As crônicas de Animadria. "Guerras no Norte." escrita por Lord JH


Capítulo 22
Animadria.


Notas iniciais do capítulo

Dois humanos criminosos são julgados pelo tribunal supremo de Animadria.



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Era de manhã no grande salão de Animadria, onde no centro da sala de julgamentos estavam acorrentados dois humanos, um homem e uma mulher, completamente nus e à espera de seu incerto destino.

Nos arredores, sentados em confortáveis bancos de madeira amortecidos por algodão, ou em pé mesmo, estavam os juízes; que se tratavam exclusivamente de todos os representantes de espécies da cidade que quisessem participar da atividade.

— Está meio vazio aqui hoje. — Falou o líder dos macacos berberes da cidade que desfrutava de uma pequena tigela de cereja a qual ele dividia com Cazuza, o líder dos bassariscos da cidade.

— Sim, apenas Baltazar, Calunga, Filiedes, Tereu e Magair vieram além de nós. Até mesmo Elduin e Gandor não vieram. — Falou o belo bassarisco ao olhar para o asno, o touro, o galo, o faisão e a fada que ali estavam presentes.

— Ah, mas certeza que Elduin e Gandor logo chegam. Eles nunca perdem um julgamento. Você sabe, eu creio que eles gostam de se achar os mais importantes, só porque fazem parte de duas das três raças que fundaram Animadria. — Falou Daidu, líder dos macacos com certa ironia na voz.

— Ei, se eu fosse você não falaria isso, Daidu. Eu sou pequena e não falarei nada, mas outros poderiam não ser tão compreensiva como eu. — Falou a rata Guloria, esposa de Rafuk, líder dos ratos da cidade.

— Guloria, nós não vimos você aí. Gostaria de uma cereja? — Ofereceu Daidu com bastante educação e esperteza.

— Muito obrigada. — Agradeceu a rata com uma voz tão fofa e gentil que parecia pertencer a um filhote — Mas não vim aqui para comer. Meu esposo pediu para que eu viesse em seu lugar já que ele está em reunião com Gultar, chefe dos gerbís e Macru dos camundongos para dividir as diferentes sementes plantadas por todos em partes justas. —

Daidu apenas compreendeu a situação e ficou em silencio, mas Cazuza, por ser mais curioso, logo perguntou — E algum de vocês dois sabem o que esses humanos fizeram? —

— Eles sequestraram e aprisionaram vários seres por muito tempo. Além de os torturarem e fazerem coisas inexplicáveis e inimagináveis com os mesmos. — Falou o humano Gandor, que entrara acompanhado por Elduin o elfo e Babagu o prineve.

— Gandor, eu sabia que vocês não faltariam a um bom julgamento. Mas me diga, quem descobriu e capturou esses humanos? — Perguntou Daidu, agora bastante curioso sobre o caso.

— O responsável pela ação foi Eruitiel, o melhor anjo guardião da cidade. — Respondeu Elduin o elfo com a sua voz doce e melódica.

— Bom, então vamos começar logo com esse julgamento que hoje eu tenho muita coisa para fazer ainda. — Falou Magair, a fada de cabelos azuis e asinhas brilhantes que a faziam parecer uma mistura de libélula com borboleta.

— Concordo com o começo. Então que tal escutarmos logo o que os acusados têm a dizer? — Propôs Calunga, o touro negro e de cara branca que já estava bastante impaciente com toda aquela demora para começar o julgamento.

— Sim, vamos começar por aí. Então, humanos, o que vocês têm a dizerem sobre vossa defesa diante de tais acusações? — Perguntou Magair ao voar bem perto e na frente dos dois acusados.

— Defesa? — Sussurrou o humano macho de pele branca e cabelos negros. — Você é uma criatura que nem sequer devia existir! Como você consegue voar com asas tão fracas e sensíveis? Será que vocês todos não percebem!? Isto tudo aqui é uma loucura! —

— Loucura? — Indagou Babagu, o prineve de pelo branco que representava o seu povo naquela cidade. — O que você quer dizer exatamente com loucura? —

— Tudo! — Gritou o homem com uma voz alterada e completamente embargada de ódio e desespero; misturada com um pouco de confusão e insensatez.

— Tudo o quê? — Perguntou Cazuza curioso como sempre.

— Tudo, meu pequeno amigo peludo. Olhem para os lados, meus senhores! Vejam todas as criaturas aqui presentes neste julgamento e me digam se tudo isto é normal! — Falou o acusado com uma voz completamente carregada de emoção.

— Ué, para mim está tudo normal. — Falou Guloria ao olhar para os seus amigos que estavam sentados próximos a ela.

— Aí é que está o ponto! Minha doce e inocente ratinha. Para vocês tudo isto aqui que está acontecendo é normal, mas eu e minha esposa, nós sim sabemos da verdade! — Gritou o homem com tanta força que fez cuspir saliva na fadinha que voava próximo a ele.

— E que verdade é essa? — Perguntou Elduin com sua voz calma e um sorriso bastante confortador e sereno.

O homem branco então ficou calado por alguns segundos antes de sua esposa de cabelos também negros e corpo bastante jovem, falar — Da verdade que todos vocês se negam a enxergar e acreditar. Meu belo e nobre senhor elfo. —

— Digam logo que maldita verdade é essa! Seus bandidos, pois já estou ficando sem paciência! — Gritou Babagu perdendo a calma com os acusados.

— A verdade de que vários de vocês não deveriam falar ou sequer pensar, meus senhores! — Gritou e respondeu o acusado sem fazer rodeios ou coisa do tipo.

— Como assim? O que você quer dizer com isso? — Perguntou Baltazar, o asno ao ficar bastante confuso com a resposta dada pelo estranho e assustador humano.

O acusado então riu loucamente antes de ser acompanhado por sua jovem esposa, e somente depois de perceber que todos ainda estavam estupefatos e esperando uma resposta decente dos mesmos, foi que o acusado parou de gargalhar e explicou — A verdade, meu caro amigo de cascos, é que meus estudos junto com a minha amada nos mostraram que a maioria dos seres desse mundo não faz sentido algum anatomicamente! Nós cortamos vários corpos e gargantas de vários seres e tirando um ou outro que realmente possuía aparato necessário para falar várias palavras, o resto deles era um mistério! Nada nesse mundo faz sentido! Você entende? — Finalizou o humano com uma pergunta inesperada enquanto encarava a fadinha e o asno com olhos esbugalhados e assustadores.

Todos estavam bastante chocados com as palavras do humano, mas apenas Tereu, o faisão, teve coragem de perguntar — Então você está me dizendo que você e a sua mulher mataram dezenas de ratos, faisões, galinhas, passarinhos, texugos, humanos e outros incontáveis seres que moravam perto do bosque das codornas apenas para checar e examinar os seus corpos? —

O silencio total então tomou conta do salão até que a jovem mulher direcionou o seu olhar esverdeado para o faisão e falou — Meu nobre senhor de penas, eu sei que o que fizemos parece cruel, mas foi preciso. Não se descobre nada sem coragem, acredite em mim! —

— Eu acredito que vocês deveriam estar presos! — Gritou Magair ao cuspir no rosto da humana —Eu nunca conheci seres tão repugnantes e monstruosos como vocês! E por terem assassinados duas fadas, amigas minha que moravam naquela região, eu deveria exigir a morte de vocês se possível. —

— É isso aí! — Gritou Calunga bastante enfurecido — Vamos ensinar a esses monstros se eles gostam quando estão do outro lado da lâmina. —

— E então uma verdadeira gritaria começou no tribunal e logo ninguém entendia ninguém, até que Elduin, o elfo de longos cabelos violetas e lábios azuis, levantou a mão e pediu silêncio de maneira totalmente silenciosa.

Logo todo ser que avistou a mão do elfo levantada se calou de imediato e esperou calmamente até o mesmo falar — Amigos! Eu sei que todos estão nervosos e indignados com a fala de nossos acusados, mas peço para que todos se controlem e demostrem que não somos os seres “errados” que nossos culpados pensam que somos. Eu sei que todos vocês têm o direito de clamar a vida deles, mas peço para que julguem com calma e sabedoria para que assim possamos manter a mesma justiça que sempre prevaleceu neste local. — Finalizou Elduin sem precisar gritar muito.

Todos então concordaram e depois de vários murmurinhos e questionamentos todos estavam prontos para dar o seu veredito.

— Magair, já tomou a sua decisão? — Perguntou Babagu ao perceber que a fadinha queria muito falar primeiro.

— Já, Babagu e Elduin; e eu desejo pela morte dos dois acusados! E que seja da maneira mais dolorosa e sofrida o possível! — Gritou a fadinha antes de ser acompanhada pelos gritos de quase todos os outros líderes do local.

— Então todos concordam com esse veredito? — Perguntou Elduin ao olhar para todos os lados e checar cada ser do local.

— Olha, eu acho que matá-los é justo, porém a morte pode ser uma saída muito rápida para os mesmos. Então por que não os prendemos nas masmorras e os torturamos pelo resto da vida deles? — Perguntou Daidu com um sorriso bastante sádico na boca.

— Daidu! Você por acaso enlouqueceu!? Nós não podemos nos equiparar a eles nessa maldade! Como matriarca e líder das ratas da cidade eu acho que deveríamos matá-los, mas de maneira honrada, moral e indolor. — Falou Guloria com a sua sensatez ainda sobre o controle de seu julgamento.

— Guloria, por acaso você acha que eles tiveram piedade ou honra com os ratos e outros seres que eles mataram? Nós temos que fazer o mesmo que eles faziam com suas vítimas! E isso é o justo! — Gritou Magair cheia de raiva e ódio na voz.

— Eu creio que Magair tem razão, mas Guloria está certa. Nós não podemos nos rebaixar a tal atitude predadora. Então, o que fazer? — Perguntou cazuza ao olhar para Elduin e esperar uma resposta sensata do elfo.

Porém o elfo nada falou e apenas ficou em silêncio até que Eruitiel, o anjo guardião da cidade, Bacuba o líder dos porcos e Venert o líder dos cervos da cidade, entraram pela porta principal do salão e falaram — Perdoem nossa demora, senhores! Mas estávamos ocupados com notícias terríveis. —

Logo todos voltaram a sua atenção para o anjo e os outros dois seres que entraram, até que o galo Filiedes perguntou — Tem algo a ver com a terra das galinhas? —

Eruitiel então fez um sinal tranquilizador para a curiosa ave e após perceber que todos ficaram nervosos com aquela situação, o belo anjo de cabelos brancos e olhos acinzentados, falou — Fiquem calmos, meus amigos. As notícias que eu trago não envolvem as terras das galinhas e nem a floresta das trufas ou qualquer parte leste de nosso amado continente. O problema está no Oeste! —

De imediato vários seres começaram a cochichar entre si, até que Baltazar tomou coragem e perguntou — Em que parte do Oeste especificamente? —

— Nas florestas ao Norte! — Respondeu Venert o líder dos cervos. — Vários pássaros chegaram em Animadria recentemente e todos falam de um exército vindo do além-mar, repleto de predadores e até mesmo dragões. —

— Dragões!? — Exclamou e se assustou Babagu com a informação trazida pelo belo cervo vermelho.

— Sim, dragões, meus senhores. Precisamos decidir o que faremos sobre esse caso, Elduin. — Falou Eruitiel ao olhar para o elfo e esperar uma sábia decisão.

— Esperem! — Gritou Magair ainda bastante inconformada — Nós ainda temos que decidir o que faremos com esses dois assassinos! — Exclamou a pequena fadinha ao apontar para o casal de acusados que agora tremiam de medo e vergonha diante da presença do anjo que os aprisionara.

— Ora, mas isso é simples! — Falou Bacuba, o porco. — Nós só precisamos matá-los e vingar e justificar todos os crimes que eles fizeram. —

— Concordo totalmente! — Gritou Calunga, o touro bastante enfurecido e impaciente.

Foi então, que naquele exato momento, Elduin se levantou de seu banco e ao olhar para Eruitiel, falou — Meu nobre e protetor guardião da cidade de Animadria. Como foi você quem encontrou e viu com os próprios olhos as atrocidades e loucuras cometidas por este casal humano, eu acho completamente justo que você dê o veredito final sobre este caso. O que me diz? — Finalizou o elfo ao perguntar para o anjo ao mesmo tempo que também perguntava indiretamente aos outros que talvez quisessem se opor àquela decisão.

Porém ninguém foi contra ao ato do elfo, e em silêncio quase absoluto, todos esperaram com calma e sensatez a última palavra do anjo guardião que era extremamente respeitado e adorado pelos outros líderes.

Eruitiel então olhou para o casal de acusados e ao se lembrar das cenas horríveis que avistara na cabana e na caverna onde os dois cometiam seus “experimentos” , o belo e alto anjo apenas falou — Eu mesmo teria cortado a cabeça deles se eles assim, como qualquer outro bandido em nosso reino, não necessitassem de um julgamento justo e adequado para os seus crimes. —

— Então devemos matá-los? — Perguntou Gandor, o humano branco e de cabelos castanho curtos que também era bastante influente no conselho e julgamentos da cidade.

— Sim. — Respondeu o anjo sem nem hesitar. — Mas a maneira e como deve acontecer isso eu deixo com vocês. Mas lembrem-se que uma lamina afiada no pescoço sempre é bom, rápido e eficaz. —

Então todos os outros seres começaram a concordar e comemorar a decisão tomada pelo anjo, até que Elduin pediu silencio novamente e falou — Marveck e Cassandra da caverna dos horrores, vocês foram julgados e sentenciados à punição máxima pelos seus crimes horríveis e hediondos. Porém, caberá mim decidir como isto acontecerá! E eu acho justo conceder o ato final à Magair que tanto deseja fazê-lo. —

— Seu anjo maldito e elfo imundo! — Gritou e xingou Marveck inconformado. — Uma criatura com asas estupidas como a sua nem deveria conseguir voar! Será que vocês não têm olhos!? —

— Quieto! — Gritou Babagu furioso — A decisão já foi tomada! Magair, como você irá fazer? — Perguntou o branco prineve extremamente curioso.

— Bem, eu acho que eu tenho o pó certo para fazer este trabalho. Nós só precisaremos jogar um pouco neles e o resto acontecerá naturalmente. — Falou a fada com uma voz tão fofa e bonita que não combinava com as palavras terríveis e cruéis que ela estava dizendo.

— Excelente, caso encerrado então. Babagu, Magair e Gandor, levem os prisioneiros até a cela onde eles estavam, você pode fazer o que tiver que ser feito lá, senhora das fadas. Já Eruitiel, você vem comigo até meu salão, pois quero falar com você em particular. — Falou Elduin ao sair da sala de julgamentos acompanhado pelo belo e orgulhoso anjo.

Foi então que ao perceber que estava sendo levada para a sua morte, Cassandra, a mulher humana acusada, se ajoelhou perante a fadinha e começou a implorar — Oh, por favor bela e justa senhora fada! Por favor reconsidere! Nós não quisemos causar mal algum para seu povo! Nós podemos pagar de alguma outra forma! Por favor nos ajude! —

— Hahahahaha...! — Riu Daidu ao ver o desespero da pobre humana totalmente assustada.

Porém Magair apenas sorriu um sorriso sínico e assustador e ao acariciar o rosto belo e jovem da pobre e assustada humana, sussurrou — Não se preocupe, minha bela e jovem humana. Você se banqueteará muito bem antes de dar seu suspiro final. Você tem a minha palavra.... Digo, se você tiver forças o suficiente para derrotar ele. — E então levaram os prisioneiros que gritaram e choraram por todo o caminho até a cela.

Confuso e inconformado, Cazuza olhou para Guloria e Daidu antes de perguntar — Algum de vocês dois sabe o que ela vai fazer? —

— Ela vai dar a eles uma mistura de polens secreto que apenas as fadas sabem fazer. — Respondeu Baltazar, o asno. — Dizem que faz qualquer ser ficar com uma fome terrível, a ponto de matar e devorar qualquer criatura que estiver em sua frente. —

Guloria: — Você quer dizer então que... —

— Sim! — Falou Tereu, o faisão, ao se aproximar do pequeno grupo — Magair vai fazer com que os dois lutem, matem e devorem um ao outro dentro da cela. —

— Oh não! — Gritou cazuza espantado — Que terrível e..... Sádico! —

— Hahahahaha.... — Gargalhou Daidu gostosamente — Mas é isso que a Magair é..... Uma bela e pequenina fadinha sádica.... — E expôs um sorriso assustador e sínico de macaco contente.

 


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Notas finais do capítulo

Continua....



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