Mr. & Mrs. Black escrita por pnsyparkinson


Capítulo 7
Capítulo Seis.


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora, mas voltei! Estamos chegando na reta final (literalmente), espero que gostem do capítulo de hoje.

Dedicado especialmente pro meu blackinnon da vida real: lubs e mcflurry. Saibam que vocês são meu tudo e eu as amo.

Boa leitura ♥



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Falaram ao mesmo tempo.

— Vou buscar uma toalha - disse Marlene.

— Deixa que eu busco - disse Sirius.

Uma desculpa. Os dois precisavam fugir. O homem correu até seu escritório e fechou a porta, arfando, a mente funcionando a mil por hora. Numa única noite, num único instante, o mundo inteiro havia mudado. Nenhuma palavra dita. Nenhuma bala disparada. Mas os olhos de ambos haviam confessado tudo.

McKinnon sabia, Black sabia. Não havia caminho de volta.

Olhando nos olhos de Marlene enquanto o vinho se derramava, ele teve um pequeno flashback. Recordações de Bogotá.

Ele não tinha perguntado a ela o que fazia ali. Não tinha estranhado a facilidade com que tinha caído em sua cama. Apenas havia ficado feliz, muito feliz, por tê-la ao seu lado. E entre um encontro e outro, quando ele dava um jeito de escapulir para cuidar de suas missões — quatro assassinatos numa única semana —, ela escapulia para fazer a mesma coisa.

Marlene McKinnon vinha mentindo desde o início. 

"Já havia tentado me matar antes. Agora que estava ciente de que eu sabia de tudo, não tinha outra coisa a fazer senão me eliminar." pensou Black, passando os dedos pelos cabelos escuros.

Ouviu uma porta bater em algum lugar e gelou. Colou o ouvido contra a porta, mas não ouviu nada. Foi até a escrivaninha e abriu um compartimento secreto dentro de uma das gavetas: uma arma, um pente de balas e um silenciador.

Três movimentos rápidos, e as partes se encaixaram. Com a arma escondida nas costas, respirou fundo e saiu para o corredor. Varreu com os olhos a sala de jantar, as chamas das velas cintilavam de maneira estranha. Como se Marlene tivesse acabado de passar correndo por elas.

— Marls? - chamou — Querida...?

Nenhuma resposta.

Talvez já não respondesse por esse nome. Então ele ouviu um barulho do lado de fora. e imediatamente olhou pelas janelas. A porta da garagem estava se abrindo. Ela estava fugindo de carro.

Em um pulo atravessou a sala, saiu pela porta da frente, cruzou o jardim e chegou à garagem a tempo de vê-la engatar a ré para sair. Jogou-se no caminho, impedindo que ela continuasse.

— Pare a porra do carro, Marlene! 

Mas ela não parou. Em vez disso, pisou fundo no acelerador, jogou a traseira do lindo Mercedes station-wagon contra a mureta externa e seguiu em disparada sobre a grama do jardim. Sabia que não poderia alcançá-la simplesmente correndo atrás do carro, mas talvez pudesse cortar caminho pelos quintais dos vizinhos.

Péssima ideia. Especialmente no escuro. O quintal dos Longbottom tinha sido fácil, mas, depois, saltou por cima de uns arbustos e aterrissou em um brinquedo infantil. Depois de abrir caminho entre as gangorras, ele pulou para o quintal seguinte e deu de cara com um cachorro que não parava de latir. 

E em seguida... bem, digamos que Sirius teve de enfrentar toda a parafernália dos quintais suburbanos até chegar ao fim da corrida. Teria sido engraçado se fosse um filme.

Por fim, chegou ao outro lado do quarteirão e subiu em uma cerca segundos antes de Marlene dobrar a esquina. Não é todo dia que encontramos uma mulher capaz de dobrar uma esquina sobre duas rodas.

E então os olhares se encontraram.

— Alguma coisa que você queira me contar? - berrou.

A expressão no olhar dela teria incendiado até mesmo um boneco de neve, e talvez por isso a cerca onde ele se encontrava tivesse escolhido justo aquele momento para desabar. E Sirius caiu, enfiando a cara numa poça de lama. O que já teria sido uma desgraça. Mas então...

Bum! Com o impacto, acidentalmente disparou sua arma.

— Merda!

As balas são assim: não há como chamá-las de volta. De certa forma, são como o sexo. Quando aquele martelo bate e diz "é agora", pronto, a venda já foi feita. E, tanto num caso como no outro, "acidentalmente" nunca é uma coisa boa. Mas há algo ainda pior do que acidentalmente disparar uma arma.

É quando a bala escolhe — entre uma infinidade de alvos possíveis — acertar o pára-brisa do carro de sua mulher.

"Caralho. Se Lene já não estivesse morta... viria atrás de mim." 

 [...]

Talvez Sirius quisesse continuar em casa e brincar de polícia e ladrão, espião x espião. Mas ela já estava farta de jogar. E não ficaria naquela casa nem por mais um segundo. Então fugiu.

— Seis anos... — sussurrou, enquanto tirava o carro da garagem. — Seis anos...

Saiu cantando pneus pela rua e dobrou uma esquina. De repente, como dois holofotes, os faróis do carro iluminaram Sirius no alto de uma cerca feito um ladrão em fuga. Era claro como água que ele tinha cortado caminho através dos quintais dos vizinhos.

Ele berrou um insulto qualquer, que ela não pôde entender, e respondeu com um olhar de poucos amigos. Então a cerca onde ele se encontrava desabou, jogando-o na lama, e antes que a mulher pudesse fazer qualquer coisa, uma bala atravessou o para-brisa do carro.

"O canalha estava tentando me matar!"

Instintivamente fechou os olhos e enfiou o pé no freio, já preparada para o impacto. Precisou de alguns segundos para constatar que a bala havia passado raspando por sua cabeça. 

Suspirando de alívio, olhou através do furo no vidro, e lá estava ele, o assassino. Nas horas vagas, seu marido.

— Canalha! - gritou, batendo as mãos no volante.

Sirius ficou de pé, estava coberto de lama.

— Calma, muita calma! - ele berrou, correndo como um louco na direção de McKinnon e acenando com a arma — Não tive a intenção de...

Marlene estava furiosa demais para raciocinar. Apenas que não queria mais ouvir suas mentiras. 

— Isso mesmo! - ele gritou — Libere a raiva! 

Mas depois percebeu que ela não estava brincando enquanto acelerava o carro mais uma vez.

— MARLENE! - berrou — Pare esse carro!

— Sinto muito, amor - murmurou para si mesma — Você não diz mais o que eu devo ou não devo fazer.

Uma das muitas coisas que Sirius Black não sabia sobre Marlene era o fato de que, ao longo dos anos, ela já havia passado por toda espécie de desafio e jamais havia perdido. Muitos grandalhões poderiam atestar sua coragem se já não estivessem debaixo da terra.

No último segundo, Black saltou sobre o capo e depois, para cima do teto.

Ela deu uma olhadela para trás para ver onde ele havia caído. Tudo bem, para ver se ainda estava vivo. Nenhum sinal de Sirius.

O que não poderia significar outra coisa. A não ser que ele ainda estivesse no teto. Meio segundo depois, uma das janelas de trás explodiu com um chute vigoroso do homem, que em seguida se jogou no banco coberto de estilhaços.

Uma manobra radical, ela iria admitir.

— Lene, escuta... - ele começou a dizer, inclinando-se sobre o banco da frente.

Mas ela já estava a meio caminho de sua própria manobra radical: abriu a porta do carro e pulou fora, rolando no asfalto até subir num gramado macio.

Caro Sirius — ela gostaria de ter dito depois de pular —, adeus. Nosso casamento acabou. Pode ficar com o carro.

Mas ele não teria ouvido. Berrava alto demais.

[...]

"Ela pulou do carro... E eu estou aqui, no banco de trás!"

Não restava dúvida, ela ainda não havia perdoado o tiro acidental. Olhou pela janela e a viu já de pé, limpando a sujeira da roupa como se nada tivesse acontecido. E logo após sentiu o carro bater no meio-fio.

— MARLENE! - gritou, os pneus já fora do chão — A gente precisa conversaaaaar!

Ele não sabia como, mas naquela mesma noite foi bater — sujo de lama, machucado, mas sem nenhum osso quebrado — na porta de James.

Fisicamente ele estava bem, mas o coração e a mente nem tanto. O primeiro acabara de levar uma surra, e a segunda estava prestes a explodir.

Era tarde, mas ele precisava de um amigo. Um amigo de verdade, não de um companheiro de churrasco como Frank Longbottom.

James abriu uma brecha e espiou para fora, depois escancarou a porta, dizendo:

— Que diabos aconteceu com você?

Mancando, Sirius atravessou a soleira e disse:

— Minha mulher.

[...]

Sem saber para onde ir, ela tomou a direção de sua segunda casa: o escritório-fachada da Triple-Click. Era tarde, mas Lily ainda estava lá.

A ruiva olhou para ela e, sem hesitar, buscou uma cadeira confortável para que pudesse sentar. Marlene respirou fundo e contou a ela as novidades.

— Como é que é?

Respondeu com uma cara de reprovação, pois já não tinha sido fácil cuspir as palavras da primeira vez. Além do mais, ela havia compreendido muito bem toda a história e não precisava ouvir tudo de novo.

— O agente que tínhamos ordem para matar, o homem que tentou me matar, era um elemento conhecido. Quer dizer, relativamente conhecido: meu marido.

— Mas tudo isso é tão implausível! - disse Lily, puxando uma cadeira onde pudesse se jogar. — Uma chance em um milhão... - balançou a cabeça — Mas poderia ser pior, Marls.

As farpas que os olhos de Marlene lançaram na direção dela poderiam ter derrubado um touro no chão. 

— É mesmo? - questionou, sem disfarçar o amargor em sua voz.

Evans encolheu os ombros de um jeito engraçado, e McKinnon teria rido se fossem outras as circunstâncias. Falavam como duas amigas que compartilham os detalhes sórdidos da infidelidade de seus maridos. Só que, no caso da morena, a traição ia muito além de um simples affair com a vizinha ou de uma bebedeira inconsequente numa viagem de negócios.

"Preferiria mil vezes não saber de nada..." diria a esposa ultrajada à amiga solidária. "Ah, se eu pudesse fazer de conta que nada disso aconteceu..."

Mas ela não era uma mulher como as outras e nem sua vida era como a delas. Já ia longe a encruzilhada diante da qual havia escolhido o caminho menos percorrido. Fazia muito que estava em paz comigo mesma.

Mas então Sirius entrou em sua vida e complicou tudo. Fez com que ela sentisse coisas que jamais havia imaginado poder sentir por alguém. Fez com que ela desejasse uma vida sabidamente impossível. No calor da hora, havia deixado que a excitação e o perigo de Bogotá lhe turvassem a razão; deixado que o inimigo capturasse a última coisa que ela gostaria de um dia ver capturada.

Seu coração.

Lily havia alertado, mas não lhe deu ouvidos.

Felizmente sua melhor amiga era uma profissional casca-grossa dos serviços de inteligência e tinha muito mais a oferecer que um lenço e um copo de água com açúcar.

— Tudo bem - ela disse — A situação é um pouco esquisita. Mas, pensando bem, ele é homem. E todos os homens deveriam vir com uma data de validade carimbada na testa - a julgar pela expressão no olhar, Lily Evans já tinha visto aquele filme antes. Um filme nada agradável de se ver. E pela primeira vez imaginou como seria a vida dela fora do trabalho. Esse era um assunto sobre o qual raramente falavam nos domínios da Triple-Click.

Marlene começou a brincar com sua aliança de casamento.

— Olha - continuou — Isso tudo tem um lado positivo... Você não ama o cara. Precisa matá-lo. E bem... ninguém faz isso melhor que você!

O silêncio se fez presente e Marlene podia sentir Lily olhando fixamente para ela, tentando ler seus pensamentos.

— Espera aí - ela disse — Não vá me dizer que você ainda ama o cara...

Depois de perceber o olhar severo no rosto bonito de sua chefe de equipe, Lily saiu da sala por iniciativa própria. Era uma agente calejada e sabia como evitar o fogo amigo.

"Ah, paciência..." pensou consigo mesma. 

Se desculparia depois, por ora, estava contente por ficar sozinha. Foi até o frigobar do escritório e buscou um copo com gelo e uma garrafa de scotch. Serviu a bebida como se fosse Coca-Cola Light; depois segurou o copo com as duas mãos e mandou tudo para dentro com um único shot. Nada muito elegante, mas resolveu o problema.

Aquela era — afinal — uma ocasião especial.

Encheu o copo outra vez. Depois tirou a aliança e ficou olhando para a mão. Uma aliança pálida e fantasmagórica permanecia na pele, onde, durante tantos anos, o ouro havia protegido a carne das vicissitudes da vida.

Essa marca desapareceria com o tempo? Ou ficaria ali até o último de seus dias, como uma cicatriz?

 "Não vá me dizer que você ainda ama o sujeito..." a pergunta de Lily pairava no ar.

Marlene tinha medo de saber qual era a resposta verdadeira, mas estava diante de uma nova encruzilhada, e só poderia seguir por um único caminho. Literalmente.

A aliança caiu no chão. Deu mais um gole na bebida e fez o que, para ela, era inadmissível: ela, Marlene McKinnon-Black — matadora experiente e profissional, coração de pedra —, deixou a cabeça cair entre as mãos e chorou.

[...]

James era meio lento para algumas coisas, mas naquela noite foi rápido no gatilho ao aconselhar o melhor amigo. Depois de ouvir toda a história em detalhes, repetiu "eu te disse" um milhão de vezes  e depois sentenciou:

— Apaga a mulher.

O moreno ouviu aquilo, ainda bufando de raiva, e imediatamente percebeu que não havia outra coisa a fazer.

— Isso mesmo. Você tem toda razão. Vou apagar Marlene - deu um soco no ar, a título de ênfase.

— Assim é que se fala, amigão - falou James — Agora está pensando com a cabeça, com a de cima. Ao contrário de quando se casou, eu bem que avisei.

Precisou afastar um pote de biscoitos, uma fatia de queijo cheddar quase podre e um vidro de mostarda aberto para pegar uma pistola automática sobre a bancada da cozinha. Pela primeira vez na vida Black ficou feliz por Potter ser tão desleixado.

— Vou levar isto aqui emprestado, pode ser?

O outro fez que sim com a cabeça, com total naturalidade, como se Sirius tivesse pedido para pegar um cigarro. Com a arma na mão, e pilhado de adrenalina, irrompeu porta afora.

Estava saindo em missão para matar a própria mulher. Mas alguma coisa no ar fresco da noite parecia dizer: segura a onda, cara.

Talvez fossem as estrelas. Talvez fossem as vozes em sua cabeça.

De um jeito ou de outro, ele não conseguia encontrar forças para atravessar o jardim de James. Ficou ali, parado, como se tivesse encurralado por uma espécie de cerca elétrica psicológica.

Estava cansado. Resignado, voltou para a casa e entrou.

— São quatro da matina - tentou se explicar, vendo James torcer os lábios — Amanhã eu acabo com ela.

— Tá certo, tá certo - ele concordou — Amanhã você acaba com ela. Já é tarde. - o de óculos tomou a arma das mãos do outro — Quer dormir aqui?

Sirius pensou em dizer "Não, vou dormir em casa", mas logo se deu conta de que não tinha mais uma casa para onde ir. Então aceitou o convite.

Subitamente tomado de uma exaustão física e mental, jogou-se num sofázinho surrado da sala, pequeno demais para lhe acomodar por inteiro. Potter pegou um cobertor, um cobertor de criança, bordado com gatinhos e vários arco-íris. Black supôs que tivesse sido dele um dia, pois notou que seu amigo relutou um pouco antes de entregá-lo.

— Boa noite, Jay - disse, desmaiando logo em seguida.

— Boa noite, Pads - respondeu.

Só então ele largou o cobertor e apagou as luzes.

Deitado ali — o cobertor cobrindo apenas metade de seu corpo —, pelejava para encontrar uma posição confortável quando sentiu um volume debaixo da cabeça. Passou a mão sob o travesseiro e começou a tatear. Por fim, encontrou uma automática calibre 45, aninhada debaixo da almofada do sofá. 

"Ah, James... como minha mãe costumava dizer, ele só não perdia a cabeça porque ela estava grudada no pescoço." riu consigo mesmo.

Bocejando, deixou a arma cair no chão e depois tentou se entregar definitivamente ao sono.

"Amanhã", prometeu a si mesmo, "amanhã eu cuido de tudo".

 


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