O Sangue do Mestiço escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 9
A origem


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo que traz novas interações e um quê introspectivo



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“Acalme-se, Eyanosa”, a voz de Macawi ecoou pela mente da nativa. Entretanto, seus olhos estavam bem abertos: via dois homens brancos andando ao lado de um índio, um rapaz de seu próprio povo. Não, ela não estava lá pela paz, mas pela guerra e justiça. E então disparou a flecha. Viajando a uma grande velocidade, cortou o ar com ferocidade e passou pela grande massa verde que separava a caçadora de seu alvo. Patwin nem sequer vislumbrou que seria atingido por algo. De repente, o mestiço sentiu o impacto contra seu braço, pouco abaixo do ombro, somado a dor intensa da perfuração. A ponta de osso da flecha atravessou pele e carne como se fossem seda, chegando ao ponto de encontrar o outro lado do braço de sua vítima.

Urrando de dor, Patwin caiu no chão enquanto, trêmulo, encarava o próprio braço perfurado e encharcado de sangue. Com a tensão do momento, Richard logo se deitou no chão e pôs as mãos sobre a cabeça, torcendo apenas para que aquela situação passasse magicamente. Adaky, por outro lado, sabia bem que aquele fora um típico ataque advindo de algum nativo, mas não conseguiu visualizar a atacante.

— O que você fez? — Macawi falou com revolta para Eyanosa. — É exatamente este tipo de coisa que queremos evitar!

— Não seja tolo! — Eyanosa se fechou para os conselhos do mais velho. — Boa coisa não querem. Por que esses brancos estariam tão longe da vila deles?

Do outro lado, Adaky tentava detectar, sem temor, quem teria atacado seu grupo. Ele sabia bem que dificilmente seria um alvo. E se fosse? Bem, ele pouco tinha a perder.

— Nós viemos em paz — explicou o jovem nativo em voz alta.

— Escute-o — aconselhou Macawi.

Eyanosa ficou pensativa. Realmente fazia sentido. Como aqueles dois homens poderiam estar sequestrando um índio? Um deles se debatia no chão sujo de terra e sangue, enquanto o outro se acovardara deitando-se com as mãos a esconder a cabeça. Não. Um índio não se deixaria ser levado por aquele tipo de gente. Relaxando o braço, ela olhou para Macawi e disse:

— Vamos seguir o seu plano.

Adaky, que continuava a tentar visualizar algo em meio ao verde da densa vegetação, aos poucos notou uma aproximação. Duas pessoas de pele avermelhada, cor de canela, aproximavam-se em meio a mata e as árvores. Um homem baixo e uma moça um pouco mais alta. Os dois tinham a típica pintura corporal Secotan: linhas azuis ao longo do corpo. Além disso, o uso de penas como adorno para a cabeça também entregava que eram da sua mesma tribo. Aos poucos, as faces começaram a se mostrar identificáveis. E o jovem índio conhecia bem aquela dupla. “Eyanosa e Macawi”, pensou com felicidade antes de correr em direção a eles.

Enquanto isso, Richard levantou-se lentamente, ainda temendo por sua vida. Viu o índio correndo em direção ao nada e simplesmente achou aquilo estranho. Olhou para o lado só para ver Patwin se contorcendo e gemendo de dor.

— Isso deve doer bastante — comentou o artista.

— Não brinca — respondeu Patwin ofegante antes de voltar a gemer de dor.

E como doía! A flecha havia atravessado apenas seu braço, mas era como se aquela dor irradiasse por toda sua alma. Demorou um tempo para perceber que toda sua roupa estava cheia de sangue e sua vista escurecia aos poucos.

— Ei, não apague, Patwin — alertou Richard, demonstrando algum tipo de preocupação.

Além de sentir dor intensa, o mestiço se preocupava por sua própria vida. Sangrava muito e aquela seria uma forma que ele não esperava morrer. Entretanto, o socorro estava para chegar.

— Sou eu, Adaky — disse o jovem quando finalmente estava a poucos passos da dupla atacante.

Eyanosa largou o arco e, com grande felicidade, correu em direção ao nativo. Dando um salto, abraçou-o com força. Disse:

— Eu pensava que você estava morto!

— Ainda não — respondeu Adaky com um sorriso.

Macawi se aproximou e pôs a mão sobre o ombro do jovem de maneira afetuosa.

— Fico feliz em te ver de volta, garoto. Mas quem são aqueles dois? — Questionou o mais velho.

— Boas pessoas. Sigam-me — respondeu o garoto.

Os três índios foram até onde estava o pobre mestiço ferido. Ainda acordado, ele mostrava grandes sinais de que não aguentaria passar mais muito tempo com os olhos abertos.

— Este é Patwin. É um mestiço, metade como nós — explicou Adaky. — Perdeu muito sangue. Temos que tirar essa flecha dele.

A visão do mestiço estava borrada, de maneira que ele apenas enxergava os contornos de suas novas companhias: um homem baixo, magro e aparentemente inofensivo ao lado de uma moça esbelta e de traços fortes. Macawi se aproximava para retirar a flecha, mas logo lembrou de um detalhe importante.

— Ponta envenenada? — Questionou olhando para Eyanosa.

— Sim — respondeu a nativa. — Sorte que o atravessou.

— Sim. Mas vamos ter que puxar pelo outro lado. Isso vai doer bastante, mestiço.

Pat mal podia ouvir o que falavam, mas sentia que, seja lá o que viesse a seguir, seria doloroso. Richard pouco entendia, tendo em vista que aquelas pessoas estavam utilizando o dialeto Secotan. Ficou imaginando o que aconteceria, mas já havia identificado algo claro: não seria morto. Pelo menos não naquele momento.

— Prepare-se, Patwin — Adaky disse calmamente para o mestiço.

Isso o homem ouviu bem. Respirou fundo enquanto Eyanosa segurava seu braço e Macawi pegava a flecha próxima a ponta. “É agora”, pensou o mestiço em meio a um emaranhado de imagens que se formavam em sua cabeça. Seria aquilo comum no mundo indígena? Seu pai passara por muitas situações como aquela? Ou pior, seus avôs? “Espero que não doa tan...”, não conseguiu concluir seu pensamento. Com um forte puxão de Macawi, a madeira da flecha começou a deslizar por dentro de Patwin. Ela escorregava por sua carne e sangue, e cada milímetro movimentado era uma explosão de dor para ele. Foi impossível não gritar histericamente, além de soltar vários impropérios que nem mesmo Richard conhecia.

— Está perto — disse Adaky, falando em inglês.

“Perto? Ainda tem mais?”, o mestiço estava entrando em desespero. E então, recebendo um último puxão, a flecha finalmente deixou para trás o corpo do homem. O corpo do mestiço não suportou a dor e ele acabou desmaiando. Richard observava tudo com os olhos atentos. O sangue, a dor, os gritos. Tudo tão vívido.

— Ele vai ficar bem? — Perguntou com curiosidade.

— Espero que sim — respondeu Adaky. — Ele perdeu muito sangue, mas não estamos longe da tribo.

Richard repensou tudo que havia vivido nos últimos dias e tudo que iria viver a seguir. Era absurdo pensar que passaria um tempo numa tribo indígenas, mas o destino adorava brincar com ele. O que poderia fazer? Enquanto isso, Macawi moeu algumas ervas que trazia consigo e aplicou-as diretamente sobre os ferimentos de entrada e saída do mestiço.

— Isso deve dar um jeito no sangramento, ao menos por enquanto — falou olhando para Adaky.

— Bem, acho que já podemos ir, não? Já estamos há tempo demais aqui — comentou o artista.

Entendendo parcialmente bem o inglês daquele garoto, Eyanosa questionou:

— E você? Quem é?

— O nome dele é Richard. Um rapaz estranho, inoportuno e estúpido. Mas sofreu nas mesmas mãos que eu — explicou Adaky falando em dialeto Secotan.

Richard apenas observou sem compreender o que se passava naquela conversa. Amarrando algumas cordas em Patwin, Macawi finalmente deu as ordens:

— Vamos à tribo. O povo da cidade pode esperar. Esses dois brancos devem servir para uma conversa inicial.

Eyanosa assentiu com a cabeça e, finalmente, o quinteto partiu rumo à tribo. Enquanto andavam, Macawi se aproximou da garota e disse:

— Tudo poderia ter sido muito mais fácil se você não tivesse disparado a flecha. Você se comprometeu a agir com cautela — o mais velho estava realmente desapontado. — Sabe que poderia tê-lo matado, certo? Não é isso que buscamos. Queremos justamente o contrário. É por mal entendidos como esse que tribos entram em guerra. Estamos aqui pela paz.

— Eu estou pela justiça — respondeu Eyanosa sem polimento algum. — Como eu poderia saber que eles eram inocentes?

— Como saberia que não eram?

Após aquilo, Eyanosa parou de caminhar. Estava revoltada com o rumo que a conversa estava tomando. Richard seguia atrás arrastando Patwin com o auxílio de Adaky. Macawi recuou e foi até a índia revolta.

— Você é igual ao seu pai — começou dizendo. — Isso não é ruim. Ele também está sempre pronto para a ação, para a luta, para o sacrifício. Mas existem momentos em que até mesmo o maior dos guerreiros deve guardar o seu arco. Muitas vezes esse é o tipo de decisão mais sábia a ser tomada, capaz de mudar os rumos da história. Às vezes as guerras são vencidas com palavras e negociações, Eyanosa. Sei que você tem boa intenção e sei que guarda dentro de si uma verdadeira indignação por tudo que vem acontecendo. Isso é natural e seu pai pensa da mesma maneira. Mas não devemos nos precipitar. Você quer garantir paz e prosperidade para nosso povo, certo?

Eyanosa, com menos calor em sua alma e mais calma, respondeu baixinho:

— Sim.

— Então não nos precipitemos em guerrear — finalizou o homem.

Distante da floresta e ainda mais da tribo, uma porta se abria. Edward Muller caminhava derrotado dentro de sua própria mansão. A grande sala não mais agradava seus olhos. A cozinha pouco o atraía e ele nem mesmo encontrava mais conforto ao encarar aqueles quadros mostrando uma família feliz. “Felicidade? O que é isso?”, perguntou a si mesmo. Sim, fazia tempo que o ricaço não sentia qualquer forma de prazer ou satisfação. Desde o sumiço de Jessica, talvez ainda antes. As semanas anteriores ao seu desaparecimento não foram nada agradáveis na relação pai e filha. Mas isso não importava naquele momento: tudo que queria era um bom copo de bebida. Talvez dois, três ou mesmo quatro. “A garrafa inteira”, pensou enquanto puxava a fonte de seu possível alívio da adega.

Edward não era de beber muito, limitando-se a tomar alguns drinks durante momentos festivos, apenas. Não havia mais motivo para festejar. A onda de morte e sofrimento arruinara a cabeça do homem e ele desejava uma fuga. Abrindo a garrafa e se assombrando com o odor do álcool que escapara do gargalo, logo tratou de começar a beber. A bebida desceu fácil por sua garganta a um primeiro instante, mas não tardou para iniciar a sensação de queimação por todo seu corpo. Muller fez uma careca e, puxando uma cadeira de madeira próxima, sentou-se para tentar aproveitar melhor o que a bebida tinha a oferecer. Era um uísque envelhecido de alta qualidade. Não deveria ser tomado naquela quantidade, mas isso realmente importava?

Após mais alguns goles, as pernas dele começaram a tremer e ele sabia que não conseguiria subir as escadas para o quarto se continuasse. Dessa maneira, levantou-se com cuidado e, levando a garrafa semicheia na sua mão direita, foi para as escadas. Os degraus de madeira de alta qualidade e resistência foram apoio suficiente para as pernas trêmulas do homem. Não tardou para estar no primeiro andar da casa. Originalmente, Muller desejava seguir para seu quarto. Entretanto, parou de andar ao passar ao lado da porta do quarto de sua filha. Ficou encarando a madeira maciça, ao mesmo tempo em que uma espécie de medo atravessava sua espinha. Ele sentia como se pudesse encontrar Jessica lá. Como se pudesse abrir a porta, falar com sua filha e dizer que tudo iria ficar bem. “Não, não vai”, ele refletiu antes de dar um longo gole de sua bebida. E então lembrou-se da voz dela. Doce, suave e de uma paz sem limites. Ou ao menos era assim como ouvia, como sentia. Sim, aquelas memórias traziam paz. Não se tratava de uma Jessica desaparecida, metida com índios e nem qualquer outra coisa do tipo. Era simplesmente sua filha sendo apenas isto: sua filha. Não resistiu e adentrou o quarto da garota.

Era o quarto típico de uma jovem: sua cama arrumada, um violão e algumas bonecas distribuídas pelas estantes, além de bons livros juntos ao criado-mudo. Tudo estava bem cuidado, parecendo até que a garota um dia voltaria. Com os olhos úmidos de lágrimas, Edward sentou-se sobre a cama e começou a encarar as paredes lisas e de cor lilás. Traziam uma paz tão grande. Antes eram brancas, sem vida. Ele se lembrava bem: Jessica tinha seus oito anos de idade.

— Pai, você prometeu — disse a garotinha. — Quero um quarto de princesa.

Edward riu com aquilo e coçou seu queixo sem pelos. A garota usava um vestidinho rosa belíssimo e seus cabelos negros jaziam soltos.

— Bem, tendo em vista que você já se parece com uma princesa, nada mais justo do que ter o quarto de uma — brincou o pai.

Rindo, levantou-se e estendeu a mão para garota. O toque caloroso da mão da criança sempre o enchia de amor e o dava forças para seguir em frente. Conduzindo sua filha pelo corredor da casa, foi até o quarto de hóspedes, que na prática servia como um depósito.

— Aí está — Muller apontou para latas de tinta e equipamentos ali presentes.

Jessica entendeu na hora que finalmente teria o seu tão sonhado quarto. Saltando de alegria, ela abraçou fortemente seu pai e disse:

— Te amo, pai! Muito obrigada!

E, sorrindo e levando sua filha nos braços, Edward Muller retornou para o quarto dela conduzindo o material necessário. Lá dentro, ele logo começou a pintar aquela parede branca sem graça. Jessica ajudava trazendo um ou outro material que ele pedisse. Era sinergia pura e Muller sentia-se como um pai de verdade. Após algum tempo, todo o quarto estava finalmente pintado. O homem suava com a alta temperatura na região durante aquela época, enquanto a garota já estava deitada em sua cama cansada.

— Está feito, princesa — falou amorosamente Edward.

A garota saltou da cama para abraçar mais uma vez seu pai. “Nunca me canso disso”, ele pensou. A garota então perguntou:

— Quando poderei tocar as paredes? Essa cama no meio do quarto fica estranha. Quando poderemos encostá-la de novo na parede?

— Calma, mocinha — Edward ria intensamente. — Tudo leva um tempo. O trabalho duro foi feito, agora devemos aguardar que a tinta seque. Com dedicação e paciência, não existe nada na vida que não possamos desfrutar. Agora é só uma questão de paciência mesmo: já nos dedicamos o suficiente. Sugiro que vá brincar com suas bonecas um pouco. Quando chegar a hora eu lhe avisarei.

A garota por um breve segundo aparentou estar aborrecida, mas logo mudou sua expressão para felicidade genuína e agradeceu o pai. Ela então saiu do quarto para buscar suas bonecas e se divertir. Ah, que tempo bom Edward Muller vivia.

Voltando ao presente, ele se via bebendo enquanto relembrava de toda a história. Estava quase que deitado na cama de sua filha apreciando a leve brisa que entrava da janela próxima a cama. Como desejava que o tempo simplesmente parasse ali. Mesmo em uma ilha devastada, ele estava vivendo a vida dos sonhos dentro de sua própria mente. Entretanto, a realidade sempre fazia questão de vir como um baque. Lembrou então que nada daquilo era real. A realidade, na verdade, era morte e finitude. Tudo acabava, mas para ele as coisas acabaram antes do que deveriam.

Levantando-se com dificuldade, decidiu que deveria dormir em seu quarto. Pôs a bebida em cima do criado mudo e arrumou a cama de Jessica. Segurou a garrafa mais uma vez e pôs-se em direção ao seu quarto. Ao abrir da porta, pôde contemplar o oposto do visto no ambiente anterior: tudo estava desarrumado. As janelas estavam em péssimas condições, a cama não era feita há semanas e os móveis estavam aos poucos sendo devorados por pragas. O lugar era tão mal cuidado quanto a sua alma. Só havia uma coisa bem cuidada ali: o pequeno baú com as joias de sua esposa.

Depois da pequena viagem imaginativa no quarto da filha, foi impossível para Edward não encarar aquele bauzinho acima do armário. Ele era negro e tinha anjos feitos de ferro servindo como adorno. Combinava com sua esposa, Sarah: ela foi um verdadeiro anjo em sua vida.

— Quanta saudade sinto de você — disse o poderoso e ao mesmo tempo enfraquecido homem enquanto encarava aquele objeto.

Por fim, não resistiu: conseguiu trazer o baú para baixo após algum esforço. Não estava tão empoeirado quanto esperava, mas não era algo para se reclamar. Abrindo-o e dando mais um gole na bebida, Muller pôde rever joias e memórias da sua amada esposa. Havia anéis, colares e brincos. Sentiu falta de um bracelete, mas que importava? Enquanto olhava e tocava aquelas joias, ele se lembrava de cada momento em que colocou em Sarah.

— Verde como seus olhos — disse Edward enquanto colocava um belíssimo colar com detalhes esverdeados em sua esposa. — O ouro representa a preciosidade do nosso casamento. Apenas representa, porque evidentemente valemos muito mais do que qualquer preciosidade desse mundo.

Sarah sorria como uma rainha. Já estavam casados há anos, mas Edward nunca largava o seu cavalheirismo e jeito galanteador. Era o melhor marido que ela poderia pedir.

— Mas por quê? Estamos em alguma data que eu tenha esquecido? — Sarah questionou enquanto encarava os olhos apaixonados dele.

— Precisa ser alguma data especial para comemorar a sua presença na minha vida? Qualquer dia com você é especial, Sarah Muller — e começou a beijá-la intensamente.

Aquilo já era o suficiente. Edward Muller não conseguia passar muito tempo pensando no amor da sua vida sem logo em seguida cair em prantos. Deu mais um longo gole na garrafa. Estava quase vazia, mas não parecia suficiente. Mais um gole foi tomado e, quando ele tentava colocar a garrafa sobre o criado-mudo, acabou quebrando-a. Bebida e vidro voaram. Muller acabou tendo a mão cortada e o seu sangue começou a escorrer móvel abaixo. Aquilo doía demais, ainda mais pelo fato de ter um caco preso em sua mão. Levantou-se e tentou caminhar em direção ao banheiro, mas o andar estava pesado e a sua visão trêmula. Tudo girava ao seu redor e o seu corpo parecia lento e pesado, incapaz de qualquer reação mais rápida. Edward Muller acabou caindo.

Ainda desperto, começou a se lembrar também da queda de sua esposa. “Ela adoeceu, apelei para a ajuda daqueles nativos e ela simplesmente morreu da pior forma. Eles só serviram para aumentar o sofrimento dela!”, pensou com ódio. Aquilo bastava. Aquele era outro assunto no qual não conseguia se concentrar e muito menos falar sobre com ninguém. Levantando-se mais uma vez e com o sangue pingando no chão, o poderoso homem encontrou forças em seu ódio para andar até o banheiro. Retirou o caco de vidro e urrou de dor. Começou então a se lavar. Enquanto a água escorria por seu corpo, Edward cultivava uma certeza: também lavaria as máculas da Ilha de Roanoke. Os culpados pelas feridas de sua alma seriam punidos. O tempo deles havia chegado.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado pela leitura. Nos vemos semana que vem ;)



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