A Viagem de Sara escrita por Carol Coelho


Capítulo 4
Parte 4 - No Limiar de Um Mundo em Branco


Notas iniciais do capítulo

boa leitura c:



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(No capítulo anterior...)

Não sabia para onde estava indo, somente era levada pelo rio logo atrás de Milena. Agora, via muitas árvores fechando quase totalmente a passagem de luz, formando arcos ao se juntar. As sombras eram frescas e a água ali era mais gelada. A torrente se acalmou para um fluxo contido e então, Sara não sentia mais nada abaixo de si, tampouco sentia suas roupas molhadas.

***

Uma árvore colorida a esperava com um buraco enorme em sua base. Outro detalhe importante era que essa árvore flutuava no ar, assim como Sara, sendo conduzida por uma correnteza invisível na direção da árvore. O céu agora era bonito, não agressivo e forte. Ao passar pelo buraco, viu tudo branco. Encontrava-se então sentada ao lado de Milena, escorada em um enorme pinheiro. Olhou para trás e viu o vazio. Olhou para baixo e se viu no limiar de um mundo em branco. Sentiu-se poderosa e no controle de tudo ali.

— Você já deve imaginar o que vai acontecer aqui — ouviu uma voz indefinida vinda de lugar nenhum, afinal, tudo o que existia era o pinheiro atrás de si, mas ele não era mais um pinheiro. Era um carvalho magnífico e resplandecente.

— Não sei — respondeu Sara, insegura. 

Uma risada gostosa e confiante pareceu aquecer seu coração, a fazendo relaxar e apreciar o branco excessivo ao redor, que lentamente ia se distorcendo e dissolvendo, dando início a cores e formas. Com um chilreado grave e acalentador, um pássaro com cauda de fogo surgiu como se saísse de dentro do carvalho, que agora era um coqueiro. Sara sentiu o chão abaixo de si esquentar e incomodar um pouco. Um sol amarelo nasceu do meio de um oceano que parecia se encher lentamente. A maresia logo tomou conta dos sentidos de Sara, que respirou fundo se levantando e puxando Milena para cima. A água do mar agora umedecia esporadicamente a areia em que elas estavam pisando. Era morna de um jeito agradavelmente refrescante. Sara sorriu e olhou ao redor, vendo árvores com frutas que nunca havia visto antes simplesmente brotarem do chão. 

As cores que se apossavam do céu eram magníficas e iam ficando cada vez mais intensas. Mesmo sob a forte luz do sol, estrelas apareciam brilhantes e delicadas no céu sem nuvens. Um canto suave parecia preencher o ar um pouco acima das ondas que quebravam aos pés de Sara e Milena. Era um lugar vazio que ia se moldando conforme elas avançavam por ele, criando caminhos e elementos à vontade das andarilhas. A cada passo, ficava mais magnífico e Sara estava mais e mais encantada. Esse fora, de longe, seu local favorito até agora, porém sentia-se receosa, como se algo pudesse acontecer a qualquer segundo.

Mirando Sara atentamente, Milena sempre ficava assustada ali pois nunca sabia exatamente como aquele lugar se moldaria, porém ela precisaria admitir que essa praia a estava deixando extasiada. Caminharam sem rumo por longas horas até darem de cara com um paredão de pedras que demarcava o final.

— Acho que é hora de voltar — comentou Sara olhando para o muro. O céu estava levemente migrando de azul para alaranjado em decorrência do pôr do sol.

— Ainda temos outros dois lugares para visitar — avisou Milena.

Todas as questões que atormentaram Sara no momento em que a misteriosa mocinha apareceu em sua porta pareceram voltar à tona com uma força assustadora. Agora se repreendia pela sua imaturidade de seguir uma menina completamente desconhecida nessa aventura tão insana que começava a duvidar que fosse real, começava a duvidar dos seus próprios sentidos. Olhou com desconfiança para a areia abaixo de si e para o céu que se acinzentava com uma velocidade incrível e assustadora, prometendo uma grande pancada de chuva para os próximos minutos. Repentinamente, as coisas não pareciam tão reais como pareceram outrora e Sara se sentiu tensa.

— Não sei mais se devo seguir-te — comentou em um tom formal. Milena sorriu dócil, olhando receosa para o céu acima de suas cabeças. — Será isso um sonho? — perguntou mais para si do que para qualquer um, virando a cabeça para o paredão de pedras. Correu seus dedos pelo minério cinza só para ter certeza de que podia senti-lo. Ainda podia. Estava quente e áspero, porém ela não confiava mais tanto assim nos seus sentidos. A conversa prosseguiu em um tom muito erudito que deixava Sara um pouco confusa.

— Somente se quiserdes que seja. Sonhos nada são além de ensinamentos sobre nós que tentamos passar a nós mesmos.

— Como assim? — questionou Sara indignada.

— Queres uma solução ou não? — perguntou Milena enquanto grossas gotas de chuva começavam a cair. — Isso não é sonho algum, Sara. É, em verdade, uma viagem. — O mar ficava cada vez mais violento e o vento agora se sobrepunha ao canto suave enquanto a chuva engrossava cada vez mais. Sara se calou e deixou-se encharcar pela água e pela compreensão esmagadora de que não era real. Não tinha como ser. — Uma viagem dentro do suprassumo da existência consciente. — Continuou Milena. Sara gostaria de ter realmente visitado aqueles lugares, porém agora parecia meio impossível que realmente fossem reais. A verdade se abateu sobre ela e repentinamente, Sara se sentiu cansada. — Nossa jornada não terminou ainda, Sara.

Milena a puxou com uma força extraordinária para o mar revolto que as envolveu e puxou para suas profundezas. Sara se sentiu afogar por um segundo breve demais e então estava novamente sentada à copa de uma árvore outrora frondosa. Agora o que lhe restava eram alguns galhos ressequidos e folhas acinzentadas.

Sara suspirou. Era um mundo cinza novamente. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado ♥



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