As crônicas de Animadria. "Guerras no Norte." escrita por Lord JH


Capítulo 2
Amigos.


Notas iniciais do capítulo

Turoq e seus amigos conversam e planejam sobre a festa de comemoração ao outono.



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O outono tingia o sul de marrom enquanto os seres que habitavam aquele lugar se preparavam para o inverno mais rigoroso que eles já presenciaram.

No rio dourado, o humano indígena Turoq pescava trutas com o seu arco de madeira e a sua lança de ponta de pedra extremamente afiada enquanto conversava com o seu amigo Tapiti, o coelho, e o seu outro amigo, Morby, o gaio azul.

— E então Clarice, a pomba branca do Norte, me falou que esse vai ser o inverno mais rigoroso de todos os tempos. E que eu deveria ir com ela para as selvas do Sul. — Falou Morby enquanto observava Turoq pescar.

— E por que você não vai? — Perguntou Turok ao perfurar uma truta cinzenta com a sua flecha — Pelo jeito que ela fala das selvas do Sul para você, aparenta que ela deseja fazer um “ninho” com você. — Zombou Turoq ao colocar o peixe morto em um cesto de palha e vime.

— Há – há – há.... Você é tão engraçado Turoq.... Até parece que eu vou abandonar os meus velhos amigos por uma pomba qualquer que eu mal conheço. Até porque vocês sabem que eu estou me guardando para Mirilia. — Respondeu Morby ao fechar os olhos e lembrar da bela passarinha azulada com quem ele sonhava todas as noites.

— Eu ouvi falar que ela também vai voar para o Sul. — Falou Gibys, o esquilo vermelho, ao se aproximar pulando de um galho para uma pedra e se juntar a conversa.

— Está vendo Morby, você deveria aproveitar e voar com ela. Talvez você ganhe a disputa de canto e ela se apaixone por você. — Encorajou Turoq ao acertar outra truta com uma flecha disparada pelo seu arco.

— Talvez eu consiga.... Mas eu prefiro esperar o inverno acabar e a primavera retornar. Até porque eu não sou um bom cantor. — Lamentou Morby meio entristecido.

— Não diga isso Morby! — Gritou Tapiti, o coelho. — Você é um bom cantor. Eu mesmo adoro a sua doce melodia. —

— Obrigado Tapiti. Você é muito gentil. Mas você é apenas um coelho nascido no verão e com apenas um inverno de vida. Eu mesmo já vivi dois, e mesmo assim sei que não sei quase nada sobre o mundo. — Falou Morby enquanto abria as asas para se alongar.

— Conhecimento não se adquire apenas com vivencias passadas. — Falou Turoq suado pelos raios fracos, porém constantes do sol. — Vocês dois já ouviram histórias e contos meus suficientes para saber muito sobre o nosso mundo. —

— É verdade. — Concordou Tapiti. — O Turoq é o mais velho entre nós; ele já viveu 22 invernos e ele já fez tanta coisa.... Como daquela vez que você me salvou daquela ave do terror. — Enfatizou Tapiti ao dar um pulinho de alegria.

— Sim, mas eu não precisaria ter que salvar você se você tomasse mais cuidado quando vai para os campos abertos. — Resmungou Turoq fingindo falsa raiva. — Se eu não estivesse procurando iscas para pescar você estaria morto. — Completou o indígena ao levantar os braços e alongá-los.

— Talvez.... Mas isso me faz pensar.... Se você estava procurando por iscas, por que você usa o arco e a lança para pescar? — Perguntou Tapiti confuso.

Turoq apenas sorriu com a pergunta inocente do ingênuo coelhinho, e ao olhar para a lança e o arco de madeira em sua mão, respondeu — Heranças do meu pai. Como alguns de você sabem o meu pai era um guerreiro, caçador e pescador da tribo Kairiq. Foi ele quem me ensinou todas as técnicas antes de voltar para a tribo com a minha mãe. —

— E por que você não foi com eles? — Perguntou  Gibys, o esquilo.

— Porque os meus pais eram assassinos. — Respondeu Turoq de maneira direta.

— Assassinos? O que você quer dizer com assassinos? — Perguntou Tapiti curioso e inocente.

— Eles não só matavam peixes e criaturas sem ossos, Tapiti. — Esclareceu Morby ao pôr um fim na curiosidade do cinzento coelho.

Os olhos de Tapiti se esbugalharam ao escutar a reposta e ao olhar assustado para Turoq e Morby, Tapiti perguntou — Você quer dizer que eles matavam seres pensantes? Como.... Coelhos? —

— Coelhos, cervos, esquilos e aves. Tudo que eles conseguiam encontrar para se alimentar. — Respondeu Turoq enquanto olhava para o rio a espera de sua próxima vítima.

 — Eca, que nojo. Como alguém consegue comer a carne de um ser pensante? Ou pior, de um coelho! — Reclamou Tapiti inconformado com a informação.

— Predadores fazem. — Respondeu Morby enquanto olhava para o coelho inconformado. — Ou você já se esqueceu da ave do terror ou das raposas, lobos, cobras e águias que tentam todo dia nos devorar? — Perguntou Morby tentando demonstrar a razão.

— Mas eles são uns verdadeiros monstros. Como você conseguiria devorar alguém mesmo sabendo que aquela pessoa tem uma família para proteger e cuidar? — Perguntou Tapiti ainda inconformado.

— Da mesma maneira que eles também matam para alimentar a família deles. — Respondeu Morby sem rodeios — Se você está tão incomodado com esse fato não deveria estar aqui falando com a gente. Não está vendo a chacina que Turoq está fazendo naquele rio ao matar tantos peixes um após o outro? Ou você também não sabe que eu sou o maior assassino de minhocas e bichinhos que você jamais encontrará? — Indagou Morby com a sua boa inteligência.

— Mas os peixes e os vermes são diferentes.... Eles não sentem dor, ou pensam.... — Respondeu Tapiti meio incerto de sua resposta.

— Não? — Indagou Morby com um olhar curioso. — Quem disse a você que eles não sentem? — Perguntou Moby enquanto Turoq continuava simplesmente a pescar.

— Bom, eles não gritam... — Respondeu Tapiti bastante inseguro.

— E isso significa que eles não sentem dor? Você é um tolo se pensa isso. — Respondeu Morby ao limpar uma de suas penas com o bico.

— O que você quer dizer com isso tudo? — Perguntou Tapiti diretamente.

— Eu quero dizer é que somos idiotas se achamos que não somos assassinos só pelo fato de não matarmos seres pensantes. O fato é que todos nós consumimos vidas para continuarmos a viver. Ou você pararia de se alimentar se a sua grama ou cenouras gritassem? — Perguntou Morby já ciente da resposta.

Tapiti ficou meio triste e bastante pensativo sussurrou — Puxa, eu nunca pensei sobre isso antes.... —

— Sim, mas não precisa pensar. Pois o mundo não vai mudar só porque nós achamos ele um lugar injusto e cruel. Eu não vou deixar de ser um pássaro e você não deixará de ser um coelho se assim desejarmos. Então apenas aceite os fatos e viva. — Finalizou Morby ao descer da pedra e beber um pouco de água no rio.

Tapiti ficou calado depois da conversa, mas Gibys apenas riu e falou — Ainda bem que eu sou o único esquilo da floresta que já está com esconderijo repleto de nozes, sementes e avelãs. São tantas que eu até tive que enterrar algumas para quando as outras acabarem. —

— Que bom. — Falou Turoq ao pegar mais um peixe. — Só toma cuidado para não esquecer onde enterrou e ficar rodando pela floresta procurando como aconteceu no último inverno. Hêhehe... — Zombou Turoq ao se lembrar da cômica cena.

 — Ah, você fala isso porque não sabe o quão difícil é encontrar uma avelã depois que você a enterra no solo. Hunf! — Resmungou Gibys inconformado com a brincadeira.

— É verdade. — Concordou Turoq. — Mas eu estava pensando em te homenagear com um novo título até. Gibys, o plantador! É o mínimo depois de você ter plantado metade das novas mudas de aveleiras na última primavera. Hahahaha... — Brincou Turoq antes de fazerem todos rirem.

— Acho que ele merece esse título sim. — Falou Jaratataca, a cangambá que se aproximou para ouvir a conversa.

— Jarat, acordada a essa hora? Pensei que você só chegaria à noite, quando a festa começasse. — Falou Turoq ao colocar mais um peixe no cesto.

— Eu estava com um pouco de insônia. Então resolvi dar uma passada por aqui. Como estão os preparativos para a festa? — Perguntou Jarat ao se aproximar do rio e beber um pouco de água.

— Está tudo perfeito. — Respondeu Turoq ao limpar o suor da testa. — Peguei peixes o suficiente para o banquete de hoje à noite, sem falar em todo o peixe salgado que eu tenho estocado para o fim do outono e para o inverno. — Falou Turoq ao mostra a cesta com os pescados.

— Ótimo. Levarei uma sacola cheia de trufas e cogumelos que eu encontrei junto com, Huroq, o javali. Apesar de saber que você tem o maior estoque de comida da região, eu me sinto bem melhor ajudando. — Falou Jarat ao ficar de pé e esboçar um lindo sorriso amarelado.

— Hahahaha.... Vejo que alguém já comeu algumas da trufas e cogumelos que achou. Hêhehehe.... Não precisa trazer comida. Eu planto e produzo quase tudo o que como. Isso significa que a minha dispensa está quase sempre cheia. — Falou Turoq com orgulho de sua plantação.

— Mesmo assim levarei a comida. Talvez você até ache algum cogumelo e fruta que você nunca provou ou “plantou” antes. — Insistiu Jarat convencida de sua ajuda.

— Duvido muito. Morby sempre me traz sementes e frutas raras sempre que ele as encontra na floresta. As vezes até o Gibys ajuda. — Falou Turoq ao se abaixar e molhar o rosto com a água do rio.

— Ei, eu também ajudo! — Gritou Tapiti inconformado.

— Sim Tapiti, você também ajuda. — Falou Turoq ao se levantar e lembrar de todas as raízes que o jovem coelho lhe levara ainda no seu tempo de adolescência.

— Bom, mesmo assim eu vou levar. Quem mais vai para a festa? — Perguntou Jarat curiosa pela lista de convidados.

— Turuq, o texugo, Ralms, a doninha e os seus filhotes, Harox, o faisão e a sua esposa Gaina, que acabou de ter uma nova ninhada segundo Morby, Clevor, o castor e todo o seu clã, Miltris, o unicórnio, Uruq, o urso negro e a sua parceira Merida, Calvory, o cervo acompanhado da bela corsa branca Ilinei, o meu velho amigo Gureb, o urso pardo, Irinia, a corsa que ama amoras, Guilna, a codorna e toda a sua família, Trevor, o ratinho e todo o seu clã, Mirnia, a hamster, Pandora, a hamster anã, Aurora e eclipse, as irmãs gerbils, Morby, Gibys, outros esquilos, Tapiti e você. Esses são todos os que eu me lembro. Ao menos os que foram convidados e não aparecerão de intruso lá na hora. — Respondeu Turoq com convicção.

— Entendo. Vamos esperar que Huroq não apareça acompanhado de outros javalis para devorar toda a comida. Hahahaha... — Brincou Jarat com a fama da gulodice dos javalis.

— Hahahaha.... Não tem problema. Sempre acaba aparecendo um grupo de cervos, ovelhas, ou cavalos para fazer parte da festa. Javalis não serão um problema, se eles souberem se comportar. Tenho bastante comida, então, ao menos que alguém tente devorar alguém, todos são bem-vindos. — Falou Turoq ao se sentar na pedra ao lado de seus amigos.      

 Jarat: — Se você diz.... Sabe Turoq, eu estava pensando.... Esses dias eu conheci um certo cangambá.... E ele foi tão legal e atencioso comigo.... Será que eu posso.... —

 — Convidá-lo para a festa? Mas é claro que sim. Afinal todos nós queremos conhecer o seu primeiro “parceiro”. Hihihihi... — Riu Turoq ao perceber que Jarat ficara bastante envergonhada.

— Oba, finalmente vamos conhecer o primeiro namorado da Jarat! — Comemorou Tapiti ao pular e gritar de alegria.

— Seus bobos! Ele não é o meu namorado coisa nenhuma! Hunf! Ele é apenas um amigo que eu gosto muito. — Refutou Jarat bastante envergonhada.

— Tudo bem Jarat, adoraremos conhecê-lo mesmo assim. Ele está bem convidado. Agora, se me dão licença, tenho que retornar para casa e preparar os pratos e a decoração para a festa. Nós nos veremos a todos hoje à noite? — Perguntou Turoq ao apanhar a sua cesta e colocá-la em seus braços.

— Sim!!! — Respondeu todo os outros animais em uníssono.

— Ótimo, então vamos lá! Tapiti, você vem comigo? — Perguntou Turoq já sabendo da resposta de seu amigo inseparável.

 — É claro que sim. E não esqueça do Morby. Ele disse que vai com a gente também. — Respondeu Tapiti ao pular para perto de Turoq.

— Então vamos. — Falou Turoq, ao se despedir de Gibys e Jarat e partir para a sua humilde, porém confortável cabana onde ele prepararia todas as comidas e brincadeiras para a festa.

 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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