Como Domar o seu Eu Interior escrita por Tyr


Capítulo 15
Tomo I - O Sonho




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Confusão. 

 

Era o que podia definir o que sentia o jovem Soluço.

Acabara de acordar, e lentamente, se levantava inspecionando curiosamente os seus arredores, que agora tão diferentes se apresentavam aos seus olhos. Cada pedra, cada árvore parecia brilhar quase por si própria, mas ao mesmo tempo, estavam tão comuns como elas deviam ser no seu dia a dia rotineiro.

Não era algo assustadoramente estranho, mas algo não estava tão certo como devia estar. 

Suas botas esmagavam pequenos gravetos que cobriam o chão da floresta, estava escuro, mesmo sob o que aparentava ser o pico mais alto do dia, a floresta estava muito escura. Árvores gigantescas cresciam por todo o lado, e suas copas, que eram verdadeiramente belas, encobriam tudo o que havia abaixo, impedindo qualquer luz de chegar à qualquer ponto do chão à sua frente. 

Seu olhar se voltava para cima enquanto caminhava a passos cuidadosos, examinando cada árvore com atenção. Sua curiosidade sendo talvez tão grande quanto o medo. Afinal, que lugar era aquele? Nunca havia visto um lugar parecido, tão incomum e tão belo.

Foi então que percebeu que não lembrava de nada antes de acordar. 

Chegando à conclusão que não muito mais podia fazer, continuou a caminhar. A iluminação era realmente escassa, mas de alguma forma ele simplesmente sabia por onde andar, se sentia seguro como talvez nunca havia se sentido na vida. As árvores de espécie indefinida pareciam apenas o observar de relance enquanto garantiam sua segurança, sua paz.

E então caminhou, e caminhou, e caminhou.

Suas pernas não estavam cansadas, algo estranho para alguém que era tão magro quanto uma espinha de peixe, como diria bocão, e tão pequeno que dificilmente alguém diria que tivesse quinze anos. Parecia até que em algum lugar da sua mente, ele não tinha mais essa idade, e nem aquele físico tão frágil, mas como? Afinal ele nunca seria diferente daquilo. Seria sempre, Soluço. 

Sua mente parecia trabalhar avidamente, enquanto mais gravetos eram quebrados sob seus pés, tentando se recordar de algo importante, de eventos importantes talvez, que em sua mente pareciam ter deixado um vazio sem explicação. Mas isso não era nem de longe o mais importante no momento, pelos Deuses, estava perdido numa floresta!

Enquanto passava por troncos gigantes, atravessando arbustos que eram as vezes até maior que ele próprio, e desviando de galhos traiçoeiros, percebeu que se fosse em uma direção específica, tudo parecia se tornar cada vez mais e mais escuro, quase que como se estivesse pintado pela noite, enquanto que na outra direção, no caminho exatamente oposto à esse, uma luz estranha parecia irradiar de qualquer lugar, mas ao mesmo tempo de lugar nenhum.

Soluço não pôde deixar de ficar curioso.

Por mais estranho que fosse a situação em que estava, ele apenas a aceitou de coração aberto. Algo o dizia silenciosamente que era preciso que ele estivesse ali naquele instante, como se tivesse sido trazido por algo, ou alguém, não saberia dizer. Provavelmente saberia em breve, mas teria de continuar caminhando.

E cada vez mais se aproximava do lado luminoso da floresta. Seus passos pareciam menos pesados, seu corpo mais ágil, e sua vontade de continuar cada vez mais crescia em seu peito. Andar por aquele lado da floresta era como se fosse um alivio para sua alma!

E nem ao mesmo sabia o porquê!

Se ele pertencesse à algum outro lugar antes de ali chegar, que não fosse aquela floresta, então que seja! Ele não ia se importar mais, iria ficar por ali mesmo, nunca havia se sentido tão bem em toda sua vida!

Foi então que decidiu que já havia caminhado o suficiente.

Suspirando alegremente, olhando em volta de braços abertos, sentou-se ao lado do tronco de uma árvore.

E por lá ficou por alguns minutos, satisfeito consigo mesmo.

O silêncio tomava conta de tudo, a estranha floresta, que não havia animais, ou qualquer barulho que fosse, repercutia o único barulho que chegava aos seus ouvidos, o de gravetos estalando sob seus pés, que agora se resumiam a ficar imóveis pelo chão, em silêncio, tal como ele.

"Caminhe!" Uma voz repentina parecia falar em sua própria cabeça. "Caminhe para afugentar a escuridão!", e como era familiar essa voz! Mas não teve tempo de pensar sobre ela, pois ao se virar e olhar para o caminho de onde havia vindo, a escuridão parecia ter avançado, e aos poucos iria contorná-lo novamente.

Levantando-se de sobressalto, assustado, correu, tentando ir mais rápido que a escuridão, que parecia ir em seu encalço.

Não levou muito tempo para ele perceber que, se ele se movimentava, nem que seja o movimento de levantar o braço, ou de olhar em volta com curiosidade, a escuridão dissipava. Se parava, ela parecia chegar perto, ameaçando envolvê-lo.

Então, novamente, caminhou, caminhou, e caminhou, através da floresta que parecia ficar mais bela mas ainda era a mesma.

x

Os seus passos haviam se repetido numa monotonia que se estendia havia horas, ou talvez dias, ou até meses, quem sabe! Não saberia dizer pois não parecia haver consciência de tempo alguma, estava perdido. Mas sabia para onde estava caminhando, e isso bastava.

Chegou a um ponto que a floresta se tornou tão clara, que podia ver de onde estava vindo toda aquele claridade. As gigantescas árvores que cobriam todo o lugar, não importava por onde ele andasse, pareciam se abrir numa clareira extensa, fina, com o espaço suficiente para passar uma carroça, ou algo do tipo, porém se estendia infinitamente, para frente, sempre para frente, impossível de se ver onde terminava.

E daquele caminho emanava toda aquela luz, e quanto mais perto daquele caminho, mais a escuridão se dissipava.

"Soluço", ecoou uma voz de repente, vinda de algum lugar no meio dos pinheiros, ou seriam bétulas?

O jovem viking se virou, e seus olhos encontraram uma figura que por alguma razão que não compreendia, não esperava encontrar. 

Seus olhos verdes encontravam o olhar de doçura que incidia sobre sua pequena figura. Era uma figura grande, típica de um guerreiro, mas para Soluço não era essa imagem que via ali, via apenas, o seu pai.

"Pai!", correu o jovem em direção aos braços de seu pai.

Depois de ter dado alguns passos, sua mente, em plena confusão, parou. Não entendia o porquê de ter tanta saudade, ou de mesmo estar correndo para abraçá-lo! Quando fizera isso antes? Talvez uma vez!

"Soluço preste atenção que não tenho muito tempo", disse Stoico, envolto numa certa luz branca que o envolvia, ele usava não mais armaduras, espadas e capacetes, mas apenas vestes simples, encobrindo seu corpo.

"Vê aquele caminho filho?" perguntou, enquanto apontava com sua mão direita para o grande e longo caminho que ficava sob a luz do sol, ou que possuía luz própria, Soluço não saberia dizer, mas assentiu com a cabeça.

"Aqueles passos são os que você tem que trilhar, não sou eu quem vai dizer o que você tem que fazer, nem quando, mas onde você acordou hoje é onde você se encontra", deu uma pausa olhando bem nos olhos do jovem. "Caminhe Soluço, não fique parado, não deixe que a escuridão o envolva! Caminhe sempre!"

"Quanto mais você se afasta do seu verdadeiro lugar, mais a escuridão o envolverá, e não só à você, mas àqueles que você tem a responsabilidade de proteger, assim eu como eu tive, antes de passar meu lugar à você". Terminou sua frase, dando um sorriso largo e longo, enquanto sua figura lentamente se iluminava cada vez mais e mais.

As últimas palavras soaram como uma flecha atirada no estômago do Soluço. "Passou o lugar pra mim? Pai? Por quê?" Sua mente já havia entendido o que havia acontecido, mas uma parte dela recusava a aceitar, e com a aceitação trazer a dor tudo de novo. 

Mas não adiantava, as memórias vinham todas à mente. Não tinha quinze anos, tinha vinte. Seu pai se foi. Era o mais novo chefe da ilha. Todas essas informações invadiam a mente do jovem chefe fazendo-o cair de joelhos enquanto um oceano de lágrimas parecia fluir de seus olhos, vendo seu pai se iluminar e sumir em luz.

"PAI!"

"Caminhe Soluço", foram as últimas palavras que soaram de longe, mas claras como a luz do dia.

E soluço permaneceu de joelhos, na floresta iluminada, e chorou, chorou e chorou. 

Como se fosse uma criança, toda a dor que havia suprimido em seu peito voltava, e era liberada de uma só vez.

x

Até que em sua mente uma voz suave e distante parecia chamar diversas vezes seu nome, por um longo tempo.

A primeira coisa que seus olhos viram foi um par de olhos azuis que o encarava com muita preocupação.


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Notas finais do capítulo

Aos que acompanham minha história, obrigado e desculpas pela demora de postar esse capítulo.
Espero que tenham gostado!



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