproximou - Eu lhe ajudo a coloca-lo no carro.

— Espera, deixa que eu ajudo – Touya foi mais rápido e ergueu Syaoran junto a Eriol.

— Vocês... O que vocês estão fazendo? – Perguntou Sakura.

— Nós vamos leva-lo a um hospital – Disse Eriol enquanto colocava Syaoran no carro, e em seguida se aproximou a Sakura novamente – Garanto que vai dar tudo certo – Disse com a mão no ombro de Sakura – Você é conhecido desta garota? – Perguntou para Touya, que já havia recomposto a habitual postura.

— Sim, sou o irmão dela.

— Certo, posso contar com você para cuidar das coisas por aqui? – Referiu-se ao acidente em si.

— Sim, por favor, se apresse – Disse sério.

— Obrigado – Eriol sorriu e fez uma reverência – Vamos, Kaho – Entrou no veículo, onde Kaho já aguardava no banco do motorista.

— Quando as coisas se resolverem, conversaremos, Touya – Kaho disse antes de acelerar e partir.           

Touya acenou com a cabeça e observou o carro indo embora rapidamente. Depois, voltou sua atenção a irmã, que estava aos prantos. Abaixou-se para abraça-la.

— É tudo... É tudo culpa minha... Syaoran... – Sakura dizia entre os soluços.

— Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem – Touya repetia tentando consola-la.           

Longe dali, após alguns minutos o carro que transportava Syaoran chegou ao Hospital Geral de Tomoeda, onde o rapaz recebeu atendimento rápido e foi mandado para a UTI. Eriol e Kaho ficaram lá, aguardando notícias.

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— Certo. Ok. Assim que tiver notícias ligarei. Até mais. – Eriol encerrava a ligação.

— Como foi? – Perguntou Kaho.

— Naturalmente, ela ficou um pouco chocada, e está preocupada, mas concordou em não falar para as irmãs e para a prima, por hora.           

Eriol e Kaho estavam na sala de espera aguardando o Doutor trazer notícias de Syaoran. 2 horas já haviam se passado e até agora nada. Nesse meio tempo, Eriol ligou para a casa de Syaoran, quem atendeu foi Wei, mas compreendendo a gravidade da situação, passou a ligação para Yelan.

— É compreensível. Torçamos para que tudo se resolva.           

Neste momento, Touya, batendo na porta, entrou na sala.

— Com licença.

— Ah, olá! Eu estava prestes a procurar por você! Foi muito gentil da sua parte resolver a situação de mais cedo. Muito obrigado – Reverenciou novamente.

— N-Não há de que – Touya respondeu um pouco incomodado com a educação do rapaz.

— É mesmo, ainda não me apresentei. Meu nome é Eriol Hiragizawa, prazer em conhece-lo.

— Touya Kinomoto. O prazer é meu.

— Eu até lhe apresentaria, mas... Creio que você e Kaho se conhecem, não é mesmo?           

Ambos olharam para Kaho que até então estava em silêncio sentada numa cadeira no canto da sala.

— Sim, nós já nos conhecemos – Respondeu calma.           

Touya manteve o semblante sério diante daquela afirmação. Então, voltou-se a Eriol.

— Alguma notícia?

— Não, ainda não. Ele ainda está na UTI.

— Entendo.

— Mas de qualquer forma, como sabia que viemos para esse hospital?           

A rigidez do semblante de Touya vacilou por um instante, o que foi percebido tanto por Kaho como por Eriol.

— Apenas intuição – Respondeu.

— Oh... Entendo – Eriol disse de maneira inocente.           

O silêncio reinou por alguns segundos, até Eriol quebra-lo.

— Bom, pelo visto vocês dois tem muito a conversar, não é? Podem dar uma saída, eu avisarei caso fique sabendo de alguma coisa – Disse.

— Você tem certeza, Eriol? – Perguntou Kaho.

— Uhum – Eriol respondeu com um leve sorriso.           

Kaho olhou para Touya que não demonstrou objeção no olhar, muito pelo contrário, parecia desejar aquela sugestão, e com razão.

— Certo – Kaho se levantou – Ligue para mim assim que souber de algo.

— Okay.           

Assim, Kaho e Touya deixaram a sala, em silêncio.

— Boa sorte, Kaho – Eriol desejou.

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—Aqui, Sakura. Pegue – Disse Tomoyo entregando uma xícara de chá para Sakura.

— Obrigada, Tomoyo – A amiga agradeceu.           

Depois de Touya levar Sakura para casa, chamou Tomoyo para fazer companhia a irmã, antes de sair à procura de notícias de Syaoran.

— Com esse chá você vai ficar melhor.

— Sim...           

Assim que Tomoyo chegou, deu um grande e apertado abraço na prima a fim de conforta-la. Em seguida, foi preparar um chá de camomila para deixa-la mais calma.

— Você sabe, Li é um rapaz muito forte. Tenho certeza que ele vai superar essa – Dizia Tomoyo tentando animar Sakura.

— Sim... – Sakura concordava tristemente           

Tomoyo viu que não estava obtendo progresso.

— Sakura, não é bom você ficar se lamentando desse jeito. Você tem que confiar no Li – Insistiu.

— Eu sei... – As lágrimas voltavam a brotar nos olhos de Sakura – Mas—             

O celular de Sakura vibrou, anunciando a chegada de uma nova mensagem. Sakura o pegou rapidamente.

— É uma mensagem do Touya!

— O que ele disse!?

— Disse que Syaoran está no Hospital Geral de Tomoeda, mas... – Seu olhar voltava a ficar sombrio - ...ainda não se tem notícias do quadro dele...

— Ah... Entendo...           

Agora as lágrimas rolavam mais uma vez pelo rosto de Sakura.

— Sakura... – Tomoyo a tomou em seus braços – Não podemos perder nossa esperança.

— Eu sei, Tomoyo. Mas... Isso... Isso é tudo minha culpa – Sakura dizia entre os soluços – Eu fui horrível com ele... Eu agi totalmente errado...           

Tomoyo compreendeu que a garota agora se referia a algo importante e que provavelmente tinha a ver com seu segredo em relação à Syaoran, então manteve-se em silêncio.           

Novamente o celular de Sakura vibrou, e novamente era Touya.

— Touya de novo?- Perguntou Tomoyo.

— Sim... Ele pede desculpas, mas vai resolver alguns assuntos urgentes fora do hospital, porém será rapidamente notificado se houver alguma notícia de Syaoran e então repassará para mim...? – Leu pausadamente, confusa – Mas que droga de assunto urgente é esse, Touya!? – Exclamou enquanto jogava o aparelho de lado.           

Vendo a angústia da prima, Tomoyo se levantou com um olhar sério.

— Sakura, você quer ir agora mesmo para o hospital? – Sugeriu.

— Tomoyo?...

— Não sabemos com qual rapidez Touya conseguirá repassar a situação para nós, ainda mais com esse compromisso dele. Você esta angustiada e precisa muito saber se ele está bem, e eu consigo levar a gente extremamente rápido para lá. O que me diz?           

Sakura se manteve cabisbaixa.

— Eu não posso... Eu não mereço ficar perto de Syaoran...

— Sakura, não adianta ficar se culpando para sofrer desse jeito.

— Eu sei... Mas mesmo assim...           

Visto que não obteria sucesso, Tomoyo suspirou e entregou mais uma sugestão.

— Ok, e se eu for sozinha?

— Hã? – Sakura ergueu a cabeça.

— Eu posso ir sozinha e te ligar no momento exato em que souber de alguma coisa. O que acha?

— Eu... Eu acho que assim seria bom...

— Ótimo, posso confiar que você não vai sair daqui?

— Sim...

— Certo. Me dói não estar perto de você, mas me dói ainda mais te ver sofrer sem poder fazer nada – Deu um abraço na prima – Hospital Geral, não é?

— É.           

Tomoyo pegou o celular e fez uma rápida ligação. Em instantes um carro estacionou em frente a casa de Sakura.

— Estou indo – Despediu-se Tomoyo.

— B-Boa sorte.

— Obrigado, tchau – E saiu pela porta da frente.

— Tchau...           

Sakura ficou sentada no sofá da sala olhando para seu chá. Muitas coisas passavam por sua cabeça. Não conseguia pensar direito, e as lágrimas sempre persistiam.           

Num impulso, levantou-se, trocou de roupas e calçou seus sapatos.

— Desculpe, Tomoyo. Mas preciso caminhar um pouco... – Pensou.           

E assim, caminhou para fora de casa, e saiu à rua, sem rumo.

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— Pronto – Disse Touya enquanto guardava o celular – Já avisei minha irmã.

— Ela não vai ficar preocupada?

— Creio que sim, mas aquele garoto irá nos avisar se receber alguma notícia, e ela também está com a melhor amiga. Acho que está tudo bem.

— Entendo.           

Kaho e Touya haviam saído do hospital e se dirigido para um pequeno parque próximo. Kaho sentou curiosamente em um dos balanços, deixando Touya confuso sobre o que fazer, não sabia se sentava no outro balanço ou se ficava em pé ao lado dela, apoiado na estrutura do balanço. Optou pela segunda opção.           

No entanto, Kaho percebeu seu desconforto.

— Deve estar se perguntando por que me sentei aqui, não é? – Perguntou Kaho.

— Isso nunca me passou pela cabeça – Touya disse calmamente.

— Haha, entendo.           

Apesar de tudo, Touya ainda era Touya.

— E então, como foram as coisas com o acidente?

— Nada muito complicado, um morador viu tudo e chamou a polícia na hora, que não demorou para chegar. Ele mesmo se disponibilizou a prestar depoimento e o motorista do caminhão cooperou sem resistir. Apenas acompanhei essa parte e depois levei Sakura para casa.

— Hum... Ela deve ter ficado arrasada, não é?

— Sim – Touya confirmou com um olhar triste.           

Kaho se demonstrou mais curiosa.

— Então, pode-se dizer que Sakura é a namorada de Syaoran?

— Bem, até algum tempo atrás, se você olhasse para aqueles dois, com certeza diria isso – Touya disse sorrindo levemente, mas logo retomou o semblante sério – No entanto, um evento recente deixou as coisas complicadas entre os dois.

— Entendo – Kaho fechou os olhos – Realmente, nossas palavras e ações comprometem com grande intensidade os nossos laços, ainda mais com as pessoas que nos são mais queridas.                 

Touya se manteve em silêncio.

— Mas espero que eles possam se acertar de alguma forma. Gosto de pensar que relações são como ossos, depois que se reconstroem após quebrar, voltam ainda mais fortes.           

Touya permaneceu em silêncio. Kaho também não proferiu mais nada. Algo grande estava por vir, e não tardava a chegar.

— Kaho, por que você foi embora? – Touya finalmente tornou a falar.           

Aquela era a pergunta esperada do momento, tanto para Touya quando para Kaho. O momento que Touya tão desejava e que Kaho teve que se preparar em pouco tempo para enfrentar. Não havia mais para onde fugir, era hora de esclarecer as coisas.

— Acho que você vem se fazendo essa pergunta há um bom tempo, não é?

— Desde que você se despediu de mim naquele dia.

— É mesmo. Já fazem 4 anos...           

Há 4 anos, Touya e Kaho namoravam. Ela era um pouco mais velha, mas estavam apaixonados, e nada parecia que iria separa-los.           

Até que um dia, Kaho simplesmente disse a Touya que precisaria ir embora do Japão, e que não sabia quando iria voltar ou se até mesmo voltaria. Touya perguntou por um motivo para aquilo, mas Kaho nada esclareceu.

— Eu estive me perguntando desde aquele dia. “Por que ela me deixou?”, isso não saía da minha cabeça.

— É compreensível.

— Eu... Eu só queria uma resposta, só queria entender...           

A face de Touya mostrava angústia, mas Kaho mantinha-se terna. Touya percebeu a postura que estava tomando, e controlou-se.

— Por favor, Kaho, me diga por que foi embora daquele jeito - Disse como ultimato.

Até então, Kaho se mantinha com os olhos fechados, mas enfim, os abriu.

— Lembra, Touya? Daquele nosso encontro em que você me levou naquele restaurante tão elegante?

— Sim... – Touya confirmou confuso.

— Lembra também da minha façanha, não é?

— Como poderia esquecer? Não é sempre que uma garota do colegial pede para falar com o gerente para perguntar sobre a segurança dos tanques de gás.

— Hahaha, realmente.

— E você estava certa, havia um pequeno vazamento que se não fosse averiguado poderia aumentar e causar um desastre. Você provavelmente salvou não só a minha vida como também a vida de todas as pessoas que estavam lá.

— Bom, você trabalhou muito para conseguir dinheiro para me levar lá. Não podia deixar nada estragar a noite que você fez para mim.

— Você disse que estava sentindo cheiro de gás, mas nem o gerente nem mais ninguém também estava sentindo. Nem mesmo eu. Mas você insistiu.

Kaho nada disse.

— Você não estava sentindo cheiro nenhum, não é?

— Tirando o cheiro daquele incrível salmão... – Pausou – Não, não sentia nenhum cheiro.

— Eu sabia... – Touya confirmou suas suspeitas.

— Desde pequena, eu sempre tive uma certa sensibilidade. Eu simplesmente sentia que algumas coisas iriam ou poderiam acontecer. Mas na maior parte do tempo eram só coisas bobas, então eu não ligava muito. No entanto, no decorrer do tempo, isso foi mudando, e a gravidade das coisas que eu era capaz de prever aumentou. Isso aconteceu no período em que te conheci, Touya.           

Um arrepio percorreu por Touya.

— Após te conhecer, e me apaixonar por você, as coisas mudaram, e essa minha capacidade também. Acredito que seja por que você também é dotado dessa mesma sensibilidade, não é?           

Touya se viu descoberto, e não viu opção senão se entregar.

— Sim, de certa forma... Mas não chega a ser algo grandioso como a sua...

— Hahaha, que modesto. Mas foi através dela que você soube o hospital em que estávamos, não foi?

— Eu me rendo – Touya pôs as mãos para o alto – Você me descobriu.           

Touya ainda era Touya.

— Haha, eu não consegui pensar em mais nada para explicar a intuição que você usou para ir direto para lá.

— É, eu poderia ter trabalhado numa desculpa melhor.

— Com certeza.           

O clima ficou mais descontraído entre os dois, e Kaho começou inclusive a se balançar. Porém a pauta principal não iria sumir.

— Mas, se você sabia, por que não falou sobre isso comigo naquela época?           

Kaho balançou a cabeça.

— Eu não podia envolver você nisso. Você era mais novo que eu, e tinha um futuro brilhante pela frente, não queria interferir nisso. Entretanto, eu decidi o que queria fazer. Eu não queria apenas deixar de lado aquela capacidade. Eu queria usa-la para ajudar pessoas, eu queria usa-la para fazer o bem para os outros.

— E foi o que você fez?

— Não... – Kaho sorriu tristemente – Eu não estava pronta.

— Então, você foi embora para se aperfeiçoar?

— Sim, e não.

— O que? – Touya ficou confuso.

— Eu fui embora para aperfeiçoar, mas não a mim, e sim a outra pessoa.           

Touya tentou raciocinar, e por fim, chegou a algum lugar.

— Essa pessoa... Seria aquele garoto que estava com você?

— Exatamente – Kaho parou de se balançar – O meu potencial era baixo e não havia muito em que eu poderia evoluir. Porém, eu ouvi rumores sobre um garoto que despertava alguns talentos incomuns. Ele era inglês e morava em Hong Kong, mas estava de viagem no Japão antes de se mudar para a Inglaterra. Eu procurei por ele, mas o mais certo seria dizer que ele foi quem me achou – Kaho disse enquanto sorriu.           

Touya ficou curioso e incomodado com aquele sorriso.

— Lembro como se fosse ontem. Ele veio até mim perguntando se eu estava procurando por ele. Eu fiquei surpresa, mas após conversarmos por algumas horas eu percebi que o motivo da minha surpresa era perfeitamente justificável. Aquele garotinho era extremamente inteligente, falava e se portava com um sábio. Eu fiquei deslumbrada. E eu soube na hora, que meu dever era ajudar e acompanhar o desenvolvimento das habilidades dele. Felizmente, ele demonstrou o mesmo interesse, e com um acordo não muito complicado com a família dele, fui morar com Eriol na Inglaterra.           

Apesar da irritação anterior, Touya escutava e assimilava atentamente cada palavra dita por Kaho.

— Então, você esteve na Inglaterra com esse garoto nesses anos?

— Sim.

— Houve algum progresso nesse tempo?

— O trabalho ainda é grande, ainda há muito a melhorar. Mas com certeza, houve muito progresso.

— Hum – Touya suspirou – Devo supor que esse garoto tem relação com Syaoran Li, certo?

— Sim, eles são amigos de infância.

— Ha, mas que coincidência – Touya pôs uma mão sobre o rosto – Esse mundo é mesmo pequeno.

— Não existem coincidências, Touya, apenas o inevitável.

— É... Afinal, foi ele que trouxe vocês para cá, não é?

— Sim. Eriol sentiu que o amigo precisava de ajuda. Viemos para cá o mais rápido que pudemos, mas... Chegamos tarde...

— Ei, não lembra do que o garoto disse? Aquilo era algo inevitável. Se aquilo aconteceu, e ele não conseguiu prever para evitar, provavelmente tinha um motivo para acontecer de qualquer forma.           

Kaho sorriu.

— Fico feliz que já confie tanto nas habilidades de Eriol assim.

— Bom, é o mínimo que posso fazer. Afinal, foi graças às habilidades dele que você foi embora de mim.

— É... Você tem razão – Kaho concordou ainda sorrindo.           

O silêncio persistiu por um tempo, e o vento gelado do inverno também. As coisas agora iam se encaixando para Touya, e suas grandes dúvidas que perduraram por anos, iam sendo respondidas. Faltava agora apenas uma.

— Quando você irá definitivamente voltar para mim? – Perguntou Touya, de cara fechada.           

Kaho tomou um longo suspiro para responder a pergunta.

— Eu... Eu não sei...           

Touya nada disse.

— Para ser sincera, não sei no quanto posso ajudar Eriol, ou o quanto ele ainda poderá ser ajudado. Talvez... Talvez eu ainda tenha que ficar alguns anos longe...

— Mas... Um dia você voltará? – Touya perguntou encarando Kaho, que retribuiu com o contato visual.           

Ainda que devagar, Kaho abriu um sorriso.

— Sim... Eu certamente voltarei.           

Touya sorriu.

— Eu só peço que me espere, por mais egoísta que isso seja. Eu irei voltar para você, e quando isso acontecer, nós—

— Nós iremos nos casar – Touya concluiu por Kaho, falando com determinação.           

Um pouco surpresa, Kaho demorou a raciocinar, mas assim que o fez, uma lágrima desceu de seu olho.

— Sim... Nós iremos nos casar... – Mais lágrimas desciam enquanto ela sorria docemente.           

Touya secou as lágrima do rosto de Kaho.

— Ei, não chore. Está muito frio, não é bom deixar o rosto molhado assim.

— Desculpe... Você tem razão.           

Os dois trocaram olhares cheios de afeto. Finalmente, haviam se resolvido. A angústia de Touya acabava, e um novo período de felicidade iria começar para ele. Ele amou aquela mulher por todos os anos em que esteve longe dela. Não importa o quanto tivesse de esperar, aguardaria pacientemente pelo dia em que enfim, ela seria sua. É claro, sua vontade naquele momento era de toma-la em seus braços, mas decidiu esperar. Manteve a calma, pois sabia que por mais longe que Kaho pudesse ir, no fim, voltaria para ele.

— Bom, agora não tenho mais nada com o que me preocupar – Touya disse, dando alguns passos à frente, com os braços atrás da cabeça.

— E quanto a Syaoran?  - Kaho perguntou curiosa, levantando-se do balanço para seguir Touya.

— Ah, o garoto? – Touya virou-se sorrindo – Não tenho nada para me preocupar com ele, pois tenho certeza que ele vai sair dessa.

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Notas finais do capítulo

Wow, quem diria, não é? Em meio a tanto caos, sempre dá para enfiar algo fofo, hehe. Deixo avisado também que logo vou entrar num período corrido na escola, o que pode acarretar possíveis atrasos na história, então desde já peço minhas desculpas por qualquer imprevisto. No mais, agradeço pelo apoio de todos. E até a próxima ^^



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