Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Em busca do primeiro driver deixado por Roman.

Boa leitura.



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Na manhã seguinte, Jane entrou silenciosamente no quarto de Kurt para deixar sobre a mesa de cabeceira a bandeja com o café da manhã e todas as medicações matinais.

— Eu quero te acompanhar até o SIOC antes da viagem._ ele disse, a surpreendendo.

—Não. Você precisa descansar e eu não vou me desgastar discutindo com você agora, Kurt.

— Como você se sente? Ontem...

— Estou bem, já disse. Foi só um pesadelo.

— Precisamos contar à equipe que você recuperou suas memórias.

— Vou atualizá-los assim que retornarmos do Japão. Se Reade souber agora, pode colocar algum empecilho na viagem. Provavelmente ele entrará em contato com você antes de partirmos para saber se tenho condições de viajar. Você poderia...

— Eu confirmarei que você está em condições de acompanhá-los._ o tom de voz triste dele era como uma faca penetrando no coração dela.

— Obrigada. _ ela tentou manter a voz firme, mas não teve o resultado que esperava._ Vou terminar de preparar minha bagagem.

Minutos depois, os dois retornaram  à sala para atender a campainha da porta. Jane foi mais rápida. Os dois imaginavam encontrar Nas na porta, mas a presença do team os surpreendeu.

— Bom dia._ Reade tomou a frente_ Passamos para compartilhar com Weller os detalhes dessa viagem.

A conversa foi rápida e descontraída. Todos aproveitaram para tomar o café da manhã juntos. Em momentos oportunos e de forma discreta, cada um dos amigos encontrou uma forma de expressar o real motivo que os trouxeram ali. Rich foi o primeiro a abordar Weller na cozinha, enquanto preparavam o café:

— Sabe, a cultura oriental me atrai há muito tempo. Já vivi grandes aventuras sexuais no Japão. Realmente tamanho não é documento._ e cutucou Kurt, completando com uma piscadela que ele só respondeu com um grunido de insatisfação com a conversa._ Nos meus tempos de dark web, fiz sólidos contatos. As pessoas lá confiam em mim. Nossa deusa estará segura, Stubbles, eu farei de tudo pra garantir isso.

Kurt levou a mão ao ombro do amigo:

— Eu agradeço.

Reade aproveitou quando Jane foi até o quarto com Patterson para terminar de organizar suas malas.

— Weller, nós tentamos todas as alternativas possíveis para não levar Jane conosco, mas o contato de lá só negocia com Roman ou Remi. Isso nos deixou de mãos atadas. Estou levando Rich e Patterson para que ela tenha todo apoio possível. Não vamos deixá-la sozinha um momento sequer. E, qualquer novo sintoma que aparecer, eu tiro ela de campo. Eu prometo.

— Reade, confio no seu trabalho e em seu julgamento. E agradeço por isso. Não sei se confio no julgamento que Jane fará sobre suas reais condições de estar em campo. Por favor, use sua autoridade com ela se preciso, eu te apoiarei.

— Passarei atualizações para você três vezes ao dia. Assim você estará ciente de cada passo nosso no Japão. _e levou a mão ao ombro do amigo em solidariedade.

Assim que as meninas voltaram do quarto de Jane, Patterson criou uma forma de ficar sozinha com Kurt:

— Eu detesto ter que cobrar presentes, mas Bethany disse que deixaria um desenho pra mim, Kurt.

— Ah, sim. Ela deixou. Está no meu quarto, vou buscá-lo. _ Kurt se levantou e foi para o quarto seguido pela loira.

Já com a folha toda rabiscada na mão, Patterson comentou:

— Ela é tão doce... E talentosa como Jane. Mas herdou sua teimosia e franze a testa igualzinho à você.

Kurt riu tentando disfarçar o orgulho que sentia sempre que apontavam as semelhanças que sua filha tinha com ele. Patterson entrelaçar Jane na descrição de Bethany tinha um significado ainda mais especial.

— Kurt, como Jane está?_ Patterson disse com voz baixa.

— A morte de Roman mexeu demais com ela. Isso a feriu muito além do que eu esperava, Patterson. Está obcecada por vingança, usando a raiva pra superar a dor. Mas ela ainda tem um forte senso de justiça que deve impedi-la de colocar isso acima do bem das outras pessoas.

— Acha que ela estará atenta à sua própria segurança?

— Ela quer chegar a Blake e vai se garantir isso. Mas ontem à noite, teve uma alucinação com Roman. Apesar de não achar que adotará algum comportamento suicida, também não sei o quanto ela estará lúcida para todo o resto. Então, por favor, fique atenta a isso.

— Ficarei, você pode ter certeza que estaremos lá por ela toda vez que Jane precisar. Eu me preocupo é com você aqui sozinho, Kurt. Por favor, não cometa nenhum excesso.

— Eu estarei bem. E não ficarei sozinho. Nas me fará companhia.

— Nas? Eu não apostaria nos instintos cuidadores dela.

— Pensei que tinha sido sugestão sua. _ Kurt questionou.

— Definitivamente não. Mas entendo que Jane não seja capaz de te deixar sozinho. Cuide-se.

Na hora da despedida, os amigos se apressaram em sair do apartamento para dar um momento de privacidade ao casal. Jane disse um “até breve” seco, sem olhar nos olhos dele e tomou a direção da porta. Num impulso, ele alcançou o braço dela, segurando-a daquela forma firme e, ao mesmo tempo, tão suave que só ele sabia fazer:

— Hei, evite chegar ao seu limite. Sua saúde precisa de atenção. Morrer em Tokyo não é o que Roman esperava de você.

Jane continuava parecendo fria e distante por fora, mas sua alma tremeu com as palavras de Kurt. Como ele era capaz de ler de forma tão clara o objetivo que impulsionava todas as suas ações? Como ele era capaz de enxergar na escuridão que Remi trouxe de volta à sua vida? Sua mão cobriu a dele em seu braço e o polegar roçou a pele um único movimento de reconhecimento pela devoção dos sentimentos que nutria por ela. Como ela queria que tudo fosse diferente. Como ela queria poder ficar, cuidar dele...

Tsic Tsic Tsic. Ele vai sangrar muito mais que eu até tudo isso acabar.” As palavras de Roman na sua alucinação da noite anterior ecoaram alto no seu cérebro. Ela não podia permitir que isso acontecesse. Precisava matar o amor que ele sentia antes que o dano não permitisse que ele se recuperasse, antes que ela se fosse para sempre. Kurt não desistiu de Taylor por 25 anos. Jane não podia aceitar ele sangrando por tanto tempo assim após sua morte e não havia esperança pra ela. A única chance que ele teria de ser feliz depois de tudo isso era se ela cortasse qualquer tipo de vínculo já, mostrando à ele todo seu lado negro. Ela puxou o braço do contato com ele e vestiu o rosto com um sorriso lindo e, ao mesmo tempo, assustador para ele que a conhecia tão bem:

— Sossegue, Weller. Apenas descanse. Eu voltarei viva para acertar as contas com a cria do Crawford.

As palavras e o olhar dela o abalaram, mas ele não deixou transparecer. Manteve firme sua postura e seu olhar e disse:

— O que eu sinto por você não mudou... Remi.

Ela se virou rápido e deixou o apartamento. Precisava se afastar logo. Ouvi-lo chamá-la de Remi provocou sentimentos contraditórios. A onda de amor que varreu sua alma lutava com o fogo da raiva por não estar sendo capaz de afastá-lo dela. Remi não era pra ser amada. Ela devia ser temida, odiada. Isso a atormentou durante as longas horas do voo para Tokyo.  

Mais tarde, naquele mesmo dia, no apartamento de Weller

Nas chegou ao apartamento no final da manhã já trazendo o almoço comprado no caminho. Weller a abraçou de forma amigável, demonstrando o quanto estava feliz em revê-la. Ele sempre a viu como uma forte aliada e, nesse momento tão delicado, isso era imprescindível. Previamente, ele já havia decidido manter segredo sobre a volta da memória de Jane. Não havia um argumento racional para isso, apenas seu instinto exigia o silêncio sobre esse assunto como uma forma de proteger Jane.

As conversas fluíram de forma natural e agradável. Era incrível como Nas compreendia e compartilhava seu ponto de vista sobre o desfecho do caso Crawford/Roman e concordava com suas estratégias para o futuro.

Kurt deixou tudo se encaminhar dentro do esperado por Jane. A equipe passaria o dia viajando e, mesmo após a chegada ao Japão, teriam um dia todo apenas buscando informações e fazendo contato. Isso lhe daria tempo para preparar o terreno e convencer Nas a acompanhá-lo ao SIOC para juntos oferecerem ajuda remota ao team.

— E, então, como você está? _ Kurt perguntou

— Bem, muito bem. Estou de volta a ASN e não posso reclamar da minha posição na hierarquia. Trabalhei duro pra isso e estou satisfeita. Mas sinto falta de uma família._ e pegou algumas fotos de Kurt e Bethany que estavam sobre a mesa de centro _ Você tem um tesouro inestimável aqui.

Kurt sorriu orgulhoso. Bethany era seu raio de sol.

— Ela é fabulosa. Você precisa conhecê-la. É tão meiga, inteligente e forte com tão pouca idade.

— Bem, ela é sua filha. Tem a genética e o exemplo em seu favor.  Eu seria capaz de deixar tudo para ter algo assim. Jurava que você e Jane jamais deixariam o Colorado.

— Não foi bem uma decisão nossa...

— E você e Jane como estão?

Kurt respondeu com um tom de seriedade mais carregado do que planejava:

— Nós vamos ficar bem.

— Hum, da última vez, você disse isso com um sorriso no rosto que demonstrava sua certeza sobre o futuro. O que aconteceu dessa vez?

Ele cometeu um deslize e agora teria que corrigir seu erro. Respirou fundo e continuou, decidido a manter-se fiel aos seus instintos protetores que gritavam para evitar informações que pudesse expor sua esposa:

— A morte de Roman foi demais pra ela. Os dois tinham uma ligação muito forte.

— Imaginei que isso aconteceria. Infelizmente, Roman fez suas escolhas e isso selou seu destino. Jane precisa enxergar isso e o quanto você se sacrificou por ela: sua carreira, a distância de sua filha._ e cobriu a mão dele com a sua.

— O fato de que ele estava doente e não sabíamos, deixou as coisas bem difíceis. Ela se culpa, afinal foi ela quem injetou ZIP nele.  Não é fácil lidar com a perda das pessoas que amamos. Leva tempo. E isso ela não tem agora...

Nas apertou a mão dele em solidariedade:

— Não imagino como seja levar um relacionamento com tantos altos e baixos como o de vocês. Quando duas pessoas se amam de verdade, a calmaria é mais duradoura que as tempestades.

— Nós vivemos momentos muito bons mesmo no meio das nossas tempestades. Jane é forte, ela só precisa de apoio.

— Jane, Jane, Jane. E você, Kurt?_ e olhou para ele com total devoção, uma expressão rara no rosto de Jane_  Você já se feriu tanto desde que ela entrou na sua vida. Eu te sinto tão sozinho. Por favor, não esqueça de si mesmo. Você sabe que tem amigos e tem a mim também, não é? Sempre estarei aqui por você, Kurt. Se precisar conversar, desabafar ou... qualquer outra coisa, não hesite em me chamar.

Ele apertou a mão dela de volta. Pela primeira vez desde que voltou do coma, ele percebeu o quanto a solidão o envolvia e o quanto estava sendo difícil lutar por Jane sem que ela ajudasse a si mesma. Ele não relutou a se entregar ao abraço de Nas. Ele precisava disso, poder sentir o carinho dela naquele momento foi um consolo importante. Sentir que tinha uma aliada, uma amiga para ajudá-lo a transpor aquele abismo e salvar Jane trouxe um revigoramento às suas forças.

O abraço durou mais tempo que ele esperava. Quando ela se afastou, ainda se manteve uma proximidade que o incomodou. A mão dela se manteve em seus cabelos e o olhar diretamente ligado ao seu:

— E você está se preparando para o desfecho de tudo isso, Kurt?

— Claro. Meu foco agora é me recuperar para poder somar forças ao team. Juntos, conseguiremos encontrar a cura, tenho certeza.

Nas assentiu com a cabeça, depois continuou:

— Eu detesto ser a pessoa a te dizer isso, mas... Kurt, tentei todas as possibilidades possíveis quando Patterson me passou dados do envenenamento de Jane: médicos, cientistas, pesquisas não divulgadas ou aprovadas. Manter a esperança é eufemismo. Você precisa se preparar para o pior.

Foi o que bastou para ele a afastar e se levantar.

— Eu não vou perder a esperança. Vamos salvá-la. Roman tem anos de pesquisas guardadas naqueles drivers e ele queria salvar a vida dela mais que tudo. Ele sabia que havia esperança, só não tinha tempo de terminar o que começou. Isso cabe a mim.

Nas suspirou demonstrando incompreensão:

— Faça o que você acha que deve fazer. Mas, por favor, não se esqueça que você não é responsável por problemas que não criou. Foi escolha de Jane aplicar ZIP em si mesma, Kurt. Ela é a única responsável pelo que está acontecendo agora. Tenho certeza que ela não aprovará essa responsabilidade que você está chamando pra si mesmo.

— Por favor, Nas, preciso de você.

— E eu estou aqui. Estarei sempre que você precisar.

Durante o resto do dia e no dia seguinte, Kurt sentiu mais e mais que Nas não estava ali apenas como uma cuidadora na ausência de sua esposa. A paquistanesa era sutil, mas clara em demonstrar sua intenção em oferecer apoio à Kurt em todas as esferas da sua vida, inclusive na sua cama se ele abrisse espaço pra isso.

Saber que Jane colocou aquela mulher ali o deixava ainda mais decepcionado com a situação. Então, esse era o jogo dela? Envolvê-lo com Nas para poder descartá-lo de sua vida. Ele se sentiu um lixo, usado por aquelas duas mulheres que desconsideravam seus sentimentos e suas escolhas. 

Se Jane ou Remi tinha como objetivo afastá-lo dela, estava perto de conseguir isso. Mas por que ela usou uma estratégia capaz de machucá-lo tanto? A doença estaria afetando tanto assim sua sensibilidade, deixando-a cruel?

O ZIP é um veneno inundando todo o organismo dela...” Lembrar disso fez um calafrio percorrer sua espinha e foi fundamental para aplacar sua raiva. Era tudo que ele precisava para dar a Jane o benefício da dúvida e mais uma, duas, três chances se fosse preciso.

Nas, por outro lado, agia racionalmente, em cada palavra e cada ação. Não era do perfil dele jogar com as pessoas, mas se ela escolheu aquelas regras, ele as usaria para ajudar Jane. Deixaria Nas pensar que ele estava aceitando o jogo e pediria apoio com informações e tecnologia para completarem a missão no Japão como parte dessa nova fase da “amizade” dos dois. E, quando Jane estivesse segura, daria um basta.

Tokyo, Japão

A equipe se instalou rapidamente. Rich e Jane dominavam bem a língua japonesa e fizeram os contatos necessários conseguindo um encontro com um hacker local. Jane não estranhou que o local escolhido para o encontro fosse um cinema. Mas ficou profundamente irritada porque Rich e o hacker pareciam mais preocupados em discutir a mitologia da saga Jurassic Park do que trocar informações pelo driver que procuravam.

— Pelo menos justificaram as características tão diversas da realidade biológica dos dinossauros com Jurassic World. Manipulação genética é bem mais verossímil. _ Rich tagarelou.

— Concordo. Essa é a chave do sucesso cinematográfico: um gene aqui, um hormônio ali e voilá! Ganha-se milhões. Monstros gigantescos como um Godzilla ou avanços microscópicos rendem dinheiro e muita disputa. _ respondeu o hacker pequeno e engraçado.

—  Mas sempre tem os mocinhos dispostos a fazer ciência de forma ética, enquanto os vilões não respeitam isso. _ Jane fez a colocação só para não parecer apenas uma guarda-costas mal humorada, mas sua vontade era apenas bufar.

— Ética... Eis uma questão interessante. O que moveu a clonagem dos dinossauros sempre foi dinheiro.  Há sempre dinheiro em jogo. Muito dinheiro. A vida dos espécimes e dos seres humanos que se envolvem com eles não é nada perto disso. _ o hacker completou sem tirar os olhos da tela gigantesca a frente deles._ Nossa, essa mordida realmente pareceu real.

— Toda experiência é ética até dar errado e ser bandida. Pobre Indominus Rex, no alto da cadeia alimentar e tão temida. Depois de condenados pela comunidade política e científica, eles se vêm obrigados a migrar para outra ilha..._ Rich ganhou um discreto beliscão de Jane pedindo para ele focar nos objetivos e deixar de lado a mitologia jurássica.

— E essa é a ilha certa para o assunto quando falamos de dinossauros ou avanços genéticos e tecnológicos. Apesar do nosso apego à cultura milenar. Godzilla renasce aqui como uma fênix faz de suas cinzas. Dizem que existe algo grande em disputa sobre os dinossauros em Tokyo..._ Nesse momento, o relógio de pulso do hacker tocou um alarme._ Poxa, 1 hora e 59 minutos de filme. Tão perto do final. Tenho que ir. Sempre é ótimo fazer negócios com você, Rich.

Rich acenou sem tirar os olhos da tela. Jane estava a ponto de ter um ataque de raiva:

— Rich, você deixou ele ir!

— Relaxe, minha deusa. Já tenho todas as informações que precisamos.

Jane se levantou da poltrona.

— Hei, onde você pensa que vai? Sente-se. Ainda temos alguns minutos de filme e essa é uma ficção científica que marca época, sabia?

— Rich, eu não tenho tempo a perder.

— Sabe, Janie, esse é exatamente o seu problema. Você não dedica tempo às coisas realmente importantes da vida. Sente-se. Relaxe por alguns minutos. Viva o que a vida tem de bom, não perca os tesouros que ela te deu. Uns poucos minutos pensando sobre o que você pode estar perdendo é ganhar tempo, Sweetheart.

Desesperada, mas dando-se por vencida, Jane sentou e assistiu o resto do filme.

— É incrível como esses dois só aumentam seus problemas lutando contra seus sentimentos. Tão óbvio, mas os dois parecem cegos, não é mesmo._ Rich disse enquanto saiam da sala.

Jane se negou a responder. Já estava irritada demais com Rich e não estava disposta a se embrenhar noutra conversa com referência obvia à Kurt. Mas o amigo colocou a mão em seu ombro:

— Janie..._ ela se virou pra ele com sua habitual postura intimidadora que pareceu não ter qualquer efeito _ A vida é sempre uma contagem regressiva, Janie. Curta os bons momentos. Seja feliz. Isso é tudo que todos que te amam e te amaram esperam de você.

Ele observou os olhos dela se encherem de lágrimas. Ela engoliu seco e assentiu brevemente com a cabeça antes de se virar e disparar rumo ao estacionamento procurando na distância o espaço para fugir daquelas palavras. Rich sorriu porque sabia que havia plantado a semente que desejava.

Hotel QG do Team em Tokyo

— Então é isso: temos o local e a hora. Tokyo Gate Bridge que liga o bairro de Wakasu ao parque marinho de Jonanjima e à orla do porto de Tóquio. Ela também é conhecida como "Dinosaur Bridge" porque sua arquitetura lembra dois dinossauros frente a frente. A hora será 1:59 da manhã, o ponto exato do filme em que o alarme do relógio de pulso tocou. O driver de Roman caiu nas mãos da máfia japonesa que ainda não o decifrou, mas pelo jeito, as informações sobre a HCI e sobre o ZIP despertaram o desejo de muitas organizações de diversas partes do mundo. Pelo menos sabemos que não será uma compra, mas uma disputa que determinará quem ficará com o driver. Provavelmente uma luta que caracterize o “milenar” apontado pelo nosso informante. Para participar da disputa, Jane terá que se apresentar lá como Remi, irmã de Roman e que, portanto, tem direito ao legado do irmão e poderá ter apenas um de nós como  acompanhante.

— No caso eu, que falo japonês. _ Rich completou.

— Rich, agradecemos sua colaboração até agora, mas eu mesmo vou apoiar Jane em campo._ Reade informou.

— E no caso de dar algo errado, eu entro em contato com a CIA e com o consulado estadunidense aqui no Japão? Vamos, Reade, a parte chata é sempre sua.

Reade bufou, mas Rich estava certo. Somente o diretor-assistente do FBI em NYC teria algum peso no caso de serem necessários ajustes internacionais para socorrer a equipe.

Na hora marcada para o encontro, Weller e Nas estavam no SIOC usando toda a tecnologia do laboratório de Patterson para disponibilizar informações sobre o local e os adversários de Jane.

Rich e Jane foram recebidos com respeito na ponte. Os dois usavam comunicadores disfarçados. Kurt, Patterson e Reade acompanharam os acontecimentos à distância. Três adversários. Jane se esforçou em disfarçar o sorriso ao descobrir que a luta seria de espadas e ela teria o direito de escolher a sua. Ela adorava lutar com espadas.

O primeiro adversário lutou bravamente, mas pereceu rápido diante das habilidades de Jane. Em poucos golpes ela o desarmou. Com o segundo, a luta durou mais tempo. O homem ruivo dominava a espada tão bem quanto ela. Kurt ouvia o som das espadas se enfrentando e os grunhidos de Jane como se fosse seu coração a ser golpeado. Jane se desviou de um golpe fatal, abaixando-se a tempo e aproveitou para deslizar pelo chão lançando um contra golpe que pegou o adversário de surpresa. Sua estratégia pareceu ter ferido de morte o ego dele que passou a cometer vários erros a partir dali até ser desarmado por ela.

Duas horas depois do início da disputa, ela enfrentou o terceiro oponente que desejava o driver de Roman. Os efeitos do ZIP em seu organismo e falta de treinamento físico dos últimos dias já pesavam sobre ela. A luta começou com uma leve desvantagem de Jane. Após as primeiras sequencias de golpe, parecia que seu corpo determinaria sua derrota. Seu adversário era grande e forte, seus golpes eram pesados e difíceis de conter e revidar. Kurt não precisava de uma confissão da esposa para saber as dificuldades que ela estava enfrentando.

— Você é forte para superar suas próprias limitações. Alice, Remi e Jane isoladas conseguiriam. E você, agora, é a soma de todas.  _ Kurt disse de forma firme no comunicador.

Ouvir a voz dele foi decisivo para ela. Se fosse apenas Jane ali naquela luta, a derrota seria certa. Mas todas as memórias de Alice e Remi estavam ali com ela, conectando sua mente ao seu corpo, usando a raiva como veículo para calcular golpes que Jane não usaria.

Quando o adversário já se julgava vencedor e desencadeou a sequência de golpes com a qual pretendia por fim à luta, Jane reagiu furiosamente, contra golpeando com uma garra sobre humana e vencendo a luta. Assim que desarmou o adversário, ela ficou um tempo de joelho, apoiada na espada, sugando o ar que parecia faltar em seus pulmões e tentando controlar uma leve tontura que a tomou.

Os homens ao seu redor se aproximaram e a parabenizaram extremamente empolgados com suas habilidades. Ela estava se levantando quando o ruivo, seu segundo adversário, saltou de onde estava, pegando o driver que o chefe do grupo lhe oferecia e pulou para fora da ponte. Rich e Jane correram para a borda da ponte desesperados. Saltar daquela altura seria fatal para qualquer um e também destruiria o driver de Roman.  Mas ele não tinha saltado para a água. Bem abaixo deles estava uma das treliças de sustentação da ponte que servia agora como escada para a fuga do ladrão.

Jane se lançou para baixo, antes que qualquer um tivesse uma reação, iniciando a perseguição. Rich  descreveu tudo em voz alta para que Patterson e Reade tentassem ajudar. Buscando os detalhes da arquitetura da ponte, Patterson foi informando Jane sobre como se locomover mais rápido e quais cuidados deveria ter. Nas usou o suporte tecnológico da ASN para rastrear todos os barcos nas imediações e exigir que a marinha local interceptasse aqueles que poderiam se aproximar para dar apoio ao ladrão. Reade acionou as forças de resgate para oferecer apoio à Jane assim que ela chegasse ao pé da ponte, rezando para que ela não despencasse antes disso.

A descida parecia interminável para todos os expectadores. Jane alcançou seu adversário ladrão a cerca de dez metros do mar. Iniciaram a luta na treliça. Além de calcular golpes, desviar do adversário, enfrentavam a movimentação da ponte que era muito mais perceptível ali do que no alto. Ela acertou alguns golpes, mas também sofreu alguns. Colocando uma força desnecessário num chute, o adversário se desequilibrou e caiu.

— O idiota caiu na água. _ Jane, ofegante, informou nos comunicadores _ Vou atrás dele.

— Não! _ Kurt gritou de NYC.

— Jane, não! _ Patterson implorou.

Mas os dois ouviram o som do mergulho dela na água. O primeiro minuto se passou com total silêncio do comunicador de Jane. Reade ligava o seu pedindo informações de Jane e depois desligava enquanto passava orientações aos barcos de resgate com a ajuda de Rich que já estava com ele para as equipes auxiliavam nas buscas.

Dois minutos e nada. A escuridão da noite se tornou um inimigo a mais contra eles. Os holofotes lançavam jatos de luz na superfície da água, mas não eram suficientes.

— Ela é ótima na água. Nada como um peixe. _ Kurt tentou manter a voz firme. Nas levou as mãos aos seus ombros e ele se esquivou.

Mais um minuto se passou. O rastreador de Jane indicava a localização e os barcos chegaram ao local, mas não havia nada na superfície da água.

— Nos testes, ela suportou mais de quatro minutos embaixo d’água. _ Patterson lembrou a todos e a si mesma. _ Vamos, Jane, suba!

Kurt segurou na borda da mesa de Patterson. Jane estava fraca, sofrendo o envenenamento do ZIP, tinha lutado por mais de duas horas. E ele estava na droga desse laboratório do outro lado do mundo ao invés de estar lá com ela. Se Jane não voltasse, se ela não subisse à superfície, ele não sabia onde encontraria forças para continuar.

— Ali! _ alguém em um dos barcos gritou.

Todas as luzes foram direcionadas para o local e puderam visualizar Jane lutando para sugar o ar na superfície. Em segundos, a puxaram para o barco.

Assim que Rich e Reade alcançaram àquela embarcação, o hacker se aproximou de Jane e colocou o comunicador próximo dela:

— Tem alguém descarregando toda sua angústia e preocupação como um ogro irritado lá em Nova York_ disse à Jane que pegou o comunicador.

Antes de conseguir falar, ela tossiu um pouco.

— Kurt... eu consegui. Estou com o driver.

— Como você está? Tem médico aí?

— Eu estou bem _ e voltou a tossir_ Há muito tempo eu não me sentia tão bem...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
O próximo capítulo trará um novo personagem que será fundamental para o desfecho da história.
Estão gostando?
Muito obrigada pela leitura.



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