Lua Nova: Outros Caminhos escrita por Sarah Lee


Capítulo 3
18. Família


Notas iniciais do capítulo

Olá queridxs! (~˘▾˘)~
Mais uma vez queria agradecer os coments, eles me deixam muito animada q mdsdsijaojdsoai.
O Cap ficou meio longo hoje, já que eu coloquei bastante informação (aproveitem a leitura ♥).



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Uma rotina estranha tinha se instalado nos meus dias. Agora eu tinha pesadelos todas as noites, sempre girando em torno de Victoria matando Jacob, enquanto ele me protegia ou estava distraído. E isso já faz três semanas. Desde então, eu tenho acordado às cinco da manhã, regularmente. Eu passei a deixar minha cadeira perto da janela, para poupar esforço, parece que apenas olhar para a floresta conseguia acalmar meu pânico crescente.

Quando chegava a hora habitual de acordar, eu descia correndo as escadas para preparar o café da manhã de Charlie. — Vai para a reserva de novo? — Ele já sabia a resposta, mas algo zombeteiro em sua voz me dizia que ele tinha prazer em me perguntar aquilo todo o dia.

— Vou sim pai — Respondi, revirando discretamente os olhos. — Volto quando seu expediente acabar.

— Hoje chegarei um pouco mais tarde — Avisou despreocupadamente. Os dias haviam se passado, e Charlie tinha voltado a quase o que ele era antes da morte de Harry. Parece que ser adulto facilita a recuperação de algumas dores.

Enquanto ele comia seus ovos e bacon, eu colocava alguns itens da nossa despensa em uma sacola. Farinha, uma lata de sopa, algumas verduras diversas, entre outras coisas.

— Vai cozinhar para alguém? — Ele perguntou, surpreso pela quantidade de comida. — Aí tem comida para alimentar um batalhão.

Não foi a pergunta em si, mas o repentino tom sério que me preocupou. Não queria envolvê-lo nessa situação da minha vida. Provavelmente Charlie surtaria se eu dissesse que estava alimentando Jacob e seus irmãos lobos, para que eles tivessem energia o suficiente para nos proteger de uma vampira mortal. Ou no melhor dos casos, apenas me taxaria de louca e me internaria em algum lugar. Mas menção à Victoria me fez estremecer. — Na verdade, hoje iremos fazer um piquenique na reserva — Respondi, nervosa pelo rumo perigoso que isso estava tomando. — Jacob, Emily, Sam... A turma de sempre, sabe? — Tratei de terminar rapidamente, torcendo para que ele não notasse minha mentira.

Com todo o esforço extra que os lobos estavam fazendo, eu havia prometido à Emily que ajudaria a alimentá-los. Afinal, eles estavam me protegendo também.

— Está ficando muito próxima do pessoal da reserva — Comentou, e voltou a ler seu jornal.

— Você acha? — E eu acabei ficando mais envergonhada do que surpresa pela observação dele. Não podia negar que esse assunto todo da minha proteção tinha me aproximado de Sam e seu bando.

— Jacob é um bom garoto... — Ele disparou, me pegando com a guarda baixa. E quando eu o encarei, ainda mais surpresa pela ideia, ele não estava me olhando de volta. Charlie podia não estar olhando, mas eu sabia que ele estava estudando minhas reações com esse assunto. E também não posso culpá-lo por isso, o último garoto com quem tive um contato próximo partiu meu coração em dois, e me abandonou como um zumbi por alguns meses. – Gosto dele – Completou por fim.

Provavelmente ele gostaria de qualquer um que não fosse Edward, mas não podia negar o fato que Jacob estava me fazendo muito bem. Apesar de eu ainda não saber direito em que nível de relacionamento estamos, ou o que definitivamente eu sinto por ele. Antes de Charlie terminar seu café eu já havia andado até a porta, queria evitar certas perguntas às quais não tinha as respostas.

— Tchau Pai! — Gritei sobre o ombro enquanto corria pelo jardim e me jogava dentro do carro.

O caminho para a reserva foi um sofrimento lento, muito lento - obrigada caminhonete -, e todo o dia eu passava pela mesma situação. Eu dirigia nervosamente até a casa de Emily, com um mal estar no estômago. Queria saber se Jacob ainda estava bem, se ele encontrou a ruiva, se sobreviveu a um possível combate. Outra parte de mim gostaria de não saber nada, no caso de ele não ter sobrevivido ao encontro.

Nos últimos dias aprendi como a incerteza era a pior das dores. Não gostaria de pensar no que eu faria se acordasse uma manhã com a notícia de que Jacob havia morrido. Em vez disso, preferia me agarrar a essa sensação doentia de otimismo forçado, enquanto pressionava o motor do carro a ir mais rápido.

Chegando à casa de Emily, o alívio, os lobisomens haviam sobrevivido a mais uma noite de caça. O pequeno lugar foi transformado em uma “central de operações de lobisomens”, por ideia dela. Como eles passavam a maior parte do tempo aqui agora, se alimentando e planejando, não fazia sentido eles terem que ficar se locomovendo e gastando mais energia para manter uma fachada nas suas casas. Haviam montado algumas camas de armar na sala de estar e no quarto de Emily. Jacob e Jared estavam desacordados na sala.

— Bella! — Emily gritou no meio da cozinha. Eu olhei com nervosismo para os lobos deitados nas camas. Eles nem mexeram um músculo. — Estão cansados demais para me ouvir — Disse ela, se divertindo com o fato. — Não que eles tivessem um sono leve antes — Completou.

Cada dia que passava, eu via Emily mais como uma mãe do que qualquer outra coisa. Ela não precisava acatar com metade das responsabilidades que estávamos colocando sobre ela, como lavar, limpar, cozinha etc. Mas mesmo assim, ela fazia tudo. E fazia muito bem. Tentei passar pelo pequeno espaço na sala, os corpos grandes dos garotos ocupavam quase todo o chão do lugar. E eu ficava maravilhada de como eles conseguiam caber todos nesta casa.

— O que teremos para o almoço? — Perguntei sem ânimo. — Trouxe algumas coisas de casa, não é muito, mas espero que ajude — Estava desesperada para que o bom humor de Emily me contaminasse, acabei descobrindo que ela é uma pequena fonte de alegria. A mulher consegue deixar qualquer assunto interessante por conta da sua personalidade radiante.

— Bom, os meninos precisam de mais energia — Respondeu, resplandecendo em alegria. — Então eu estou preparando uma macarronada. Isso deve fazê-los aguentar de pé pelo resto do dia.

Emily também parecia ter se acostumado a mim, ela não fazia perguntas indiscretas ou tentava descobrir o que havia entre eu e Jacob, como todo o resto fazia. Éramos parecidas em muitos aspectos, e totalmente diferentes nos mais simples. Carregávamos nossas próprias cicatrizes.

Não demorou muito para os lobos acordarem, quando o cheiro da comida se espalhou pela casa, eles já não eram mais do que simples animais famintos. Jacob parecia ainda mais radiante quando me viu ao lado de Emily, e rapidamente tratou de passar por cima de Jared e me dar um beijo na bochecha. Ainda estava me acostumando a esse nível de intimidade. E apesar do meu desconforto por demonstrações de afeto, eu não protestava. Gritos e risadas foram surgindo quando o restante do bando saiu do quarto, eles eram sempre tão barulhentos e de uma energia tão contagiante, que eu não entendia de onde vinha isso tudo. Provavelmente essa conexão de lobo que eles têm.

Quanto mais tempo eu passava perto deles, mas os via como uma pequena família.

Assim que o almoço foi servido os meninos atacaram. Mais uma vez me retirei para o canto da bancada para comer com Emily, havia um perigo real de ficar entre eles e a comida. Os lobos acabaram com uma panela de macarronada em poucos minutos, Emily havia preparado mais para o caso de eles continuarem com fome, o que aconteceu. Mas não importava o quanto comiam - não sei como funciona o metabolismo de um lobisomem -, mas tinha certeza que eles não aguentariam mais tempo dessa rotina. Eles estavam exaustos, com olheiras que fariam um vampiro ter inveja.

— Como você consegue? — As palavras acabaram escapando da minha boca.

— Consigo o que? — Emily voltou sua atenção para mim.

— Sabe, cuidar deles — Falei enquanto apontava para os garotos com meu garfo. — Cuidar de tudo na verdade. Você não se sente cansada? — Perguntei, incrédula. Pois para mim, só de olhá-los comer já era exaustivo.

— As vezes é cansativo. Mas sabe Bella... — Ela se aproximou de mim, como se para contar um segredo. — Não trocaria isso por nada — E se afastou com uma piscadela. — Quando você faz parte de uma família, você tem que fazer sacrifícios — Completou com seu bom humor natural. Mas o deixando evaporar quando olhou mais atentamente para os meninos.

— Não se preocupe, te ajudarei com o jantar também — Falei quando vi o repentino olhar tenso de Emily. Apesar de eu não conseguir ser tão útil quanto ela - já que eu e objetos afiados não combinamos -, estava decidida em fazer o que eu pudesse para retribuir o esforço deles por mim.

— Esse não é o problema... — Ela murmurou. Com certeza ela havia notado muito antes, como os lobos estavam cansados. Sua mente trabalhava de uma maneira silenciosa enquanto mastigava.

Foi ao final da tarde que Emily mostrou seus planos, ela convocou os lobisomens para uma reunião na “base de operações” — Hoje à noite iremos à praia — Falou, convicta. Algumas objeções e questionamentos, na maior parte vindas de Paul, explodiram na casa depois da proclamação. Todos falaram apressados, menos Sam, que ficou calado tentando descobrir as reais intenções da esposa.

— Hoje temos uma lua crescente — Completou quando as explosões foram se contendo. — Irei pedir por proteção.

— Achei que estávamos em alerta vermelho — Interrompeu Paul, em seu tom alto habitual. — Não temos tempo para ficar observando a lua!

— Devíamos estar nos preparando para caçar a sugadora de sangue — Lembrou Jared.

Sam continuava calado, aposto que ele daria tudo para poder ouvir os pensamentos da noiva. Os barulhos voltaram enquanto os lobos começavam a discutir entre si, parece que mesmo conectados, havia muita divergência no conceito de “aproveitar melhor o tempo”. Porém, foi em um xeque-mate que Emily se pronunciou — Então eu e Bella iremos sozinhas, havíamos combinado a tempos de fazer isso — Eu pisquei algumas vezes por um instante, nós nunca tínhamos entrado em um acordo de sairmos sozinhas pela noite com uma vampira mortal me caçando. Ela deveria saber que isso é suicídio.

— Não! — A voz poderosa de Sam reverberou no ambiente. E eu tive quase certeza de ouvir a de Jacob ao fundo. — Não vão sair sem proteção, nós iremos acompanhar... — Talvez Sam tivesse entendido as motivações dela, ou o mais óbvio, ele não a deixaria correr para os braços da morte enquanto ficava de braços cruzados.

Tinha algo entre Sam e Emily que eu não conseguia explicar. Havia muito mais que amor entre os dois. Conforme os dias foram passando, eu senti uma leve obsessão de Sam para com Emily, uma angústia constante quando ele não estava perto dela. Um certo clima de “vassalagem amorosa” que me deixava desconfortável.

Por Emily, Sam moveria montanhas.

— Ótimo, então começarei a arrumar os mantimentos — Ela se retirou com um sorriso no rosto. Por debaixo do rosto inocente, Emily era um gênio com as palavras. — Bella? — Me convocou.

— O que foi isso Emily...? Nós nunca combinamos nada... — disse em um sussurro, quando nos afastamos dos garotos.

— Você viu o estado deles Bella — Ela sussurrou de volta. — Eles precisam descansar um pouco.

Então não era coisa da minha cabeça, ela também percebeu o quanto os lobos estavam exaustos. Estar em alerta vermelho havia causado danos severos à saúde deles, e me pergunto se eles conseguiriam aguentar essa rotina por muito mais tempo. Lembrei-me também dos Cullen – a menção a eles me fez ficar enjoada -, e sua conveniente falta de sono. Como isso iria nos ajudar em um momento como esse. Mas decidi afastar esses pensamentos o quanto antes.

Em poucos minutos já estávamos prontos para partir, parece que a noite de adoração à lua se transformou em um piquenique à luz do luar. Quem diria que minha mentira para Charlie se tornaria apenas uma meia mentira. Não importa, enquanto tivéssemos comida os lobos estavam felizes. Sam apareceu na frente da casa com uma caixa enorme, equilibrada em um só braço. A caixa parecia pesar uma tonelada, mas ele fazia tudo parecer tão fácil.

Começamos a vagarosa descida para La Push perto do anoitecer, vagarosa unicamente por minha causa, eu estava usando toda minha concentração para não tropeçar em alguma raiz, e acabar parando no hospital. — Não prefere mesmo que eu te carregue? — Sugeriu Jacob depois de alguns minutos. Eu ainda não estava totalmente confortável ao lado dele, então me carregar pela floresta no colo estava mesmo fora de cogitação. — Estamos muito atrás do grupo! — Ele completou, impaciente. Foi com um bufar de irritação e um movimento rápido que ele me pegou no colo, me fazendo gritar com a surpresa, e provocando muitas risadas no grupo da frente. Mas se eu quisesse chegar à praia antes do anoitecer, não havia muita escolha, de modo que apenas escondi meu rosto vermelho no seu peito quente. Não contente, mas aceitando meu destino.

A noite estava fria e calma hoje, e as ondas banhavam gentilmente a beira da praia. Sam preparava o terreno para uma espécie de fogueira, enquanto Emily arrumava as coisas em uma barraca simples que eles haviam trazido. - Poderíamos ficar aquecidas se fizesse muito mais frio -, ela disse para mim. Anos e anos sendo uma garota-lobo realmente trouxe algumas sabedorias. Mal chegamos a nos aconchegar na areia quando Jacob foi atingido por uma espécie de bola na cara. Se fosse eu provavelmente já estaria morta agora.

— Desculpe, Bella! Eu te acertei? — Gritou Embry ao longe. Diferente de Paul e Jared, ele estava tentando esconder o riso. E eu pensei se Jacob havia ficado muito irritado com isso.

— Só um minuto Bells... — A resposta veio quando ele levantou calmamente, e tirando a areia do seu shorts, andou em direção aos outros meninos. Com certeza Embry era um homem morto.

Ignorando os risos e os gritos vindos ao longe, fui me juntar a Sam perto da fogueira que ele havia acendido, Emily havia me dito que apenas começaria a preparar o jantar depois, de modo que eu preferi ficar em um lugar quente para variar. E entrar no meio da brincadeira mortal dos lobisomens estava fora de cogitação.

Finalmente uma tênue sensação de “paz” se instalou dentro de mim, tirando o fato de eu ainda estar sendo caçada, mas ver Jake em um momento tão descontraído com seus irmãos me deixava bem também. Fazia tempo que eles não podiam ser “apenas adolescentes”, e se divertirem sem se preocupar com seu dever diário de proteção de Forks. Isso, de algum modo, me deixava mais tranquila com a situação. Me fazia voltar para um momento mais simples, em que eu era só Isabella Swan, não a “garota dos vampiros”, ou “garota dos lobos”, o tempo em que meus únicos problemas eram me encaixar na nova escola, ou estudar para prova de geometria. Esses tempos que haviam ido embora quando me apaixonei por Edward.

Estava um pouco mais controlada em me lembrar de Edward agora. Senti-me surpresa outro dia quando percebi que pensava no nome dele com certa frequência, e a sensação de incompletude havia ficado suportável. Mas com os restantes dos Cullen ainda estava fragilizada. Será que Alice estava bem? E Carlisle, Esme e os outros. Será que sentem a minha falta? Às vezes me pegava culpando Edward por isso, ele não me querer mais em sua vida já era uma punição grande o bastante, mas agora me tirar Alice. Penso que foi crueldade. Mas todos eles deveriam ter seus motivos, coisa que me deixava ainda mais magoada. Eu apenas queria ter a certeza que eles não me esqueceram também.

— Ele gosta muito de você... — Sam falou, cortando minha melancolia e recobrando a minha atenção. Não havia mais aquele tom frio habitual em sua voz. Desta vez, ele era apenas calor.

— Hum? — Foi o que eu consegui responder, devido à surpresa. Demorei um pouco para acompanhar o olhar de Sam, e vê-lo olhar para Jacob ao longe. — Ah, sim... Eu sei... — Completei, agora envergonhada demais com a situação para formular uma frase coerente.

Este não era o Sam que eu conhecia, sempre sério e de tom frio e ácido. O garoto que em um dia tinha toda a proteção de uma cidade nas mãos. Esse era outro tipo de pessoa, não ouso dizer nova, mas um lado que ele só deveria revelar a Emily, algo que provavelmente o líder de uma matilha não pudesse mostrar por aí. Talvez fosse o tom que ele usou, ou o jeito que ele olhava para os lobisomens na praia, mas a partir deste dia consegui enxergá-lo mais como um pai para os outros. Gosto de imaginar que ele sempre estava cuidando deles, e talvez agora eu conseguisse entender o respeito que Jacob tinha por Sam.

— E você não imagina o quanto! — Gritou Jared, enquanto se aproximava por trás. Eu não o percebi chegar. — Você não faz ideia do que tivemos que ouvir quando ele finalmente... — Ele parou de súbito. Sam o fez se calar com apenas um olhar autoritário.

Não pude evitar rir da situação, mesmo com as ondas de vergonha avermelhando meu rosto. Eles são realmente uma família estranha.

Em pouco tempo o jantar estava servido, Emily tratou de caprichar desta vez, já que os lobos iriam sair em patrulha pelo resto da noite novamente. E eu conseguia ver em seu rosto quanto estava preocupada por isso. Todos se sentaram familiarmente em volta da fogueira, sempre barulhentos e felizes. Jake, que estava ao meu lado, não parava de contar como quase fez Embry engolir a bola. Até que algo cortou o clima feliz.

— Não... — Rosnou Jacob, repentinamente ao final do jantar. Só então notei que Sam estava conversando com Jared. E pela expressão séria de ambos, não devia ser algo agradável.

— Ela tem o direito de saber — Sam suspirou pesado, antecipando a discussão que viria a seguir. — Ela tem que estar preparada — Respondeu. Ele estava frio novamente quando me fitou com os seus olhos profundos.

De repente todos estavam em silêncio, a fogueira já não conseguia me aquecer e a noite havia roubado o ar dos meus pulmões. A palavra “ela” ecoou algumas vezes na minha cabeça, até eu conseguir chegar à conclusão óbvia. — Victoria... — Eu respondi antes que alguém falasse em voz alta. Eu estava novamente assustada, se eles precisavam me informar sobre ela, significava que algo tinha mudado. Mudado para pior, é claro. De qualquer jeito, meus olhos arregalados deviam denunciar meu pânico crescente.

— Ela tem agido de maneira estranha — Jared foi o primeiro a falar, preso em seus próprios pensamentos. — Como se... — Não conseguiu completar a ideia que estava presa em sua cabeça.

— Como se ela tivesse brincando com a gente! — Paul cuspiu essas palavras.

— Como assim, brincando? — Emily tirou a frase da minha boca, já que eu estava assustada demais para falar algo agora.

Eu não cheguei a perceber o momento em que Jacob chegou mais perto e me abraçou, eu apenas me deixei levar pelo torpor quando ele falou. — Ela está nos testando, procurando brechas — Disse, exalando veneno. — Ela seguia um padrão de aproximação, ao qual estávamos contendo muito bem, quase sempre a pegando antes de escapar para a água. Mas agora as coisas mudaram — Ele estava sombrio enquanto fitava a fogueira, imagino que pensando em como deter Victoria.

— Fazendo movimentos aleatórios, deixando pistas falsas, espalhando seu cheiro por toda a maldita floresta! Sem realmente chegar a um ponto. E depois disso, a água — Sam completou, também consternado. — Acho que a sanguessuga está tentando descobrir o quanto aguentamos, esperando por um movimento que nos custará algo.

— Para o azar dela, podemos fazer isso para sempre! — Paul rosnou. E pela expressão dos outros, não sou só eu que sabe o quanto isso é mentira. Apesar da raiva dos lobos ajudar a fazer coisas extraordinárias, seus corpos ainda são de humanos, e humanos têm necessidades. Embry apenas suspirou em seu lugar.

Neste momento eu estava apenas um pouco mais assustada que Emily. Não precisava ser um gênio do sobrenatural para concluir que Lobisomens cansados, mais uma vampira incansável, é igual a morte de vários lobos. Mas diferente de mim, ela não se deixava abalar. Pelo menos é o que seu olhar determinado demonstrava.

— Iremos aumentar a guarda — Jacob concluiu, imagino que mais para me tranquilizar do que como se fosse algo realmente possível de acontecer. Eles já haviam sacrificado suas horas de sono para isso, então não havia mais nada a ser feito.

— Não... — Desta vez foi Emily a discordar. Eu tive que piscar duas vezes para recobrar a consciência, e perceber o que Jacob havia falado. — Vocês já estão exaustos, apesar de não quererem admitir! Faz dias que não tem uma boa noite de sono, e não podem suprimir isso com calorias. Se acabarem encontrando com ela no estado em que vocês estão, vocês não terão nenhuma chance — Ela já não estava mais com sua aura de energia quando terminou a fala, ela fitava seu noivo temendo pela vida dele, e foi quando percebi o quanto as coisas estavam mal. A noite tinha se tornado sombria.

— O que sugere então? — Paul rosnou novamente, irritado com o rumo que a conversa havia tomado. — Que fiquemos sentados esperando que a sanguessuga se aproxime? — Riu sarcasticamente.

— Na verdade... — Finalmente consegui encontrar minha voz, apesar dela ter saído mais baixa e fraca do que eu realmente gostaria nessa situação. — Jared já havia dado a resposta para isso há alguns dias atrás… — Eu falei, e não consegui evitar de tremer pelo o que eu estava prestes a fazer. Jared ficou em uma mistura de felicidade e confusão com a informação. Feliz por ser ele que tivesse a resposta para tudo, e confuso por não saber ao certo do que eu estava falando. Tentei me recompor, para parecer determinada quando sugerisse.

Agora eu tinha a atenção deles. Eu sabia que as palavras não seriam fáceis de serem ditas, e eu precisaria parecer forte para convencê-los que era uma boa ideia. Todos aqui já haviam sacrificado tanto por mim, que não seria justo eu ser tratada como mais um peso na vida de alguém. Definitivamente eu não seria mais a garotinha que precisava ser protegida.

Pensei em Charlie, Jacob, Emily e todos os que acabaram se tornando especiais para mim nos últimos dias, de como eu estava feliz em fazer parte desta família. – Quando você faz parte de uma família, você tem que fazer sacrifícios –, lembrei-me da fala de Emily na cozinha. Olhei para o rosto dela para tentar pegar emprestada sua força. Foi com um tom mais firme que imaginava possível, que eu completei.

— Serei uma isca viva.


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Notas finais do capítulo

vassalagem amorosa:
A vassalagem amorosa é muito comum nas cantigas medievais de amor. Ela ocorre quando o eu lírico manifesta devoção e submissão à pessoa amada, implorando por amor e atenção.

Os trovadores medievais compunham suas canções fazendo apelos às pessoas amadas, nas quais o uso de vocativos era muito comum para suplicar e implorar pela realização do amor que narravam.
Fonte: site brainly



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