Como Domar o seu Eu Interior escrita por Tyr


Capítulo 13
Tomo I - O Chefe da Guarda




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A lua ao longe brilhava, em pleno esplendor, no seu ponto máximo da noite despejando seu luar mesmo com a grossa camada de nuvens que insistiam em rodeá-la e em tentar diminuir o belo espetáculo que ela estava decidida a dar.

Que tipo de nuvem traiçoeira se colocaria entre o astro eterno do show da noite, e a sua platéia sempre presente, mas não sempre atenta que se encontra a milhares de léguas abaixo?

O nome específico não saberiam dizer, mas àqueles que navegam, especialmente durante a calada da noite, nuvens, de qualquer tipo que for, não são nunca bem vindas, em qualquer lugar do mundo que seja, como que numa convenção inconsciente, a preocupação e a ansiedade tomam o coração de qualquer jovem marinheiro que se depara com tal situação.

Que situação no mínimo preocupante seria a de se ter a necessidade de navegar a noite, se pôr sobre alguns pedaços atados de madeira, que flutuam incessantemente sobre as ondas nem sempre amigáveis do mar, ondas essas que no seu vai e vem sempre constante tornam muitas vezes a vida de qualquer navegador um verdadeiro inferno.

Mas num barco qualquer de pequeno porte, aparentemente sem importância, sem identificação, que se esgueira sob a escuridão reinante da alta madrugada, nem o oceano infinito que se encontra por todos os lados, nem as ondas, nem as nuvens escuras que pendem acima da cabeça de seus cinco ou seis tripulantes, parece abalar o semblante do navegador que se encontra de pé, apoiado na dianteira do barco, olhando o horizonte à frente.

Seu olhar sempre fixo, sempre à frente, refletia a personalidade de alguém impassível, de um ser cujo emocional havia conseguido se aproximar ao máximo daquele de uma pedra. Suas vestes faziam jus à sua personalidade aparente, estava em vestes militares feitas de couro, de armadura leve e ágil, com uma espada amarrada ao seu cinto. De longe poderia ser notado pelo observador mais atento um pequeno símbolo da ilha Berk. Isto é, o antigo símbolo que sempre foi usado em Berk, agora que estava prestes a virar a Capital do reino, esse fato incluía uma grande quantidade de novos simbolismos que muitos julgariam gastos completamente inúteis e sem motivo algum.

Mas tradição é tradição diriam outros, que seria do reino sem seu simbolismo?

Os homens que remavam logo atrás, também vestidos na mais leve armadura de couro que possuía a ilha, remavam incessantemente, começando a demonstrar sinais de leve exaustão, que em breve ia se manifestar numa completa incapacidade de se moverem adiante, ficando presos à um mundo de água por todos os lados, iluminado apenas por um pequeno lampião que reluzia ao canto em algum do lugar do barco, e a gigante branca que pendia no céu, ora coberta por nuvens, ora brilhando livremente.

O medo de ficar preso no meio do mar não parecia afetar o homem que continuava a olhar fixamente para frente. Como se fosse possível para ele enxergar algo com o fraco luar que recaía sobre a escuridão plena dos seus arredores, ele continuava, com o cenho franzido, tentando ou talvez, até realmente enxergando algo à sua frente.

"Harriet", disse repentinamente um dos soldados que remavam atrás da figura em pé. "Estamos remando há horas e horas e horas...", sua voz entrecortada com pausas constantes dadas à sua respiração ofegante. "Onde está a maldita da ilha? Espero que essa seja a última".

O homem, impassível continuava a olhar para frente, não se deu nem ao trabalho de se virar para encarar o soldado que o interpelava. "Coragem homens, acredito que mais alguns minutos e poderemos avistar a ilha", respondeu, quase que distraidamente, não dando muita atenção ao que lhe falavam.

Com uma risada quase imperceptível de escárnio, o soldado se contentou a olhar para os outros que continuavam a remar ao seu lado, se resignando assim, a continuar no seu trabalho mecânico e tedioso, em silêncio.

O silêncio que se fez se seguiu e ficou pendente no ar por incontáveis minutos sustentados pelos esforços por parte dos que remavam, e pela observação constante por parte daquele que encarava talvez o horizonte à sua frente, ou talvez as estrelas, uma diferença sutil que não seriam capaz de perceber.

x

"Ali! Ali está a ilha!" Gritou repentinamente o homem que aparentava ser o líder daquela expedição.

Gritou e se virou rapidamente se voltando e se dirigindo para a parte traseira do pequeno barco onde remavam os outros, ele procurou rapidamente entre as coisas que se encontravam espalhadas pelo barco e delas puxou algumas pequenas bolsas de couro amarradas na parte de cima com um forte nó de uma também pequena corda que impedia que o conteúdo valioso se despejasse pelo chão. Com elas em mãos, puxou uma capa que vestiu rapidamente.

"Vá com calma homem!" Advertiu o mesmo soldado que havia falado antes. "Virar o barco não vai melhorar a situação, por incrível que pareça."

Harriet apenas grunhiu algo inteligível como resposta e retornou à proa da embarcação, com sua capa de chefe da guarda se estendendo até quase o tornozelo, sendo amarrada em volta do pescoço para garantir que o vento que repentinamente soprava de todas as direções não a roubasse dele e a levasse ao infinito.

Os que remavam continuavam com seu trabalho incessante, com um consolo de que o seu destino estava logo ali na frente, mesmo que aquele 'ali na frente' significasse em torno de longas dezenas de minutos sob o jugo dos remos.

Quanto mais e mais a ilha se apresentava à eles, mais encantados ficavam os seis tripulantes do barco.

Estavam indo em direção a uma pequena praia afastada iluminada por um lampião solitário provavelmente segurado por alguém que os recepcionaria, mas de longe dava-se para ver a continuação dela, e vislumbrar uma grande vila que alguns diriam até que se tornava rapidamente uma cidade muito bonita, com várias construções ainda de madeira, mas algumas maiores de pedra que se destacavam e destoavam das outras, suas ruas iluminadas por tochas e piras de fogo gigantescas. Mesmo na alta madrugada em que se encontravam, ainda havia movimento mesmo sob a suposta calada da noite.

As últimas remadas exaustivas que se arrastavam até chegar às proximidades da areia, pareciam se estender por uma eternidade lenta e massante, mas finalmente o fundo do barco parecia se chocar contra o fundo de areia, diminuindo a velocidade e tornando remar quase impossível, o que indicava que adentravam a área de águas rasas.

Os soldados soltaram os remos rapidamente se esticando e espreguiçando e soltando vários 'ufas' ou 'finalmente', antes de quase tombarem de exaustão enquanto tentavam se levantar no barco que balançava de um lado ao outro devido a todo o movimento.

O chefe da guarda pulando rapidamente na água, que vinha até próximo de seu umbigo, começava a puxar o barco que lentamente deslizava de forma suave pelas águas calmas da madrugada, enquanto que um grupo de três ou quatro pessoas se encontravam na praia para recepcioná-los com um lampião em mãos.

"Harriet", disse subitamente o mesmo soldado, sentado no barco, enquanto que os outros permaneciam no mais completo silêncio. "Para que é essa expedição afinal? Já é a terceira ilha que passamos!"

O chefe da guarda virou-se e olhou de relance para o jovem militar, respondendo friamente, "Não é da sua conta". Terminando o assunto pouco depois dele ter sido começado. O pobre soldado apenas empalideceu subitamente, por instantes se arrependendo de ter perguntado tal coisa, ficando mudo tal como estátua, imitando os outros.

O pouco que restava para se alcançar a margem perto dos outros que os esperavam fora atravessado rápida e silenciosamente.

Harriet, ignorando o frio da água gelada que parecia se impregnar em todo seu corpo, se dirigiu até os quatro homens, também militares, que pacientemente o esperavam à alguns metros adentro na areia da praia. Um deles, que aparentava ser o líder, com cabelos grisalhos, e longa barba branca, segurava o lampião pouco acima da altura de sua cabeça, com uma mão, enquanto que no ombro da outra mão, possuía sobre ele, um pequeno terror terrível.

O militar de Berk saudou o pequeno grupo em vestes militares similares à sua, com um leve aceno de cabeça, sendo respondido imediatamente pelos outros da mesma maneira. A situação, àqueles que se deixam levar pelas tradições e etiquetas, ficara um pouco delicada naquele momento. Ninguém dali sabia direito como tratar o outro, afinal, se a ilha de Berk havia se tornado a Capital do reino deles, Harriet, naturalmente era de um posto mais avançado que os outros que estavam à sua frente.

Mas não iriam se curvar à um estranho.

"Caham", pigarreou o chefe da guarda, quebrando o gelo desconfortável que havia ficado no ar. "Vejo que receberam a mensagem que mandei", disse apontando para o pequeno dragão. "Hakon Einarsson me assegurou que vocês são de confiança".

"Ora, embora confiança seja nosso sobrenome, dispenso elogios", respondeu com um sorriso, o soldado grisalho que tinha o dragão sobre o ombro.

Desconcertado pela resposta, Harriet, de sobrancelha arqueada, continuou, "Hã... bem, vocês receberam a carta e eu espero que tenham lido inteira..", fez uma pausa olhando para os militares, o que foi respondido com um aceno de cabeça. "Então gostaria de poupar o nosso tempo e partir logo para o assunto".

"Ótimo", respondeu o soldado de barbas brancas.

"Quantos homens são?", perguntou Harriet.

"Temos em torno de cento e cinquenta a duzentos soldados".

"Prontos para qualquer evento?"

"Sempre que pagar"

"E eles ficarão em Berk? De prontidão?"

"Assim que pagar"

Bufando, cansado da longa viagem e já sem paciência, o chefe da guarda colocou a mão dentro de suas vestes e retirou algumas pequenas bolsas de couro, que pelo seu barulho, estavam recheadas de moedas de ouro, ouro esse, que, ele admitiria, não sabia direito de onde havia surgido, mas não haviam sido forjadas em Berk.

Depositou todas nas mãos do homem que continuava com o dragão sobre seu ombro.

"Muito bem", disse Harriet após alguns segundos enquanto assistia o líder deles inspecionar as moedas. "As instruções estão todas nas cartas", os homens à sua frente continuavam contando as moedas e parcialmente dando ouvidos à ele. "Mas quero deixar claro que vocês não respondem diretamente ao Conselho de Berk nem à Soluço, entenderam?"

O homem de longas barbas levantou o olhar das moedas para a altura dos olhos do chefe da guarda, como que ofendido pelo que acabava de ser dito. "Se está nas instruções, será feito como nas instruções", respondeu sorrindo, ao que parecia, ele estava sempre sorrindo.

"Naturalmente", respondeu simplesmente, e levemente incomodado. "Vocês respondem diretamente à Spitelout entenderam?"

"Sim, senhor chefe da guarda, nós sabemos das instruções, e quem fez as instruções está nos pagando muito bem, portando não há espaço para dúvidas. Os soldados serão mandados para Berk como reforço da segurança do futuro Reino...", mesmo sob a vultosa barba que cobria sua boca, dava-se para ver que após pronunciar essas últimas palavras um sorriso irônico apareceu em seus lábios, sendo imitado como que quase um reflexo por Harriet. "... dentro de alguns dias, em vários barcos com a bandeira da ilha de Driva."

"Muito bem", se resumiu a dizer Harriet, visivelmente satisfeito com o resultado.

O grupo se pôs a fazer um pequeno aceno de cabeça como que uma meia reverência e começou a se retirar em direção à cidade, deixando Harriet e seu grupo de soldados, alguns metros atrás, quase que na escuridão total da noite que recaía sobre a pequena praia desolada, agora que a lua se encontrava escondida por nuvens escuras e espessas de tempestade que com certeza se aproximava, a noite mergulhava todos eles na mais completa escuridão.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)



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