Tarja Preta escrita por Maya


Capítulo 38
Milagre.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos leitores. Quero pedir desculpas pela demora. Meu computador quebrou e não tive como postar novos capítulos para vocês. Espero que gostem.



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Ana havia ligado para João para pedir que ele buscasse Gabriela. A mulher praticamente forçou a filha a ir para casa do pai pois a adolescente estava “confinada” dentro da própria casa há dias.

Ali, na casa de João, Gabi prometeu a si mesma que não sairia do quarto até o pai mandá-la de volta para Daniel e Edgar.

“Preciso vê-lo, eu preciso de noticias do Daniel!”, pensava ela enquanto dava uma crise de choro.

— Gabi? – João bateu na porta. – Vamos querida, saia daí.

— Não!

— Pare com isso! Está bem crescidinha!

 

— EU DISSE NÃO! – João rosnou e voltou para sala jogando pragas em todo mundo. Gabriela se levantou da cama e resolveu tomar banho em sua suíte, mas assim que tirou a roupa outra pessoa bateu a porta. – Não! – gritou sem motivos.

— Eu não perguntei nada! – sua madrasta respondeu.

— Não! – gritou. – Vá embora!

— Não!

— Vá se ferrar! – Gabriela gritou fazendo-a bater mais forte na porta.

— Eu vou arrombar se você não abrir!

— Você não tem esse direito! Eu não quero estar aqui, não quero sair e não quero você por perto!

— Para com isso! Ninguém te aguenta mais! – a garota ficou em silencio. – Olha... Só abre a porta, ok? Só quero conversar com você... Trouxe torradas. – a menina pensou em berrar “não” novamente, porém a fome foi mais forte.

Ela destrancou a porta e voltou correndo para o banheiro.

— Cadê você? – Lúcia perguntou suspirando e fechando a porta atrás de si.

— Deixe as torradas e vá embora!

Lúcia foi impacientemente até o banheiro, encontrando a enteada sentada nua perto do chuveiro.

— Eu mandei ir embora! Para de me olhar, estou pelada!

— Gabrielai, estamos preocupados com você. Sua mãe lhe mandou aqui para se distrair e não ficar trancada nesse maldito quarto!

— Não quero socializar... – ela pegou as torradas e começou a devorá-las. – E meu pai tomou meu telefone, não tenho como saber sobre o Daniel!

— Daniel é aquele cara que você gosta? – ela acenou com a cabeça. - Vou pedir para seu pai devolver seu celular, ok? – Gabi sorriu.

— Obrigada.

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Edgar estava chateado, com sono e com fome, mas se recusava a sair do hospital até terminar o horário de visitas. Ele estava cansado de manter a conversa rolando, já que seu melhor amigo se recusava a dizer uma palavra.

— Estou farto de você! – disse por fim. – Desde que entrou em coma ficou metido! Como é estar dormindo há um mês?! Sabe, você não perdeu nada naquela maldita escola... Na verdade, só a briga entre a Silvia e a Danibolinha... Um clássico! Mas fora isso está tudo muito chato. – Edgar suspirou. – Droga cara, você precisa abrir esse maldito olho para que eu possa matá-lo pelo susto que me fez tomar. – o rapaz não notou o pequeno movimento que o amigo fez com a mão. – O Tripé tem estado muito inquieto ultimamente... Outro dia o peguei ouvindo Restart! Tive de puni-lo, não é hora para um cachorro manco ter uma crise existencial. – ele suspirou. – Sinto muito Dan... Mas por que não me disse que se sentia culpado pela morte de seu irmão? Por que não me disse que tinha um irmão?

— Você precisa ir. – disse uma enfermeira. – Acabou a hora de visitas!

Edgar se despediu do amigo prometendo voltar no dia seguinte para verem algum filme, prometeu também tentar contrabandear Tripé para uma visita rápida e depois seguiu para casa. Cansando e com fome, o menino nem mesmo desejou sair do roteiro da casa, andava desanimado para fazer qualquer coisa que não fosse se trancar no seu quarto e ouvir musicas cristãs que sua namorada havia dado como consolo e que segundo ela manteria sua esperança aquecida.

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Quando abriu os olhos, três semanas depois, Daniel sentia dor praticamente pelo corpo inteiro, o que lhe deu a certeza de continuar vivo. Tentou se mexer mais a dor era cada vez mais aguda, porém sua alma estava leve de um jeito indescritível.

— Bem vindo ao inferno! – disse uma mulher com uma voz grave. Ele não ficou inquieto, na verdade parecia estar acordando de um sonho doce e longo, mas notou os inúmeros tubos que o sufocavam. – Estou Brincando! Vejo que recuperou a consciência. – O menino estremeceu com a certeza de que alguém o salvou da morte prematura e planejada que tanto almejou.

— Onde estou? – Ver Daniel acordar era um milagre para enfermeira.

— No hospital. – Daniel não sorriu, ele tentava recuperar a memória, mas tudo que conseguia lembrar era de ter passado muito tempo na penumbra dos sonhos. – Esteve em coma por alguns dias. – Ele não sabia porquê, mas  não precisou perguntar quantos dias estivera ali, mesmo tendo a sensação de ter visto o tempo passar de uma forma diferente. – Não quer saber como está?

— Vivo. – respondeu sentindo o gosto do tubo que enfiaram em sua garganta. 

— Não parece feliz em ter tido outra chance... – observou a mulher. – Posso sugerir que da próxima vez tente se atirar de um lugar bem alto...

— Sugestão registrada... – disse ele praticamente arrancando os tubos que o mantinha vivo. – Se importa de me ajudar aqui?!

— Meu deus! – a mulher berrou saindo correndo corredor a fora.

— E depois sou eu que sou louco! – disse o menino levantando da maca com muito esforço e caminhando até o banheiro. – Bem melhor...

— Pelos deuses... – murmurou um rosto conhecido, uma médica, segundo o que recordava a mente do rapaz. – Mas... Mas... Você... Era para você está morto!

— Ah... Sou um suicida frustrado! – respondeu ele.

Nunca na historia da medicina e em seus anos de residência, viu um paciente recuperar-se tão rapidamente depois de estar em coma. O que era mais surpreendente é que o menino que estava em sua frente, apesar do grande esforço que fazia para falar, estava sem nenhuma sequela.

— Deve ter um bom anjo da guarda! – exclamou a médica.

Então ele se lembrou, não de tudo que viu e ouviu, pois as revelações do seu irmão morto não poderiam ser lembradas nem em milhares de décadas. A sensação de ter encontrado com Diego era tão real para Daniel que ele quase se arrependeu de tentar se matar. Quase. Porque mesmo sem saber se foi um sonho bom ou uma realidade oculta, Daniel estava satisfeito por ter visto e conversado com Diego, mesmo que não se recordasse nem mesmo da primeira palavra que foi dita, ele apenas acordou com um desejo inexplicável e inenarrável de viver.

— MEU FILHO! – berrou Paola vendo-o de pé. Com um sorriso e com olhos sonhadores, caiu no choro e o abraçou. – Como você está?!

— Pronto para outra.

— Sua mãe não saiu de seu lado. – respondeu a médica ainda cética do que estava presenciando.

— E mesmo assim estou vivo?! – Paola não sabia o que fazer, e mesmo que soubesse não conseguiria parar de chorar.

— Meu bebê! Meu bebezinho... – disse ela molhando o cabelo do rapaz com suas lagrimas. – Mamãe te ama tanto...

 “Eu te amo tanto meu querido! Você vai ficar bom... Eu estou aqui meu pequeno, vou cuidar de você!”. As lembranças invadiram a memória do rapaz como um raio, em segundos ele pode sentir tudo o que aconteceu naquele quarto desde o dia que entrou em coma, das frases de sua mãe, da musica de sua infância, dos tapas na cabeça que Edgar o reservou toda vez que deixava de responder uma de suas perguntas e de Gabriela segurando sua mão.

Gabriela. A voz que tinha o guiado de volta a terra, a pessoa que fazia seu coração disparar mesmo estando em outra dimensão. “Você está certo! A vida me deu uma segunda chance de viver intensamente! Eu não terei medo, irmão! Você vai se orgulhar de mim... E quando chegar a minha hora, voltarei para o seu lado feliz, sabendo que vivi verdadeiramente cada segundo que me resta, sem nem mesmo uma gota de culpa”.

— Estávamos tão preocupados! – disse Paola – Meu bebê irresponsável... Nunca mais faça uma idiotice parecida, ouviu bem?! Você fez uma tremenda loucura, sabia? – Daniel sorriu.

— Me perdoa, mãe... – disse o menino ouvindo a voz de seu irmão nitidamente soprar em seus ouvidos.

— A culpa não foi sua...

— Desculpa!

— Você não é o culpado, não tenho porque perdoá-lo, não fez nada de errado. – Paola acariciava seus cabelos com ternura. – Eu é que preciso pedir desculpas! Sinto muito por te tratar tão mal... Sinto muito por não ter sido a mãe que você precisava... Mas isso não vai voltar a acontecer! Eu aprendi a minha lição!

— Filho! – berrou Sérgio deixando cair café quente por toda camisa. – Meu filho! – Ele começou a chorar e agradecer a Deus por ver seu menino de pé.


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