Iguais, porém opostos escrita por Cellis


Capítulo 3
Como gato e rato


Notas iniciais do capítulo

Olaaa, queridos! Finalmente, aqui estou.
Agradeço por todo o carinho que tenho recebido por aqui, de verdade ♥

Boa leitura.



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Não importava onde estivesse, na escola ou em qualquer outro lugar, Kim Taehyung raramente era desafiado por terceiros. Sabia que, principalmente devido a sua condição financeira, as pessoas preferiam aproximar-se dele para puxar seu saco, ao invés de começarem uma briga que tinham plena consciência de que no final (caso resistissem até lá) perderiam. Todos agiam dessa forma, menos ela.

Kang Bo Ra havia o incomodado durante toda a sua vida, como uma pedra pontiaguda em seu sapato de marca. Ela sempre esteve lá, vivendo no alojamento da governanta, desde que ambos eram bebês com poucos meses de vida — ele era um pouco mais velho, mas isso, obviamente, não permitia que se lembrasse daquela época. Ele não sabia ao certo o porquê dela ter de morar ali e ser criada por sua avó, ao invés de viver com seus pais bem longe dele, mas também nunca havia se esforçado para descobrir. O que importava era que Bo Ra estava ali, sempre rebatendo o que ele dizia e não aceitando suas afirmações, torcendo aquele nariz fino e perfeitamente desenhado toda vez que o via.

Taehyung havia tentado ignorar sua presença durante um tempo, quando eram crianças. Pensou que ela se irritaria e se afastaria conforme ele aprontasse com ela, chegando a colar chiclete em seu cabelo quando tinham mais ou menos sete anos, mas isso só piorou a situação — ela se irritou, de fato, porém passou a revidar as travessuras do menino. Certa vez, ele havia pego no sono em uma das espreguiçadeiras da piscina e acordou sendo arrastado pelo gramado, até ser lançado com tudo para dentro da piscina em pleno inverno.

Até que eles tornaram-se adolescentes. Quando essa fase chegou, ambos mudaram. Ele foi obrigado a tornar-se uma pessoa calculista e atento a todos ao seu redor, já que a grande maioria das pessoas que se aproximavam tinham apenas a intenção de usá-lo ou aproveitar-se do seu dinheiro. Bo Ra, por sua vez, tornou-se mais inteligente e sarcástica, conseguindo impor respeito no colégio, onde costumava sofrer com piadinhas e brincadeiras sem graça por não pertencer a mesma classe social que o resto dos alunos. Taehyung não via problema na nova personalidade da garota, na verdade, achava até interessante o modo como ela estava disposta a lutar contra tudo e todos — isso se ela não tivesse se afastado dele. Ela passou a ignorá-lo, fingindo não ouvir o que ele dizia e a sequer olhar na direção que ele estava. Isso o deixou furioso. Como, depois de todos os esforços que ele havia tido para afastá-la dele durante toda a sua infância, aquela pirralha simplesmente passara a tratá-lo como um completo estranho?

E, assim, ele passou a ser ruim. Usava todas as chances que tinha para mostrar a ela como era inferior a ele, o que acabou tornando-se um costume e até mesmo parte de quem ele era — às vezes, Taehyung simplesmente criava situações por pura diversão, como fora o caso da festa na noite anterior. Ele conhecia muito bem a irmã de Yoongi e sabia como ela era loucamente apaixonada por aquele tal primo, que quase babava ao assistir Bo Ra dançando. Tudo que precisou foi dar ao inocente ruivo um pequeno incentivo, e o desfecho da história acabou sendo mais satisfatório do que ele esperava.

Taehyung não tinha sequer um resquício de pena, porque, mesmo com tudo que fazia, Bo Ra continuava a desafiá-lo. Ela continuava a olhá-lo torto, a fingir que não era atingida pelas ações dele e, ainda por cima, tinha coragem suficiente para jogar uma taça inteira de bebida diretamente no rosto dele. Ele não dava a mínima se aquilo havia acontecido na frente de todos, pois estaria igualmente irritado se tivesse acontecido em uma sala escura com apenas os dois dentro — o que importava é que ela tinha feito.

Por isso, passara toda uma noite em claro. Ao invés de se incomodar por não ter dormido (o que raramente acontecia, já que ele já havia se acostumado com seus problemas para dormir), ele usou seu tempo livre para pensar. O que Kang Bo Ra mais odiava no mundo? Não importava o que fosse, ele usaria contra ela.

Custou uma noite inteira, mas ele sentiu-se extremamente orgulhoso de si mesmo quando finalmente percebeu que a resposta estava bem ali, diante dos olhos dele, enquanto fitava o próprio uniforme no espelho. Sorriu malicioso, pensando em como estava prestes a vivenciar dias maravilhosos. Além de detestar atrair a atenção das pessoas no Kobe Suwon, as quais nitidamente nutria desprezo e antipatia, a Kang também não suportava Kim Taehyung.

Unindo os dois, ele teria a revanche perfeita.

Bo Ra tinha ideia de que nada de bom estaria a esperando quando pôs o pé para fora de casa naquela manhã, mas jamais imaginou que esse nada de bom fosse Kim Taehyung, despreocupadamente recostado em seu carro particular na rua da mansão. O que diabos ele estaria fazendo ali, parado no meio de uma rua deserta e fitando os próprios sapatos italianos?

Ela não sabia o que era, porém, tinha certeza de que não tinha nada haver com aquilo. Por isso, ajeitou a alça de sua bolsa e decidiu que seguiria seu trajeto normalmente, sem ser impedida por aquela cena um tanto incomum.

— Bom dia, Kang. — a voz naturalmente grossa de Taehyung a fez parar. — Teve uma boa noite de sono?

Lentamente, ela se virou para encará-lo. A calçada era confortavelmente larga e, por isso, havia uma distância segura entre onde ela estava e a beira, onde o carro estava estacionado e Taehyung encostado no mesmo.

— O que você quer? — ela indagou, sem rodeios. Taehyung não era uma pessoa gentil, muito menos com ela, a menos que estivesse atrás de algo do seu interesse.

— O que eu quero? — respondeu com outra pergunta, exatamente como ela odiava. Deu alguns para frente, encurtando a distância entre os dois, com um sorriso um tanto mal intencionado no rosto. — Quero levá-la para a escola.

Bo Ra o encarou e, se não o conhecesse extremamente bem, poderia achar que a bebida que lançara em seu rosto na noite anterior, de algum modo, havia penetrado em seu cérebro e danificado suas ideias. Mas, ao invés disso, ela sabia que ele estava planejando algo como assassiná-la no meio do caminho e desovar seu corpo em algum riacho esquecido e sujo.

Era a cara de Kim Taehyung tentar algo tão psicopata.

— É melhor irmos logo, caso contrário, chegaremos atrasados. — ele disse naturalmente, conduzindo-a pelo pulso para dentro do carro.

Bo Ra estava tão espantada com a audácia do Kim em segurá-la daquele modo, que só se deu conta de que estava realmente o seguindo quando estavam prestes a entrar no carro. Puxou seu braço de volta, afastando a grande mão dele bruscamente de perto dela e atraindo um olhar falsamente confuso na sua direção.

— Eu não sei que plano doentio você tem em mente, mas é melhor desistir dele enquanto ainda estou lhe dando a chance de fazê-lo por bem. — ela praticamente rosnou, sem medo da reação dele e, depois de fitá-lo intensamente durante alguns segundos, o ignorou e voltou a seguir o caminho que fazia todas as manhãs.

Para a infelicidade de Taehyung, Bo Ra não possuía um olho em suas costas — ele adoraria que ela visse o sorriso vitorioso que ele tinha nos lábios naquele momento. Havia começado a execução de seu plano de levá-la ao seu limite muito bem, estava orgulhoso de si próprio.

Bo Ra, por sua vez, caminhava quase cuspindo fogo. O que raios o Kim tinha na cabeça? Ela não olhou um segundo sequer para trás, pois não estava com ânimo para descobrir naquele momento. Esperava que ele inteligentemente seguisse seu próprio caminho, sem voltar a incomodá-la.

Fora inocente demais de sua parte pensar que ele o faria.

Achou estranho o fato de que, quando seu ônibus parou para buscá-la, o veículo de Taehyung ainda não havia deixado o condomínio. Mesmo assim, deu de ombros, pagou sua passagem e encontrou um lugar disponível mais à frente, pois não estava muito a fim de andar para procurar um outro assento. As portas do ônibus começaram a se fechar em seu campo de visão, porém foram obrigadas a parar repentinamente por conta de uma mão.  Bo Ra estreitou os olhos, confusa — ninguém, além dela, jamais pegava aquele ônibus no bairro inteiro.

E então, quando fitou a figura alta e seus cabelos lisos e prateados (pelo menos ela achava que eram, pois ainda não havia descoberto que raio de cor era aquela) adentrar no ônibus, teve vontade de abrir a janela ao seu lado e se jogar dali mesmo para fora. Até mesmo o motorista estava espantado com a presença do rapaz, e só voltou a si quando o mesmo tentou passar pela catraca sem ter pago a passagem e ficou travado onde estava.

— O que significa isso? — Taehyung apontou para a catraca azul, um tanto revoltado, e fitou o motorista.

— Você precisa pagar a passagem primeiro, meu jovem. — o motorista explicou pacientemente, mesmo que estivesse espantado por ter de dizer algo perfeitamente óbvio depois de longos anos de trabalho.

Ah, isso. Claro. — Taehyung concordou, dando alguns passos para trás e pescando do bolso traseiro da calça azul marinho a carteira de couro. Como só tinha as notas mais altas da moeda coreana, estendeu uma delas na direção do homem. — Isso serve, certo?

O motorista arregalou os olhos, assustado.

— Eu... não tenho troco para uma nota tão alta.

Bo Ra estava abismada diante da cena que estava presenciando. Se não estivesse morta e aproveitando suas primeiras horas no inferno, aquilo só poderia ser algum tipo de brincadeira (de muito mau gosto, ela achava). Estava prestes a se levantar e expulsar Taehyung do ônibus aos berros, antes que acabasse se atrasando por causa dele, porém parou quando a moça sentada na sua frente se levantou com um sorriso mais do que simpático no rosto.

— Eu pago a passagem dele. — disse, puxando para baixo o curto vestido vermelho que usava e caminhando até o motorista.

— Sério? — Taehyung indagou, sorrindo. Esbanjava tanta falsidade que Bo Ra quase conseguia ver a mesma escorrendo pelo seus poros. — Muito obrigado, senhora.

Senhorita. — ela corrigiu, sorrindo maliciosamente e entregando o dinheiro para o motorista.

Assim que teve sua passagem liberada, Taehyung ignorou completamente a mulher de trinta e poucos anos e caminhou tranquilamente até onde Bo Ra estava, sentando-se no assento vazio ao lado dela. Quando o motorista deu partida e o ônibus seguiu viagem, Bo Ra chegou a considerar a ideia de parar o veículo, saltar e ir correndo até o colégio, o que com certeza seria menos cansativo e incomodo do que ter Kim Taehyung ao seu lado durante todo o trajeto.

— O que diabos você está fazendo? — ela indagou pausadamente, deixando seu misto de raiva e confusão transparecer em cada uma de suas palavras.

— Eu disse que queria levá-la para a escola, Kang. — respondeu naturalmente e, em seguida, deu de ombros. — Se não for do meu jeito, pelo menos que seja do seu.

Bo Ra estava chocada demais para dizer mais alguma coisa. Em toda a sua luxuosa vida, Kim Taehyung jamais havia entrado em um ônibus popular por livre e espontânea vontade, por isso, deveria ter um objeto muito sério enraizado em sua mente para fazê-lo. Ela o encarou e, naquele momento, sentiu-se um rato sendo perseguido por um grande e mimado gato, como se precisasse enfiar-se no primeiro canto que encontrasse para fugir do predador.

Mas ela não era uma presa. Qualquer que fosse o plano maligno de Taehyung, ela encontraria uma falha no mesmo — e usaria dela para mostrar a ele quem era o verdadeiro rato da história.

 

***

 

Não importava o quanto Bo Ra queimasse a cabeça para tentar entender o porquê de toda aquela palhaçada, ela sempre acabava chegando na mesma conclusão: Taehyung estava, deliberadamente, traçando um plano para matá-la. Estava estudando cada parte da rotina dela, esperando o momento perfeito para atacar a jugular da garota sem que ninguém percebesse.

Só podia ser isso.

Riu amargamente dos próprios pensamentos, tentando entender em que ponto de sua vida sua mente havia se tornado tão fértil — considerava que o Kim era sim um psicopata, mas do tipo que se divertia com a desgraça alheia, ao invés de por um fim na mesma. Havia um motivo pelo qual ele tinha pego o ônibus junto dela, caminhado em silêncio ao seu lado até o colégio e seguido apenas alguns passos atrás dela pelos corredores, atraindo a atenção de todos ao redor dos dois e gerando alguns cochichos: ele estava se divertindo com aquilo. Isso, claro, sem contar o fato de ter se sentado justamente na carteira ao lado dela, fazendo questão de sorrir para ela enquanto o fazia. Pelos céus, ele deveria estar internamente morrendo de rir daquela situação.

Ela esperava que ele engasgasse e se sufocasse com a própria risada.

Ninguém estava entendendo absolutamente nada. As mais diversas teorias já percorriam os corredores do Kobe Suwon ainda nos primeiros tempos de aula, enquanto os alunos tentavam descobrir o porquê de Kim Taehyung e Kang Bo Ra estarem andando juntos, ao invés de estarem tentando assassinar um ao outro. Até Jimin se assustara quando se deparou com sua melhor amiga e sua mais nova sombra chegando juntos ao colégio, e a garota teve de explicar que estava, na verdade, sendo seguida. Como ótimo amigo que era, Jimin apenas deu de ombros e disse a ela que, o que quer que Taehyung estivesse planejando, logo desistiria. Ela, por outro lado, o conhecia bem demais para partilhar do mesmo otimismo que Jimin.

— Espaguete, eu esqueci de avisar. — Jimin iniciou, assim que o sinal do almoço liberou os alunos. — Hoje é aniversário da minha mãe, por isso, vou almoçar com ela.

Yah, você vai me abandonar? — retrucou Bo Ra, fingindo estar profundamente chateada.

Na verdade, ela só tinha esses pequenos momentos de descontração ao lado de Jimin. Detestava agir fofamente, a menos que fosse para ele — suas reações eram as mais hilárias possíveis, e isso acabava a divertindo também.

— Essa escola possui mais de duzentos alunos, espaguete. Não é possível que você não tenha outra companhia.

— Eu espero que não. — ela respondeu, arrancando uma risada do outro.

E de nada havia adiantado sua espera.

Ela havia tentado. Tinha prometido — de novo — a Jimin que passaria despercebida durante o par de horas do almoço e que não arrumaria nenhum tipo de confusão, seja começando a mesma ou apenas sendo arrastada como vítima. Bo Ra esperou pacientemente na fila da cantina, aceitou de bom grado a minúscula quantidade de comida que vinha nas bandejas e sentou-se sozinha em uma mesa mais afastada do refeitório, praguejando mentalmente a mania que as pessoas daquela escola tinham de fazer dieta. Mesmo assim, permaneceu quieta em seu canto, sobrevivendo, conseguindo...

Até Kim Taehyung sentar-se na sua mesa, como um gato que adora torturar seu ratinho favorito.

— Você deveria pedir outra bandeja, Kang. — iniciou naturalmente, puxando a cadeira vermelha de frente para Bo Ra e sentando-se sem se desfazer da sua boa postura. — Não há comida suficiente para você em apenas uma porção.

— Eu estaria preocupada com a minha saúde se houvesse. — a resposta saiu automaticamente da boca da garota, como se já tivesse sido programada. — O que você está fazendo aqui?

De boca cheia, Taehyung apenas olhou ao redor dos dois, como se estivesse checando onde estava. Enquanto terminava de mastigar seu arroz tranquilamente, ele divertiu-se interiormente com os olhares perplexos que recaíam sobre eles.

— A mesma coisa que todo mundo faz em um refeitório: comendo.

Sem conseguir se segurar, ela bufou.

— Eu quis dizer o que raios está fazendo na minha mesa. — explicou, mesmo sabendo que ele havia entendido muito bem na primeira vez que ela perguntara.

Ah, eu vi que estava sozinha e resolvi lhe fazer companhia enquanto espero os meus amigos. — disse, dando de ombros. — Não sabia que você tinha privatizado essa mesa.

Bo Ra não tinha nenhum problema com sarcasmos; adorava usá-los como arma e achava engraçado quando alguém tentava fazer o mesmo com ela. Por isso e por se tratar de Taehyung, ela não pensou duas vezes em descer até o nível dele.

— Seus amigos? — indagou, com uma risada nasalada.

Apenas com essas duas palavras, Bo Ra obteve uma reação muito melhor do que esperava: ele pausou bruscamente sua mastigação constante e fitou o vazio, como se estivesse sendo lentamente atingido pela pergunta dela. Taehyung era um garoto de pouquíssimas fraquezas, porém, as únicas que possuía eram quase todas conhecidas por Bo Ra, e apenas ela — inclusive a sua dificuldade em encontrar uma amizade sincera, já que sempre acabava desconfiando das pessoas ao seu redor.

Era um trauma de infância dele que ela sabia sobre e, a partir daquele momento, passaria a usar contra ele sempre que bem quisesse.

Quebrando o tenso silêncio que havia se formado sobre a mesa, duas figuras sentaram-se ao lado de Taehyung, com suas respectivas bandejas. De um lado Yoongi, despreocupado e com sua áurea maliciosa de costume, e do outro Jungkook, o qual Bo Ra considerava uma peça um tanto rara naquele colégio — bom e habilidoso em simplesmente tudo o que fazia, muito bonito, companheiro de Taehyung e, por mais improvável que fosse, uma pessoa extremamente tímida. Jungkook tinha tudo o que precisava para exibir-se pelos corredores e gabar-se de seus diversos troféus ou da fortuna de sua família, mas, mesmo assim, andava de cabeça baixa e raramente era visto interagindo com alguém que não fosse Yoongi ou Taehyung; o que fazia com que Bo Ra admirasse o fato do rapaz ainda não ter sido corrompido pelos dois.

Talvez ele fosse um dos poucos casos "ainda não perdidos" do Kobe Suwon.

— Bo Ra, o rosto mais lindo e emburrado do colégio! — iniciou Yoongi, praticamente lançando sua bandeja sobre a mesa e com um sorriso no rosto. — Soube do seu pequeno desentendimento com a minha irmã ontem.

Sem perceber, Bo Ra fitou Taehyung durante um instante. O mesmo tinha um breve sorriso que não exibia seus dentes brancos e alinhados no rosto, e a garota sentiu o pedaço de carne que acabara de engolir descer rasgando-lhe a garganta.

— Eu ainda não me desentendi com ninguém.  — respondeu para Yoongi. — A sua irmã que não tem um pingo de educação, mas isso não me surpreende.

Yoongi gargalhou alto, assustando o quieto Jungkook e surpreendendo Bo Ra. Taehyung, por sua vez, já estava habituado ao jeito sádico do outro e não moveu um músculo sequer.

— Eu sei. — disse, concordando com a fala de Bo Ra. — O meu primo, por outro lado, é a ovelha negra da família, sabe? Educado, gentil e, ainda por cima, gostou de você. Inacreditável

Em certos momentos, Bo Ra simplesmente desistia de tentar lidar com a natural perversidade de Yoongi e, por isso, preferia ignorá-lo e ficar em silêncio. Isso era resultado de alguns anos de convivência e, se não fosse pelo arquejar irônico de Taehyung ao ouvir sobre Hoseok, ela teria ficado calada como costumava fazer.

— O que foi, Kim? Não gostou do Hoseok? — provocou, atraindo a atenção dele. — Não seja por isso.

Quando a garota se levantou, foi encarada não só pelos três que lhe faziam companhia, mas também por mais muitos pares de olhos curiosos ao redor deles. Sorrindo, ela começou a caminhar.

— O que raios deu nela? — indagou Yoongi, tendo que virar de costas para conseguir acompanhar Bo Ra com os olhos.

Assistindo à cena por cima do ombro, Taehyung foi o primeiro a entender sobre o que tudo aquilo se tratava. Bo Ra caminhou animadamente falsa até Hoseok, o qual segurava sua bandeja ainda de pé, procurando um lugar para se sentar, e o cumprimentou.

Ela tinha seu próprio plano para fazer da vida de Taehyung um inferno e ele, por sua vez, havia acabado de se dar conta de como ela havia traçado-o bem.

— Hoseok, sente-se com a gente. — Bo Ra disse, apontando para a mesa de onde acabara de se levantar.

O garoto sorriu animado e aceitou o convite, seguindo-a. Por algum motivo, algo em Hoseok nitidamente desagradava Taehyung, e Bo Ra não via a hora de descobrir o que era.

Teria sido um ótimo movimento da parte dela naquele jogo, se ela tivesse conseguido concluí-lo.  

— Eu não acredito nisso! — a voz estridente e aguda não parecia vir da menina pequena e de boa aparência, que dava um passo para frente para impedir a passagem de Bo Ra. — Você não aprende?

Bo Ra tinha que admitir que por mais irritante, petulante e sem educação que Yoon Hee fosse, ela tinha coragem — ou era extremamente burra — para estar fazendo aquilo.

Yah, depois do que você fez ontem, deveria evitar aparecer na minha frente. — Bo Ra disse, dando alguns passos para frente. Como a mais nova era extremamente mais baixa, Bo Ra conseguia parecer duas vezes mais ameaçadora estando tão próxima dela. — Aproveite o meu resquício de boa vontade com você.

Yoon Hee riu, passando a mão pelos cabelos platinados. Não muito atrás dela, seu irmão mais velho assistia àquela cena com um sorriso maléfico que ocupava grande parte do seu rosto, acompanhado por um assustado Jungkook e um Taehyung sem nenhuma expressão facial — além de todos os outros presentes no refeitório.

— Yoon Hee, já chega. — Hoseok colocou-se firmemente entre as duas, obrigando a loira a recuar alguns passos. — Você passou dos limites ontem e só está piorando a situação agora.

Eu passei dos limites, oppa? Essa garota que não sabe o lugar dela e fica se insinuando para você.— Yoon Hee precisou reunir um pouco de força para empurrar Hoseok para o lado e voltou a aproximar-se de Bo Ra com o nariz empinado e uma risada sarcástica. — Parece que esqueceu que não é nada mais do que a neta da empregada.

Bo Ra não fazia ideia de como Yoon Hee havia descoberto sobre sua vida ou sua avó, mas também não tinha nenhum interesse em saber. Naquele momento, ela sentiu seu rosto ferver de raiva e tudo — exceto pela garota irritante e mimada a sua frente — pareceu desaparecer diante da sua visão. Para a sua sorte e seu próprio prazer, Bo Ra tinha um ótimo gancho de direita.

E não pensou duas vezes antes de usá-lo diretamente naquele rosto pálido e fútil de Yoon Hee.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Que o circo comece a pegar fogo!
Obrigada pela paciência por esperarem por esta autora enrolada, queridos. Espero que tenham gostado e que nos vejamos em breve.

Até ♥