As crônicas de Animadria. "Guerras no Norte." escrita por Lord JH


Capítulo 20
Terror Noturno.


Notas iniciais do capítulo

Gureb e Smitor, fazem uma visita a Teref, e descobrem que a floresta está mais perigosa que o normal.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/754453/chapter/20

A floresta estava mais silenciosa e calma do que normalmente ficava àquela altura da noite. E perambulando pelas estreitas trilhas por entres as raízes das enormes árvores, Gureb, o urso pardo, andava acompanhado de Smitor, um curioso furão que decidira acompanhar o velho urso em uma visita a uma família de alces que viviam próximos a um brejo naquela região.

Enquanto caminhavam, Smitor investigava cada pedra, toca, galho e arbusto que encontrava pelo caminho, porém, ao investigar até mesmo as pequenas casinhas dos gnomos que viviam naquela região, o curioso furão nada encontrou.

— Gureb, você não acha estranho não termos encontrado ninguém até agora? — Perguntou Smitor bastante desconfiado.

— Você está certo, Smitor. O último ser falante que nós vimos foi aquela tetraz na clareira, e isso foi bem antes do anoitecer; agora até mesmo os morcegos não estão sobrevoando o topo das árvores. — Respondeu Gureb bastante desconfiado também.

— O que você acha que aconteceu nessa região? Será que tem algum predador assassino caçando nessa região? — Perguntou Smitor assustado ao pular nas costas do velho urso para se sentir mais seguro.

— Hahahaha... — Riu Gureb — Nada tema, meu pequeno amigo. Sou um urso! Se algum predador ousar mexer com a gente, vai se arrepender amargamente. — Garantiu o velho urso com bastante confiança.

O assustado Smitor não se sentiu mais seguro ao ouvir as palavras de seu amigo, mas para disfarçar o pavor, falou — Se você diz.... Mas mudando de assunto, como você sabe se o seu amigo também não foi embora como todos os outros? —

Gureb então parou de andar ao perceber que havia chegado ao final da trilha, e então, ao sentir o cheiro de água parada do velho brejo à sua frente e o canto dos sapos que ainda tentavam a sorte com as últimas fêmeas “solteiras” da temporada, o velho urso respondeu — Eu não sei, mas vamos saber agora. Esse é o brejo de Teref, ele mora naquela direção ali. — Falou o urso ao apontar o focinho para o lado oeste da margem do brejo.

— Então vamos logo, pois se tem uma coisa que eu sei sobre brejos e pântanos é que eles são cheios de mosquitos e moscas. — Reclamou Smitor, antes de sentir o pesado e velho urso andar novamente.

Então, depois de mais alguns minutos de caminhada, Gureb parou em frente à uma enorme e alta “casa” de madeira e falou — Estamos aqui. —

— Isso quer dizer que chegamos? — Questionou Smitor ao olhar para a enorme estrutura construída por vários troncos de madeira enormes, colocados em pé lado a lado, e alguns colocados deitados por cima dos que estavam em pé, formando assim uma espécie de teto também recobertos por folhas e galhos de todo tipo.

— Sim, me lembro bem dessa casa da última vez em que estive aqui. — Comentou Gureb enquanto forçava a sua memória que já acumulara muitas aventuras e histórias vividas.

— Os alces que você falou vivem aí!? — Perguntou Smitor maravilhado e espantado com o tamanho da moradia dos grandes cervídeos.

Foi então que uma crise de risos atingiu Gureb, que apenas após alguns segundos de gargalhadas, conseguiu controlar o fôlego, e responder —  Não, Smitor. Quem mora aí é um mastodonte chamado Queviri. O Teref e sua família vivem por sobre o carvalho ao lado dessa casa. Hêhehe.... Vamos lá agora. — Completou o urso ao se mover para o lado direito da enorme “casa” de madeira e finalmente avistar o grande carvalho pálido.

— Ali está! O grande carvalho pálido de Teref. E lá está ele acompanhado de sua mulher e filhas. — Falou Gureb ao se aproximar do belo e magnifico lugar.

O carvalho onde Teref mantinha residência era branco como nenhum outro, com folhas permanentemente vermelhas, e várias marcas de arranhões causados pelos chifres dos alces que utilizavam a casca branca daquele tronco como afiador de galhada.

Sob as folhas e os firmes galhos do carvalho branco, havia no solo uma cerca feita de vários galhos e gravetos mais grossos, esses fincados pelo próprio Teref como uma maneira de demarcar até onde seus filhotes recém-nascidos poderiam se afastar do pálido tronco de árvore.

Porém, naquele momento, as filhas de Teref já eram belas e jovens alces, prontas para terem filhotes na próxima primavera, e a sua bela e amada esposa ainda esperaria um bom tempo antes de parar de ter o seu próximo bebê, cujo talvez de herança levasse os traços da força do pai adiante.

— Olá Teref! Espero que tenha recebido o aviso da minha visita. — Falou Gureb ao parar diante da cerca de gravetos e galhos que rodeavam o grande carvalho.

— Gureb, seu guloso! Será que não conseguiu esperar até as minhas frutinhas rosas amadurecerem para saciar esse seu paladar exigente? Hahahaha.... Venha, entre e se sirva um pouco de amoras e mirtilos! Meus arbustos estão sempre cheios e disponíveis para velhos amigos que vem de longe. — Falou o grande alce pardo ao receber o velho urso e seu amigo furão.

— Muito obrigado Teref. Esse aqui é o Smitor, um furão amigo meu. Smitor, esses são Teref, sua esposa Ulvia, e suas filhas Jana e Peleri. — Falou o velho urso ao fazer a apresentação entre os seus amigos.

— Prazer em conhece-los, família. — Falou Smitor bastante humilde e educado.

— O prazer é nosso, Smitor. Vamos, se sirva de algumas frutinhas, os meus arbustos possuem as melhores frutinhas da região. — Falou Teref orgulhoso de sua própria plantação.

— Muito obrigado, amigo. — Agradeceu Smitor ao olhar e perceber que o lar de Teref era bastante humilde, porém bastante aconchegante.

— Ulvia, Jana e Peleri. Como estão as alces mais belas da região? — Perguntou gureb tentando ser cortês enquanto já se sentava e provava algumas das amoras mais próximas.

— Nós estamos bem, Gureb. Apesar de que ando bastante preocupada com a nossa segurança ultimamente. — Respondeu Ulvia um pouco abalada.

— Mas por quê? Aconteceu alguma coisa? — Perguntou Gureb, curioso como sempre.

— Nada demais, Gureb. Tratam-se apenas de boatos criados por pássaros para espalhar o medo nos corações dos covardes e das fêmeas. — Respondeu Teref bastante incomodado com aquele assunto.

— Pode não ser boato, pai. Fleder, o pica pau, jurou que avistou um tigre matar Ceruvia, a ovelha, e Teter, o cardeal, viu dois dragões brancos com os próprios olhos. — Falou Peleri inconformada.

— Dragões? Tigres? É por isso que a floresta está tão vazia agora? — Perguntou Smitor enquanto se deliciava com deliciosos e roxinhos mirtilos de qualidade.

— Sim. — Respondeu Teref — Os pássaros e outros animais espalharam o medo nos ouvidos e nas cabeças dos moradores da floresta, e a grande maioria fugiu em direção ao Sul. Mas eu não! Eu sou Teref, o campeão dos alces! Não ganhei quatro torneios consecutivos da competição de alce macho mais forte apenas para fugir e sair correndo da minha casa porque alguns passarinhos espalham algumas histórias mentirosas e assustadoras por aí. — Falou e bufou Teref para mostrar a sua extrema força e coragem.

— Nossa casa vale mais que as nossas vidas, pai? — Perguntou Jana, irmã de Peleri e filha de Teref.

— Não, Jana, mas eu não passei dias pegando água no brejo com o balde e trazendo até aqui para regar nossos arbustos e agora que eles estão dando os seus últimos frutos antes do inverno, eu decido abandonar o nosso lar com a nossa comida e o melhor brejo da região cujo meu pai teve que enfrentar sete concorrentes para conseguir nos dar as melhores algas brejeiras da floresta. — Explicou Teref bastante confiante de sua posição.

— Seis, pai. — Falou Peleri. — O senhor esqueceu que dividimos o nosso brejo com o alce Piriade e a filha dele, Carlucia? — Questionou a jovem alce.

— Sim, filha. Mas nós dividimos apenas porquê a sua irmã mais velha, Terbia, é mãe da filha dele. Não posso negar boa comida para a minha neta, minha filha e o meu genro. — Explicou Teref bem mais calmo.

— E quanto ao seu irmão, Teref? Alguma novidade sobre o velho Tereu? — Perguntou Gureb tentando mudar um pouco o rumo da conversa.

— Ah, Gureb. Faz tanto tempo que eu não o vejo.... Da última vez que ele me visitou, mamãe acabara de falecer, e papai ainda estava recentemente desaparecido. Mas ele estava bem, veio acompanhado de três esposas e dois filhos e duas filhas ainda pequenas. Ele me falou que estava morando próximo ao grande pântano, e que também possuía um pequeno brejo só para ele. — Respondeu e finalizou Teref antes de um grito de medo e desespero ecoar pela floresta.

— Socorro, socorro! Me ajudem! Minha mãe foi presa e capturada por seres que eu nunca vi antes em toda a minha vida! — Gritava um pequeno filhote de Tapir completamente assustado e desesperado.

— Ei garoto, calma! — Gritou Teref ao pular pela pequena e fraca cerca feita de galhos. — Onde foi que a sua mãe foi capturada e que seres estranhos são esses? — Perguntou o velho alce bastante interessado no relato do jovem tapir.

— Eu não sei, senhor. Eles são estranhos e altos, e andam em duas patas! Eu nunca havia sentido aquele tipo de cheiro antes. Eles apareceram do nada e jogaram uma espécie de rede em cima da minha mãe, mas eu consegui escapar antes mesmo de poder ver alguma coisa. — Respondeu o jovem tapir se lamentando de sua inexperiência e sua visão limitada.

— Não se preocupe, garoto. Você ainda consegue farejar a sua mãe e nos levar no local onde ela foi capturada? — Perguntou Gureb ao se aproximar do pequeno e assustado animal.

— Consigo sim, senhor. Mas será que apenas nós três conseguiremos salvá-la? Eu posso não ter visto eles direitos, mas eram pelo menos uns sete. — Confidenciou o jovem tapir bastante preocupado com a situação.

— Não se preocupe, pequeno tapir. Gureb e eu podemos dar conta de sete ou até oito bípedes estranhos e feio, sem falar que também tentaremos levar uma ajuda bem maior conosco. Agora paremos de conversar e nos leve até a sua mãe, e Peleri, vá até a casa do velho Queviri e conte tudo o que aconteceu! Também diga que se ele puder nos siga pelo cheiro e nos ajude a encontrar e resgatar essa pobre e coitada mãe. — Pediu Teref antes de preparar os cascos e o chifre para a corrida e provável batalha que estava por vir.

— Sim, pai. — Respondeu a bela e jovem alce antes de ir correndo em direção a enorme e grande casa de madeira ao lado do branco carvalho.

— Smitor, fique aqui com Ulvia, Jana e Peleri. Nós voltaremos assim que resolvermos tudo isso. — Falou Gureb para o furão antes de seguir o jovem tapir e o velho e corajoso alce pela floresta adentro.

Então, pouco tempo depois de uma breve e rápida corrida, Teref, Gureb e o jovem Tapir chamado Meneleu, encontraram as estranhas criaturas que haviam aprisionado e capturado a mãe do assustado tapir. E se tratavam de orcs!

Oito orcs estavam interrogando e torturando a velha tapir com uma ponta de lança quente, tentando fazer com que ela contasse onde estava todos os outros animais da floresta, enquanto a pobre e azarada tapir apenas gritava e se debatia na pesada rede de ferro e dizia não saber de nada sobre aquilo.

A visão de tal tortura provocou o ódio e a fúria de Teref que grunhiu e bufou bem alto antes de investir em um ataque rápido e forte contra todos os orcs totalmente distraídos naquele momento.

Gureb atacou logo em seguida, golpeando um orc que desviara dos chifres fortes e resistentes do alce, mas que agora encontrara a fúria das garras afiadas e cortantes do velho urso pardo.

Alguns segundos depois de batalha, quatro orcs já haviam sido pisoteados até a morte por Teref, e três dilacerados pelas fortes garras e dentes de Gureb, porém, antes que Gureb pudesse matar o último orc que ainda segurava uma espada em uma tentativa tola de assustar e afugentar o velho urso, uma flecha zuniu por detrás de um arbusto, acertando a pata traseira esquerda do velho urso o fazendo grunhir e gritar tão alto que o som ecoou por toda a floresta, quebrando o silêncio da noite.

Então, em uma tentativa de aproveitar essa oportunidade, o ultimo orc com a espada avançou na direção do velho urso, mas antes mesmo que ele pudesse desferir algum golpe, uma enorme tromba o agarrou pelo abdômen, o levantou e o jogou em direção a uma enorme arvore, o fazendo cair e quebrar vário de seus velhos ossos depois da queda.

— Queviri! — Gritou Teref em extrema alegria. — Que bom que chegou a tempo! Eu e Gureb conseguimos matar esses malditos, mas pelo visto alguns ainda se escondem como covardes entre os arbustos. —

Foi então que o velho mastodonte olhou para os arbustos altos mais próximos e falou — Bom Teref, esses covardes não poderão fazê-lo assim mais. Pois não existe arbusto forte o suficiente para protegê-los contra a minha força! — Falou e gritou o velho Queviri antes de barrir e avançar pesadamente contra os altos arbustos do local.

Então, assustados com a morte iminente, os dois orcs que estavam escondidos atrás dos arbustos largaram os seus arco e flechas e correram desesperados por suas vidas, desafortunadamente apenas para descobrir que mastodontes eram bem velozes quando precisavam ser.

Logo, quando os dois últimos orcs foram esmagados pelas poderosas patas de Queviri, o velho mastodonte retornou até os seus amigos e com a sua tromba bastante hábil ajudou a retirar a rede de cima da velha e pobre tapir, Casandra, que agradeceu e chorou bastante ao perceber que viveria e que seu filho estava bem e salvo com ela.

— Muito obrigada, meus bons senhores. O meu filho e eu estávamos deixando a floresta justamente por causa dos boatos de avistamento de vários predadores na região, quando fomos atacados por esses bárbaros malditos. — Explicou a velha Casandra ainda com bastante dor e desespero.

— Mas de onde eles vieram, por que orcs da região fariam isso com uma pobre e pacata tapir? — Perguntou Teref bastante confuso.

Foi então que o velho mastodonte cheirou um dos corpos de orc caídos no chão e falou — Eles não são dessa região, Teref. Devem ser bandidos que estão caçando e assolando terror em nossos amigos e conterrâneos. —

— Sim, eles me perguntaram bastante onde estavam os outros animais! Eles querem e vieram apenas nos devorar. — Completou Casandra ainda bastante apavorada e nervosa com toda aquela situação.

— Então temos que avisar Animadria e patrulhar melhor nossas florestas. Gureb, o que você acha dessa situação? Gureb? — Perguntou Teref ao se virar e avistar o velho urso caído e com respiração pesada.

— Gureb, meu bom amigo, o que você tem!? — Perguntou Teref temeroso e desesperado ao ver o seu velho amigo arfando e caído no chão.

Gureb então tentou falar algo, mas as únicas palavras audíveis foram — Minha perna.... Dor.... —

Foi então que Queviri, o mastodonte, avistou a flecha penetrada na carne da pata esquerda traseira do velho urso, e com firmeza, porem certa delicadeza, retirou a flecha que tanto causava dor e desconforto no pobre urso; apenas para descobrir um mal pior.

— Está envenenada! — Exclamou o velho mastodonte ao sentir o cheiro raro e característico que exalava da ponta da flecha feita com ferro negro nunca visto antes naquela região.

— Como assim envenenada!? — Exclamou e perguntou Teref totalmente preocupado e desesperado com a situação de seu velho, corajoso e bom amigo.

— De que tipo de veneno estamos falando? — Perguntou Casandra ao se preocupar com o assunto.

— Do tipo raro. Eu mesmo só cheirei deste tipo uma vez. Ele é extraído de um fungo raro que dá em cavernas, mas não é feito para matar, ele causa uma paralisia prolongada, que pode durar vários invernos até passar. — Explicou Queviri ao mostrar a flecha envenenada para a velha tapir.

— E como você sabe disso? Existe uma cura? — Perguntou Teref bastante temeroso e desesperado pelo seu amigo.

— Eu sei disso porque já vi esse veneno em ação há muitos invernos atrás, um cervo amigo meu foi atingido por uma zarabatana Goblin que estava banhada no mesmo tipo de veneno, ele se salvou do atirador graças a um amigo javali que atacou o maldito assassino e o matou, mas demorou três invernos até que o pobre cervo pudesse andar novamente. Eu mesmo o carreguei e cuidei dele pessoalmente durante todo aquele tempo. — Respondeu Queviri bastante triste e chateado com a situação futura do pobre e corajoso urso.

— Mas não existe, uma cura!? — Perguntou Teref uma vez mais.

— Talvez, uma vez um outro mastodonte, velho amigo meu, ao ver como o pobre cervo estava sofrendo, me falou que existe uma cura, mas que ela só é produzida pelas feiticeiras humanas que vivem no meio do grande pântano. Lugar bastante perigoso até mesmo para o meu povo. — Respondeu e explicou Queviri com cautela e paciência.

— Droga! Eu não conheço ninguém que conheça uma feiticeira do pântano, e os pássaros odeiam aquele lugar. — Lamentou Teref bastante furioso.

Mas foi naquele momento de revelação que Gureb juntou todas as suas forças e com uma voz bastante fraca e arfante, murmurou — Turoq.... Turoq.... —

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As crônicas de Animadria. "Guerras no Norte."" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.