Como Domar o seu Eu Interior escrita por Tyr


Capítulo 7
Tomo I - Entardecer




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O crepúsculo que se abatia sobre Berk levava consigo o brilho que resplandecia sob sua luz, mas com certeza não levava a beleza da ilha. O pôr do sol, distante no horizonte, tingia a todos de vermelho por alguns instantes breves, antes de sumir repentinamente pelas nuvens escuras que instavelmente e frequentemente fechavam os céus do inverno nórdico. Estava, porém, com seus dias contados, a neve passara, aos poucos, a descongelar, a temperatura estava ligeiramente mais quente, isto é, para os padrões daqueles que estavam acostumados a viver com gelo por todos os lados, quem, se não eles, seria capaz de notar a diferença do clima, quando este sobe de quinze graus negativos para apenas cinco graus abaixo de zero!

Não possuiriam eles, ainda, as medidas e tecnologia necessária para que se medisse tal mudança, mas suas peles, que sofriam constantemente com o frio, haviam aprendido a detectar o clima mais quente, tal qual um sedento em busca de àgua, a pele, rosada pelo frio, buscava por calor.

Calor esse que era possível de se sentir por detrás das portas das casas aconchegantes e cuidadosamente preparadas para o frio, agora que, não haviam mais ataques de dragões, há tempos, não havia o porquê de não se investir em moradias mais arrumadas. Mas nenhuma casa conseguiria superar o calor das discussões que vinha das portas do Grande Salão! As pessoas não haviam ainda sido informadas sobre o que estaria prester a acontecer, mas sentiam no ar, uma certa apreensão dos seus poucos políticos. E de seu jovem e inexperiente chefe. Calor e apreensão, era esse o ar que soprava de cima da escadaria para a vila abaixo.

x

Spitelout Jorgenson estava cansado. Miseravelmente exausto. Depois de uma caminhada mais do que gigante até que ele finalmente encontrasse a casa de Hoark, não havia descansado muito, apenas algumas poucas cochiladas, entrecortadas pelas discussões com os mensageiros sobre o futuro de Berk. Basicamente, já estava tudo decidido. Ou aconteceria do jeito que eles queriam, ou eles fariam acontecer do jeito que queriam.

E Spitelout iria contribuir para isso.

Afinal, o que tinha de errado nisso? Soluço era um chefe fraco. Pensava spitelout, servia para suas aventuras milaborantes com os dragões, explorando os mares infinitos, mas além disso, para quê? Nos primeiros meses que poderia finalmente assumir a tão sonhada posição de chefe, ele simplesmente recusa! Algo Impensável!

Ah! Como seria melhor para Berk se seu filho assumisse como chefe! Deveria ter sido o Melequento a derrotar a Morte Rubra, e ter ele assumido desde então a posição como futuro chefe. A vida, porém, nem sempre satisfaz o desejo de todo mundo.

Não seria muito difícil manipular a opinião de todos contra Soluço, calculava ele. Certo está de que ele era o dono do Fúria da Noite, e também foi ele que derrotou o dragão-montanha gigantesco, mas além disso, o que ele fazia? 

Não saberia responder de maneira satisfatória o velho viking. Mas também não procuraria saber o que fazia Soluço.

Repassava mais uma vez na cabeça tudo o que havia sido discutido, esses mensageiros na verdade eram filhos de chefes, generais, e pessoas com alto cargo dentro das ilhas de onde vinham, essas ilhas eram realmente importantes no arquipélago, não seria loucura que elas podiam se juntar à Berk e formar um reino, com as ilhas menores ao redor sendo quase que forçadas a fazerem parte, era até uma ideia que à Spitelout agora soava muito boa! Inclusive, já haviam discutido animadamente todas as preparações, iriam formar um grande Conselho na capital, que seria Berk, sendo suas reuniões feitas diariamente no Grande Salão, onde cada ilha poderia mandar três representantes, seriam então, pelos seus cálculos, algo em torno de sete ilhas, por enquanto, que iriam se juntar à causa, teriam ao todo, de representantes... Bem, deixemos esses cálculos para outras pessoas mais versadas em números.

Afinal, matemática não era o forte do velho conselheiro.

Impressionante era ver o quanto Bocão também estava animado com a ideia, ele havia sido um dos que recebeu a possível formação do reino como algo horroroso e sombrio. Bem, Spitelout não havia de todo concordado com a ideia dos mensageiros até ontem. Mas, digamos que eles sabiam exatamente como convencer alguém, seu bolso estava cheio de moedas de ouro agora, era isso que importava. Se era pelo bem de Berk, que seja!

Sorria o membro do conselho recostado em sua cadeira, repousando em silêncio, sozinho, em uma cadeira ao fundo, após mais uma longa discussão na mesa do conselho sobre as preparações. Haviam novamente deliberado de portas fechadas, mas não poderiam manter as portas fechadas para sempre, as pessoas com certeza já estavam desconfiando de que algo estava errado.

Seus olhos quase o traíam e se fechavam para um merecido descanso, enquanto que trazia à sua boca mais um gole do copo de hidromel que descansava em suas mãos. Estavam discutindo coisas importantes sim, mas o que tem? A bebida o ajudava a ficar acordado, ou talvez não, talvez só aumentasse seu sono, mas não ligava mais, depois de três sessões do Conselho de aproximadamente uma hora cada uma, nada mais importava. Ah! Adeus à simplicidade de Berk!

"Ahem", fez Soluço adentrando o salão e parando ao centro da grande mesa redonda com a fogueira em seu meio, atraindo a atenção de todos os olhos espalhados em cantos aleatórios pelo salão. 

Ah sim, haviam convidado o chefe dessa vez. Pensou nada animado Spitelout, se levantando muito lentamente e se dirigindo à sua cadeira, fazendo o mesmo os outros membros que haviam se espalhado pelo lugar durante a pausa.

Sentou-se ao lado direito do chefe, com os membros do Conselho normal de Berk ao seu lado, e à sua frente, do outro lado do fogo que crepitava no centro, se encontravam os mensageiros.

Estavam todos silenciosos, com vários papéis em suas mãos, planos e mais planos, Spitelout guardaria tudo em sua mente, não precisava de papéis!

"Declaro aberta a décima nona sessão secreta do Conselho de Berk", pronunciou o jovem chefe se sentando na cadeira que se encontrava na ponta da mesa, muito menos tímido e aparentemente mais decidido agora, notou divertidamente o conselheiro. "Que, aliás espero ser uma das últimas sessões secretas? O povo tem que saber o que a gente conversa por aqui", disse o jovem chefe, que gerou troca de olhares entre os membros. 

"Senhor Soluço, temo ainda ser muito cedo para dar essas notícias à seu povo", levantou-se e falou rapidamente um dos mensageiros, se sentando logo em seguida.

Essa tradição de se levantar toda vez que fosse dizer alguma coisa era algo decididamente estúpido, pensou, agora com a mente já um pouco entorpecida pela bebida. Não estava a fim de levantar toda vez que fosse falar, estava cansado!

Continuaram a seu redor a levantar e discutir sobre temas qualquer, não estava com a mente em ordem para mais uma discussão, iria ficar quieto. 

Olhou através do fogo enquanto um mensageiro se levantava para falar de algum tema aleatório como representantes das outras ilhas, não importava. O que importava agora para ele era que estava começando a decorar seus nomes, aos poucos! Aquele que acabara de se levantar era o que tinha todo o plano já traçado havia algum tempo, o nome dele, tentaria lembrar enquanto esforçava seu cérebro para achar a resposta.

Hakon Einarsson! 

Era esse o nome desse mensageiro! Era aparentemente o líder deles, e filho do chefe da ilha de Driva, de longe a mais importante. Era um homem alto, loiro de cabelos longos, de olhos verdes, seu porte e sua maneira de falar era a de alguém muito bem instruído. Ao menos era o que parecia à Spitelout. Ao menos ele sabia contar, e muito bem, aliás.

Ouvia parcialmente e distraidamente seu discurso. Nada tinha a acrescentar ou dizer a mais. 

Ouvia outro, e outro, e outro.

As horas se arrastavam na frente do velho e cansado conselheiro que daria tudo por ser liberado dali, embora sabia que não poderia por motivo algum inventar uma desculpa para sair daquele esplêndido recinto. Ou poderia? 
'Hum', pensou Spitelout, franzindo o cenho, procurando algo para dizer a todos, quando de repente, um assunto em particular passou a chamar a sua atenção ativamente.

"..., portanto proponho eu, que se vote então, Soluço, como chefe de facto de Berk, e que o Conselho passe as suas funções regulares", terminou seu pronunciamento Hakon, se sentando.
Spitelout arregalou os olhos, dirigindo-os para o seu chefe. Que pareceu um pouco espantado da maneira com que olhou para ele, bem, não importava. Fora pego de surpresa!

Levantou-se repentinamente, acabara de preparar o discurso mais maravilhoso de sua vida, mesmo porque teve de elaborá-lo em cinco segundos, qualquer coisa que saísse disso tinha que soar maravilhosamente aos ouvidos de todos.

Com todos os olhos sob sua figura levantada, preparou-se para começar a falar, respirou fundo, não estava nervoso de repente, claro que não!

"Nós somos os regentes, porque o... novo, digo, chefe... não queria começar a ser chefe", parou, não fazia sentido o que estava falando, o olhar reprovador de Hoark já dizia tudo. "Enfim, o que eu quero dizer é... vamos votar", e se sentou. Discurso maravilhoso de fato, pensara ele. Por mais que não quisesse que Soluço virasse chefe, não estava em condição de dizer isso agora.

Soluço apenas o encarava com uma sobrancelha arqueada sem entender muito bem. "Bem..." disse estranhamente o chefe. "Quem está de acordo com eu me tornar o chefe de facto da ilha, a partir de agora, que levante a mão".

Todas as mãos foram erguidas, menos a de Spitelout. Não queria que Soluço fosse chefe, não queria! Ele não seria um bom chefe e não vai ser um bom rei do novo reino. 

"Viva o nosso chefe Soluço III!", disse bocão repentinamente e alegremente. O que foi seguido por alguns 'vivas' dos presentes. Então era isso, Soluço era o novo chefe, oficialmente.

"Bem...", começou a dizer timidamente o novo chefe de facto. "Meu primeiro ato de chefe vai ser de terminar a sessão de hoje, vejo que estão muito cansados, a sessão de hoje está terminada." 

Ah! Finalmente! Soluço começou a agir sabiamente, pensou Spitelout. 'Viva Soluço III' pensou ele, mas não daria o braço a torcer de saudá-lo com um 'viva'. Levantou-se e se dirigiu cambaleando às portas do grande salão.

Empurrando as grandes portas, saiu pro ar gelado do começo da noite, finalmente livre do ar quente e massante do Salão. 

Descobriu então o que Soluço fazia, pensou com um sorriso divertido, e o apoiaria todas as vezes que terminassse as sessões mais cedo. 


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Notas finais do capítulo

Demorei mais pra postar este, mas aqui está! Espero realmente que gostem e estou sempre aberto a sugestoes, criticas etc! :)



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