Draco havia conseguido reerguer seu nome depois de tudo, foram necessários alguns anos enclausurados estudando, fazendo trabalhos voluntários e publicando pesquisas para conseguir retomar a confiança da sociedade, apesar de tudo ele ainda se sentia indigno e sujo. Quando conheceu Astória ele achou que estava ficando completamente louco, como aquela doce e linda morena estava interessado em alguém como ele? Ele não tinha idéia, só sabia que precisava dela como o ar que respirava. Não foi fácil, ainda não era fácil, mas ele sentia que conseguiria, os fantasmas de seu passado estavam sendo pouco a pouco enterrados, bom, pelo o menos era assim que ele pensava até ver as notícias dos jornais de que havia acontecido uma fuga em massa de Azkaban. Semanas depois, enquanto tomava seu café da manhã, quase cuspiu o suco que bebia com a notícia de primeira capa do jornal bruxo alemão, onde a manchete “HERMIONE GRANGER ENTRE A VIDA E A MORTE”, acabou com todo o seu apetite daquela manhã. Logo depois a sua rede de flú foi acionada e Astória lhe contou o que havia acontecido e que Harry Potter pediu sua ajuda. Draco aceitou ajudar de pronto, sorrindo e se sentindo algo perto de orgulho, constatou um fato, o “Santo Potter” era e sempre seria muito mais digno do que ele, apesar de tudo que a família dele fez ao moreno, ele foi capaz de passar por cima de tudo para salvar sua melhor amiga e Draco admitia, era um homem de honra. Logo o loiro foi arrumar suas coisas para partir pra Inglaterra, com uma mala na mão e a caixinha de veludo no bolso com a promessa de uma nova vida ele deixou algumas horas mais tarde o ministério alemão, pedindo ajuda a Merlin para conseguir salvar Hermione.

oOo

Dormiu direto por pelo o menos umas quatro horas, quando acordou Bethany ainda estava no seu apartamento, assim que se arrumou para o hospital resolver deixar tudo as claras com a loira. Bethany lhe sorria e dizia que não estava chateada com ele, mas Ron sabia, porque via em seus olhos que aquilo era mentira, a loira estava profundamente magoada e Ron se sentia culpado, contudo os últimos acontecimentos não lhe permitiam tempo para se massacrar, quando se despediu da loira fez uma prece a qualquer divindade que permitisse que ela se recuperasse da dor de um amor não correspondido e que Merlin o perdoasse, mas tudo o que importava agora, era Hermione.

Era capaz de ouvir seus passos pesados no chão frio daquele hospital estranho, de cheiro estranhos e apitos assustadores, a sensação era aterrorizante, ao mesmo tempo que queria chegar no quarto da morena, tinha medo do que encontraria. Havia falado com Harry no telefone e ele tinha ido pra casa tomar um banho e descansar, enquanto Gina, Luna e Neville ficavam alternando as rondas entre o quarto da amiga e a sala de espera. Quando percebeu que estava perto sentiu seu coração aos saltos, parou em frente a porta do quarto respirando fundo, tentando acalmar as batidas loucas do seu coração e girou a maçaneta, a imagem que viu lhe deixou atordoado, não só pelo estado da amada, mas por quem estava ao seu lado.

Viktor Krum estava sentado na poltrona ao lado, segurava a mão da jovem e tinha um olhar ansioso na direção da mesma, Ronald se sentiu estúpido ao ter se esquecido dele, eles haviam dormido juntos! Eles tinham algo! Com certeza tinham, mas como sempre, suas emoções falariam mais alto e quando se deu conta já estava rosnando.

— O que está fazendo aqui? – perguntou irritado assustando Krum que levantou num salto, franzindo o cenho ao reconhecer quem falava com ele.

— Olá We-easley, estou visi-i-tando uma amiga! – ele respondeu num sotaque carregado e cheio de ironia, sabia que Hermione ainda amava aquele ruivo idiota, mas não deixaria de provoca-lo.

— Sei bem que são mais que amigos! – o ruivo avançou pra ele, o dedo em riste.

— Se sabii porque perguntou o quii estou fazendo aqui?!

— Dê o fora daqui! Não tinha nada que estar aqui, você não é nada dela!

— Pelo que sei, você-ê também não – Krum apenas o provocava para conter a própria irritação.

— Ora seu im...

— Ronald! – o grito de Gina se fez ouvir, atrás dela Rony viu Malfoy em seu encalço, tinha o cenho franzido, mas pela primeira vez estava alheio a situação, seus olhos varriam o corpo inerte de Hermione na cama – Se quiser continuar com a sua ceninha sugiro que vá lá fora e fora do hospital, porque os trouxas também não toleram baderna! – ela falava com o rosto corado, uma mão na cintura e a outra apontando o dedo para os dois rapazes, para Ron, uma cópia perfeita da mãe deles – Tenham um pingo de vergonha na cara e respeitem Hermione!

— Ele não tinha nada que estar aqui... – o ruivo resmungou chateado.

— Cale a sua boca! – Gina estava nervosa, era um absurdo que eles estivessem fazendo uma ceninha no quarto da sua amiga enquanto ela lutava contra a morte – Deem o fora daqui e deixem Malfoy trabalhar!

Com a cabeça baixa os dois homens apenas saíram do quarto, cumprimentando Malfoy com um aceno, o loiro tinha um sorriso torto no rosto quando os outros deixaram eles sozinhos com Hermione.

— Você é bem esquentadinha hein Weasley – ele riu e ela cerrou os olhos pra ele que apenas levantou as mãos – só falando, fico pensando no trabalho que vai dar pro Potter – ele concluiu rindo quando ela lhe mostrou a língua, fazendo com que o clima ficasse mais ameno. Contudo, Draco já estava sentindo toda a tensão e preocupação da sua profissão encima de si, o quadro de Hermione era extremamente grave. Ele se aproximou dela, sacou a varinha e proferindo encantamentos sentiu a bile lhe subir a garganta quando reconheceu o feitiço que atingiu a morena.

— Eles acertaram ela com o Hectumsempra

— Oi? – Gina franziu o cenho para o loiro – não é sectumsempra?

— Na verdade é uma variação, os comensais criaram essa maldição encima da criada por Snape, só que ao contrário da “original”, o sangramento é interno, atinge todos os órgãos e mata de forma lenta.

— Mas você sabe o que fazer, sabe como salvá-la? – a ruiva questionou desesperada sentindo um alívio enorme quando Malfoy assentiu.

— Mas eu gostaria que você soubesse de algo – o loiro disse sério olhando nos olhos de Gina – eu nunca usei o contrafeitiço, o encantamento apenas me foi ensinado de forma falada, nunca coloquei em prática porque esse encantamento começou e morreu com os comensais, posso salvá-la, mas também posso colocar tudo a perder.

O estômago de Gina contraia, ela não acreditava no que ouvia, mas tudo que podia fazer era acreditar – enquanto tivermos 1% de chance, tentaremos salvá-la Draco – ela disse num sussurro e o loiro assentiu.

— Tranque a porta.

oOo

Sua mente flutuava entre lembranças, escuridão e depois de momentos incessantes de dor, onde ela gritava, mas estava completamente inerte, de lucidez, onde ouvia o que estava acontecendo a sua volta para logo depois ser engolida novamente pela escuridão. “Hermione eu nunca te disse isso antes, mas eu amo você, amo como uma irmã, não imagino um mundo onde você não exista, por favor aguente...’ era Harry. “...Por favor fique comigo” Ron. “ Mione eu estou quase ligando pro seus pais! Acorde! Reaja!” Gina. “Sua cabeça está cheia de zonzóbulos, eles que estão te impedindo de acordar?” Luna.

Ela reconhecia algumas vozes, as vezes as falas apareciam, mas eram embaralhadas demais para que Hermione entendesse, por vezes eram claras como a água, como quando ela reconheceu a voz da última pessoa que ela imaginaria que estaria ali com ela.

— Granger, eu sei que pode ouvir as vezes e sei que a dor é alucinante, eu lancei o contrafeitiço, é para acordar em poucas horas. Weasley, vou ficar de prontidão no meu apartamento, qualquer indicio de que ela esteja acordando me chame, venha no mesmo momento – Draco Malfoy estava ali, tinha certeza, a vida é inacreditável.

— Ok Draco, obrigada! – Gina se fez ouvida em sua mente e logo a dor foi tão forte, a mais forte até o momento e foi engolida novamente pela escuridão.

Tinha algo em sua garganta e ela não conseguia respirar direito, de repente ela estava muito consciente de todo o seu corpo, sentia o lençol por todo ele, assim como a sonda na sua bexiga e a outra em seu nariz, sentia os cateteres em seus braços, mas o pior de tudo era aquela dor em sua garganta e a impossibilidade de acordar, tossindo ela tentou abrir os olhos mas a claridade do quarto a impediu, tossindo cada vez mais forte e desesperadamente ela ouviu os bipes alucinados dos aparelhos a sua volta.

— Hermione não, vai se machucar!! – ela forçou os olhos para olhar Ron, mas tudo que viu foi um borrão de cabelos ruivos – Enfermeira!! Enfermeira!!

— Srta Granger precisa se acalmar! – uma voz que ela não conhecia, o borrão todo de braço da mulher apareceu na sua frente – Vamos desconectar o tubo! Esta me ouvindo? Consegue me entender? Preciso que tente se acalmar e se comunique comigo!

Aos poucos ela foi entendendo que estava conectada a um respirador e ao se acalmar foi capaz de respirar de novo, a vista apesar de embaçada já estava melhor e ela já podia ver o rosto de Ron e seus olhos incrivelmente vermelhos, inconscientemente ela levou a mão ao rosto dele, Ron sorriu aliviado, segurando a mão dela e beijando sua palma, o choro agora era de alívio. Olhou para a enfermeira e segurou sua mão.

— Que bom que está de volta menina, nos deu um belo susto, vou desconectar o tubo do respirador, se conseguir respirar tiraremos ok? – a morena assentiu e logo o tubo foi desconectado, foi estranho tentar respirar sem aquele ar entrando em seus pulmões, mas ela conseguiu, logo toda equipe médica estava ali e a palavra “milagre” foi ouvida várias vezes. Eles retiraram as drogas vasoativas e logo a suas sondas foram tiradas, ela descobriu que ficou em coma por 4 dias e mesmo depois do contrafeitiço do Malfoy, ela ainda passou um dia inteiro dormindo, logo depois ela já estava sentada na cama, com uma trança lateral feita por Luna, enchendo a todos de perguntas apesar da voz fraca e tentando se alimentar de uma sopa ralinha e segundo Ron, horrível. Todo o processo levou várias horas o que deixou a todos exausto e sobre protestos da irmã, Ron ficou para dormir com Hermione e todos foram embora. Harry havia dado uma passada rápida pra vê-la acordada e Draco havia ido até lá novamente para examiná-la, dizendo que no dia seguinte ela poderia ser transferida para o St Mungus. Agora só estavam ela e Ron.

— Como você está se sentindo? – ela perguntou numa voz baixa e rouca para o ruivo.

— Ainda doi em alguns lugares, mas estou bem melhor, o importante é você, como está se sentindo? – ele devolveu a pergunta a fazendo sorrir minimamente.

— Eu ainda sinto dores, mas nada comprado a antes, mas acho que sobrevivo, como dizia a minha prima, vaso ruim não quebra – brincou com o ruivo que riu, Ron se aproximou mais da cama dela e segurou a sua mão, ficando sério e até meio pálido enquanto se preparava pra falar, deixando Hermione tensa com o que ele falaria.

— Eu sei que não é hora nem o momento pra te falar isso ou qualquer coisa – ele suspirou a encarando nos olhos – mas eu te amo, nunca deixei de te amar, terminei meu noivado e se você não me quiser eu juro que eu vou entender, vou passar o resto dos meus dias cultivando esse amor dentro de mim, mas eu preciso que você saiba Hermione, eu amo você – a jovem tinha os olhos marejados e a boca semiaberta em choque.

— Terminou o noivado?

— Sim, Bethany é maravilhosa demais para ficar com alguém que não a ame e eu nunca vou amá-la, meu coração é seu, desde que temos 11 anos – ele sorriu tímido pra ela e Hermione riu e chorou ao mesmo tempo, não acreditando no que ele estava falando, não acreditando que a vida estava lhe dando uma nova chance.

— Eu te amo Ron, muito! – ele riu a abraçando meio de lado por ela estar deitada.

— Você não está com o Krum? Ele estava aqui mais cedo.

— Estava? – ela franziu o cenho – Não, eu deixei bem claro que não queria me envolver com ninguém, ele só devia estar preocupado.

— Não foi o que ele falou, me disse que vocês são mais que amigos – ele tentou falar meio indiferente, mas a cor de suas orelhas fez com que Hermione risse e gemesse com a dor que atingiu sua barriga com o acesso de riso – Não ria Hermione, não faça movimentos bruscos, você não se recuperou ainda! -  Ron se adiantou até ela preocupado, sentando na cama para ficar mais perto e de frente pra ela.

— Você é um bobo Ron, caiu nas provocações do Viktor e ta cheio de ciúmes! – ela riu mais um pouco enquanto o ruivo ficava todo sem graça.

— Mas você disse bem claro que não queria se envolver com ninguém, nem comigo? – perguntou aproximando o rosto dela num biquinho fingido, fazendo ela rir mais.

— Oh me desculpe pela minha gafe senhor! – ela respondeu num drama fingido que Ron achou ainda mais engraçado por ela estar extremamente rouca – eu não queria me envolver com ninguém que não fosse o senhor! – ela sorriu, acariciando a face do ruivo e ele segurou seus pulsos beijando suas mãos e depois dando um selinho extremamente delicado nela, que fez o peito de Hermione se aquecer e ela se sentir totalmente cuidada e amada.

— Aceita se envolver comigo sehorita Granger? – Ron perguntou com a testa colada na dela, olhando em seus olhos.

— Vai pular de um noivado pra um namoro no mesmo dia senhor Weasley? – brincou, sentindo que seu sorriso era tão grande que podia rachar seu rosto no meio.

— Tecnicamente não é no mesmo dia senhorita Granger – ele falou se deitando ao lado dela, passando o braço pelo seu ombro a fazendo deitar em seu peito – e eu quero passar de um noivado pra outro noivado – aquela declaração fez com que Hermione levantasse a cabeça, olhando com o cenho franzido para o rapaz – casa comigo senhorita Granger? Deixa eu declarar pro mundo que você é o ar que eu respiro Herms.

Ela não precisou responder, na verdade ela nem conseguiu, se agarrou a ele e chorou tudo o que pode, tirando do seu peito a dor da saudade de todos aqueles anos, a angustia em vê-lo com outra e a ansiedade dos últimos dias. Chorou tudo que pode e se agarrou a Ron o máximo que pode, chorou tanto que o ruivo já pensava que a resposta era não, mas quando Hermione conseguiu se acalmar e viu nos olhos dele o medo, caiu na risada, só Ron pra entender tudo errado.

— SIM! Sim é lógico que sim! – ela riu mais quando ele suspirou claramente aliviado e logo o ruivo foi contagiado pela alegria dela, a abraçando pra logo depois ser escorraçado da cama da sua amada pela enfermeira que entrou no quarto com as medicações da sua amada.

Com a promessa de um novo futuro cheio de amor para ambos, eles adormeceram, ela na cama, virada para Ron, as duas mãos segurando a de Ron, enquanto ele também dormia na poltrona ao seu lado.