Como Domar o seu Eu Interior escrita por Tyr


Capítulo 11
Tomo I - A Consagração




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Os gritos de júbilo e a alegria geral que se espalhava entre todos agitava o coração daqueles que assistiam o evento com uma mistura de um medo obscuro e ansiedade sombria que toma conta aos poucos das costas desprotegidas, como uma sensação de gelo crepitando pela coluna até que atinja o ponto mais alto da cabeça, espalhando o tremor por todas as outras partes adjacentes do corpo. Dizem que um evento em si não só depende das pessoas que estão planejando seus desdobramentos como também das intenções por trás dele, e essa intenção, aqueles mais sensíveis conseguem senti-la no ar.

Mas as vezes a iminência das trevas que aos poucos avançam sobre seus líderes é tão gritante que aqueles que não se deixam levar pelo seu furor contagiante, são abatidos pela sensação de medo e de incerteza que reina sob a êxtase aparente.

Se haviam discorrido alguns minutos desde a chegada do pequeno grupo que estava em pé aos fundos da cena, ao lado do velho conselheiro Bocão, quando subiram as longas rampas de madeira que vinham do porto, aqueles que tinham vindo de barco, convocados por Valka para jurar sua lealdade para com Soluço e o novo reino prestes a se formar. Formavam eles uma turba enorme de pessoas muito bem vestidas, eram todos chefes e pessoas de alto prestígio em suas ilhas, que causariam estranheza se tivesse essa cena ocorrido num dia comum, o que porém, não era o caso.

Logo após o término do discurso dos conselheiros, eles surgiram, tomados de surpresa pela recepção calorosa da multidão que estava diante deles, que aos gritos de 'Viva Soluço III' os receberam. E como que tomados por uma estranha magia, se deixaram levar pelo mesmo entusiasmo, virando aquela multidão misturada de pessoas comuns e pessoas de altos cargos, uma verdadeira festa repentina. Essas pessoas estrangeiras em meio à todo esse caos de demonstrações de apoio, traziam consigo algumas pessoas que restavam quietas, serenas, esperando que um momento de silêncio se fizesse para que eles pudessem anunciar o que vieram fazer ali.

Depois de longos momentos de exaltação geral, todos se acalmaram, e em meio a um silêncio repentino se pode ouvir uma voz feminina estrondosa, vinda de uma mulher que com sua altura, ficava acima de todos que estavam ao seu redor, alguns diriam até que ela seria a versão feminina de Stoico! O nome dela era Bertha, e ela falava pela sua tribo, os Bog Burglars* e também pelo que se entendia, pelas tribos dos outros chefes que ali também estavam. Pelo o que se podia ouvir do que ela falava, ela dava seu total apoio à causa, e dava vivas à Soluço.

Depois disso a multidão não pôde mais ser contida, que explodiu tomada de alegria novamente, se espalhando pela cidade do que eles chamavam agora da capital do Reino.

Cabeça-Quente observava aquilo com um semblante sério, algo nada comum para alguém da personalidade dela. Seu irmão se divertiria se a multidão se transformasse em uma loucura destrutiva, ela não podia negar que se divertiria igualmente, mas ela sentia algo a mais no ar, que Cabeça-Dura falhava em captar, sentia que algo maior estava acontecendo e que ela não podia entender completamente.

Os outros, principalmente Astrid, pareciam ter captado isso também. O que era o mais estranho da situação aos olhos dela era, afinal, o paradeiro de Soluço. Onde estava ele? Impossível não ouvir essa multidão sem controle algum de qualquer lugar da ilha.

Mas pouco importou isso, no momento a única vontade que ela tinha era de sair dali.

x

A noite havia caído, mais uma vez era um pouco mais quente que a anterior, algo impossível de se notar àqueles que não eram da ilha, ou de lugares onde o clima era similar, mas cada pequena quantidade de calor a mais era muito bem recebida por aqueles que eram tão frequentemente mergulhados no frio subpolar.

À quem habita tais lugares, é essencial que o calor se mantenha dentro de casa sempre que possível, com a lareira acesa quase que o tempo inteiro e as janelas muito bem fechadas para que o ar gelado não possa entrar por pequenas frestas e congelar todo mundo, dizem, porém, que quanto mais alegre é a família, mais quente se torna o ambiente da casa que ela habita. Uma pena para a maioria dos vikings de Berk, que são reconhecidamente frios e brutos, mas há nessa ilha uma exceção que todos conhecem.

A família thorston era realmente uma família alegre, não se pode dizer que os pais, Arnar e Leonóra Thorston, estavam sempre tão alegres quanto os seus filhos gêmeos, mas carregavam também, o sorriso, o jeito brincalhão, e um péssimo gosto para nomes. Toda essa alegria sincera envolvia a casa deles, que ficava um pouco afastada do centro da vila, e que de longe, se notava que faltavam moedas o suficiente para que se mantivesse a casa em boa forma, todos sabiam que a vida de pescadores que levavam os pais da família não bastava para que se sustentassem bem, alguns até diriam que ela era mais pobre que as demais, porém, não poderiam nunca dizer que não era aconchegante.

A noite que havia se tornado quase imperceptivelmente mais quente, também havia tornado a casa Thorston mais fria que o normal.

Cabeça-Quente estava ligeiramente aflita. Tomada de um sentimento que talvez estivesse entre o limite de indescritível e aflita, não saberia bem dizer, mas não se sentia bem como normalmente se sentiria. Aos que a conheciam, nunca esperariam vê-la sentada sobre um pequeno e velho banco de madeira recostado perto da janela, por onde ela olhava incessantemente, encarando o oceano distante, iluminado pela luz fraca da lua que se mostrava coberta pelas nuvens, pensativa, nem o frio que atacava seu rosto como que pequenas adagas, a fazia se retirar dali, parecia que o frio congelante era mais confortável para se pensar do que o calor fraco da lareira.

Ela comumente não se deixava abalar pelos acontecimentos à sua volta, nunca havia se visto dessa forma, parecia que a preocupação que até um dia antes era quase inexistente, havia surgido repentinamente e tomado conta do seu corpo e mente. Mas afinal, quem não o seria? O povo enlouqueceu, Soluço está sabe-se lá onde, além dela secretamente achar que ele não estava preparado para estar em uma posição tão importante como essa. Mas quem se importa com o que ela pensa? Nunca levariam a sério de qualquer forma.

Sua preocupação rodava a mente e passava por diversos tópicos, ela se perguntava sobre seus pais, com o aumento gigantesco do número de pessoas vindo pra Berk, aumentou também o número de pessoas que queriam comer algo além de peixes, ou que também traziam peixes, o que significou tempos mais difíceis para eles até agora, como seria então depois de tudo isso tomar forma?

Todo o seu pensamento foi despertado pelo som de passos pesados que subiam a escada lentamente, fazendo um barulho gigantesco pelas tábuas que estalavam sob os pés. Revirando os olhos ela já imaginou que ele faria esse barulho para subir ao quarto deles. Álias, deles não, mas sim, o único quarto da casa.

Cabeça-Dura entrou no quarto e estancou na porta, surpreso, encarando a irmã que não se virava nem para ver quem entrava no quarto.

"Mana, quer congelar até a morte? O que tá fazendo?" Perguntou ele.

A gêmea se virou lentamente até encontrar o rosto do seu irmão, bem mais alegre que o seu naquele momento. "Cabeça-Dura, você realmente não entendeu o que tava acontecendo hoje não é?"

"Bem, Soluço vai virar um rei, e daí?" Disse ele, quase que indiferente enquanto se sentava em sua cama.

A irmã observou o irmão incrédula por alguns instantes, para ela parecia tão óbvio."Você não percebe que não vamos mais ter paz? Isso se a gente tiver o que comer!"

"Tiver o que comer? Do que está falando?" Perguntou o gêmeo, de maneira calma, quase que não a levando a sério.

"Mãe e Pai não estão nem conseguindo trazer o suficiente para que a gente fique bem nem por uma semana! Agora eles ficam fora por mais e mais tempo e mesmo assim não é suficiente! Mesmo que eles remem até o continente para pescar, só teremos peixes! Porque cada peixe vai valer uma lasca de moeda de ouro em breve! Não percebe? Quanto mais pessoas de fora vierem para cá, mais as que vivem em Berk vão sofrer!"

Cabeça-Dura apenas encarou a irmã, espantado por alguns momentos, ela realmente era a parte inteligente da família, pensou ele rapidamente. "Bem, mana, tenho certeza que Soluço já pensou nisso, ele sempre consegue resolver as coisas." Respondeu o irmão, de maneira irritantemente calma para a gêmea que se sentava perto da janela.

"Soluço!" Respondeu ela de maneira sarcástica. "Nem ele, nem a gente sabe o que está acontecendo de verdade." Finalizou a conversa, se levantando do pequeno banco, visivelmente inquieta e irritada, indo em direção às escadas.

Seus pés calçados de sua bota de lã não fizeram nem um terço do barulho que fez seu irmão ao subir parecendo um Jotun, surgido de Jötunheimr, pensou ela revirando os olhos, enquanto descia. A janela iria ficar aberta até ele congelar ou resolver levantar da cama para fechar, lembrou ela, ainda irritada.

A sala de sua casa era simples, na verdade, a casa era em geral simples, possuía dois andares, no andar debaixo ficava a sala misturada do que poderia ser chamado de cozinha, enquanto que no andar de cima era o quarto de todos os quatro membros da família Thorston.

Sentou-se na cadeira da longa mesa de madeira que ocupava quase que metade do andar debaixo, cabeça deitada sobre os braços cruzados, uma preocupação apertando o seu peito e atrapalhando a respiração, ela se perguntava afinal o que seria isso tudo. Sentindo as pálpebras pesadas da hora já avançada, e alguns barulhos já bem longes do movimento bem maior do que o normal que tomava conta da vila, ela deixou que sua respiração se tornasse cada vez mais uniforme, sendo lentamente embalada para o sono.


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Notas finais do capítulo

*Não traduzi o nome da tribo deles porque ficaria estranho
O último capítulo acho que não ficou muito bom, peço desculpas, espero que esse tenha ficado melhor.
Espero que gostem! :)



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