Lily, 
Segue o convite do meu casamento.

Petúnia parou com a caneta-pena a centímetros do papel. Como deveria continuar?

Sim, irei me casar. Valter pediu minha mão para papai. O jantar de noivado já aconteceu, é nessas horas que seu aprisionamento nessa escola para anormais é benéfico: sua presença foi completamente dispensada.

Sorriu satisfeita, tinha certeza que isso iria atingi-la como uma facada no estômago. Ser chamada de anormal sempre incomodava a caçula da família.

Não pense que estou enviando o convite ou esta carta por vontade própria – não subestimaria sua tolice –, está mais para livre e espontânea pressão. Mamãe me forçou. Por mim, você sequer seria informada de tais acontecimentos.

Mordeu o lábio, estava sendo muito má. Não, não podia pensar assim. Lily era a vilã, Petúnia estava fazendo o certo.

Mas como não sou eu quem faz as regras, e sou sensata o suficiente para obedecer aos mais velhos, fiz o que fora ordenado. Minha educação foi de primeira, não que você algum dia vai saber o que isso significa.

Muito bem, mostre sua superioridade Petúnia.

Sugiro, entretanto, que você não venha. Sinceramente, nada deixaria meu casamento mais perfeito do que sua ausência. Nem mesmo o colar de diamantes da loja do Senhor Saldanha. Acho desnecessário que minha futura família, a família de meu noivo, entre em contato com uma aberração como você. Faça a nós duas um favor e continue nessa escolinha, escondida do mundo, vivendo sua vidinha medíocre, enquanto eu trilho o início da minha vida, do meu futuro.

Se é que você realmente sente todo este amor que sempre repete sentir, prometa-me que não virá.

Petúnia Evans, futura Petúnia Dursley.

 Petúnia terminou de ler a carta, o sorriso arrogante aos poucos desaparecendo, e sentiu os olhos arderem. Lembrava-se da época em que assistia filmes da Disney com Lily e planejavam, por horas, como seria o casamento delas. Encontrariam um lindo príncipe? Claro que Petúnia seria a madrinha de Lily, e Lily a de Petúnia! Lily, alguns anos mais nova, ainda era fascinada pelos vestidos rodados e queria casar-se com um, enquanto Petúnia já preferia os justos.

Mas isso fora anos atrás, quando as coisas eram diferentes. Quando a ignorância da verdade fazia Petúnia e Lily agirem como iguais, quando a inocência da infância impedia que vissem uma à outra sem a máscara da realidade.

Nunca admitiria, mas depois de tantos anos, ainda amava a irmã. Entretanto, não poderia apoiar o que Lily era. Um dia quisera ser um deles, como ela era tola! Com os anos, superando a rejeição de não poder ser especial, passara a achar que era melhor ser humana. Agora acreditava que bruxos eram coisas anormais, aberrações que iam contra Deus. Como seus pais podiam idolatrar tanto os poderes da caçula? Por que ficaram tão felizes quando Lily foi chamada para ser monitora chefe ou sabe-se lá como o cargo era chamado? Por que pareciam dar mais atenção a Lily do que a Petúnia? Sempre que ela chegava da escola era uma comoção gigante! Petúnia parecia sempre ser esquecida à sombra da brilhante Lily Evans.

Não no dia de seu casamento. Aquele seria seu dia especial. Seu momento de brilhar.

Petúnia dobrou a carta e colocou-a no envelope do convite, fechando-o.