Tarja Preta escrita por Maya
— Eu não posso contar essas coisas para ninguém... – Daniel suspirou.
— Isso é totalmente compreensível. – o medico psiquiatra sorriu. – Mas diga-me sobre seus amigos.
— Não tenho muitos, para ser sincero.
— Como não? Você é um rapaz bonito, deve ser popular!
— O senhor sabe que sou menor de idade? – Dani olhou para o médico de um jeito engraçado.
— Não estou dando em cima de você, se é o que está insinuando. - o homem fez uma careta e ajeitou os óculos com a ponta do dedo. - Só disse que era muito atraente comparado aos rapazes de sua idade!
— Ok... – respondeu desconfiado. – Bem, não sou popular nem nada do tipo. Tenho apenas dois amigos.
— Namoradas?
— Não.
— Não pensa em sair com garotas?
— Penso, mas geralmente não sou bom nisso.
— Por quê?
— Isso aqui é por acaso algum interrogatório?!
— Não, mas preciso saber. Por que acha que não é bom com as garotas, Daniel?
— Não, sei. Sabe, Paulo... Posso te chamar de Paulo, não posso?
— Meu nome é Anderson.
— Paulo, acho que não nasci com o dom de conquistador. – falou ignorando o médico. - As garotas costumam a fugir de mim, já troquei até o meu desodorante!
— Você me disse que tem uma amiga mulher, não foi?
— Sim, o nome dela é Gabriela.
— Por que não fala com ela? Ela pode te ajudar.
— Mas eu não quero ajuda! Só não aguento mais ser virgem!
— Então por que simplesmente não transa?
— Eu não quero qualquer uma... Na verdade, estou apaixonado, Paulo.
— Isso é bom! – Anderson sorriu. - Por quem, exatamente?
— Ela é do meu colégio. - ele sorriu sem graça.
— Isso é bom. – o médico disse novamente.
— Não sou surdo, Paulo! Você já disse isso antes! – Daniel se espreguiçou. – Sabe, ela é bem bonita...
— Como é o nome dela?
— Sônia. Ela é minha professora de Educação Artística! – falou fazendo o médico suspirar.
— Isso é normal na adolescência... Mas você irá superar!
— Então quer dizer que nunca irei ter a Sônia?
— Eu espero que não... – Anderson olhou para o relógio. – Nossa consulta acabou, te vejo na próxima semana.
— Mas ainda não terminei.
— Guarde suas duvidas para depois. – respondeu ele sorrindo.
Quando saiu do consultório, Daniel ligou para Edgar.
— Alô? – perguntou o amigo.
— Ed? Não estou mais no médico, vamos sair?
— Cara, venha para minha casa! Gabi e eu estamos acabando com todas as bebidas de meu pai!
— O Edson vai ter um ataque do coração quando abrir a geladeira e não ver as cervejas dele lá...
— É bom que morre logo!
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— Residência dos Espínola. – disse Edgar atendendo ao telefone enquanto pausava o filme que estava assistindo com os amigos.
— Edgar?
— Quem gostaria?
— É a Márcia... - a garota falou com a voz tremula. – A gente saiu algumas vezes, lembra?
— Márcia... Você não soube? O nosso Edgar morreu há três meses por infecção nas amídalas. – mentiu imitando uma voz feminina.
— Oh meu deus... – ela soltou um gritinho.
— Um acidente trágico. Sinto muito ser o porta voz dessa noticia.
— Onde ele foi enterrado? – a menina estava chorando.
— Não o enterramos... O Ed era uma alma livre por isso jogamos seu corpo em um descampado e queimamos o lugar banhado com a lua cheia, como manda a tradição indígena. Eu adoraria conversar com você, mas tenho outros filhos para criar... Adeus.
— Que merda foi essa? – perguntou Gabriela com a boca cheia de pipoca. – Desde quando você morreu?
— Seja mais simpática, eu acabo de cometer suicídio!
— Foi impressão minha ou você acabou de dispensar a Mayara? – perguntou Daniel.
— Márcia. – corrigiu Edgar. - Ela não ligava para mim, vivia me humilhando e só me procurava quando queria que eu matasse a carência dela!
— Fala sério! – Gabriela revirou os olhos. – Vai contando o verdadeiro motivo para esse papo de ritual indígena.
— O dedo médio do pé dela é maior do que o dedão! – murmurou Edgar. – Isso faz qualquer um perder o tesão, não é mesmo Dani?
— Não... Isso é frescura! – respondeu Daniel.
— Frescura? – Edgar riu. – Você não entende nada sobre mulheres! É um virgem e mal beijou na boca... – Gabriela olhou para Daniel surpresa, afinal ele nunca tinha contado isso a ela.
— Muito obrigado por contar meu segredo. – resmungou Daniel se levantando e pegando as suas coisas.
— Aonde você vai? – Edgar perguntou. – Desculpa, cara... Achei que a Gabi sabia!
— Por que nunca me contou isso? – a garota perguntou olhando para Daniel.
— Você é uma garota! – ele respondeu irritado. – Por que eu te diria algo assim? Para ser zoado por você também?
— Eu não acho isso um problema. – Gabriela deu de ombros. – Não te zoaria por causa disso.
— Viu? – Edgar falou. – Deixa de drama, vem terminar de ver o filme.
— É Dani. – Gabriela falou puxando-o para a cama. – Eu gostaria que você me contasse as coisas... Você só se abre para o Edgar!
— É porque ele me ama mais. – Edgar falou rindo, fazendo Gabriela revirar os olhos.
— Vai se ferrar. – rosnou ela.
— Não é questão de amar mais... – começou Daniel. – É que tem coisas que não me sinto confortável em dizer para você pois você é uma garota...
— Deixa de ser idiota. – Gabriela riu. – Eu sou sua amiga, ou não sou?
— É...
— Então pronto. – ela deu um tapinha no ombro dele. – Pode se abrir comigo, certo?
— Tudo bem. – ele riu abraçando-a.
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