Tarja Preta escrita por Maya


Capítulo 9
Luto.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753934/chapter/9

— Ah Edgar, você só diz isso porque não a conhece! – Gabriela murmurou chateada. Após o jantar desastroso, ela voltou para casa e contou tudo aos amigos, inclusive a Cláudio.

— Você tem de conhecê-la melhor antes de sair falando mal. – Edgar deu de ombros. – Fico feliz que não esteja mais enraivada comigo.

— Eu ainda estou queimando de ódio. – ela rosnou. – Mas preciso desabafar com alguém, então você está temporariamente perdoado.

— Tudo bem. – ele riu. – Continue a contar essa história chata e entediante.

— Basicamente não fui nem um pouquinho com a cara dela, e ela sem duvidas é do tipo que vai querer ser gentil comigo pra depois me tratar como escrava ou me mandar para um colégio interno. A mesma coisa aconteceu com a Cinderela!

— Você não é uma princesa num conto de fadas. – ele revirou os olhos. – Deixa de drama, você nem mora com seu pai! Não acredito que falou que queria fazer sexo com quatro meninos ao mesmo tempo! E não acredito que seu pai acha que eu e o Daniel ficamos com você... Por que não disse a verdade?

— Estava irritada. – ela choramingou. – Eu estou tão triste que desmarquei meu segundo encontro com o Cláudio.

— Ótimo! – Edgar sorriu.

— Ótimo? – Gabriela olhou desconfiada para o amigo. – Eu pensei que eram meus amigos! – Edgar entrou em desespero por ver a menina chorando, principalmente por saber que ele era o culpado.

— Gabi... Dani e eu só queríamos lhe proteger!

— Então você assume que quer estragar a minha vida?! – gritou ela chorando mais ainda. – Eu deveria saber... Deveria saber que não posso confiar em você, Edgar! – o rapaz arregalou os olhos.

— Está na cara que esse garoto não gosta de você de verdade! Não queríamos fazer você chorar... Mas você merece coisa melhor! Entenda que Dani e eu só fizemos isso porque sabíamos que o Cláudio não é a pessoa certa para você!

— Então não existe ninguém certo para mim?!

— Só estamos tentando lhe proteger.

—---------------------

Vestido completamente de preto, Daniel encarou os parentes que estavam chorando e depois olhou para o caixão que estava em sua frente. Sua mãe estava abraçada com seu pai, que a consolava como se ele realmente se importasse com a sogra que estava sendo enterrada.

— Alguém quer dizer algo sobre Dona Conceição? – o padre perguntou após o sermão.

— Eu. – Daniel murmurou fazendo sua mãe se emocionar. Caminhando lentamente até o microfone o rapaz suspirou. – Hoje estamos reunidos aqui somente com um propósito... Uma dor, um suspiro. Estamos aqui para celebrar a morte da minha querida e velha avó. Infelizmente, ela se foi por causa do tétano... – a mãe do garoto arregalou os olhos. – Eu tentei alertá-la! Disse para ela vender aquela maldita casa enferrujada, mas a filha de uma égua não me ouviu e continuou chupando gelo. – ele começou a chorar. – Vovó, sei que você não está mais entre nós, que nunca mais irei sentir seu cheiro de velha, sentir sua pele enrugada tocar minha testa e nem saborear o gosto de sua preciosa comidinha... Sei que nunca mais irei rir de você, roubar sua dentadura, raspar suas sobrancelhas enquanto dorme ou fazer você pentear meus cabelos ou massagear os meus lindos pés...

— Daniel! – gritou Sérgio tentando evitar que o filho continuasse o discurso indelicado. Todos estavam perplexos diante as palavras do rapaz, que aos prantos continuava a prestar homenagens inusitadas à falecida avó.

— Obrigado por me dar amor e por me compreender nos momentos mais difíceis... Quero me lembrar de você e desse momento emocionante para todo o sempre! – então o rapaz correu até o caixão, abrindo-o. Logo em seguida, tirou uma caneta do bolso e escreveu D&C (Daniel & Conceição) na testa da falecida. – Agora seremos eternos!

— Daniel, saia daqui agora! – Sérgio gritou enquanto Paola soluçava de tanto chorar.

— Mas ainda não acabei...

— AGORA!

—---------------------

— Não acredito que você tirou uma foto de sua avó morta dentro do caixão e postou no facebook! – Edgar falou perplexo enquanto tomava sorvete na companhia do amigo e curtia a foto pelo celular.

— Eu quero compartilhar meu luto com todos os meus amigos. – respondeu ele dando de ombros. – Eu amava tanto minha avó...

— Calma. – Edgar deu um tapinha nas costas do amigo para consola-lo. – Perder alguém é sempre doloroso... Quer outro sorvete?

— Não, este já é suficiente. – Daniel suspirou tentando evitar as lagrimas. – Não acredito que meu pai me expulsou! Era um momento importante para mim! Ele não tinha o direito...

— Cara, ele teve motivos. – Edgar falou tentando não rir da situação. – Você abriu o caixão, riscou a testa dela e ainda tirou uma foto...

— Ela iria gostar! – Daniel o interrompeu. – Todos agem como se a falecida fosse uma pessoa maravilhosa e santa... Minha avó me ensinou tudo o que sei, ela era uma velha maldosa! Com certeza não iria querer que eu agisse como todos os outros! Ela está feliz por ter o funeral que sempre mereceu!

— Tudo bem... Compreendo.

— Mas vamos mudar de assunto. Não aguento mais falar sobre dor e tristeza, preciso te contar algo bom. Tenho uma novidade maravilhosa.

— Que novidade?

— Irei ser papai! – Edgar arregalou os olhos e cuspiu todo o sorvete.

— Como assim?! – gritou pegando um guardanapo para limpar a camisa e a mesa cuspida. – Pai?! Você enlouqueceu?! Você nem terminou o ensino médio!

— Isso não é ótimo?! – berrou abraçando o amigo. – Estou tão feliz! Quero que você seja o padrinho!

— Daniel... – Edgar ainda estava chocado. – Como assim, cara? Você nem me contou que tinha perdido a virgindade! Você engravidou que garota?

— Eu? Como assim engravidei? – Daniel não estava entendendo nada.

— Você não estava dizendo que vai ser pai?

— Ah... Sim, mas eu não engravidei ninguém! – ele riu. – Irei adotar um cachorrinho! – Ed suspirou quando todas as luzes da lanchonete se apagaram.

— O que será que aconteceu?

— Deve ter faltado energia... – sussurrou Daniel.

— Nossa... Está escuro aqui, né?

— Não sei, não estou enxergando nada! – Daniel falou procurando seu sorvete. – Que merda...

— Pode me dar sua mão? Estou com medo.

— Não acredito que tem medo de escuro! – disse Daniel aliviado já que também tem medo de escuro.

— Porque acha que durmo com uma luminária acesa?! – disse Edgar levantando da mesa bruscamente.

— Aquele foguete azul brilhante?! – perguntou Daniel confuso levantando-se também. – Sempre achei que era uma babá eletrônica que algum extraterrestre implantou em sua casa! – Ambos, se movimentavam com precisão enquanto iam superando o medo a cada passo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tarja Preta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.