As crônicas de Animadria. "Guerras no Norte." escrita por Lord JH


Capítulo 10
Contos noturnos.


Notas iniciais do capítulo

Velnia conta histórias antigas para Triogor, um belo e raro tigre negro.



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O vento frio ecoava pelas terras gélidas do Norte. A lua cheia no céu mostrava que aquela noite seria uma das mais lindas que o Norte jamais vira.

Enquanto os lobos uivavam e comemoravam a deusa lua, um vulto grande e negro se movia pela neve em direção a montanha de Dubaldor.

O vulto negro se tratava de um enorme e belo tigre negro que se dirigia até uma pequena passagem secreta do lado leste da montanha.

O seu nome era Triogor, e ele nascera com uma cor tão rara que poucos seres conseguiam enxergá-lo durante uma noite escura.

Porém hoje era noite de lua cheia, e ao se aproximar de uma porta de pedra, o tigre negro posicionou a sua enorme pata por sobre uma runa antiga cujo ele não sabia o significado, mas sabia que isso faria com que a porta se abrisse.

Então, depois de atravessar a porta que se fechou novamente, Triogor seguiu pelo escuro corredor repleto de runas e desenhos antigos, esses entalhados nas pedras das paredes pelos primeiros anões que habitaram a montanha.

Quando finalmente chegou no final do corredor, Triogor colocou a pata sobre outra runa e esperou abrir outra porta de pedra que levava para um quarto amplo e bastante confortável.

— Trio, é você? — Perguntou Velnia que acabara de sair da banheira onde se banhara com água quente e esperava a chegada de seu amado parceiro.

— Sim Veln, sou eu. Cheguei um pouco mais cedo que o normal? — Perguntou Triogor ao se aproximar da bela elfa negra que ainda pingava água quente pelo seu corpo belo e escuro.

— Sim, um pouco. Você geralmente chega quando eu já estou quase dormindo. Estava com saudades de mim? — Provocou Velnia ao se ajoelhar e abraçar fortemente o belo tigre.

Triogor apenas ronronou e ao lamber um pouco da água que ainda molhava a bochecha da elfa, falou — Digamos que um pouco. Afinal já faz dias que eu te vi pela última vez.  —

Velnia concordou e depois de colocar um vestido leve e transparente para dormir, ela se moveu até uma pequena mesa de madeira e ajeitou alguns pergaminhos enquanto falava — Eu fiquei bastante surpresa quando vi Balduir na varanda perguntando se você poderia vir hoje à noite. —

Triogor se espreguiçou um pouco e após se alongar e se aproximar da mesa, ele falou — Balduir é um bom corvo. Mantém o nosso segredo e divide contos e novidades comigo. — Segredou Triogor ao olhar para os pergaminhos que continham algumas runas bastantes semelhantes ás que estava nas paredes do corredor.

— Hum.... Então você também se mantém bem informado sobre o que está acontecendo? — Perguntou Velnia ao olhar de lado para o tigre.

— Sim, um pouco. Ele me falou que alguns anões saíram da montanha acompanhados por Kimerion e muitas carroças com armas. Eles foram para a guerra? — Perguntou Triogor intrigado.

— Sim. — Respondeu Velnia rapidamente. — Eles foram contra os seres dos rochedos. Kimerion tem muita raiva das tribos de lá. —

— É mesmo? E por que? — Perguntou Triogor confuso e curioso.

Velnia sorriu com a curiosidade extrema do felino, e após acariciar a sua cabeça, respondeu — Isso que eu vou contar é segredo, mas acho que não tem problema contar isso para você. —

Triogor apenas se sentou e ficou parado esperando a explicação.

Velnia: — “Há muito tempo atrás Kimerion tinha uma irmã chamada Irina. Certo dia a irmã dele saiu com uma amiga cabra para brincar perto dos rochedos, elas levaram alguns dias até chegarem lá, mas quando chegaram encontraram a terra natal de Kilua, a amiga cabra de Irina.” —

— Pelo o que eu sei muitas cabras moravam lá. Isso antes das tribos humanas juntarem todos os predadores por lá. — Falou Triogor ao fazer um comentário.

— Sim, mas naquele tempo as coisas ainda eram mais calmas, e Irina e Kilua puderam brincar por bastante tempo, antes de serem encontradas por membros de uma das tribos do rochedo.  — Falou Velnia antes de fazer uma pausa dramática e assustadora.

Triogor: — Não me diga que... —

—  Sim, Irina e Kilua foram assassinadas pelos homens da tribo, e Kimerion e Baldur, o pai de Kimerion, ficaram sabendo do acontecido por um falcão que avistara tudo.  — Falou Velnia com uma voz calma, porém triste.

—  E eles não buscaram vingança? —  Perguntou Triogor absorto na história.

— Eles quiseram, mas na época eles estavam mais ocupados com os Urukianos que estavam tentando roubar tesouros de Dubaldor. Então, a morte da princesa anã logo foi esquecida, exceto pelo Kimerion, que lembra até hoje. — Segredou Velnia sincera.

Triogor: — E o que houve com Baldur, o pai de kimerion? —

Velnia parou de respirar por um breve momento e logo após olhar para as runas escritas nos papéis em sua frente, falou — Ele morreu. Se suicidou se jogando no buraco da mina mais profunda da montanha. Nos negando assim o seu próprio corpo — Respondeu Velnia entristecida.

— E ninguém nunca desceu para recuperar o corpo do rei? — Perguntou Triogor confuso, mas curioso.

Velnia suspirou lentamente e após acariciar a cabeça do tigre novamente, respondeu — Não é tão simples assim, Trio. Existem coisas mais antigas e perigosas que anões no fundo daquela mina. Seres que só vivem nas profundezas da terra. —

— Que tipo de seres? Balrogs? — Zombou o tigre com um tom de sarcasmo na voz.

— Ninguém sabe exatamente, mas os seres antigos como ents, golens, e até mesmo dragões, falam de criaturas conhecidas pelos nomes de “demônios”. Segundo eles, os demônios são seres de diferentes formas e tamanhos e que se alimentam de carne crua e sangrenta. — Sussurrou a elfa com um tom de voz sombrio.

— Então eles são carnívoros? Prazer, eu sou um demônio. Afinal eu também como carne crua e sangrenta. — Zombou Triogor totalmente descrente daquele mito.

Porém Velnia não se deixou levar pela zombaria do tigre, e ao olhar diretamente nos olhos do negro felino, falou — Os demônios eram diferentes dos tigres e outros predadores. Segundo o ent que eu conheci eles eram sanguinários e matavam sem parar. Poucos deles sabiam falar, e os que falavam se comunicavam em uma língua estranha que nenhuma criatura na época conseguia entender. — Explicou Velnia com veemência.

— Eles parecem com os tais Ghouls e Wendigos.... E eu não sabia que você conhecia um ent. — Comentou Triogor fascinado.

Velnia apenas sorriu com o entusiasmo do tigre e ao concordar com a cabeça, falou — É, eu ainda era uma jovem elfa quando conheci ele. Ele era uma das criaturas mais velhas do mundo, e segundo o próprio, ele nasceu no final da segunda era, antes do que as fadas e os gnomos chamam da era das trevas. —

— Era das trevas? O que é isso? —  Perguntou Triogor mais curioso ainda.

Velnia: — Foi um período no qual os dragões e outros seres antigos como ents, golens e os Saurotropos, tiveram que se unir contra um inimigo em comum. Segundo Miamar, que era o nome do ent que eu conheci, houve duas eras das trevas, uma no final da primeira era e outra no final da segunda. —

 — Mas o Miamar não falou que ele nasceu no final da segunda? Então como ele sabe sobre a primeira? — Perguntou Triogor confuso.

— Porque ele ouviu conto dos outros ents mais velhos. — Respondeu Velnia rapidamente. — Sem falar que existem criaturas como os golens que dizem ser os seres mais antigos desta terra. E muitos deles, aqueles que conseguiram apender o idioma único, falam de um mundo antes mesmo de outros seres existirem. O que alimenta a minha teoria de que já aconteceram muito mais do que apenas duas eras. — Segredou Velnia contente.

 — Tudo bem, mas o que houve na segunda era das trevas? — Perguntou Triogor ansioso com o relato.

— Segundo Miamar, uma grande coisa parecida com uma bola de fogo ou um sol caiu do céu, essa coisa bateu tão forte na terra que acordou os demônios e os atiçou para que saíssem das profundezas e fossem caçar na escuridão, pois essa coisa soltava uma fumaça escura que encobria o sol e tornava o clima mais agradável para os tais demônios. — Contou Velnia com maestria.

— Então os demônios começaram a caçar e matar todo mundo? — Perguntou Triogor empolgado com a história.

Velnia: — Sim, e isso forçou a todos os seres que viviam naquela época, e sobreviveram ao impacto do objeto misterioso, a se unir e lutar contra os dois inimigos. Pois dentro do objeto enorme que caíra, veio mais alguns seres. —

— Qual? — Perguntou Triogor, com os olhos brilhando de ansiedade.

— Miamar não sabia direito, pois ele nunca avistou um, mas segundo ele a maioria dos seres os chamavam de “os escuros” ou “os negros”, e diziam que eles eram grandes e possuíam um formato estranho e com olhos grande, nunca visto antes. — Explicou Velnia contando certo detalhes.

— E como eles sobreviveram a essa tal de.... Era das trevas? — Perguntou Triogor ainda um pouco descrente com aquela história toda.

Velnia: — Segundo Miamar eles tiveram que se unir. Certo dia, depois de quase todos os seres estarem sendo caçados e dizimados impiedosamente, um certo dragão chamado Driagari, reuniu todos os dragões e outro seres alados da época e fez com que a notícia de que todos os seres precisavam se unir para enfrentar um inimigo em comum alcançasse cada criatura no continente. Os seres alados se separaram e tentaram espalhar a mensagem, pois naquela época cada criatura falava uma língua diferente, e poucas delas eram amistosas uma com a outra. —

— Interessante. — Comentou Triogor ainda absorto na história.

Velnia: — E então, depois de muito tempo, vários seres conseguiram se reunir em um só lugar, cada um falando uma língua diferente e todos desconfiados um com o outro, mas unidos contra um inimigo em comum. Driagari então decidiu que eles deveriam criar uma língua única, resultado da mistura de várias palavras de diferentes seres. E de algum modo, ele conseguiu. —

Triogor: — Então é por isso que nós falamos a mesma língua? —

— Sim, agora que todos os seres, tanto predadores, como sobreviventes, conseguiam se comunicar entre si, Driagari decidiu juntar os seres mais fortes e perigosos da época e pôr um fim nos lugares por onde os demônios saiam e expulsá-los novamente para as profundezas da terra. — Falou Velnia começando a ficar empolgada com o próprio relato.

Triogor: — E eles conseguiram? Certo? —

Velnia: — Sim, mas não sem custos. Muitas vidas foram perdidas nas batalhas, e segundo Miamar, muitos seres foram extintos naquele tempo. E no ataque a última “fonte” de demônios, que segundo Miamar era uma enorme montanha no Norte do continente, Driagari caiu, morto por um demônio voador gigante que cortou a sua garganta e o derrubou no chão. Dizem que a queda e a morte de Driagari foi tão chocante que a própria terra tremeu e se partiu, soterrando inúmeros demônios e seres que estavam lutando, dividindo o continente em pedaços cortados pelo mar, e fazendo o sol brilhar mais uma vez. —

— Mas se Driagari morreu, o que houve com os demônios e os outros seres sobreviventes? — Perguntou Triogor ansioso pela resposta.

— Os demônios fugiram e voltaram para debaixo da terra, pois segundo Miamar, a luz do sol incomodava os seus olhos sensíveis acostumados a escuridão das profundezas. E enquanto aos outros seres, eles sobreviveram ao que Miamar chamou de era da ruina, que foi o tempo que o nosso mundo levou para se restabelecer como antes. Apesar de que agora o mundo estava, segundo Miamar, muito; mais muito diferente do que era antes. — Explicou Velnia finalizando o relato.

— Mas, e os “escuros”? O que houve com eles? — Perguntou Triogor ainda curioso com o conto.

— Eu não sei. Segundo Miamar eles desapareceram quando os demônios fugiram e se esconderam em um lugar secreto onde somente eles podem entrar. Mas segundo eu ouvi, algumas noites eles saem por ai....  A procura de tigres negros levados. Hihihi... — Provocou Velnia ao se afastar da mesa e se jogar na cama quente, grande e confortável.

— É mesmo é? E o que eles fazem com as elfas negras levadas? — Perguntou Triogor enquanto se aproximava lentamente da cama.

— Parece que eles atacam elas. — Respondeu Velnia com um olhar provocativo e desafiador.

— Hum.... Então acho bom eu proteger uma elfa negra que eu conheço e atacá-la eu mesmo. — Falou Triogor antes de saltar na cama e encher Velnia de lambidas e carinho.

 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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