Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Estava ansiosa para trazer Madeline Burke para essa história. Ela será fundamental para a sequência da história. Jeller? Madeline será um problema a mais com o qual terão que lidar.



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Reunidos do hotel ainda em Tóquio, Patterson e Rich informaram o óbvio: as informações do driver estavam altamente criptografadas e teriam que voltar ao NYO para decifrá-las. Jane tinha saído do banho e secava o cabelo com uma toalha enquanto olhava a tela do notebook de Patterson.

— Patterson, e esse arquivo aqui? _ apontou para a tela.

— É uma imagem aparentemente sem nada. Apenas um plano preto com poucos traços brancos salpicados. De volta ao NYO utilizaremos os recursos de lá para buscar alguma pista nisso.

— Com os programas que vocês têm aqui seria possível fazer o mesmo processo que fizeram com o buraco negro deixado por Mayfair?

Antes que Patterson respondesse, Rich estava teclando comandos no notebook e a imagem se movendo até assumir uma organização que também parecia não conter nada relevante. Rich virou e suspirou balançando a cabeça negativamente em derrota.  A loira levou a mão até o braço da amiga:

— Teremos que esperar só mais algum tempo, Jane. O importante é que temos o driver.

Mas os olhos da morena não se afastavam da imagem na tela.

— Tem algo familiar ali. Não sei dizer o que é. Talvez se jogarmos no banco de dados das tatuagens e tentarmos uma combinação...

— Jane, as últimas horas foram longas e intensas. Você precisa descansar. E todos nós também. _ Reade foi firme demonstrando que sua fala não era apenas o conselho de um amigo, mas ordens diretas.

Ela assentiu triste e se despediu com um “boa noite” carregado de derrota.

— Hei _ Rich veio até ela _ Você foi incrível lá fora hoje. Se essa vitória não estiver cravada na sua alma e estampada na sua cara, vou entrar nesse quarto e te fazer assistir alguns filmes singulares. Alguns dirão que é pornografia, mas cada um deles mostra o quanto não podemos nos ofuscar...

Ela mudou a postura e a fisionomia para um otimismo até assustador para quem acompanhou a transformação:

— Estou ótima e feliz. Vou dormir e você fica bem longe do meu quarto.

Reade e Patterson conteram o riso. Jane entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. Rich arrematou vitorioso:

— Era um blefe. Eu não iria pra cama com ela sem o Stuble.

Reade sacodiu a cabeça e se despediu também indo dormir. Patterson voltou para o notebook:

— O chefe disse “dormir e descansar”._ Rich advertiu

— Estou indo. Só vou inserir a imagem no Tattoo Alert. Estamos numa corrida contra o tempo._ acrescentou olhando triste para Rich que concordou.

Seis horas mais tarde, Patterson saiu do seu quarto lutando para vestir o chambre sobre o pijama enquanto também carregava o notebook. Ao chegar à sala, se surpreendeu com Jane sentada no sofá e abraçada aos joelhos:

— Uou. Bom dia. Achei que você ainda estaria dormindo. _ disse a loira

— Bom dia. Meu sono é bem instável e não consigo dormir por muitas horas. Já estou acordada há um tempo. Você parece afobada...

— E estou. Você estava certa. A imagem de ontem se encaixa com duas de suas tatuagens: uma da fase 1 e outra bioluminescente.

Então ela virou a tela do notebook para Jane: a sobreposição das tatuagens formava algumas palavras em japonês. Os olhos dela se iluminaram enquanto ela lia em voz alta a inscrição:

— É um endereço de uma propriedade rural aqui no Japão. Temos que acordar o Reade.

Menos de uma hora depois estavam a caminho do local. As imagens de satélite não mostraram nada além de instalações rurais comuns, entre elas um grande silo. Discutiram estratégias e acionaram contatos nos arredores e busca de mais informações durante as duas horas de viagem.

Sem nada de concreto, tudo que poderiam fazer era jogar com a verdade: se apresentarem aos proprietários e ouvirem o que estivessem dispostos à relatar. Reade ainda tentava obter um mandato de buscas junto às autoridades locais, mas a burocracia não ajudava.

Assim que chegaram, Jane tomou a frente e bateu na porta. Foram atendidos por um casal de idosos que tentou ser gentil não deu qualquer informação relevante nem abriram espaçou para adentrarem a casa.

Se despediram e estavam se dirigindo de volta ao carro quando uma voz soou vindo da janela do andar superior da casa:

— Esperem!

Eles olharam em direção da voz, mas a posição do sol não lhes permitia visualizar a mulher que falava num inglês natural. Ela continou:

— Você é Jane? Jane Doe?

Rich sussurrou:

— Não confirme. Estamos vulneráveis aqui.

— Sim, sou eu. _ Jane disse alto e claro.

Reade, Patterson entraram em alerta enquanto Rich maldizia com um palavrão.

— Eu já estou descendo. Não vá embora.

Logo ela apareceu na porta. Alta, magra, morena, cabelo cacheados, pouco mais de 60 anos de idade, estadunidense.

— Por favor, vamos entrar. Eu estava esperando por vocês. Sou Madeline Burke. _ disse estendendo a mão para Jane

Eles se entreolharam, mas era óbvio que Jane não recuaria.

— Que bom que você está aqui, Jane. Você não imagina o quanto desejava te conhecer...

Pouco depois todos conversavam ao redor da mesa da cozinha enquanto o casal de velhinhos servia chá e doces japoneses.

— Então, Roman te procurou a cerca de dois anos atrás porque começou a sentir os sintomas do envenenamento. _ Reade disse.

— Mas você já trabalhava com pesquisas sobre o ZIP antes disso. _ Patterson completou.

— Exatamente. Trabalho com pesquisas relacionada a medicamentos para auxiliar situações de estresse pós traumático há mais de quinze anos. A cerca de dez anos, trabalhei com testes do ZIP e pouco depois passei a me dedicar aos efeitos colaterais dessa droga. Ela é muito promissora. Superar seus efeitos colaterais é muito importante para ajudar na recuperação de pessoas que não conseguem superar traumas por meios convencionais.

— Mas essa droga é um veneno que mata lentamente! _ Rich desabafou.

— Na verdade, não é bem assim. Em primeiro lugar, o ZIP é uma substância que deve ser usada em doses baixíssimas apenas como auxiliar de outras terapias. Não fazia parte do projeto original inundar um organismo com essa droga. Sabíamos que dosagens maiores causavam náuseas, dores de cabeça e lapsos de memória. Mas quando Roman me procurou, fiquei estarrecida com o que ele estava sofrendo. Nem na pior das hipóteses o ZIP causaria aquilo.

— Mas causou. _ Patterson foi enfática.

— Não o ZIP original. _ Madeline continuou.

— Como assim? Existe mais de um tipo de ZIP? _ Jane questionou.

— Não. Mas o ZIP que estava no organismo de Roman e está no seu, sofreu uma mutação sutil que demorei meses para descobrir. Provavelmente fruto da combinação com a substância radiotiva que a ASN utilizou no interrogatório de vocês dois.

Rich sussurrou uma série de palavrões enquanto Patterson só fechou os olhos e aspirou o ar buscando controle.

— O ZIP original, na quantidade que foi utilizado em você, causaria danos irreversíveis na memória, dificuldade em dormir, com o tempo as náuseas e dores de cabeça frequentes poderiam fazer parte do quadro. Mas nada além disso. Minha pesquisa desenvolveu várias drogas auxiliares que poderiam atenuar esses sintomas e garantir qualidade de vida à vocês.

— E essas drogas auxiliares ainda podem ajudar Jane?_ Patterson estava ansiosa.

— Tudo que eu desenvolvi antes de Roman me procurar foi ineficaz para o caso dele.

— Então, porque Roman nos trouxe até você? E como você fez todas as suas pesquisas? Usando essas xícaras fora de moda? _ Rich foi perspicaz.

— Roman disponibilizou uma grande quantidade de dinheiro para as minhas pesquisas. O silo lá fora é, na verdade, o meu laboratório.  Desde então, fiz progressos significativos.

— Fale _ Reade foi enfático.

Jane estava imóvel na cadeira. Parecia distante e cansada daquela conversa. Na verdade, nada daquilo lhe interessava. Ela estava decidida a não se apegar com falsas esperanças e as palavras de Madelaine só reforçavam sua determinação.

— Um grande avanço foi descobrir que adrenalina, serotonina e endorfina retardam o processo. Antes de Roman me procurar, ele estava tentando levar uma vida normal e os sintomas foram avassaladores. A partir do momento em que passou a procurar formas de conter o avanço do envenenamento, levantando recursos e descobrindo atrocidades sobre novas formas de uso do ZIP, seu novo propósito e toda a agitação desse período fez os sintomas desacelerarem. Foi por isso que os sintomas de Jane demoraram tanto para aparecer: a vida como agente tripla infiltrada na Sandstorm, a luta contra Shepherd, a fuga mundo afora com um prêmio em sua cabeça, tudo isso ajudou a retardar o envenenamento. E foi por isso que Roman decidiu não contar tudo a ela diretamente, mas fazer as novas tatuagens. Não tínhamos nada concreto para oferecer, mas o novo jogo garantiria que a vida dela se prolongasse até descobrirmos algo.

— Céus, então àquele deus grego não estava sendo movido apenas por vingança._ Rich refletiu em voz alta.

Jane fechou os olhos e puxou o ar tentando manter a concentração para evitar as lágrimas.

— Você falou sobre atrocidades na utilização do ZIP. Poderia nos dar mais detalhes. _ Reade percebeu algo importante além do conteúdo sentimental do relato.

— Esse é o outro motivo pelo qual vocês estão aqui. Todo o investimento de Roman nas minhas pesquisas não teriam me motivado tanto quanto o que ele me contou sobre Crawford planejar usar novas versões combinadas do  ZIP, ainda mais letais do essa que está envenenando seu organismo, em orfanatos criados por ele. Não se tratava de salvar apenas a vida de vocês dois. Essa pesquisa pode ajudar centenas de crianças que estão servindo de cobaias pelo mundo todo para a formação de um poderoso, focado e submisso exército de vida curta, mas muito eficiente.

O interesse de Jane brotou avidamente:

— O que mais você sabe sobre os planos de Crawford?_ perguntou

— Infelizmente, isso é tudo que sei sobre a HCI.  Roman é quem sabia de tudo.

— O driver! Precisamos voltar para NYC.

Reade gesticulou para Jane se acalmar enquanto retomava a conversa com Madeline:

— Sobre o antídoto, existe alguma forma de te ajudarmos?

— Minhas pesquisas não podem avançar sem você, Jane. Preciso fazer novos testes. Roman recebeu uma única grande dose de ZIP, mas é você quem teve todo o seu organismo inundado por ele em dosagens parecidas com àquelas que as crianças estão recebendo.

Jane concordou com a cabeça enquanto enchia os pulmões de ar. Roman estava disposto a jogar com ela até mesmo depois de morto. Ela não podia dizer não. Não era pela sua vida, mas pela vida daquelas crianças. Voltar a ser uma cobaia parecia-lhe menos atrativo que a própria morte.

Madeline continuou:

— Além disso, preciso de substâncias as quais não estou conseguindo ter acesso para manipular o antídoto. Talvez nos EUA, com a ajudar de agências governamentais como o FBI e a ASN isso se torne possível.

— Verei o que posso fazer. Você vem conosco._ Reade determinou.

NYC – Apartamento de Kurt e Jane

Kurt recebeu as atualizações de Reade no começo da tarde. As novidades traziam uma esperança tênue, mas era tudo que ele precisava para aquele momento. O brilho embora ainda discreto nos seus olhos denunciavam sua animação em contraste com a seriedade de seu rosto que refletia o quanto seu pensamento formulava e reorganizava estratégias a partir dali. Nas apenas o observava.

Pouco depois chegou o e-mail de Reade com a lista de substâncias que Madeline precisava para trabalhar.

Nas observou a lista, arqueou as sobrancelhas e torceu os lábios.

— Você acha que teremos tudo em quanto tempo? _ Kurt perguntou

— A lista é extensa e essas substâncias nem deveriam ser do conhecimento dela...

— Nas, quanto tempo? É da vida de Jane que estamos falando.

— Kurt, sei o quanto Jane é importante para você, mas nem sabemos direito quem é essa tal cientista...

— Se você não quer fazer por Jane, faça por todas aquelas crianças que se beneficiarão com isso.

— Não é tão simples assim. Uma substância dessas em mãos erradas pode colocar essa país em risco.

— Madeline trabalhará sob nossa supervisão.

— Jane também estava sob supervisão de sua equipe quando executou toda a Fase 1 da Sandstorm.

— E estava sob a sua supervisão quando sua forma “moderna” de interrogatório a colocou a caminho da morte.

— Eu não tinha como saber que isso aconteceria. Só estava tomando todas as precauções necessárias para o caso._ e colocou a mão no ombro dele.

Kurt foi seco e rápido ao afastar-se do toque:

— Eu estou cansado do seu jogo, Nas. Você usou Jane para derrubar a Sandstorm. Você dormiu comigo para me manter afastado dela e assim, manter seu controle sobre o que sentíamos um pelo outro. Você nos usou para reconquistar seu posto na ASN. Você está aqui tentando ocupar o lugar de Jane na minha vida apenas por um motivo: a terrorista não merece ter um final feliz, não é?

— Não! Claro que não. _ e simulou decepção e tristeza diante das palavras dele.

— Então prove que não são só os seus interesses em jogo aqui._ e apontou para a tela do notebook onde estava a lista enviada por Reade _ Faça algo por nós se ainda quer que eu te veja como uma aliada.

Kurt saiu da sala sem voltar a olhar para atrás. Assim que entrou no quarto, fechou a porta atrás de si e passou a chave. Naquela noite, o fio de esperança era a única companhia que desejava.

Durante o voo de volta à NYC

Jane se remexeu na poltrona pela enésima vez. Todos no avião pareciam dormir. Ela suspirou imaginando como deveria ser bom dormir por várias horas seguidas, ainda mais durante um voo tão longo. Se ela fosse capaz disso, seria um grande alívio para seu medo de voar.

Ela pegou o celular e visualizou algumas fotos. Kurt. Seus dedos tocavam a tela trocando as imagens repetidas vezes. Só então ela teve noção da grande quantidade de fotos que fez do marido desde que ele saiu do coma. Na maioria delas, ele estava adormecido. Vários ângulos de seu rosto além de detalhes com suas mãos e pés compunham o acervo. No momento, aquelas fotos serviam para lembrá-la de que ele ainda estava vivo, ainda estava bem, ainda havia tempo para se afastar e garantir que ele continuasse assim. Mas todas também serviam para enganar o desejo de estar perto e tocá-lo.

Ao ver alguém se levantando à frente, ela pensou em fechar os olhos e fingir que estava adormecida, mas não o fez. A quinta pessoa naquele avião, o elemento estranho ao team, ainda não conquistara sua confiança e ela não baixaria a guarda.

Foi justamente Madeline quem se levantou e imediatamente buscou Jane com os olhos e sorriu parecendo satisfeita que ela estivesse acordada. Mudando-se para a poltrona ao lado, iniciou a conversa sussurrando, uma atitude que Jane interpretou como um firme propósito de manter o diálogo apenas entre as duas.

— Esse voo parece não terminar nunca! Pelo menos terei a oportunidade de saber um pouco mais sobre você.

Jane arqueou a sobrancelha sem dizer nada mostrando à mulher que não seria fácil atingir seu objetivo. Mas Madeline não desistiu:

—Roman disse que você tem uma filha. Como ela está?

Instantâneamente um sorriso brotou no rosto de Jane. Lembrar Avery sempre trazia essa reação involuntária.

— Ela está bem. Está na faculdade agora.

— Na faculdade? Então você era bem jovem quando ela nasceu...

— Sim. Dezesseis anos._ meio que retomando as rédeas de si mesma, Jane foi seca, tentando abreviar a conversa.

— Uou. Isso é bem jovem. Tive meu primeiro filho aos 21 anos. E voltei a insistir na maternidade alguns anos depois. Infelizmente, hoje os dois podem comprovar que foi meu grande erro. A adolescência e sua tempestade hormonal nos impulsiona para escolhas estranha. Num dia a gente está apaixonada, se casa, tem filhos. E quando os hormônios em fúria se acalmam, percebe que o príncipe é um ogro e que todo aquele “conto de fadas doméstico” não é pra você.

— Sinto muito por todos vocês. Relacionamentos são... complicados. _ e olhou para a tela apagada do celular.

Madeline captou o gesto no mesmo instante:

— Existe alguém além de Avery lá? Algum relacionamento “complicado”?

Jane puxou o ar maldizendo a si mesma por se deixar ler tão facilmente. Mas inútil negar a presença de Kurt na sua vida. Madeline descobriria assim que pisassem em NYC.

— Meu marido. Ele trabalha conosco. Logo você o conhecerá. Está se recuperando de um tiro que quase tirou sua vida.

— Ogro?

— Não. De forma alguma. Kurt é..._ e os olhos dela se encheram de brilho _ leal, companheiro, determinado. Alguém em quem você pode confiar sua vida. É realmente um homem único e especial... Eu é que sou complicada demais...

Madeline cobriu a mão de Jane com a sua para falar.

— Hum. Príncipe, então! Mas esse amor imenso que reluz nos seus olhos ao falar dele vai ajudá-la a superar os obstáculos, tenho certeza. E, que lindo nome ele tem! Bem, eu já te incomodei demais, vou deixá-la sozinha pensando no seu Kurt.

Madeline retornou ao seu assento, mas suas últimas palavras continuaram ressoando na cabeça de Jane.

“seu Kurt... seu Kurt... seu Kurt...”

Ela deixou as lágrimas brotarem se entregando ao frio intenso que a distância dele causava.


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Notas finais do capítulo

Espero que a história esteja seguindo um ritmo agradável e que a trama esteja compreensível.
Muito obrigada pela leitura.

Sugestões e críticas são bem vindos. Adoraria saber o que estão achando ou que gostariam de ver nos próximos capítulos dessa história.



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