William despistou Lady Somerset,com um esforço admirador,e se escondeu nas sombras de uma pilastra. De lá ele conseguiu ter uma visão periférica muito boa do salão,que estava todo coberto com flores dos mais variados tipos,e Will ainda não sabia como mas Emmeline conseguira arranjar borboletas,que estavam espalhadas voando pelo salão e encantando todo os convidados.

As donzelas e senhoras presentes estavam vestindo uma variedade de vestidos coloridos,Will até viu Charlotte com um vestido vermelho cheio de bolinhas pretas,a menina estava usado um arco de cabelo em forma de antenas que a deixava com um ar muito adorável.

William descobriu que gostava muito da irmã mais nova de Margaret,principalmente quando ela o encurralou no corredor dois dias antes e falou que se ele magoasse a irmã dela se arrependeria eternamente. William também gostava de Edward e Ethan,que o lembravam dele mais novo. Quanto a Harriet,Will não a conhecia,mas Maggie sempre a descrevia com muita afeição,alegando que a menina era muito inteligente e espirituosa. Will não tinha dúvidas de que gostaria de fazer parte daquela família,ainda mais agora que também havia feito as pazes com o pai,que provavelmente se casaria com Emmeline muito em breve.

Will ainda fitava as pessoas ao seu redor quando a viu entrar no salão. Ela estava simplesmente estonteante,vestindo um vestido branco,cheio de borboletas de tecido lilás o enfeitando,como se estivessem pousadas no mesmo,os ombros estavam expostos e o cabelo estava preso em cachos no alto,com alguns cachos caindo sobre a têmpora e o pescoço dela.

Will sorriu ao constatar que Maggie olhava ao redor do salão claramente o procurando,ele se esgueirou rapidamente,ainda nas sombras do salão,e a puxou pela pulso para perto dele.

—Ah,é você.-Ela deu um sorriso encantador.

—Você está linda.-Will falou,também sorrindo,enquanto tocava a armação em formato de asas presa nas costas da garota.

—Se você continuar a falar isso toda vez que me vê,ficará difícil eu continuar a acreditar.-Ela falou,rindo.

—Não tenho culpa,você está linda sempre,sinto a necessidade de te deixar ciente disso.-Ele disse,traçando as veias azuis sob a pele pálida da garota.

—Você também está muito bonito,embora eu achasse que Lady Somerset o convenceria a usar alguma cor diferente,talvez vermelho.-Maggie falou e Will riu.

—Ela tentou,queria me fazer usar um paletó verde,mas eu consegui escapar dessa vitorioso.

—Do que estamos nos escondendo?-Ela perguntou,com um sorriso lisonjeiro depois de olhar em volta e constatar que eles estavam bem atrás de uma pilastra.

—De quem seria mais exato.-Will estremeceu-Emmeline está me arrastando pelo salão e me apresentando a cada donzela solteira que conhece. Se ela soubesse-William se aproximou de Margaret e abriu um sorriso-que eu só tenho olhos para uma donzela aqui…

—Achei!-Lady Somerset parou a alguns passos deles,avaliando a proximidade dos dois,que se afastaram um pouco encabulados,Maggie com as bochechas coradas e Will com o sorriso de uma covinha só.

—Eu estava fugindo de você.-Will fez uma cara triste para Emmeline-Aparentemente,sou um péssimo fugitivo.

—Estou com uma enorme vontade de te esganar,se você de alguma forma estiver tentando comprometer virtude dessa jovem,irei mata-lo.-Emmie falou,soando como uma mãe muito irritada.

—Margaret,meu amor,sentiu sua virtude corrompida de alguma forma?-William perguntou,se virando risonho para a garota.

—Não,de maneira alguma.-Margaret falou timidamente,as bochechas de repente ainda mais vermelhas.

—Vai ter de achar um outro motivo para me matar Emmie,mas não acho que seja uma tarefa muito difícil.-Will falou,voltando o olhar para Emmeline,que balançou a cabeça com um sorriso.

—Você é incorrigível.

—Já ouvi isso,uma ou duas vezes.-O garoto piscou para Maggie.

—Essa noite está se tornando cada vez mais interessante-Emmeline falou,os olhos brilhando enquanto os fitava-Para começar,flagraram um casal em um momento muito comprometedor no jardim. E vocês não imaginam como eles foram flagrados.

—Está me deixando curioso.-William falou,com um sorriso.

—O mesmo pato que aterrorizou todo mundo ontem apareceu no jardim e ficou fazendo um barulho enorme até que alguém aparecesse.-A expressão de Emmeline murchou por um instante-Pelo que eu entendi a donzela em questão não tinha dado consentimento ao cavalheiro.

—E agora?-Margaret perguntou,aflita.

—O cavalh…-Emmie trincou os dentes-O homem fugiu antes que pudéssemos identifica-lo,e a jovem está abalada demais para contar quem foi,suponho que não há nada que possamos fazer por enquanto.

—Mas e ela,como ficará agora que…-Margaret não terminou a frase,sentindo a garganta seca.

—Ah,não-Emmeline balançou as mãos em um gesto de negação,quando interpretou a expressão da garota-Eles não chegaram a esse ponto,o pato interrompeu antes que algo pior acontecesse.

—Então é um pato salvador.-William falou,entrelaçando as mãos com Maggie,que pareceu aliviada com a revelação.

—De fato,mas seu pai está furioso,acho que não imaginou que um dos convidados pudesse ser tão pouco cavalheiro ao ponto de se impor a uma dama-Emmie falou,distante,antes de balançar a cabeça e sorrir-O importante é que todos estão bem,e o resto do baile,se tudo der certo,sairá como os conformes.

—Está tão lindo.-Maggie elogiou,fitando algumas borboletas que voavam pelo salão,enquanto isso William fitou a garota e deu um sorriso afetuoso. Um dos cachos loiros da menina caia de modo muito gracioso sobre a bochecha dela.

De fato,tão lindo…

—Deu um grande trabalho,mas estou satisfeita,sempre quis dar algum baile assim-Emmeline deu um sorriso triste-Meu falecido marido nunca permitiu,ele repudiava a ideia de algo muito barulhento em nossa casa.

—Sobre essa história do pato…-Will falou subitamente,com o olhar fixo em um ponto do salão-Ele recebeu algum convite extra para o baile pelo ato heróico ou algo assim?

—Não-Emmie pareceu confusa-Do que você...-Ela se interrompeu cobrindo a boca com as mãos quando seguiu o olhar do garoto.

O bendito pato,de alguma forma inexplicável,havia conseguido entrar no salão e estava em um canto dele,grasnando de forma autoritária para um criado que tentava pegá-lo. O pato correu para longe das mãos do criado e foi bem direto para onde estava a Srta.Wright e o Sr.Culbert,dançando uma valsa,o animal pulou no pé do pobre cavalheiro e o bicou.

—Céus!-Emmeline exclamou,empalidecendo diante do grito indignado do Sr.Culbert,que balançou o pé e jogou o pato longe,aos pés de Charlotte,que antes conversava com algumas senhoras,a garota se ajoelhou e puxou o pato para o seu colo,parecendo muito preocupada com o fato do pato poder ter se machucado.

—Acho que o pato se apaixonou pela sua irmã.-William sussurrou para Margaret,observando quando o pato levantou meio cambaleante e se aconchegou melhor no colo de Charlotte.

—Estou prevendo que teremos um novo bichinho de estimação,muito exótico.-A garota falou rindo-E…Acho que agora seria um ótimo momento para escaparmos sorrateiramente do salão.-Maggie falou,logo após Emmeline murmurar um "Com licença" apressado e se dirigir para o tumulto no meio do lugar.

—É mesmo?-Will perguntou,olhando para a garota interessado.

—Tenho que te mostrar algo.-Ela falou,evasivamente,e o conduziu pela mão até estarem fora do salão,no meio da confusão ninguém notou o casal saindo suspeitamente do recinto.

—Para onde estamos indo?-Ele perguntou curioso.

—Para o meu quarto.

—Margaret Walsh,devo lhe avisar que este não é o comportamento moralmente correto que se espera de uma dama.-William falou brincalhão,parecendo se divertir com a situação.

—Não estou me sentindo um exemplo de moralidade hoje.-Ela retrucou,risonha,destrancando a porta do quarto e o conduzindo para dentro.

—O que a senhorita quer me mostrar?-Will perguntou curioso e Margaret deu um sorriso tenso.

—Estou mais nervosa do que pensei que ficaria.-Ela disse,caminhando de um lado para o outro,Will foi até ela e a segurou pelos ombros,abrindo um sorriso encorajador.

—Não há necessidade alguma de ficar nervosa,estou aqui para o que você precisar contar e planejo sempre estar-Will falou,sentindo a emoção transbordar em sua voz,ele engoliu em seco e tateou o bolso do seu casaco,onde estava o anel,que havia comprado no vilarejo apenas alguns dias antes,quando percebeu que queria mais que tudo se casar com a garota-Margaret Walsh,sei que não sou o melhor dos homens,na verdade estou muito longe disso-Ele deu um sorriso-Mas,prometo esforçar-me para ser cada vez melhor,por você. Você me daria a honra de…

—Ah,não,não fale ainda.-Maggie o interrompeu,parecendo não se conter em si de tanta felicidade-Tenho que te mostrar algo primeiro.

William observou confuso enquanto ela ia até a escrivaninha e pegava um papel. Ele tentou ajeitar a gravata que vestia,se sentindo um tanto claustrofóbico,nunca acertava nos nós,e agora ainda estava prestes a pedir Maggie em casamento,sem saber se ela responderia "sim",isso só triplicava o desconforto. A garota pareceu perceber algo,porque sorriu e se aproximou dele,com uma das mãos começou a refazer habilmente o nó na gravata dele.

William a fitou de modo sonhador,ela era tão linda,tão adorável,poderia ser mesmo esposa dele?

William ergueu a mão para tocar o rosto dela,mas parou quando seu olhar foi atraído para outro ponto do quarto,na mesma escrivaninha que ela pegara o papel misterioso havia um caderno,um caderninho de capa vermelha,que Will conhecia como se fosse a palma de sua mão.

Lá estava o seu diário,bem no quarto dela.

William sentiu um zumbido tomar conta de sua cabeça,sua respiração se tornou mais pesada e difícil e sua visão avermelhada,e tudo que ele conseguia era pensar Por que?

Por que o diário estava ali?

Por que Margaret não o contara?

Por que ela não dissera uma palavra esse tempo todo,quando sabia que ele estava o procurando?

Será que ela tinha alguma ideia do que aquele diário significava para ele,e do quanto havia doído ficar longe dele?Do quanto ele se culpou e se sentiu vazio por ter perdido a única coisa que ainda o ligava a figura da mãe?

E estava ali,o tempo todo com ela.

Margaret pareceu perceber que havia algo de errado,porque se afastou de Will com uma expressão confusa e seguiu o olhar dele. Ele viu o momento que os olhos dela se arregalaram e ela segurou com força a folha em suas mãos contra seu peito.

—Tem alguma coisa que você gostaria de me contar?-William perguntou,com a voz muito controlada,bem distante de como ele se sentia por dentro.

Traído. Enganado. Iludido.

—S-sim.-Ela limpou a garganta-Eu achei o seu diário.

—Eu percebi.-Will falou,olhando para ela com uma expressão tão penetrante que a garota se encolheu.-Achou quando?

—Logo após o baile na minha casa,estava no jardim.-Ela falou,com a voz trêmula.

—E não pensou em devolvê-lo?-Will perguntou,tentando clarear a mente,mas tudo o que sentia era raiva,e um sentimento ainda pior de ter sido enganado pela garota que ele planejava confiar o resto da vida.

—É claro que eu iria devolvê-lo!-A menina exclamou-Mas eu gostei tanto dos desenhos que quis ficar com ele apenas um pouco mais.

—Apenas um pouco mais?-Will ergueu uma sobrancelha-Então resolveu me ignorar,enquanto eu procurava desesperadamente pelo único objeto que ainda me ligava a minha mãe?Resolveu me deixar feito um idiota o procurando quando ele estava bem debaixo do meu nariz?Gostou de me fazer de tolo?

—Não!-Margaret exclamou horrorizada-Você não está entendendo,não foi a minha intenção...

—Então qual foi?-William a interrompeu,as mãos tremendo-Me diga,Margaret,qual foi a sua intenção ao ficar com o meu diário e me deixar procurá-lo durante quase um mês feito a porcaria de um idiota?

A garota o fitou em silêncio,os lábios entreabertos e as mãos tremendo,em qualquer outra situação Will teria corrido para abraça-la e conforta-la,mas agora tudo o que sentia era uma vontade inexplicável de magoa-la tanto quanto ela o magoou,fazendo-o de tolo por tanto tempo.

—Não era a minha intenção,sinto muito.-Margaret falou simplesmente,a voz trêmula e os olhos marejados.

William passou por ela e foi até a escrivaninha,a passos firmes,então pegou seu diário e voltou para onde a garota ainda estava imóvel,o encarando com os olhos arregalados.

—Foi um prazer conhecê-la,Srta.Walsh. Acredito que eu esteja indo embora agora.-Ele falou,sem qualquer emoção na voz. Margaret segurou a manga dele e o fitou,em choque.

—Não,você não pode ir embora.-Ela sussurrou-Você ia me pedir em casamento,você ia…

—Margaret,minha querida,como posso me casar com alguém que eu nem ao menos confie?-Ele perguntou,a voz cortante como vidro,e então saiu do quarto,sem nem ao menos olhar para trás.