Como Domar o seu Eu Interior escrita por Tyr


Capítulo 10
Tomo I - Valka




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Astrid estava esgotada.

O sol estava a pino e só agora ela se dirigia para a saída da arena da recém reinaugurada academia de Dragões, ou como melhor o conselho passaria a chamá-los, tropas de primeira linha.

Tropas de primeira linha!

Astrid não era uma 'tropa', era uma guerreira! Por mais que ambos pareçam tão semelhantes entre si, há uma diferença gritante entre as duas, toda tropa é subordinada à alguém, à um superior, enquanto que guerreiros não possuem ninguém que possam dizer à eles o que fazer ou não. Apenas fazem o que em seu coração soa como certo. Guerreiros podem ser até os vikings que se dedicam à fazer pães, ou pequenos reparos em casas, mas não tropas! 'Tropas' é algo que soava quase como que uma ofensa à recém denominada 'general'. Considerava que antes, com treinadores de dragões eles eram guerreiros! Obviamente, todos obedeciam à Soluço, bem, 'obedeciam' era uma palavra muito forte, mas todos seguiam Soluço. 

Soluço, porém, nunca foi um militar, e nunca os obrigou a seguirem suas ordens à risca.

Isso era algo novo à Astrid. E o que mais a irritava era que aparentemente, ela era subordinada ao Conselho! E não à Soluço!

Mas estava muito esgotada para pensar sobre todos esses assuntos agora, assuntos esses, que ao passar dos dias começaram a pesar sobre ela, assim que ela percebeu que, se os planos sendo maquinados sob as portas trancadas do Salão realmente derem certo, ela terá um papel político gigante! General do exército de um reino inteiro!

Subiu lentamente a rampa que levava à saída da arena, suas pernas estavam muito pesadas para aquela pequena subida, não só suas pernas, seu corpo inteiro! Passou não só a manhã inteira mas a noite inteira arrumando tudo que precisava ser arrumado para a inauguração, e ainda foi a última a ficar ajeitando o que precisava após todo o evento.

Depois do seu discurso na arena, muitos começaram a ficar apreensivos, o que foi uma vitória para ela, quantos menos pessoas, melhor! Aliás, não, não poderia dizer isso, precisava de uma quantidade significativa de gente para fazer aquilo valer a pena, mas não poderia nem em seus melhores sonhos treinar tanta gente!

Após sua fala energética percebeu que algumas pessoas no fundo começaram a sutilmente sair pelo portão da arena, foi quando teve a brilhante ideia de fazer Tempestade atirar um de seus espinhos em uma maçã sobre a cabeça de alguém aleatório que estivesse em sua frente na multidão.

Bem, seria aleatório, se não tivesse avistado um primo pouco mais novo de Melequento parado ali no meio de todos, tremendo de medo.

Trygve Jorgenson era o nome de sua cobaia.

Dirigiu-se lentamente até ele e parou em sua frente, silenciosamente, até que gritou, "TRYGVE!", assustando todos ali ao redor.

"Si... Sim... senhora... general?", respondeu o menino tremendo de medo.

Astrid deu-lhe uma maçã e disse para que ele fosse até o meio da arena, onde estava antes, colocando a maçã na sua cabeça. Ah! Não sem antes lembrar à todos que os espinhos de Tempestade eram altamente venenosos!

A nadder como sempre, altamente certeira, embora surpresa que a maçã tivesse conseguido parar sobre a cabeça de alguém que tremia tanto, acertou em cheio a maçã que voou a metros de distância de onde estava garoto.

Tudo isso gerou uma impressão de medo no rosto dos novatos mas era uma cena no mínimo cômica para os antigos integrantes da Academia. Mais alguns haviam saído após disso, lembrou ela dando um sorriso divertido.

E depois de tudo isso, ainda teve que anotar o nome de cada um que não fugiu num papel! Estava com dores até nas pontas de seus dedos.

Agora ainda tinha que andar de volta a vila, Tempestade tinha ficado tão entediada com tudo aquilo que resolveu sair voando por aí. Podiam inventar um apito que magicamente chamasse os dragões, seja lá onde estiverem, pensou ela.

Suas pernas estavam tão cansadas que ela decidiu que sentaria por ali mesmo, na parte de pedras em frente a entrada da arena, que possuía uma vista no mínimo grandiosa para o mar, e para a neblina, que frequentemente cobria os arredores de Berk.

Com o sol pálido mas a cada dia mais forte com a aproximação da primavera, suas pálpebras pesadas e incapazes de resistir qualquer avanço do sono, adormeceu.

x

"Astrid!" dizia uma voz meio tímida e longe, bem longe.

A pequena Astrid de cinco anos se perguntava de onde vinha aquela voz se estava no meio de uma imensa floresta! No meio do nada! À milhares de léguas de distância de casa!

"Astrid!" Dizia de novo a voz.

Foi quando ela se lembrou que não tinha mais cinco anos, e não estava no meio de uma floresta, pensou tristemente.

Abriu seus olhos abruptamente, se levantando e olhando em volta, para encontrar um Perna de Peixe assustado, em pé de seu lado, sabe se lá a quanto tempo ele estava ali chamando.

"Perna de peixe?" indagou a viking, ainda se situando passando as mãos pelos olhos. "O que aconteceu?" perguntou se levantando.

"Você precisa vir até o cais, tem navios vindo em nossa direção".

"Navios?" indagou ainda acordando.

"Sim Astrid, vários!".

A jovem, por alguns segundos incrédula sobre esses navios, se dirigiu à beira da pequena área coberta de pedras de frente à Academia, forçando os olhos para tentar ver algo em meio a neblina.

"A neblina está muito forte pra ver alguma coisa, alguém foi até os navios?" perguntou ela.

"Bem...", hesitou um pouco o jovem. "Melequento e os Gêmeos foram, enquanto eu vim avisar você".

A viking respirou fundo e se recompôs totalmente agora. "Você pode me dar uma carona? Tempestade está sabe-se lá onde".

Perna de peixe consentiu e Astrid subiu atrás dele, a Gronckle alegremente levantando voo na sua velocidade regular, e indo os três em direção ao cais.

Alguns minutos depois, pousaram eles em meio a aglomeração de gente que se juntou para ver afinal que navios eram aqueles, que sem bandeira alguma estavam vindo em direção ao cais, ainda estavam longe, mas Astrid conseguiu contar em torno de cinco, junto de alguns outros barcos menores que os seguiam. Era no mínimo curioso um grupo grande de navios vindo para o cais, Berk era movimentada, mas a maioria dos navios vinham sozinhos, ou acompanhado de outro, mas nunca em grupos assim. A mente guerreira da chefe da Academia já imaginou o pior, que fosse alguma invasão.

Desmontou e notou uma guarda que estava ali parada tentando também ver o que vinha em direção a eles.

"Ei você". Disse a general, indo até ela.

"Sim, senhora?" Respondeu prontamente a jovem guarda.

"Vá avisar Soluço sobre isso, corra!".

A guarda não perdeu tempo e saiu em disparada em direção a rampa que levava à vila.

Astrid a observou por alguns instantes e voltou rapidamente para junto da Gronckle que estava perto do fim do cais.

"Perna de peixe, onde estão Melequento e os Gêmeos?" Perguntou ela enquanto o viking ainda desmontava. Ele estava visivelmente muito mais calmo e menos ansioso do que a jovem guerreira que estava no mínimo aflita. Ele se virou em direção aos navios, tentando ver algo no horizonte.

"Ali Astrid!" Apontou ele entusiasmado. "E eles vêm com um terceiro dragão junto deles!".

Astrid franziu o cenho, agora sim essa história estava estranha. "E eles estão bem?"

"Aparentemente sim, olhe ali!" Apontou Perna de Peixe novamente.

"Perna de peixe, não dá pra ver nada com a neblina na frente".

"Dá sim Astrid, olhe ali!" Respondeu ele ainda entusiasmado.

A general apenas olhou para ele incrédula, desistiu, não iria discutir, mas seja o que for que estava vindo em direção deles, não era algo ameaçador, restava apenas esperar, concluiu, cruzando os braços.

Ficaram ali, eles e a pequena aglomeração por alguns minutos olhando o mar.

Até que os três dragões chegaram ao porto, e pousaram um pouco atrás da aglomeração. O terceiro dragão não era um dragão qualquer, era o Pula Nuvem.

Correram todos até os dragões, para encontrarem uma Valka cansada, porém muito alegre, um Melequento indiferente e os gêmeos desapontados pelo fato de estarem esperando navios inimigos para explodirem.

"Valka!" Gritou Astrid, correndo para abraçá-la. "Por onde andou?"

"Astrid!" Abraçou-a de volta com o mesmo carinho. "Bem, é uma longa história, estive em vários lugares em muito pouco tempo".

"E o que são esses navios?" Perguntou Perna de Peixe.

"São os puxa-saco de Soluço". Respondeu Melequento de braços cruzados, levemente incomodado.

Valka olhou para ele repreensivamente, e respondeu ainda alegremente, "É o apoio que consegui das outras ilhas para se juntar ao nosso reino Astrid! Nossas ilhas aliadas!"

Astrid apenas encarou Valka com um sorriso forçado, mas que era no fundo, genuíno, achava ela, estava apenas cansada pensou, afinal se criar esse reino era o que Valka e Soluço queriam, era isso que ela iria querer para Berk também.

"Está acontecendo Astrid, Berk vai se tornar um reino!" Continou Valka que emanava felicidade.

Foi quando de repente, começou a correr sussurros aqui e ali no meio do cais e um emaranhado de vozes que parecia vir do meio da vila, ninguém conseguia distinguir o que era, mas eram gritos distantes e entusiasmados aparentemente.

Todos se entreolharam, tentando por alguns instantes distinguir o que diziam aquelas vozes, mas estavam muito longe para ouvir.

Subiram os seis em seus dragões para irem ao centro da vila, Astrid montada no pula nuvem junto de Valka, e levantaram vôo.

Ao se aproximarem perceberam que tinha uma grande quantidade de gente reunida nos primeiros degraus que levavam ao Grande Salão enquanto ouviam algum discurso muito acalorado de Spitelout e Sven, Soluço não se encontrava em lugar nenhum.

Pousaram bem atrás, perto da ferraria de Bocão, que aliás, estava ali, parado, observando o discurso, que a multidão aliás parecia receber muito alegremente, estavam tão entusiasmados quanto os seus oradores.

Desmontaram todos os seis e foram até o velho ferreiro rapidamente.

"Bocão, o que é tudo isso?" Perguntou Astrid, visivelmente preocupada.

Antes de Bocão, com seu sorriso acolhedor, responder, Cabeça-Dura interveio. "É só parar pra ouvir o que eles estão dizendo Astrid, aparentemente Soluço vai virar um rei", disse o gêmeo, um tanto quanto surpreso.

Um calafrio gelado e sombrio como o inverno nórdico percorreu a espinha da Astrid, como se tivessem jogado nela uma bola de neve nas costas, e de repente e sem motivo algum ela passou a sentir um medo indescritível de algo que nem ela sabia o que era. Se virou, para ver o discurso, e por algum motivo não sentia nada de bom vindo daquilo tudo ali. Não via bondade em Spitelout nem em Sven. Se perguntava o que Bocão estava fazendo aqui longe deles.

"... E então a glória de Berk atingirá níveis que ninguém nunca sonhou! A capital de um Império poderoso! Seremos todos muito ricos, e o poder dos nossos dragões unirá a todos nós...", dizia Sven em seu discurso.

Astrid franzia o cenho, Sven nunca gostou de dragões, nem nunca falou muito bem de Berk, mas aparentemente era um belo político.

"...E tudo isso temos que dar graças ao nosso querido chefe Stoico! Que possibilitou que o nosso grande Soluço III possa se tornar rei..."

Sim, Sven nunca gostou de Soluço, isso ao menos ele não mascararia, pensou Astrid, Soluço não dependeu de Stoico para fazer nada, na época.

"... E viva nosso rei, Soluço III!" Finalizou Sven, o que foi seguido de um grande viva estrondoso da multidão, que parecia ter entrado em delírio com a ideia, todos temiam que o povo não iria aceitar bem tudo isso, mas aparentemente era exatamente o contrário!

A jovem general apenas observou aquilo tudo, com um calafrio que parecia percorrer em círculos sua espinha, e uma apreensão que se fazia sentir no estômago tal qual tivesse tomado um murro. O que isso significava, não sabia bem, talvez apenas coisas de sua cabeça, ou talvez teria motivos para temer os dois conselheiros que com o sorriso mais triunfante possível observavam a multidão em delírios dando vivas à Soluço e ao falecido Stoico.


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Notas finais do capítulo

Bem, eu não tive muito tempo para escrever esses dias, mas agora com a quarentena eu vou tentar postar mais frequentemente
*Eu não coloquei o nome do dragão do perna de peixe na história porque eu realmente não consegui achar uma tradução boa para "Meatlug"
**Trygve significa, em nórdico, aquele que não merece confiança.
Espero que tenham gostado. :)



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