Tarja Preta escrita por Maya


Capítulo 37
Viajem ao Desconhecido.


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer a todos os queridos leitores que veem comentando ao longo da história. Muito obrigada! Saibam que fico muito feliz por saber que estão gostando ♥
Espero que gostem desse novo capítulo.



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As oito em ponto estavam todos reunidos na sala de estar de Sérgio, exceto Paola, que havia decidido ficar no hospital com o filho. Edgar, Ana Carolina e Gabriela estavam juntos no grande sofá cinza, enquanto Anderson e Edney estavam cada um numa poltrona da mesma cor do sofá.

Sérgio estava nervoso e suando frio. Remexer no passado já era difícil, ficar ali de pé na frente de todos, fazia tudo parecer pior.

— Antes de tudo, quero agradecer a todos por terem vindo. – começou ele.  – Quero que saibam que o apoio de vocês tem ajudado muito. - ele respirou fundo e tentou fazer as mãos pararem de tremer. - Bom, o Daniel tem enfrentado muitos problemas durante vários anos. Paola e eu fizemos de tudo para que ele superasse seus traumas e fosse um jovem como qualquer outro. Infelizmente, nós falhamos.

— Não seja tão duro. - falou Anderson com o tom de voz sereno. - Vocês fizeram o que podiam.

— Obrigado. - Sérgio deu um sorriso melancólico. - Acho que todos querem saber sobre os motivos do Daniel. Bem, tudo aconteceu quando ele tinha seis anos...

 

— Mamãe, quando vamos sair? – Daniel e Diego gritavam sem parar. Eles eram gêmeos idênticos, ninguém era capaz de diferenciá-los a não ser Paola.

— Calma! – a mulher disse olhando pela janela. – Está chovendo muito.  Depois vocês saem para brincar lá fora.

A família Vasconcelos estava de férias na Califórnia, hospedados em um hotel 5 estrelas com piscinas, banheiras de hidromassagens, etc. Era tão luxuoso que para chegar na praia era necessário apenas ir para a área de lazer, onde ficava a piscina, e descer uma escadinha que dava direto a melhor e mais bela praia de toda a Califórnia.

A chuva não passou, a família não teve escolha a não ser dormir e esperar pelo outro dia. Paola e Sérgio estavam em uma cama de casal enquanto Daniel e Diego dividiam a outra.

— O que é isso? – Diego perguntou quando ouviu um barulho.

— É só o vento batendo na janela, por que é tão medroso? – respondeu Daniel rindo da expressão de medo do irmão.

— Não sou nada.

— É sim.

— Não sou não! - Diego gritou irritado.

— Para de berrar! Vai acordar nossos pais!

— Eles são adultos. - Diego resmungou. - Adultos não acordam assim. Não vê? Estamos de férias da escola e eles querem que a gente fique aqui nessa cama idiota.

— Podíamos sair para brincar. – Daniel se levantou da cama bem devagar. 

— Mas está chovendo muito!

— Não seja idiota!

— Mas a chuva...

— Prefere se divertir ou ficar aqui com papai e mamãe roncando? - Daniel perguntou cruzando os braços. - Vamos, Diego. Você é muito medroso!

— Tudo bem... - Diego se levantou e foi para junto do irmão. - Mas o que vamos fazer com toda essa chuva? Está de noite e escuro... Mamãe vai ficar chateada.

— Ela não precisa saber! - Daniel calçou os chinelos e abriu a maçaneta da porta devagar. - Vai ou não?

— Sim...

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— Eu te amo tanto meu querido! – uma voz angelical parecia cantar ao longe, de forma quase inaudível. Daniel tentou  responder, mas sua voz morria antes mesmo que chegasse aos seus próprios ouvidos. Sentiu uma mão quente em sua testa e ouviu um choro agudo desconcertante.

— Achei que não viria mais... – disse um menino moreno, pequeno e magro surgindo em sua frente. Sua voz era fina e oca, mas mesmo assim era a melodia que muitas vezes Daniel esperou ouvir.

— Eu senti sua falta! – disse Daniel indo abraçar a criança.

— Eu sei... Fiquei muito triste todo esse tempo. Você nunca me deixou ir.

— Me perdoe, eu não podia ter te deixado sozinho aqui... – o garotinho pareceu ouvir alguma coisa.

— Está escutando?

— O que?

— Essa voz? Parece com a de nossa mãe! Eu sinto tanta falta dela! – Daniel sorriu tristemente. – Ela está chorando, Dan.

— Eu sei. – respondeu ele melancólico.

— Chorando por você.

— Garanto que Paola derramou mais lagrimas durante esses últimos anos por causa de você do que vai derramar nos próximos por causa de mim... Tudo mudou quando você foi embora, ela deixou de ser a mesma Paola. Ela me odeia.

— Como pode lhe odiar se chora por você?

— Está apenas assustada. – ele suspirou.

— Você fez uma tremenda loucura, sabia? – a criança o olhou nos olhos profundamente.

— Eu estou aqui, não estou?! Eu voltei por você!

— Dan, eu me emociono ao saber disso, mas não fico orgulhoso...

— Não queria estar comigo outra vez, Diego?!

— Claro que queria, mas não desse jeito! Não queria que interrompesse sua vida!

— Nada mais justo... - os olhos de Daniel se enxeram de lágrimas. - Porque eu também interrompi a sua quando te incentivei a sair daquele quarto.

— Você não sabia o que iria acontecer, não foi culpa sua. - Diego suspirou e começou a andar. - Eramos crianças aventureiras. Gostávamos de brincar juntos. Você não tinha como saber.

— Mas se eu não tivesse te convencido a sair do quarto... - Daniel falou seguindo o irmão. - Você jamais teria escorregado na piscina, jamais teria caído e batido a cabeça na quina! Ainda lembro quando seu sangue se espalhou pela água, quando seus olhos perderam a cor ali na minha frente! Ainda lembro quando pulei naquela água fria para tentar te ajudar... - Daniel segurou os ombros da criança e a olhou nos olhos. - Eu tenho pesadelos com esse dia até hoje! O segurança do hotel correndo na nossa direção, meu choro, seu corpo duro e gelado! As sirenes da policia e da ambulância, mamãe gritando de desespero enquanto abraçava seu corpo. Foi a primeira vez que vi nosso pai chorar! 

— Isso é passado. - Diego murmurou de um jeito triste. - Não se culpe por isso. - ele segurou a mão de Daniel de um jeito firme. - Eu senti sua falta, mas nunca quis que acabasse com a própria vida por causa de algo que nem mesmo foi sua culpa. 

— Minha alegria morreu com você, Diego. Depois que você partiu, a vovó foi meu único consolo. Mas ela também partiu... 

Daniel sentiu uma mão quente toca-lhe a testa novamente, queria responder, queria se mexer, porém todo o seu corpo estava estranhamente paralisado. 

— Não precisa se preocupar. – Diego falou de forma calma. – Você ainda não está morto. Mas também não está vivo.

— Como isso pode acontecer? 

— Com overdose, afogamento e traumatismo craniano. – respondeu Diego. – Você sofreu um acidente muito feio...

— Ainda não entendo.

— Você está em um quadro critico onde terá de lutar para voltar a viver ou abandonar tudo para morrer. Seu coma é profundo...

— Estou em coma?!

— Sim, mas pode acordar.

— Mas eu não tenho motivos para voltar!

— Se não tivesse motivos, Deus não te daria a escolha de decidir se luta ou não, se acorda do coma ou não... Só que desta vez é para sempre! Depois que escolher, não terá outra chance! Você tem duas escolhas: Perder uma vida inteira, não ter a chance de viver um amor, de ter filhos, de ter um emprego bom... Ou possuir tudo isso, viver intensamente e voltar para mim depois de ter valido a pena.

— Quero estar com você, não importa o caminho.

— Então por que não escolhe a segunda opção? Quando você morrer bem velhinho, feliz e confortável na sua cama... Eu ainda vou estar aqui. Além do mais, acredito que nosso amor pode nos ver através da morte, Daniel. É só você acreditar também... – Diego voltou a andar e Daniel o seguiu. 

— Tenho muito medo do que vai acontecer se eu voltar... Do que irão falar, do que irão fazer comigo... Tenho medo de não lembrar de você!

— A vida lhe oferece felicidade maninho, mas você se recusa a recebê-la, está tão fora de si que chega a pensar que sua alma está aqui do outro lado... Não se engane, os pensamentos ruins estão todos em sua mente, o medo não existe se você quiser que ele não exista. Mas para isso acontecer é necessário coragem, coragem para lutar e voltar para sua família, para seus amigos, para sua Gabriela.

— O que você sabe sobre ela?

— Tudo. – ele riu. – Sei que você a ama, mas não quis ficar com ela por medo... Está vendo? Sua mente insiste em mentir para você.

— Nada disso importa, eu não quero viver.

— Não diga isso! Ainda vou te mostrar muitas coisas.


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