Ode aos desafortunados escrita por Angelina Dourado


Capítulo 38
O Nome e a Bruxa


Notas iniciais do capítulo

Tragam o bolo e as velinhas pois Ode aos desafortunados está fazendo dois anos de publicação!!!! E como uma tradição praticamente, aqui estamos com uma capa novinha em folha, dando destaque para certo personagem amado por todos aqui ♥ Quero agradecer a cada um de vocês leitores que estão acompanhando essa jornada maravilhosa, não importa se você veio logo no início ou se a recém apareceu aqui, cada um de vocês me ajudou a contar essa história que está se aproximando de seu final.
Sem mais delongas, o capítulo de hoje!



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Friedrich acordou sentindo-se estranho, com o peso de Loki sobre si, dormindo abraçado como um urso e roncando suavemente. Coçou os olhos para espantar a sonolência, sentindo uma fadiga anormal que o fez se questionar se estava de ressaca, mesmo que não tivesse bebido mais que um copo de vinho na noite anterior. Remexeu-se na cama para sentar-se, sentindo uma fisgada esquisita que...

Oh Deus, ele se deu conta.

 Percebeu por fim a pele do companheiro contra sua, da nudez dele por baixo dos cobertores, – ao contrário dele próprio que pelo menos tinha tido a decência de colocar os calções de volta – e ligando um ponto ao outro começou a relembrar da noite anterior e a completa perda de seus vinte oito anos de castidade.

  Levou uma das mãos ao rosto, completamente atônito, começando a tingir-se de vermelho conforme passava as lembranças em sua mente, o coração palpitando ansioso e o ar se fazendo insuficiente nos pulmões. Sentimentos intensos corriam por suas veias e sua mente entrava quase em colapso com tanta novidade e descoberta, ficando entre a ansiedade e euforia.

Nunca mais, definitivamente nunca mais! Pensou num surto de vergonha e pavor, cobrindo o rosto com as duas mãos agora, não sabendo como lidar com tamanho embaraço conforme as memórias tomavam sua cabeça. Não demorou a sentir novamente aqueles arrepios libidinosos enquanto pensava sobre o que haviam feito, sentindo-se entre a cruz e a espada, onde queria se esconder por toda a eternidade e ao mesmo tempo querendo reviver tudo novamente. Se bem que... Minha nossa!

Olhou para Loki dormindo em seu peito, acalmando-se por um instante e se deixando apreciar a figura tranquila do druida. Acariciou por alguns minutos de serenidade os cabelos ruivos e o rosto do companheiro, deixando por fim um beijo no topo de sua cabeça. Por mais que sentia pena em interromper seu sono, retirou o abraço de Loki com o máximo de delicadeza possível, constrangendo-se devido ao estado que ele se encontrava. – percebendo que mesmo depois da noite anterior ele ainda não conseguia se livrar tão cedo de todo seu puritanismo. – Mas por mais cuidadoso que foi, acabou acordando Loki que resmungou insatisfeito.

— Hm... Não sou contra acordar cedo, mas por que tu sempre exageras tanto? – Murmurou sonolento, os olhos entreabertos brilhando com o verde do início do dia, enquanto se colocava de barriga par baixo e apoiava a cabeça nos braços. Sentado do outro lado, Friedrich ficou a admirar tal visão tentadora por longos segundos, quase se esquecendo o que ia fazer, sendo notado pelo druida que lhe sorriu com malícia.

— É o costume. – Disse desviando o olhar sem jeito, logo sentindo Loki lhe abraçar por trás e beijando sua nuca, dando um arrepio em Friedrich que tentou não demonstrar tanto arrebatamento. – Eu levantava sempre ás quatro no mosteiro.

— Imaginei que pelo menos hoje ficaria mais tempo aqui. – Loki sussurrou instigante em seu ouvido, recostando o queixo em seu ombro e fazendo cócegas com a barba e cabelo contra a pele de Friedrich, percebendo o rosto do companheiro tornando-se rubro enquanto ainda permanecia em silêncio e desviava os olhos com timidez. – Está tudo bem? Pode me dizer se estiver incomodado...

— Sim, sim, tudo bem. – Respondeu rápido e arrumando o cabelo por puro nervosismo, visto que a franja simétrica era tão rente que dificilmente se despenteava. – Apenas... Acostumando-me com a... Ideia.

— Oh, certo. – Loki soltou um riso curto, retirando um dos braços da cintura dele e virando seu queixo para os olhos se encontrarem, dando-lhe um beijo casto. – Amo-te.

— Também o amo. – Friedrich sorriu, devolvendo-lhe um selar de lábios. Fitaram-se encantados um com o outro por um breve instante, contudo, sabiam que uma hora teriam de sair daquele quarto e prosseguirem a vida comum.

— Bem, é melhor vestir-me de uma vez antes que eu congele. – Loki disse matreiro, começando a caçar as túnicas pelo quarto e deixando Friedrich a sentir falta do calor de seu corpo. – Ainda há muito que ver por essas terras meu caro!

E quando o pensamento de que quiçá preferisse ficar naquele quarto o dia inteiro passou por sua mente, Friedrich soube por fim que já estava completamente perdido na tentação.

Deus me perdoe. Pensou, mas ficando surpreso ao notar que não havia tanta culpa quanto imaginou que teria.

                                                       ***

Aquele era um dia frio com o céu clamando por chuva através das nuvens a esconderem o sol, os fazendo se lembrar de sua cinzenta terra natal. Mas isso não impediu que eles continuassem explorando a cidade, prosseguindo em sua jornada atrás das mercadorias que buscavam, ainda mais agora que possuíam mais da moeda local.

— Nunca precisei de um mapa para me guiar antes. – Loki disse contrariado, enquanto Friedrich desenrolava o pergaminho em suas mãos, revelando um desenho detalhado e bem colorido da Europa e de uma parte do Oriente da qual havia adquirido.

— Tu não havias saído da Inglaterra até então. – Friedrich contestou, virando o mapa para o esconder de Loki. – Mas agora sabe me dizer que reinos fazem fronteira com a França?

— Er... Bavaria? – arriscou, recebendo um olhar sacana como resposta de Friedrich. – Certo, entendi o ponto. Agora me deixe ver isso... Ah certo, os Estados Germânicos...

— E Aragón ao sudeste.

— Deuses são muitas fronteiras... – Comentou chocado enquanto via aquela confusão de nomes e linhas contornando os países. – Pelo menos lugar para fugirmos é o que não falta no mundo.

— Não creio que há mais do que fugir Loki, estamos muito longe da Inquisição inglesa.

— Certeza? Pelo que já me explicou a Igreja Católica é uma só, seja de lá ou daqui. – Loki retrucou, olhando com desdém pelo canto dos olhos. – E mesmo que estejamos em um tempo de paz para nós meu caro, gente como nós nunca está em plena segurança. As lebres só vivem para fugir.

Um silêncio desconcertante se fez brevemente entre eles, enquanto o mapa era enrolado e guardado de volta.

Eles seguiram caminho pela cidade, conhecendo melhor as regiões mais pobres e menos renomadas de Paris, composta por feudos decadentes, ou simplesmente terras de ninguém abandonadas até mesmo pelo estado. Havia sido bom aproveitarem um pouco das melhores partes da cidade, mas querendo ou não, aquele não era o lugar deles e sabiam muito bem. Plebe só vive entre a plebe.

O dinheiro que receberam da família da senhorita River ainda na Inglaterra teria seu fim se não procurassem por mais trabalho. Já haviam gastado demais com as novas ervas e instrumentos que adquiriram, agora precisavam arregaçar as mangas e fazerem uso dos novos materiais em seu ofício.

Os pestilentos eram cuidados pelos hospitais já lotados da cidade, recebendo quase todo o cuidado dos médicos da peste e acabando por deixarem o resto da população carente. Nobres e comerciantes mais abastados podiam pagar a mais para um curandeiro ou médico particular virem até eles, mas o povo atolado na lama e nos tetos de palha ficava a mercê de algum barbeiro, uma parteira, ou qualquer outro que soubesse algo sobre as máculas que pudesse por acaso passar pela região para tratar de suas aflições. No princípio ambos haviam pensado em se voluntariar novamente como médicos da peste, mas logo perceberam que já havia ajuda o bastante para tal, – afinal, era o esperado de uma grande cidade como Paris, sempre atenta às epidemias que podiam se espalhar rapidamente em sua vasta população – sobrando trabalho no restante da cidade.

E como havia trabalho! Ao contrário das vilas pequenas que visitavam e muitas vezes não recebiam um único corte para suturarem, ali se viram muito atarefados. Por mais que nem sempre o povo tivesse condições de os pagar, acabavam por aceitar qualquer coisa como troca, fosse um prato de comida, um pedaço de tecido, lã e por vezes até caças. Por vezes dando um pouco de misericórdia aos realmente miseráveis e oferecendo o trabalho de benevolência, coisa que conseguiam fazer quando tinham mais trabalho nas costas para compensar seus gastos.

— Não cobrei pela mãe com o garoto de antes, tratava-se de um caso tolo demais. Pensava que era algum problema em sua pele, mas eram apenas picadas de pulga. – Loki declarou com um meio sorriso, enquanto contabilizavam no final do dia o lucro que haviam tido – e pensando o que raios que fariam com o galo dentro de um cesto que haviam recebido. – Mas eu me impressiono cada vez mais com os nomes daqui, não sei nem pronunciar direito o dele. Leie-Leible.-Leibele! Isso. Deuses como o francês é uma língua estranha!

— Oh, mas creio não ser um nome francês Loki, me parece judeu. – Friedrich retrucou.

— Sério? Ah, não sei dizer a diferença de toda forma! Estou acostumado é com ‘’Johnny’s’’ e ‘’Marie’s’’.

— Disse aquele com nome dinamarquês. – Friedrich alfinetou com um meio sorriso.

— Loki és dinamarquês? Interessante saber. – comentou intrigado. – Mas tu também não és um bom inglês ‘’Frederick’’, quando te vi quase o confundi com um germânico qualquer!

— Minha mãe sentiu-se um tanto inspirada com os nomes de alguns visitantes do nosso Lorde na época. Então ficou por isso mesmo por muito tempo, até eu ser ordenado e sugerirem para eu trocar de nome, eles queriam que eu me chamasse Ionas ou algo do tipo.

— Você trocou de nome?! – Loki indagou surpreso, pois nunca havia ouvido Friedrich mencionar isso antes.

— Não! Eu não quis fazer isso, preferi continuar a ser Friedrich. A maior parte dos monges realmente escolhe novos nomes, como os irmãos Adrian e Bernard fizeram, por isso eu sequer sei qual o nome de nascido deles! Porém, não é uma obrigação fazer isso, então alguns frades como eu e frei Aedan continuamos com o nome de batizo. Geralmente a troca é para simbolizar uma nova vida e uma nova pessoa que nos tornaremos, mas eu não queria ser outro, eu só queria... Bem, ser eu.

— Você não admite, mas é um rebeldezinho desde seu tempo de beato. – Loki disse matreiro, fazendo o companheiro rir e mostrar o vão entre os dentes da qual sempre achara um charme, sorrindo também de leve por um instante.

Mas o rosto do druida se tornou apático de repente, com uma névoa de melancolia a lhe nublar o olhar, deixando Friedrich intrigado do porquê de tal mudança súbita em suas feições. Pensou até em questionar, mas resolveu ficar quieto ao perceber nas entrelinhas que Loki refletia sobre alguma coisa em especial.

Enoch. – Loki disse de repente com o rosto impassível, levado os olhos até o parceiro.

— Que quer dizer? – Indagou confuso.

— É meu nome cristão. O que me deram quando fui... Obrigado a me batizar. – Loki contou ficando com um semblante abatido, os olhos perdendo a cor viva e parecendo se tornar apenas o fantasma do que verdadeiramente era ao ser assombrado por aquelas mesmas lembranças de sempre. Friedrich entreabriu os lábios, surpreso com tal revelação. – Nunca comentei disso para ninguém, visto que obviamente nunca abandonei minha própria identidade. Nem sei por que estou contando isso agora para ser sincero, acho que só pelo assunto ser pertinente... E por ser para você. É irrelevante de toda forma, mas por vezes a lembrança me pesa ao pensar que me sujeitei a isso, mesmo que para minha segurança.

Friedrich sentiu-se comovido, tendo de conter a vontade de abraçá-lo afetuosamente e dizer que tudo estava bem agora e do quanto o amava mais que tudo. Mas naquele instante, tudo o que tinha para usar eram suas próprias palavras, onde apesar de sempre ter sido bom com elas, por vezes as perdia no meio da emoção que o envolvia na presença de Loki.

— É um belo nome. Mas não é você, Loki. – declarou com um sorriso doce. – Vejo que desde cedo tu nunca deixastes que uma rédea fosse posta em ti, mesmo que tentassem. Isso é admirável.

Loki levantou os olhos para ele, conseguindo ter um esboço de tranquilidade em seu semblante antes tomado de maus pensamentos.

— Obrigado, meu caríssimo Friedrich. – sua expressão matreira de sempre retornou ao rosto sardento, acalmando o espírito do companheiro ao vê-lo bem. – Mas devo admitir que realmente tens cara de Ionas, iria combinar ainda mais com sua cristandade.

Friedrich revirou os olhos com a afirmação, mas virando o rosto para que Loki não visse o riso que tentava esconder dele.

Permaneceram por mais tempo pelas ruas do que costumavam, mas isso se dava principalmente pela cidade ser bem iluminada, onde mesmo nas regiões mais carentes era possível se encontrar fogueiras e tochas aqui e acolá. Apesar do perigo das ruas de uma grande cidade, ainda mais naqueles tempos difíceis, como bons andarilhos que eram eles logo souberam em quais pessoas confiar para guiá-los pela região. Com Loki até tendo um pequeno colóquio com uma velha parteira que oferecia algumas ervas á um preço muito mais em conta do que na Cité.

— Não dá para enganar alguém que sabe o preço verdadeiro de um louro. – ele comentou indignado, enquanto contava as folhas oferecidas em um pequeno saquinho. – Eu sabia que não estava errado ao não comprar dos mercados.

 – Ah meu filho, um bom bruxo sempre tem os seus feitiços decorados. – A velha mulher, que se apresentara como Eulalie, disse com um sorriso atrevido, fazendo o druida erguer a sobrancelhas de surpresa, mas respondendo silenciosamente com seu próprio olhar de vigarista. – Não é difícil ser enganado, mas é fácil enganar.

— Minha mãe sempre me disse para ouvir as palavras das mulheres mais velhas, guardarei tuas palavras minha senhora. – Declarou cordialmente, sentindo uma grande simpatia pela camponesa.

— Foi um homem bem educado então. Mas deseja conhecer um conselho ainda melhor? – Eulalie indagou, com os olhos esverdeados parcialmente escondido pelas rugas da idade faiscando como um lume entre a penumbra, chamando ainda mais a atenção do druida que se aproximou um pouco mais para ouvir os sussurros da velha. – Se te perseguirem um dia, lembre-se que é por que tu os apavora.

Um sorriso misto de surpresa e euforia se formou de forma solene no rosto de Loki, compartilhando com Eulalie um olhar cumplice no segredo da noite. Pela primeira vez em muito tempo Loki sentiu-se pertencente a um grupo, mesmo que muito pequeno e espalhado por cantos variados do mundo, ele não estava mais tão sozinho quanto um dia imaginou. Quiçá a velha bruxa sequer dividisse as exatas mesmas crenças que ele, mas apenas o vislumbre de mais uma quebradora de normas já era o bastante para satisfazer sua vontade de encontrar-se em outros rostos.

Se pudesse, teria passado horas e dias apenas conversando com ela, feito tantas perguntas e ouvindo suas histórias. Mas assim como apareceu em seu caminho, Eulalie foi-se quase como um sopro, tomando seu rumo quando ele por um breve instante se pôs a guardar os mantimentos em sua sacola.

Seguindo o próprio caminho, Loki retornou até o companheiro. Friedrich estava sentado em alguns caixotes, enquanto observava calmamente uma criança cigana animada a lhe demonstrar os truques que sabia fazer com cartas, mas ao notar sua aproximação, abriu aquele sorriso torto que raramente mostrava, derretendo o ruivo por inteiro como uma massa de sílica antes de tornar-se vidro.

— Pobre homem, parece exausto! – Friedrich exclamou lhe apertando o ombro levemente com ternura.

— Isso não é de todo ruim, quer dizer que o dia foi produtivo. – Loki respondeu com um meio sorriso.

— Parece algo que eu ouviria de meu abade se reclamasse do trabalho. Mas compartilho do mesmo espírito, e noto que tu estás de bom humor. – Declarou plácido, enquanto percorriam as ruas mais maltratadas de Paris de volta para a hospedaria em que se refugiavam.

Chegaram ao quarto dando suspiros de alívio ao tirarem as sacolas dos ombros e finalmente descansarem as pernas. Loki desabou no colchão com o manto de inverno e tudo, sentindo a dor do esforço percorrer toda a extensão de suas costas. Mas estava satisfeito, gostava de se sentir útil e estar na ativa, apenas não apreciava tanto o ambiente das grandes cidades. Por mais que havia se sentido encantado nos primeiros dias, Loki já começava a se sentir deslocado em meio ás grandes torres, o barulho constante e o cheiro pútrido das ruas. Sentia falta dos bosques.

Deixou-se levar pela preguiça por um breve instante, observando o companheiro sempre tão meticuloso. Friedrich andava para lá e para cá, dobrando e guardando roupas, acendendo as velas e conferindo as contas. Observava seu olhar amável e gestos cuidadosos como a maior preciosidade da terra, pondo-se a pensar quando foi que havia estado tão feliz antes. Desejava congelar aqueles instantes em um inverno eterno, temendo que um dia os deuses o castigassem mais uma vez tirando-lhe tudo que amava mais uma vez. Dos pensamentos amenos, logo se tornou um homem melancólico mais uma vez. 

— Tire essa roupa imunda antes de deitar-se, tens de bater para tirar as pulgas da rua. – Friedrich frisou, tirando-lhe de seus pensamentos tempestuosos. Loki não contestou ou fez qualquer comentário, apenas retirou os sapatos e o manto em silêncio, esperando pelo companheiro aprontar-se antes de esticar-se para puxar a túnica de Friedrich e lhe chamar a atenção. – O que foi?

— Venha aqui. – Declarou dengoso, pendendo a cabeça para o lado e dando um sorriso curto para convencê-lo. Friedrich o olhou de forma presunçosa por um momento, mas acabou cedendo ao seu colo. Devido à diferença de altura, Friedrich encaixava-se um tanto desajeitado em Loki, mas era apenas o druida envolvê-lo com os braços robustos e arrumá-lo em suas coxas firmes de andarilho para ficarem plenamente confortáveis um no outro.

— Está apenas carente ou há algo em particular a lhe deixar sentido? – Friedrich indagou, já conhecendo o companheiro o bastante para perceber as entrelinhas de seus pensamentos escritas em suas sardas.

— Um pouco dos dois creio eu. – Loki deu um riso seco, olhando para Friedrich com os olhos de gato a faiscarem no breu do lugar pouco iluminado. – O fato de tudo estar tão bem me faz pensar sobre todos os empecilhos e perigos que já passamos e me indagar se algum dia nós teremos paz. Eu queria tê-lo conhecido num lugar melhor, em outra era, até mesmo em outro mundo. Não no meio de tanta dor a nos assombrar, tomados pelo medo de ser descobertos, da angústia de não saber o que será de nós no próximo dia. Eu gostaria de usar todo o vigor que tiro para meramente sobreviver para lhe demonstrar mais todo o carinho que sinto por ti, poder lhe abraçar e beijá-lo a todo momento e ouvi-lo contar tuas ideias e histórias sem pressa alguma. Quero me sentir finalmente seguro, que tu te sintas seguro.

Abraçou o amante com ainda mais força e desvelo, recostando a face em seu peito a ouvir as batidas de seu coração, se inebriando no aroma suave de Friedrich e desejando imensamente permanecer na segurança daquele abraço pela eternidade. Sentiu-o lhe tocar os cabelos, acariciando os fios ruivos com ternura, e depositando um beijo no topo de sua cabeça.

— Seria encantador, Loki. Mas ainda sou imensamente grato todos os dias por tê-lo aqui e agora, mesmo no meio de todas as intempéries em nosso caminho, sei que só em tua companhia eu pude chegar até aqui e ser quem eu verdadeiramente sou. E por mais difícil ou terrível que seja o nosso fardo, eu já não temo qualquer desafio que temos de enfrentar, não enquanto estou ao teu lado. – Friedrich declarou com candura enquanto acariciava suavemente o rosto do druida, emaranhando a barba ruiva em seus dedos, conseguindo por fim tirar um sorriso do rosto melancólico do parceiro.

— Desse jeito me tornará em alguém esperançoso feito tu. – Loki disse dando um leve aperto na cocha do companheiro, os olhos faiscando feito pedras preciosas no meio das sombras. – Começarei a pensar em construir uma cabana no meio da floresta só para nós dois. Onde não terá quaisquer lamúrias a nos perseguir.

— Quem sabe quando não houver mais a peste e pudermos volta á Grã Bretanha. – Friedrich falou de forma sonhadora, tocando suas frontes e prosseguindo com seu vício de remexer as madeixas do outro. – Não importa onde e como estivermos, ainda sei o quanto afirma teu amor a todo instante, não precisando de uma única palavra a mais, e assim lhe demonstrarei minha paixão.

Friedrich enroscou os braços ao redor do pescoço de Loki, encontrando os lábios em um beijo longo e apaixonado, fazendo-os perderem a noção do tempo e os selando naquele espaço onde só havia o encontro de suas almas apaixonadas.

— Pensei que estivesse cansado... – Friedrich sussurrou contra os lábios de Loki ao sentir as mãos travessas do druida subindo cada vez mais por suas pernas e erguendo sua túnica.

— Fiquei animado inesperadamente. – Loki respondeu com seu sorriso vigarista, percorrendo com a ponta do nariz o pescoço do amante e atiçando-o com alguns ósculos. – E quanto a você?

Friedrich já sentia o desejo de Loki embaixo de si, ficando enrubescido e com a pele cada vez mais quente, completamente a mercê dos encantos do outro e do anseio da volúpia a lhe tomar o corpo, o correspondendo com mais um beijo intenso a estremecê-los.

— Sinto que abrimos uma caixa de Pandora... – Sussurrou sedento entre as carícias. E por mais que Loki não entendesse o significado daquilo, gostava de seu tom entregue.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam e nos vemos no próximo capítulo!



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