As crônicas de Animadria. "Guerras no Norte." escrita por Lord JH


Capítulo 13
Luz na escuridão.


Notas iniciais do capítulo

Merania conhece um ser que lhe cede uma informação bastante útil.



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Águias, corvos e corujas, gigantes e de tamanho menor, sobrevoavam calmamente a costa marítima ao redor da enorme formação rochosa conhecida como pedra da águia, enquanto procuravam algum tipo de alimento.

O mar ao norte do continente Sul era bastante rico em peixes e outros seres maiores que podiam alimentar e saciar até mesmo os dragões que estavam adorando aquele clima mais quente.

Velgert e Ereneu se deliciavam com uma carcaça gigante de uma baleia que havia encalhado na praia mais cedo e que servia de refeição para um enorme grupo de gaivotas, isso antes deles expulsarem os barulhentos pássaros.

Galbur, por outro lado, apenas ignorava os pedidos de Gnoria que implorava para acasalar com ele, e conversava tranquilamente com um albatroz curioso que lhe contava uma versão diferente do nome daquele lugar.

— E segundo os sátiros, elfos, e orcs que vivem em Meldruir, este lugar se chamava pedra do albatroz antes de um grupo de orcs pescadores acabarem morrendo nas cavernas daquela rocha e passarem a assombrar o lugar. Daquele dia em diante todos os albatrozes, fragatas, gaivotas e pelicanos abandonaram aquele lugar; E apenas uma águia de cabeça branca teve coragem de construir o seu ninho no topo da rocha depois daquela tragédia. — Falou Luc, um albatroz conversador e extremamente curioso.

— E o que tem dentro daquele lugar? — Perguntou Galbur ao olhar para a enorme rocha com aparência de bico de pássaro e seus dois buracos que eram na verdade duas saídas de caverna e davam forma aos olhos da figura.

— Ninguém sabe. — Respondeu Luc confidente.  — Alguns dizem que é um Lich e outros que é até um Golem maligno. Porém eu acredito que era no máximo um Licantropo furioso e que não gostava de orcs.  —

— Licantropo? Como um simples lobisomem poderia matar tantos orcs juntos? — Perguntou Galbur incrédulo.

— Eu não sei. — Respondeu Luc ao virar a cabeça e começar a limpar as penas da asa esquerda. — Mas até ontem eu nunca imaginei que dragões existiam, e olha só com quem eu estou falando agora? Um dragão! — Exclamou o albatroz em intensa admiração.

— Isso significa que não existem mais dragões por aqui? — Perguntou Gnoria extremamente preocupada.

Luc então redirecionou o seu olhar para a bela dragão branca e de olhos vermelhos, e falou — Não que eu tenha visto, senhorita. Mas não devem se apegar muito as minhas palavras, sabe como é....  Eu não costumo sair muito do litoral. — Concluiu o albatroz com uma voz tranquilizadora.

— Então ainda podem existir dragões no interior deste continente? — Perguntou Galbur um pouco mais interessado agora na conversa.

— Talvez. O Sul é bem grande e tem muitos lugares ermos. — Respondeu Luc sinceramente.

— Bom, quem sabe não encontramos algum parente de outra espécie enquanto voamos por aí? — Falou Galbur ao bocejar e fazer fumegar a sua saliva quente como ácido.

 Enquanto isso, no interior da pedra da águia, Merania e Trivia conversavam ativamente sobre as férteis terras do Sul.

— E na primavera tem tantas flores que o ar fica carregado de perfumes, abelhas e borboletas a procura de néctar. — Falava Merania enquanto preparava uma sopa com verduras e peixes.

— O que são abelhas e borboletas? — Perguntou Trivia inocentemente.

Foi então que Merania percebeu que estava falando de insetos coloridos para uma garota ruiva e de olhos verdes que só vira neve, gelo, fogo, e sangue por toda a sua vida.

— Oh minha doce e bela Trivia, é uma pena que você tenha crescido em um lugar tão duro e desolado…. Mas eu prometo que assim que nós recuperarmos o que é meu por direito, e o inverno acabar, eu mesma lhe mostrarei os campos floridos repleto de flores, insetos e pássaros tão belos quanto a cor dos seus olhos. — Falou Merania ao acariciar o rosto da jovem humana e fazer a bela garota corar um pouco de vergonha.

— Os meus olhos são mesmo bonitos? — Perguntou Trivia com as bochechas vermelhas como o seu cabelo.

Merania concordou com a cabeça e após olhar profundamente nos olhos da bela e jovem garota, falou — Os seus olhos são verdes como o pasto onde se alimentam os seres vegetarianos. Se eu fosse homem ficaria eternamente encantado com tal beleza. — Foi então que Merania fez uma breve pausa e ao virar o olhar na direção da sopa, falou — Pena que me lembra os olhos dela... —

— Dela quem? — Perguntou Trivia.

Mas antes que a sua pergunta fosse respondida, Melguer e Turino, dois prineves altos e fortes que acompanharam Merania em um grupo seleto dos melhores guerreiros do Norte, entraram acompanhado por um ser bastante peculiar e com uma aparência quase humana.

— Encontramos esse aqui perambulando pela caverna, senhora. Ele tentou atacar Finno, o arqueiro humano, e deu bastante trabalho para ser imobilizado. Pelo o que eu vejo ele parece ser um tipo de humano ou elfo. — Arriscou dizer Turino ao olhar para o rosto pálido e afilado do ser.

Merania porém não precisou arriscar palpite algum, e ao observar as orelhas pontudas e os longos dentes caninos brancos, a elfa negra sorriu e falou — Ele não é elfo ou humano algum. Bom, pelo menos não mais. O que vocês têm aí é um vampiro. E como fazia tempo que eu não via um. — Sussurrou a elfa ao se aproximar e examinar o rosto do pálido ser.

— Tenho fome.... Fujam daqui enquanto ainda podem... — Murmurou o fraco vampiro com os olhos marejados.

Merania deu um sorriso confirmador nos lábios e após se virar e pegar a faca que usara para cortar raízes minutos antes, agora usou-a para rasgar o próprio pulso e derramar sangue negro avermelhado dentro de uma pequena tigela de barro.

— O que você está fazendo, minha senhora? — Perguntou Trivia um pouco assustada com o ato de sua amiga mais velha.

Merania apenas sorriu e após encher a metade da pequena cuia de barro, respondeu — Alimentando um pouco o nosso convidado. — E ofereceu a pequena tigela ao vampiro.

O vampiro não pensou duas vezes e se soltou dos braços fortes dos prineves agarrando a cuia com força e bebendo todo o liquido quente e fresco que havia nela.

Merania apenas esperou o vampiro terminar de beber, e após perceber que ele deixara cair a cuia e que o rosto pálido ganhara um pouco mais de cor, a elfa se aproximou um pouco mais e perguntou — O que faz um vampiro na pedra da águia? —

— Eu moro aqui. — Respondeu o vampiro rapidamente. — Pelo menos desde que me expulsaram de meu antigo lar. E isso já faz um bom tempo. —

— E onde você morava antes? — Perguntou Merania ao olhar para o seu pulso direito e checar se o ferimento ainda estava sangrando.

— Eu morava em um castelo com muitos amigos e uma esposa a quem eu amava muito. Mas isso agora é passado. Mas eu é quem deveria perguntar.... O que vocês fazem aqui? — Perguntou o vampiro invertendo a situação ao olhar para os dois prineves e para a garota humana de olhos verdes.

— Estamos aqui porque achamos que seria um lugar seguro para ficar, já que tem a fama de ser assombrado por fantasmas de orcs. — Respondeu Merania sinceramente, o que fez os outros olharem surpresos.

— Fantasmas de orcs? Há, pelo visto a brincadeira que eu fiz com aquele fauno e aqueles dois mangustos funcionou. Eles fugiram apavorados. — Comentou o vampiro com sinceridade e um sorriso sapeca no rosto.

— Então foi você quem criou a fama de assombrado para este lugar? — Perguntou Merania tentando compreender a situação.

— Sim, fui eu. E pelo visto deu certo, quase ninguém vem aqui. Exceto os que não sabem ou os que não acreditam. — Falou o vampiro ao encarar os olhos azuis e as pequenas sardas esbranquiçadas na bochecha da elfa.

 E suponho que você também tenha algum envolvimento com o assassinato dos três orcs pescadores? — Perguntou Merania ao tentar ler e desvendar a mente do misterioso vampiro.

Porém, ao ouvir o fato sobre os orcs, o vampiro apenas olhou para os lados e desviou o seu olhar dos gélidos e brilhantes olhos azuis da elfa, e respondeu. — Não eram três.... Foram cinco. E eu estava com fome. — Murmurou o vampiro envergonhado.

— Então é você que tem vivido por aqui durante todo este tempo, não é? — Perguntou Merania mais uma vez ao olhar para o rosto pálido e frio do vampiro.

— Sim. — Respondeu o mesmo com sinceridade. — E pretendo ficar aqui até que tenha um outro lugar para viver. — Finalizou o vampiro ao encarar a elfa com seus olhos vermelhos como o cabelo da jovem humana que estava ali presente.

— Pode ficar à vontade, já que este é o seu lar. Porém, me interessa bastante essa sua história sobre o seu antigo lar.  Você falou sobre um castelo. Ele fica longe? — Perguntou Merania com certo interesse no olhar.

— Um pouco... — Respondeu o vampiro desconfiado. — Mas por que você deseja saber? E o mais importante, quem são vocês e por que se escondem aqui? São bandidos ou fugitivos? — Perguntou o vampiro ao olhar para os dois prineves novamente.

— Podemos dizer que alguns nos chamam assim. — Respondeu a elfa com um sorriso provocante e sedutor no rosto. — Mas me diga, esse castelo que era seu.... O que houve com ele? — Voltou a perguntar a elfa com sua voz profunda e suave.

— Ele continua no mesmo lugar. — Respondeu o vampiro. — Sobre o mesmo controle do elfo bandido que o tomou de mim. —

— Um elfo você diz? — Perguntou Merania mais interessada ainda.

— Sim, um elfo de cabelo negro chamado Miciet. Ele e sua corja de elfos, humanos, e ninfas invadiram e tomaram o castelo de mim e do meu povo. — Respondeu o vampiro com pesar nas palavras.

— Eles eram todos vampiros? — Perguntou Trivia ao se envolver na história. — Digo, o seu povo? —

— Não, eles não eram. Haviam humanos, faunos, gnomos, e até mesmo gigantes. Todos viviam em um antigo vilarejo que foi queimado quando o ataque ocorreu. — Respondeu o vampiro rapidamente.

— O mesmo ataque que lhe custou o castelo? — Perguntou Merania com o seu raciocínio lógico funcionando de maneira esplendida.

— Sim. Quando o dragão serpente deles queimou a vila eu não pude ignorar e me prontifiquei para derrotar a fera. E consegui! Mas com a ajuda e sob as custas da vida de três amigos gigantes e de um fauno esperto chamado Cleumar. — Respondeu o vampiro furioso.

— Então se você conseguiu derrotar o pior de todos, por que você perdeu? — Perguntou Merania esperta e observadora como sempre.

— Porque no momento em que eu matei a besta, ela já havia incinerado metade do vilarejo enquanto a outra metade ainda estava queimando. E enquanto eu estava enfrentando a fera, Miciet e os seus bandidos invadiram o meu castelo e mataram a minha bela esposa Vivian.... Junto de vários amigos meus. — Confidenciou o vampiro triste e cansado de relembrar aquela história.

— Ela era humana? — Perguntou Trivia curiosa com o relato.

— Não, ela era vampira. Foi ela quem me transformou em um vampiro quando eu a conheci em uma noite perto de um lago. — Respondeu o vampiro sem pesar.

— Mesmo sabendo dos riscos? — Perguntou Merania intrigada com a história.

— Sim. Fui eu quem pediu para ela me transformar quando eu descobri o que ela realmente era. — Respondeu o vampiro com olhos nostálgicos de prazer.

— E ela não lhe falou nada sobre o risco de você morrer de vez ou se tornar um Ghoul? — Perguntou Merania ainda mais curiosa que antes.

— Não, ela avisou, mas eu á convenci de fazer o contrário e eu fui tão insistente que ela aceitou. — Explicou o vampiro um pouco acanhado.

— Bom, pela sua aparência eu digo que funcionou. Mas o que houve com o seu povo? Foram todos mortos? — Perguntou Merania atenta sobre os detalhes do conto.

— Sim. — Respondeu o vampiro com grande pesar nas palavras. — Eu fui o único que sobreviveu aquela noite. E ainda me lembro de ver o corpo de minha esposa sendo atirado por cima do muro depois que eu retornei sozinho para o castelo. — Comentou o vampiro sério.

Merania: — E eles ainda habitam o mesmo lugar? —

Vampiro: — Eles quem? —

Merania: — Os bandidos que tomaram o seu castelo. —

— Ah, sim. Eu tentei invadir o lugar inúmeras vezes a noite e sozinho. Mas eles colocaram guardas atentos e espalharam alho pelo castelo para afugentar e evitar a minha presença naquele lugar; depois que eu causei algumas mortes por lá, é claro. — Confirmou o vampiro com sinceridade.

— Interessante.... Qual seria o vosso nome, senhor? — Perguntou Merania educada, porém firme.

Porém o vampiro apenas gargalhou alto, e após controlar a sua crise de riso, falou — Nome? Sim, eu já tive um nome.... Eles me chamavam de Luciferio, o vampiro da luz. Mas agora eu não tenho nenhum. —  

— Então me diga como posso me referir a você. — Falou Merania mais firmemente que antes.

— Lucifer ou Lucio está bom. Ou se preferir pode usar o nome antigo também. — Respondeu o vampiro indiferente com a resposta.

— Então, Lucifer, o que me diz de recuperarmos a sua casa novamente? — Propôs Merania com um sorriso provocante no rosto.

— Há, e como eu vou fazer isso? Aquele lugar está apinhado de guardas e bandidos. — Respondeu Luciferio impaciente.

— Está, mas eu tenho aqui comigo os melhores e mais bravos guerreiros e seres de todo o Norte. E caso as coisas fiquem difíceis demais para se resolver na espada, sempre tem os dragões. — Concluiu Merania com calma e sensatez.

Luciferio não entendeu claramente a parte sobre os dragões, então ao olhar para os dois prineves e para garota ruiva e de olhos verdes novamente, falou — Bom, eu não recomendo a tentativa pois eu mesmo já tentei e falhei. E como lhe disse antes, eu sequer posso me aproximar por causa do cheiro do alho que me faz sentir náuseas terríveis. Mas caso queiram jogar as suas vidas fora.... Fiquem à vontade. — Concluiu o vampiro sem a menor cerimônia.

— Não se preocupe conosco. Garanto que ficaremos bem e lhe devolveremos o seu castelo em apenas uma noite. — Falou Merania confiante em suas palavras.

— E em troca? — Perguntou o vampiro já esperando alguma coisa de valor.

— E em troca você permitirá que eu e o meu exército possamos nos abrigar e nos refugiar por lá até partimos para o sul em busca de nosso lar por direito. — Respondeu e explicou Merania sinceramente ao estender a mão direita para o vampiro.

Luciferio apenas olhou nos olhos azuis da bela elfa, e após pesar a proposta de Merania em sua desconfiada e instável “balança” mental, respondeu — É, parece um acordo justo. — E apertou a mão da elfa selando assim um acordo entre dois seres da escuridão da noite.

 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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