Tarja Preta escrita por Maya


Capítulo 36
Confissões.




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— Como você está? – Edney perguntou entrando no quarto do irmão juntamente com Janaina. Edgar já havia recebido alta e estava de repouso no quarto.

— Com tédio. – respondeu ele tristemente. – Alguma noticia do Daniel?

— Não, ainda não. Mas não perca as esperanças... Ele ainda vai acordar!

— É. – Janaina falou tímida. – E você também vai melhorar, mamãe disse que nem vai ter cicatrizes.

— Se o Daniel morrer, eu terei. – Edgar falou de um jeito vazio. Pela primeira vez na vida, Janaina abraçou o irmão.

— Mas você tem a gente. – disse ela. – Vou tentar ser uma boa irmã... – Edney sentiu os olhos úmidos, mas tentou disfarçar. – Eu fiz um desenho para você! – ela entregou um pedaço de papel para o irmão mais velho.

— Obrigado... – A garota havia desenhado Edgar e ela de mãos dadas enquanto Edney carregava Edwando ao lado deles. Em outra situação, Edgar humilharia a irmã e diria que ela era péssima desenhista, porém, mentiu e disse que o desenho estava lindo.

— Nosso pai está todo cabisbaixo. – começou Edney. – Parou de beber e tudo mais.

— Ele continua chato do mesmo jeito! – Janaina riu.

— O que importa é que não está bêbado! - Edgar sorriu.

— Sua noiva esteve aqui mais cedo quando você estava dormindo. Parecia triste, ficou orando no seu quarto...

— Pensei que ela estava te exorcizando! – Janaina falou.

— Cala a boca! Não me interrompa! – Edney gritou. – Ela pediu para ligar para ela quando acordasse... – ele colocou o celular do irmão perto dele. – Falou algo sobre o casório.

— Obrigado. – Ed agradeceu sorrindo.

— Nunca pensei que falaria isso, mas eu te amo. – Edney disse rapidamente. – Agradeço muito por não ter morrido.

— Eu também! – Janaina deu um beijo na bochecha de Edgar. – Eu vi na novela que todo mundo morre de acidente de carro, fiquei com medo quando recebemos a noticia!

— Eu gosto de vocês... – Edgar falou sem querer confessar que os amava. – Agora saiam, preciso ligar para a Ana Carolina.

— Vamos peste bubônica, deixe o Ed ter privacidade. – Edney puxou a irmã pelos cabelos e saiu do quarto. Edgar pegou o celular e ligou para a noiva, que chegou dez minutos depois.

— Oi... – ela falou entrando no quarto. – Como está?

— Com tédio. E você?

— Feliz por presenciar um milagre de Deus! Você está bem, Deus te deu um livramento... – Edgar revirou os olhos e pediu para que a garota se aproximasse.

— Eu ficaria melhor ainda se ganhasse um beijinho... – Ana Carolina sorriu e ignorou toda a sua criação quando se deitou ao lado do noivo pela primeira vez, beijando-o como nunca havia beijado. – Se quiser tirar a roupa...

— Engraçado. – resmungou ela. – Pensei que tinha amadurecido.

— E amadureci. – ele riu. – Mas não vou me incomodar se quiser ficar pelada... – ela rosnou e ele gargalhou. – Edney disse que queria falar comigo sobre o casamento.

— Bem, eu acho que devemos adiar a cerimônia, ainda mais agora que o Daniel está em coma... Todos estão muito tristes e um bom casamento não deve ser feito quando a tristeza reina. – ela o abraçou. – Além disso, pensei melhor e percebi que ainda somos muito jovens... Vou fazer 18 anos daqui a dois meses, não sou madura o suficiente para ser uma boa esposa.

— Então está tudo acabado? – Edgar choramingou. – Está terminando comigo?! Logo agora?!

— Claro que não! – ela gritou. – Apenas suspenderemos o casamento!

— Sendo assim, eu concordo com você! – ele disse aliviado e beijando a noiva. – Eu te amo.

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— Deveria comer alguma coisa. – Ana falou enquanto acariciava o cabelo da filha. – Está há quase dois dias sem colocar nada na boca.

— Não tenho fome. – Gabriela respondeu melancólica.

— Mesmo assim, vai acabar ficando doente se continuar de estomago vazio. – ela pegou o suco e o deu a filha. – Beba.

— Não consigo.

— Consegue sim... – Gabriela suspirou e tentou com dificuldade engolir o alimento. – Pronto, bem melhor. – Gabi se deitou na cama e abraçou o travesseiro. A carta de Daniel estava aberta ao seu lado e ela não parava de pensar nele. – Deveria sair de casa também.

— Eu saio de casa.

— Para outro lugar sem ser o hospital. – completou a mulher. – Sei que está abalada com tudo isso, mas é a sua vida, não deixe de vive-la. Sua formatura está tão pertinho...

— Minha vida está paralisada na cama de um hospital e talvez ela seja enterrada em um caixão sem graça. – Gabi sentiu as lagrimas voltarem para seu rosto. Ana a abraçou e beijou sua testa.

— O Daniel vai sair dessa, você vai ver.

— E se não sair, mãe?! E se ele nos deixar? Eu prefiro morrer junto!

— Não diga isso! Neste momento, você tem de se manter firme e com esperança! Seu pai está vindo lhe visitar para lhe dar uma forcinha.

— Não sou eu que preciso de forças e sim o Daniel!

— Eu sei querida. – ela disse gentilmente. – Desculpa.

— E a Lúcia? Soube que ela deu a luz.

— Sim, foram gêmeos. – Ana respondeu forçando um sorriso. – Dois meninos.

— Quem diria, não é? – Gabriela suspirou. – Eles virão com o papai também?

— Não, eles ainda são muito novos para saírem assim, mas seu pai chega amanhã.

— Quero conhecer meus irmãos.

— Quando tudo isso passar, você vai conhecer o Zé e o Zeca.

— Só pode estar de brincadeira! – Gabriela arregalou os olhos. – Não me diga que esses são os nomes de meus irmãos!

— Também achei engraçado. – ela sorriu. – Agora durma... – Ana a beijou novamente e saiu do quarto, deixando-a sozinha com seus fantasmas.

Mais duas semanas haviam se passado e nada aconteceu em relação a Daniel. Embora os médicos pensassem que o rapaz não sairia vivo dessa, Paola, Sérgio e todos os outros continuavam no hospital com um fio de esperança. Dan não obteve melhoras, mas também não piorou e isso já era alguma coisa.

— Fiquei sabendo da noticia hoje, me desculpe. – Anderson falou chegando ao hospital. – Estava de férias e retornei ontem à noite... Sinto muito!

— Não há problema. – Sérgio respondeu.

— Quero que saibam que estou disposto a ajudá-los neste momento difícil. Sei que estão sentindo uma dor enorme e que...

— Com licença. – Paola o interrompeu enxugando as lagrimas. – Você já perdeu algum filho?

— Não. – respondeu Anderson olhando para baixo.

— Já esteve perto de perder? – a mulher tornou a perguntar.

— Não. – respondeu novamente.

— Então como sabe o que estamos sentindo?!

— Sou um psiquiatra, entendo um pouco a mente humana e...

— Sinto muito doutor, mas um diploma e um escritório não significa que consiga compreender! – ela disse começando a chorar. – Será que você se importa de verdade com meu filho?! Ou está aqui apenas aproveitando a oportunidade para ganhar mais dinheiro?

— Paola! – Sérgio repreendeu.

— Se você se considera assim tão bom, por que não resolveu o problema do Daniel?! – a mulher gritou ignorando o ex-marido. Anderson serrou os punhos tentando manter a calma.

— Quantas vezes tentei conversar com vocês a respeito do Daniel?! Quantas vezes liguei para vocês?! Desde que ele tentou se matar pela primeira vez venho tentando falar sobre ele, mas parece que vocês estão ocupados de mais para serem pais!

— Como ousa... – Paola começou.

— Você deveria ser a primeira a se importar com o Daniel, porém, estava viajando sem ao menos ter dito adeus antes de partir! – Anderson continuou. – E agora vem me dizer que eu sou incapacitado?! Incompetente?! Não, minha senhora, não fui eu que errei! Foi você! – Paola começou a chorar.

— Não há motivos para brigas... – Sérgio tentou acalmar a situação, mas não adiantou nada.

— Sou um profissional! – Anderson falou. – Desde o primeiro dia que vi o Daniel, soube que tinha algo errado com ele. Comecei a fazer vários testes, consegui identificar que ele estava angustiado, mas por quê? Não sei os motivos, se você estivesse em seu lugar como mãe, talvez me dissesse a razão já que o Daniel se nega a falar!

— Por favor, pare... – Sérgio disse começando a chorar também.

— Desculpem, desculpem... – Anderson falou quando percebeu o que tinha acabado de fazer. – Não foi minha intenção.

— Você está certo, eu que devo desculpas. – Paola murmurou entre as lagrimas. – Eu... Eu o culpei a vida toda, eu o fiz enlouquecer... E agora ele está em coma profundo, entre a vida e a morte por causa de palavras ruins que saíram de minha boca! Eu me odeio tanto por ter desejado que ele se fosse... Eu deveria estar em coma, não ele! – ela começou a se engasgar com as palavras. – Eu deveria estar morta no lugar deles...

— Deles? – Anderson perguntou. – É muito importante que me digam o que aconteceu com o Daniel, só assim poderei ajudá-lo. Garanto que os amigos dele também querem saber porque ele tentou suicídio duas vezes.

— Acha que devemos contar para os amigos dele? – Sérgio perguntou.

— Claro! Quando o Daniel acordar, todos têm de estar preparados para recebê-lo e conversar com ele. Qualquer palavra pode melhorar ou piorar o que ele sente, por isso todos precisam saber lidar com a situação.

— Tem razão... Mas creio que aqui não é um lugar apropriado. – Sérgio falou. – Me encontre em minha casa às oito da noite, todos estarão lá. E a verdade vai ser revelada.


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