Como Domar o seu Eu Interior escrita por Tyr


Capítulo 6
Tomo I - Amanhecer




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Os primeiros raios solares banhavam os seus arredores de dourado, quebrando o longo crepúsculo, indicando a hora já avançada para os padrões do inverno nórdico, no qual a noite se fazia presente em grande parte do dia. Ao se despontar o sol, há muito já havia nas ruas, trabalhadores de todo o tipo, correndo pra lá e pra cá, se dedicando aos seus afazeres diários, de todo tipo, em todo canto.

O porto, principalmente, era ocupado de diversas tarefas, possuía grande movimento, era pra lá que a maioria das pessoas se dirigia, era de longe um dos estabelecimentos de maior importância na ilha, era a conexão de Berk com o mundo! Bem, pelo menos era até poucos anos atrás, os dragões passaram a ser não só grandes companheiros, mas facilitaram imensamente a locomoção de cada viking que os adotava. Mas ainda havia grande parte que preferia os métodos convencionais, o bom e velho barco de madeira, flutuando sobre a imensidão do oceano. 

Grande parte eram aqueles que utilizavam apenas o método antigo nas outras ilhas, por mais que já haviam se passado em torno de cinco anos da paz firmada com os dragões, ainda não havia um consenso geral sobre isso no arquipélago, por certo, a maioria tinha parado de atacá-los, pois afinal, após a derrota da 'Morte Rubra' não houve mais ataques às vilas. Mas, era isso. Nada ia além disso, eles pararam de os atacar, e então, chegaram a conclusão de que estavam em paz.

Os anos se passaram, e as histórias passaram a ser contadas, em partes, sobre o que aconteceu. Muitas eram as fantasias inventadas de um grande salvador que com apenas suas mãos havia escalado a montanha dos dragões e derrotado a grande rainha escamosa! Ou então, que um viking de três metros de altura montado no seu dragão gigante haviam sozinhos, vencido a 'Morte Rubra'. Absurdos como esses eram comuns numa época em que a comunicação era incrivelmente lenta, mas por mais estranho que parecessem essas histórias, começou a surgir na imaginação popular, a ideia de um homem além das concepções humanas, alguém com poderes excepcionais, que havia derrotado o mau, salvado a população dos seus sofrimentos! Não apenas uma vez, mas duas! Drago também tinha sido derrotado por esse grande salvador. 

Mas quem afinal, era essa pessoa?

Por motivos além da compreensão de um observador qualquer, no último ano corrido, começava a se falar de um nome que possuía tanto poder e tanta tendência ao bem, um nome na boca de todos que com certeza qualquer um facilmente louvaria como seu mestre, afinal, tal nome havia salvado a pele de todos duas vezes! Não era qualquer pessoa com certeza, tinha que ser alguém com um porte que honraria o nome de todos os vikings. Se sussurrava entre vizinhos, entre soldados, entre chefes, que o salvador era um tal de Stoico.

Stoico, o imenso.

E ninguém se importou de ir até Berk para averigurar a história. Stoico mereceria toda a glória, e ponto final.

Um pequenino detalhe que os mensageiros não se importaram de contar à Soluço III na hora de lhe comunicar como estavam os ânimos políticos no arquipélago, não era seu nome que soava "majestático" na boca dos povos, mas sim o de seu pai.

x

O barulho corriqueiro do alto ponto do dia, geralmente abafa qualquer som que possa ligeiramente incomodar ao viking qualquer que esteja passando, em qualquer lugar que seja. Tal som era composto de altas batidas de um punho contra uma porta de madeira, repetidamente, a dona desse punho provavelmente não estaria muito feliz naquele dia, ou com muita paciência, pois a propagação dessas batidas não estavam sendo abafadas, definitivamente não.

Soluço estava, estranhamente, ainda em sua cama. Nem os contínuos murros contra sua porta o fizeram despertar. Seu corpo estava tão cansado, seus olhos tão pesados, que sua consciência havia adotado os barulhos das batidas como parte do seu sonho, de alguma maneira o som repetido fazia sentido em algum lugar de sua mente.

Banguela estava acordado havia tempos, suas patas sobre seus ouvidos, não aguentava mais toda aquela barulheira. Levantou-se preguiçosamente, andou até seu dono, colocando sua cabeça sobre o lado da cama, e o empurrando gentilmente para o chão, sem piedade.

"AI! Banguela!", disse Soluço, meio que involuntariamente, agora no chão, e desperto, enrolado com seu cobertor. "Não o jeito mais amigável de dizer bom dia". O dragão apenas respondeu com sua risada habitual. "Hahá pra você também". Olhando em volta, aos poucos se situando, levantou, se livrou de seu cobertor, e se deu conta de uma batida insistente em sua porta.

"Já vou! Já vou!", gritou, enquanto encaixava sua perna protética no lugar.

"VALKA!" Berrou lá de baixo uma voz conhecida, nada feliz, enquanto o viking descia as escadas. Não pode deixar de estranhar o porquê dessa voz estar chamando sua mãe e não ele.

Abrindo a porta deu de cara com Astrid, com Tempestade ao fundo, deitada na grama. Por mais nervosa e a ponto de explodir de raiva que estava, por ter esperado tanto tempo para que a porta fosse aberta, Soluço estava feliz em vê-la.

"SOLUÇO! Isso são horas? Não me diga que estava dormindo até essa hora? O que está pensando? A vila inteira está perguntando onde está o chefe deles!".

"Oi Astrid, eu...", ela não esperou que Soluço a chamasse para entrar, passou por ele, entrando na casa.

"Se apresse, temos muito o que conversar. O dia já começou muito bem...", disse ela, não esperando que ele terminasse seja lá o que fosse que iria falar. "Alias já começou há muito tempo", Soluço, dando as costas rapidamente para Astrid, olhando ligeiramente para tempestade, fechou a porta, e se virou novamente.

Ela estava furiosa. 

"O conselho decidiu se reunir hoje cedo", continuou ela a falar, pegando uma maçã que estava sobre a mesa. "Tinham matérias importantes para discutir que não poderiam esperar o chefe deles, que, no momento não se encontra em sua casa, e sim, na floresta, fazendo o que for de importante, enquanto que, eu, batendo desesperadamente na porta por em torno de dez minutos, estava procurando por Valka". Deu uma ênfase particularmente grande nas últimas frases, dando uma mordida na maçã, continuou.

"Mas eu..." tentou responder ele, enquanto recebia um olhar ameaçador.

"Você devia ter mais responsabilidade Soluço", ela não estava nem um pouco feliz, havia tempos que Astrid já demonstrava ser muito mais madura e preparada para o cargo que ele ocupava, admitiria isso, mas não poderia simplesmente se livrar do peso da posição que possuía.

Depois da pausa que ela havia feito para mastigar sua maçã, terminou sua repreensão.

"Não somos mais apenas chefes de uma base no meio do nada, com responsabilidades apenas para com nós mesmos, tudo mudou Soluço". Sua voz se encontrava num tom muito mais doce ao terminar a última frase, ela entendia tudo o que ocorria com o jovem chefe, pois também vivia sob a mesma situação, estava tão confusa quanto todos, mas sua personalidade não a deixava demonstrar.

"Tudo bem! Está certo!", falou Soluço, mostrando suas mãos em sinal de paz, ou talvez desistência. "Desculpe Astrid", por um momento parecia que era tudo o que possuía a dizer, o que foi seguido imediatamente de uma sobrancelha arqueada por parte dela, enquanto o observava em silêncio, comendo a fruta que estava em suas mãos.

Não havia realmente uma boa desculpa para ter faltado tanto com a responsabilidade no amanhecer de hoje. Seu pai estava sempre de pé, não importasse a hora que tivesse ido dormir, no raiar do dia, lá estava ele, impondo a sua figura imensa e imponente sobre todos. 

"Por mais que não pareça, eu estou sim, preocupado em ser chefe", não pôde conter o sorriso, a conversa tinha de ficar mais leve. "Eu queria reunir algumas pessoas, você inclusa, para me ajudar a discutir sobre um assunto, muito importante, que chegou até mim, ontem", o silêncio dela o fez continuar. "Alguns mensageiros chegaram até a ilha, não eram apenas mensageiros, eram pessoas importantes que possuem algum cargo de liderança nas ilhas mais importantes do arquipélago, eu não duvido que sejam até os próprios chefes, eu não os conheço mesmo..."

Astrid estava com o cenho franzido, sua atenção total nas próximas palavras que seriam ditas. "E me fizeram uma proposta, bem, é uma longa história, mas não vou fazer cerimônia para falar, eu queria juntar você, minha mãe e o Bocão para que me ajudem a decidir...".

"Não faça cerimônia, apenas diga".

"Bem, basicamente eles querem que eu seja o rei deles".

Os olhos da viking que estava em sua frente pareciam por um momento passar do sentimento de descrença à total surpresa.

"O quê?", gritou ela. "Rei de quem?".

"Do arquipélago inteiro".

"Que tipo de proposta é essa?", indagou, incrédula, andando ao redor da casa enquanto ele se sentava em uma cadeira que se encontrava perto da escada que levava ao seu quarto. "Quem, que chega, oficialmente, do nada, sem nem ao menos nos conhecer, e pede para que você seja rei? Isso é absurdo! Rei de um reino que não existe?".

"Pelo que eles me disseram, o reino seria todo o arquipélago, o centro sendo Berk, os detalhes serão discutidos com o Conselho, mas depende de minha palavra". Os olhos de Astrid continuavam descrentes.

A mente da jovem guerreira não se podia dizer que era romântica quanto aos fatos. Era prática, sem dúvida. Em sua mente não se passava, no momento, a possível glória da ilha ao se tornar o centro de um reino, mas sim, o enorme fardo e o peso sobre as costas de um chefe inexperiente, um conselho sem muito conhecimento político, o ouro escasso, enfim, já havia uma infinidade de problemas em uma ilha minúscula como Berk, por acaso queriam multiplicar esses problemas por mil?

"O que diz o Conselho sobre isso?"

"Astrid, isso tudo aconteceu ontem, não tivemos tempo de conversar", respondeu ele, igualmente pegando uma maçã da cesta que se encontrava no centro da mesa, afinal, não poderia começar o dia sem ingerir qualquer coisa que pudesse dar energia.

"E Valka onde está? Ela sabe disso?".

"Não sei. Ontem a noite quando cheguei ela não estava em casa, você a viu hoje?".

"Não", respondeu simplesmente, pensativa. Sentou-se na cadeira que se encontrava ao lado dele, rescontando sua cabeça levemente sobre o ombro de Soluço, soltou um longo suspiro. "Ah soluço...", o observando enquanto comia sua maçã, igualmente pensativo. "Será que vai ter algum dia em que vamos nos ver livres desses problemas?".

Nenhum dos dois se deu o trabalho de responder, apenas sabiam, que tal é a vida, e se não fosse, estariam condenados à um tédio eterno.

x

Valka estava cansada. 

A imensidão do mar que ao seu redor se projetava, agora banhada pela luz do sol, já não a impressionava mais. Estava voando havia muito tempo! Perdera a noção! Apenas sabia que o sol tinha raiado fazia algumas horas. Soluço já deveria estar acordado, com certeza, afinal o chefe tinha que ser o primeiro a se levantar.

Ostentando sua velha armadura que cobria e tornava incógnita sua identidade, apenas se segurava ao Pula-Nuvem, seu corpo já há muito cansado da longa viagem, não obedecia mais de tão bom grado, sua mente a mantinha acordada para a razão da sua jornada. Tinha de se manter focada!

Mal havia visto os mensageiros surgirem na costa de Berk, correu ao seu dragão e colocou-se em viagem. De longe é possível confundir e pensar até que Valka estava de alguma forma ligada aos mensageiros. É o que de longe, alguém diria.

Não estava ligada à eles. Apenas iria contribuir imensamente para que desse certo o que eles queriam. Definitivamente não confiava neles, mas sabia da movimentação que ocorria para que esse reino surgisse, o movimento não era deles, e se ela corresse e conseguisse chegar onde queria, talvez tiraria da mão desses ditos mensageiros, a glória de criá-lo. 

E afinal, por que não? 

Se ela já havia feito, sozinha, tanto pelos dragões, lutado por tantos anos para que se fizesse justiça àqueles que os faziam mal, imagina o quanto não poderia ser feito se Berk tivesse tal poder!

Em sua mente apenas um pensamento lógico já contribuiria muito para que esse reino acontecesse, se os dragões haviam seu rei, por que não os humanos de sua terra?


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Notas finais do capítulo

Eu espero que estejam gostando! :)



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