A Cafeteria. escrita por Smitchkoff


Capítulo 2
Capítulo 2.


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo sempre aparece, já dizia o ditado né hahahahaha

Bom, espero que gostem. Boa leitura e desculpem qualquer erro :)



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A cafeteria.

CAPÍTULO

 二

.

— Rin, pare com isso!

A menina voltou o olhar para as outras três no outro canto do quarto. Ela não entendia.

— Vocês não conseguem ver? – Perguntou encarando-as. – Mas ele esta ali. – Apontou.

— Ver o que, Rin? – A voz da garota demonstrava o medo que estava sentindo. E Rin não entendia. – Tem apenas a gente no quarto.

A menina apenas assentiu. Não era a primeira vez que isso acontecia. Os grandes pares de olhos achocolatados se voltaram para lateral da parede onde aquele ser se encontrava. Sombrio, com apenas um olho em sua forma redonda de corpo. Ele as encarava. E olhava a menor entre elas.

Tudo acontecera muito rápido, Rin se jogou contra o corpo da criança e sentiu algo em seu braço, aquela forma defeituosa estava com a boca cravada em sua pele. E foi a primeira vez que ela viu tão detalhadamente a cor do sangue. Nas ilustrações era vermelho vivo, mas ali podia dizer que era quase preto e assim ela sentiu a dor quando a boca desprendeu-se de sua pele –  sangue espirrava de seu braço indo de encontro ao seu rosto. Estava assustada. Os olhos arregalados em horror.

Uma das garotas afastou a criança que deveria ter sido atacada e a mais velha foi até Rin, espantada. As pernas tremendo pela situação. Passos apressados e vozes dos adultos davam para ser escutados pelas escadas, a porta logo sendo escancarada e o pai de uma das meninas entrou no quarto.

Perguntas. Muitas perguntas.

Várias perguntas foram feitas. Mas nenhuma delas respondida devidamente, pelo menos era o que eles achavam, mas Rin estava lhes dizendo a verdade. Por que então não acreditavam nela?

Ninguém nunca a entendera e ela nunca soubera o porquê de ser a única a poder ver aquelas coisas. Coisas que ela não compreendia em sua pouca idade. O que uma menininha de quase seis anos poderia fazer?

Ela não entendia e pouco a pouco se viu sozinha.

Era difícil, mas vez ou outra ela via coisas bonitas. Como fadas, era o que ela acreditava ser pelo menos. Ela enxergava brilhos estranhos, não enxergava somente carros, asfalto e pessoas, mas ela via seres sem forma uns nem tinham olhos, outros eram completos e em sua imaginação eram deuses por serem tão belos. Alguns falavam com ela e lhe abençoavam dizendo que com tal presente que lhe era oferecido estaria segura, já outros queriam come-la e beber de seu sangue.

Que cheiro doce.

— Saborosa.

— Sim, parece deliciosa.

Estes eram seus adjetivos, e sempre que os ouvia ela corria. De vez em quando conseguia espanta-los de alguma forma que não sabia como. E isso a irritava.

Com dez anos de idade ela caminhava apressada de volta ao orfanato o lugar que começou a chamar de lar. O sol estava se pondo e ela sabia que não deveria estar àquela hora na rua, já tinha percebido que ao cair da noite eles apareciam com mais frequência e lhe causavam problemas. Havia sido descuidada. Então seus passos estancaram no chão ao notar um vulto, era médio e movia-se rápido. Ela olhou, em meio aos arbustos, olhos como ouro maciço a encaravam com anseio. Engoliu em seco.

Deveria correr, mas o medo não deixava que seu corpo se movesse. A criatura saiu de seu esconderijo, rosnando, os dentes a mostra a saliva caindo por entre eles, era um lobo negro com três olhos. As mãos subiram ao peito e de repente ela não sabia mais o que deveria fazer.

Em seguida o lobo correu pulando sobre si e a única coisa que ela conseguiu fazer foi se encolher. E em seu interior gritar por socorro.

Ela esperou pelo pior, porém ele não veio e sim o som de algo caindo no chão fora ouvido. Os braços que se erguiam sobre sua cabeça abaixaram devagar e os olhos abriram com dificuldade, sentia o coração palpitar e parecia que ele não se encontrava somente em seu peito, mas sim por toda a extensão de seu corpo.

A forma do animal jazia sem vida a sua frente, a cabeça decepada.

— Criança, - Rin virou-se surpreendida. – sabe que não deveria estar por aqui ainda mais em uma hora como essa. – A garota assentiu, queria desculpar-se, mas a voz sumira.

Uma mulher havia salvado sua vida, não uma mulher comum ela sabia. Era um deles, porém um daqueles que não lhe faziam mal. Era alta, bonita e tinha cabelos prateados, olhos estranhos de coloração dourada e usava um lindo quimono branco com detalhes em roxo.

— Venha aqui. – Chamou e Rin deu três passos tímidos até ela. – Isso deve ser o suficiente para mantê-la segura até chegar a sua casa. – E com aquelas palavras curvou-se sobre a pequena criança e beijou-lhe a testa. A mulher sorriu da expressão encantada da menina. – Até logo, Rin.

Depois disso nunca mais virá tal beldade, e se arrependia de não tê-la agradecido devidamente.

 

 

O dia era ameno ao lado de fora do orfanato, às arvores de cerejeira antes cheia de flores agora se encontravam parcialmente nuas, o chão era vasto de laranja e amarelo a estação começava a esfriar. Rin observava, a mão no local onde havia sido beijado há muito tempo atrás. Eram poucas as lembranças que tinha de seus pais e muito menos de seus amigos de infância – quase podia se perguntar se ouve uma infância - e o que apenas ficava em sua memoria eram as belas criaturas de outro mundo, sem contar os inúmeros monstros. E uma duvida sobre aquele dia pairou sobre sua mente; como ela sabia seu nome?

E olhando atentamente para o lado de fora, naquele momento, eles estavam por ali, pareciam dançar no ar. E pareciam estar felizes...

— Pare de viajar, Rin. – Virou para o lado de onde vinha a voz conhecida e antes que pudesse falar algo recebeu um tapa com um jornal no topo da cabeça. – Temos que terminar de limpar.

— Ayame! – Ela riu afagando-se. – Desculpe.

— Como esta?

— Eu estou bem é... Aí!!

— Qual o problema-

— Olha ai a esquisita. – Um garoto disse, em uma das mãos um estilingue. – Você deveria tomar cuidado ruiva, ou vai acabar que nem os pais dela.

— Bankotsu! – Ela rosnou. – Qual o seu problema?

— Ela é o meu problema. – Disse simplesmente.

— Ela nunca fez nada pra você.

— Nunca fez? Há, que piada. – Um de seus amigos debochou entre eles o mais novo, Jakotsu. – Devemos citar em ordem cronológica as tragédias que aconteceram desde que ela apareceu aqui?

— Cale a boca!

— Se não aguenta as verdades então não há defenda, Ayame. Ou vai sobrar pra você. – Deixou o aviso dando meia volta para terminar os seus deveres. – Ah, se bem que, elas estão cheirando bem mal. Mukotsu acho que elas precisam de um banho.

E antes que elas pudessem se mover o balde já havia sido erguido e a água suja despejada sobre ambas as meninas. Com o barulho as outras crianças vieram dos outros cômodos para o corredor ver o que acontecia. Logo a barulheira começou e os companheiros colocavam lenha na fogueira.

Rin estava de cabeça baixa não acreditando no que tinha acontecido. Olhou para sua frente onde Ayame mantinha uma postura rígida, sentia-se culpada pela amiga sofrer o que somente ela merecia. E quando percebeu ela tinha o balde com que fazia sua limpeza nas mãos e no minuto seguinte o atacou sobre um dos meninos, aparentemente não se importando em quem atingisse, pois todos eles eram culpados.

— Vá se catar seu monte de lixo! – Ela berrou. – E vê se cresce. Pois deve ser por isso que até agora ninguém te adotou, seu enrustido!! – Ela gritava a plenos pulmões. E quando parou ninguém falava mais nada.

Silencio. E foi ai que Rin percebeu certo brilho laranja perto das amplas janelas, estreitou os olhos e em seguida os arregalou. Uma criatura encontrava-se lá fora a espreita, o olhar travesso sobre a situação em que se encontravam, tinha cabelos alaranjados e uma calda felpuda e em sua mão uma sacolinha e antes de ataca-la sobre si e seus colegas o olhar verde encontrou-se com o seu e o garotinho riu derramando um pó sobre o corredor gargalhando. E como num passe de magicas todos começaram a gritar e atacar os produtos de limpeza um nos outros. Rin estava aturdida, estendeu a mão observando o pozinho cair lentamente sobre sua palma nua. O que deveria ser isso?

Observou Ayame mais a frente, seus ombros subiam e desciam conforme o descompasse da respiração. A ruiva virou e pegou a mão da amiga que estava surpresa de mais para poder falar qualquer coisa e apenas seguia para fora dali. Tropeçando em seus próprios pés.  

Passos foram ouvidos nas escadas por onde elas pretendiam seguir e num estalo todos os olhares se direcionaram ao final do corredor onde um senhor consideravelmente baixo caminhava com os braços para trás, ele parou entre eles observando toda aquela bagunça, os grandes e redondos olhos estreitando-se. Olhou para o garoto que estava com a testa sangrando e baixou o olhar para o balde perto de seu pé logo após virando-se para as duas meninas que estavam encharcadas com água suja e suspirou.

— Detenção. – Falou simplesmente apontando para os três garotos.

— M-mas, senhor Totousai-

— Calado, ou vão ter que limpar o sótão também. – Encarou o rapaz que estava inflado de raiva.

— E elas? – Perguntou Jankotsu.

— Legitima defesa. – Rebateu o velho.

— Como é?

— Nada disso teria acontecido se alguém não tivesse começado – Ele olhou para mão de um deles que segurava firmemente o estilingue. – não é mesmo, Bankotsu? Agora saiam da minha frente. E tratem de arrumar tudo isso. – Olhou para cada um que encontrava-se no corredor, de forma bem diplomática.

 

 

Já no banheiro Rin apenas observava com o canto dos olhos a amiga esfregar os braços com raiva enquanto resmungava o quanto aqueles três eram idiotas, uma hora ou outra ela começava a gritar não conseguindo conter a ira que se encontrava dentro dela mesma, e tagarelava questionando a morena, mas antes que pudesse responder a ruiva respondia a si mesma e Rin conseguia se divertir um pouco com aquilo.

Dado momento Ayame estava brigando com ela, e pôs-se a ensaboar os cabelos negros que caiam até a cintura de Rin. Agora, bem mais calma, conversavam sobre assuntos triviais deixando de lado o inconveniente de mais cedo. Elas gargalhavam e divertiam-se enquanto jogavam agua uma na outra, até se encontrarem imergidas na água da banheira que estava morna e perfeita para relaxar.

— Deveríamos ir a uma fonte termal. – Divagou Ayame com os olhos fechados.

— Deveríamos. – Concordou. – Ei, Aya... – A amiga abriu as ires esverdeadas encontrando a morena com metade do rosto na água o olhar triste.

— O que foi?! – Aproximou-se preocupada.

— Ainda tem esperanças de ser levada daqui?

— Ah, - Ela desviou o olhar. – eu já não sei mais, às vezes eu fico pensando se é melhor assim, e quando atingir a maior idade por as mãos no que é meu. Mas sinceramente... Eu não sei. – Deu de ombros.

Diferente de si, Ayame até onde ela havia contado sobre sua vida, tinha família, porém os que estavam perto dela naquele momento não a queriam e ela também sabia que tinha uma conta bancaria em seu nome e que só poderia tê-la aos dezoito anos e isso era o gás que mantinha sua vontade de viver, apesar de ter um pequeno chão a trilhar ate lá. Faria qualquer coisa para ter o que era seu por direito, mesmo que isso fosse ser brigar com seus familiares na justiça, pois tinha certeza que eles não deixariam barato para por as mãos no que era dela. Ayame por várias vezes agradecia por ser filha única e Rin só podia torcer de coração para que tudo desse certo a amiga.

Rin anuiu pensativa.

— E você?

— Já não penso mais nisso a um bom tempo...

— Vai dar tudo certo. – Segurou a mão da outra, confortando-a. Ambas sorriram.

 

 

O olhar de chocolate varreu o local minuciosamente, vendo que não teria com que se preocupar e seguiu seu caminho para fora da propriedade do orfanato. Já passavam das quatro da tarde quando colocou enfim os pés para fora daquele lugar que há um tempo só tinha sugado sua força de vontade, entretanto Rin seguia com um sorriso no rosto, um habito muito comum em si desde bem pequena.

Parou abruptamente quando viu os conhecidos cabelos ruivos ao vento, a garota estava compenetrada olhando para determinado lugar que quando Rin percebeu congelou. Um lobo - três vezes maior do que um normal - encarava a jovem bem a sua frente. A morena correu ao seu socorro, porém não sabia se estaria segura fazendo tal imprudência.

— Aya! Saia dai. –Gritou exasperada.

— Ah, Rin – Sorriu vendo-a se aproximar. – esta tudo bem... – O olhar voltou a grande besta de pelugem marrom e olhos consideravelmente claros.

E antes que ela pudesse argumentar a garota a sua frente explicou-lhe o porquê de estar tão segura diante do lobo. Ela havia tomado conta dele por pelo menos duas semanas, dizendo que enquanto se esgueirava pela mata ali por perto, o encontrou inconsciente e a pata direita machucada. E depois disso quando saiu para encontra-lo outro dia, este estava a sua espera.

— Ele tem feito isso por três dias seguidos. – Disse por fim.

Rin sentia uma presença estranha vindo do animal, porém não era ameaçadora, deduziu que era a mesma sensação de quando via algum ser de outro mundo que não queria o seu mal, ficando um tanto surpresa com o fato e estranhamente segura.

Elas olharam para o grande cão que as encarava de volta, ele ergueu as orelhas e olhou rapidamente para trás, e baixando a cabeça no que parecia uma reverencia ele correu por entre as folhas da mata sumindo de ambas as vistas.

 

 

Chegando ao mesmo local do dia anterior ela parou e respirou alegre, logo a mata mostrou o caminho por onde seu destino se encontrava e sem pensar duas vezes adentrou, sentindo a aura mudar de uma hora para a outra como da primeira vez. Rin praticamente corria pelas folhagens, a respiração desregulada.

Parou de correr, ainda faltando alguns bons metros para se seguir e olhou para os lados. Havia apenas mato em todos os lugares, porém queria analisar, queria respirar aquele ar que era mais leve do que o da cidade. Fechou os olhos e se permitiu sentir. Ela queria ver tudo e não permitiria deixar que nada lhe escapasse os olhos dessa vez, porque ela sabia que eles estavam ali, escondidos de alguma forma dos olhos humanos que ela possuía.

E reabrindo os olhos encontrou alguns outros pares de olhos a encarando em diversificadas cores e tamanhos. Alguns se assustaram e foram embora dali, outros passavam por ela como se esta não fosse nada, enquanto outros a encaravam esperando que fizesse alguma coisa inesperada, porém continuou parada e riu de toda aquela aquela cena.

Pode perceber que até mesmo havia flores magicas que a olhos nus não poderiam ser visto e perguntou-se se haveria problemas se as tocasse, mas antes que pudesse fazer isso algo passou correndo atrás de si fazendo com que ela se assustasse e ficasse mais atenta, porém nada viu. Engoliu em seco, um frio percorrendo a espinha. Talvez fosse melhor ir direto para o café.

O local encontrava-se da mesma forma, com a diferença de que naquele dia havia mesas dispostas ao ar livre sobre a grama, e quando seus olhos se acostumaram com o local, pode ver que as mesas não estavam vazias e sim ocupadas por espécies que ela não conhecia. E de alguma forma eles não ligavam para sua presença. Andou até a porta os olhos amendoados logo indo para a área acolchoada da janela, uma pequena frustração alojou-se em seu interior, ele não se encontrava ali. Apertou a alça da mochila que pesava sobre seus ombros e entrou.

— Boa tarde. – Saldou uma jovem, analisando ela parecia um tanto mais nova que si, a pele parecia porcelana e os cabelos eram brancos que nem a neve e tinha certeza que poderia ser engolida pelo breu de seus olhos. – Seja bem vinda. – A voz era baixa e extremamente calma.

— Boa tarde. – Sorriu. Não havia visto ela no dia anterior, talvez não fosse o dia da sua “escala”, pensou.

— Oh, que bom vê-la de novo, boa tarde. – A atendente do dia anterior cumprimentou-a assim que passou pela porta e debruçando-se no balcão do caixa. Rin fez o mesmo em uma pequena mesura.

— Kagura, você a conhece? – A menina perguntou virando-se para a mulher, a voz antes calma soando intrigada.

— Sim, ela veio aqui ontem. – Informou. – Qual o seu nome? – Indagou sem nenhum pouco de vergonha.

— Rin, Shikon no Rin. Prazer.

— O prazer é meu Rin. Eu sou Kaze Kagura e esta é Kagami Kana. – Apresentou-se a mulher, com uma felicidade explosiva contida intimamente. A garota mais nova voltou o olhar para Rin e indicou uma das mesas perto da janela.

Sentou-se abrindo a mochila em seu colo retirando alguns livros e os colocando sobre a mesa, estudaria ali naquela tarde. Afinal não teria lugar melhor pensou feliz. Pegou o cardápio nas mãos e analisou as opções, todas eram igualmente apetitosas constatou.

E antes que pudesse pedir, sentiu uma caricia suave em seu cabelo, virando-se devagar para o lado onde Kana estava e tinha uma das pequenas mãos em uma mecha de seus cabelos, e quando seus olhares se cruzaram a mais nova enrubesceu tamanha sua vergonha recolhendo a mão e pondo seu bloquinho de notas em frente ao rosto.

— D-desculpe. – Disse com dificuldade. – Qual vai ser seu pedido?

— O da casa. – Respondeu ela vendo-a escrever rapidamente no papel e sair dali em uma velocidade um tanto quanto que desnecessária.

Rin piscou algumas vezes tentando entender o que havia acontecido, mas não se demorou, era uma atitude normal de uma criança, talvez. Ela sorriu, dando de ombros.

— O que foi aquilo, Kana? – Perguntou tentando esconder a risada que se continha nos cantos da boca.

— Não ria! – Bradou a menina já na cozinha. – É incrível a aura que emana dela. Foi inevitável... – Terminou dizendo com um leve bico nos lábios.

A mais velha desatou a rir deixando a jovem ainda mais enfezada.

A porta dos fundos da cozinha abriu e Kagura parou imediatamente de rir, Kana a observou arrumar a postura e os olhos de ônix rolaram até a figura alta que se aproximava. Sesshoumaru passou por elas sem se dar ao trabalho de cumprimenta-las, visto que – pelo menos para ele – não era necessário. Passando pela porta vai e vem deixando-as sozinhas.

Smack.

Sesshoumaru olhou ao lado direito onde a pequena criatura jazia acariciando com uma das mãos sua face após dar-lhe um beijo. Kana agora possuía asas e seu tamanho não passava de centímetros. Ela sorriu minimamente e apontou a cabeça na direção da menina sentada em meio aos livros absorta em pensamentos.

Ambos olharam a menina que não notara que estava sendo cercada pelos seres não humanos daquele mundo, apenas sentia ser envolvida por uma onda quente e gostosa que por um instante a deixava sonolenta e quando deu por si seu dorso, mãos, braços e pescoço estavam enrolados por algo que era desconhecido por ela. Os olhos castanhos se colocaram para cima e viu a cabeça da criatura, os olhinhos fechados fazendo de seus cabelos seu travesseiro, seu ombro era ocupado por uma pequena, fada? Corpo miúdo de coloração lilás, asas guardadas unidas em suas costas e dormia profundamente.

— Mas-

Sua fala fora interrompida por um estalar alto de dedos fazendo com que seus inquilinos dispersassem assustados deixando-a sozinha novamente. Ela olhou na direção da onde o barulho veio e sua respiração sumiu por algum motivo.

— Aqui esta seu pedido. – Sessoumaru depositou o prato na mesa.

E ficou parado a encarando enquanto ela fazia o mesmo por alguns minutos. Kana revirou os olhos com aquela situação, dando o primeiro passo que deveria ser dado pelo homem ao seu lado ela voou até o lado de Rin, logo se transformando em seu tamanho normal. A morena ficou encarando-a maravilhada

— Este é Sesshoumaru, nosso patrão. – Ela disse com um sorriso mínimo nos lábios. – Qualquer coisa que precisar, pode nos chamar. – Avisou se afastando, visto que tinha feito o suficiente para uma primeira interação.

— Muito prazer... – A voz sumindo ao final da frase, já que este não tinha conhecimento de seu nome.

— Rin. – Emendou completamente hipnotizada pelo homem a sua frente.

— Rin. – Repetiu como se testando o nome em seu timbre de voz fazendo com que ela sentisse as borboletas em seu estomago dançarem ao ritmo frenético de seu coração. E quando viu ele havia depositado um beijo em sua mão que até então não sabia estar em contato com a dele e em seguida se afastou.

Sabia que a partir daquele momento ela não conseguiria ter sua atenção voltada para os estudos. Ele sentia sua ansiedade, era palpável assim como a magia que emanava de seus poros e fazia com que aquele espaço se tornasse pequeno para tamanho poder, quase expelindo os clientes que se encontravam ali. Era incrível como a dona de todo aquele fluxo de sortilégio não percebesse nada.

O local criou novas flores, abrindo-se conforme a menina ia se sentindo ainda mais acolhida pelo lugar, às folhagens grudadas nas lajotas das paredes ao lado de fora iam crescendo em segundos com mais vida e força do que o normal. Sesshoumaru percebia a intensidade com que a atmosfera ia mudando, conseguia sentir que mais convidados chegavam conforme a menina expandia sem perceber o seu poder interior, sabia que poderia ser incrível aos olhos, porém sem o devido cuidado ela se tornaria um alvo fácil assim como já havia sendo desde sua infância.

— Kagura. – A mulher apareceu ao seu lado. – Faça uma barreira em torno de todo esse campo.

— Como pode ela não perceber que esta moldando tudo a sua volta? – perguntou intrigada.

— Ela não tem dimensão do que carrega dentro de si. – Explicou ainda encarando a garota que se encontrava alheia a toda a situação ao seu redor. – Vá.

Uma pulsação reverberou silenciosamente por toda aquela extensão, afastando qualquer ser não indesejado e sinistro que perambulasse por aquelas terras. Agora que a menina estava sobre seu teto teriam que proteja-la, mesmo que não de forma explicita e direta e não seria difícil já que vinham fazendo isso há muito tempo. Kagura aguçou a visam assim que proferiu as palavras sagradas para que a barreira fosse erguida, sorriu satisfeita com seu trabalho, recolhendo o leque apoiando-o em baixo da boca. Ergueu os olhos vendo que seres animalescos rondavam os céus a procura de algo que, agora estava escondido.

Rin ainda encontrava-se desatenta a qualquer movimentação estranha ao lado de fora da casa. Ela encontrava-se com as sobrancelhas franzidas o cotovelo na mesa, cabeça apoiada em uma das mãos enquanto a outra desatava a escrever linhas e mais linhas em seu caderno, vez ou outra ela trocava a caneta pela xícara de café e parava para respirar. Pouco percebia que os seres iam e vinham e novamente ela estava rondada pelos pequenos que consumiam de sua aura quente e aconchegante.

Piscou varias vezes quando se viu ser coberta por varias luzes, elas rolavam por sua pele, outras pulavam e esta riu sem entender nada. Ergueu a mão aberta em frente ao rosto para olhar melhor os pequenos bichinhos e espantou-se quando eles simplesmente tilintaram e sumiram. Ela olhou para os lados e encontrou a forma imponente de Sesshoumaru ao seu lado com os braços cruzados.

— Você pode esclarecer as minhas duvidas não é?

Os olhos âmbares penetraram nos seus e sentiu como se cravassem também em sua alma. Não tinha duvidas que se não fosse ele, não seria mais ninguém. Viu-o estender uma das mãos em sua direção e sem hesitar o tocou e de uma hora para a outra já não estavam mais sob o teto do café e sim em uma área banhada pelo por do sol avermelhado e o chão estava coberto por flores coloridas e rasteiras. Os cabelos negros chicotearam pelos movimentos rápidos que ela fazia, totalmente admirada.

— Você não me parece surpresa. – Observou.

— A minha vida toda eu convivi com coisas assim. – Voltou o olhar para os dele. – O que eu sou? O que você é?! – Questionou os olhos brilhando em expectativa.

— Você é uma humana com um toque especial. Chamamos isso de potencial. – Explicou. Em nenhum momento desviando os olhos dos dela, ainda conectados pelo toque suave das mãos. – Você herdou um poder espiritual muito forte, Rin. E isso por anos tem atraído as criaturas que você conhece. Pode não perceber, mas é palpável para seres como nós. – Ele moveu a mão desocupada no ar, e algo tomou forma em cores diversas. – Seu poder esta por todos os lugares.

— O meu poder? – Repetiu vendo-o anuir. – Mas... – Sua expressão era de confusão. – Eu nunca usei o meu poder.— A ultima palavra sendo proferida com estranheza.

— Simplesmente porque você ainda não sabe maneja-lo de forma correta. – Esclareceu.

Ainda?— A mão apertando a de Sesshoumaru pelo entusiasmo.

— Sim, ainda. – Reforçou. Os olhos a analisando minunciosamente cada milímetro de seu rosto. – Irei ajuda-la, Rin. Se assim permitir.

Rin já estava parada a um bom tempo no mesmo lugar, mas com aquelas palavras sentiu cada músculo do seu corpo tencionar pela empolgação, ele queria dizer que iria ensina-la. Ensinar a mexer com a magia que diziam emanar de si, e finalmente iria compreender tudo o que sempre quis saber. De alguma forma sentiu que naquele dia havia encontrado o seu lugar no mundo.


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Notas finais do capítulo

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