Tarja Preta escrita por Maya
— Não acredito! – a mãe de Edgar gritou pegando o boletim do filho.
— Não acredita em quê, mulher?! – o pai do rapaz perguntou colocando a mão no coração. – Você sabe que tenho problemas cardíacos e ainda sai me dando esses sustos! Quer que eu morra?!
— Cala a boca, Edson! – gritou a mulher. – Olha o boletim do nosso filho!
— Opa... – disse Edney, irmão mais novo de Edgar. Ele tinha 16 anos e sempre tentava não estar presente quando os seus pais viam o boletim do irmão mais velho.
— Edney, chame seu irmão. – falou Edson.
— EDGAR! – o menino gritou.
— Se fosse para gritar, eu mesma gritava! – Jéssica, mãe do garoto, falou irritada.
— Então por que não gritou?!
— Edney, se comporte! – um choro de bebê começou a entoar por toda a casa. – Está vendo? Acordou seu irmão! Vá pegar o Edvando!
— Mas mamãe... – Edney começou. – Eu não quero trocar a frauda do Edvando! Ele é nojento!
— Vá logo! – Edson gritou, fazendo o garoto sair correndo até o quarto do irmão caçula, que tinha apenas 1 ano.
Edgar apareceu sonolento na escada e arregalou os olhos quando notou que seu boletim estava na mão do pai.
— Eu juro que tentei! – gritou ele antes mesmo de alguém falar alguma coisa. Uma garotinha loira, única que puxou a mãe, desceu as escadas. Ela era a penúltima mais nova, tinha 10 anos e estava melada de chocolate.
— Vai apanhar! – ela começou rir enquanto tentava escalar Edgar.
— Cala a boca, Janaina! – gritou ele para a irmã.
— Não fale assim com a Jana! – gritou Jéssica. – Minha querida... – falou olhando para a única filha mulher. – Vá brincar no seu quarto.
— Não quero! – nesse mesmo momento, Edney apareceu na sala segurando Edvando que ainda berrava.
— Leve essa porcaria fedida daqui! – gritou Edgar se referindo ao irmão caçula. – Será que não se tem sossego nesta casa?!
— Não fale assim com o bebê, seu burro inútil! – Gritou Edson se levantando da cadeira de balanço. – Com vinte anos e ainda no ensino médio... Ainda tem coragem de aparecer com esse boletim imundo!
— Perdeu em três matérias! – Jéssica falou interrompendo o marido.
— Pensa pelo lado positivo, mãe... – Ed falou choroso. – Ano passado perdi em todas.
— Esse é o exemplo que dá para seus irmãos mais novos?! – Edson berrou, tentando fazer a voz sair mais alta do que o choro de Edvando.
— Mãe, ele está vomitando! – Edney gritou enquanto o bebê gorfava.
— ECA! – Janaina berrou. – Bebê mau, muito mau!
— JÁ CHEGA! – Edson gritou quando bebê vomitou novamente. Irritada, Jéssica tomou Edvando da mão de Edney e levou o filho para o quarto.
— Edney, leve Janaina para brincar no parque! – Edson mandou. – Quero conversar a sós com o Edgar.
— Ah, fala sério! – o garoto rosnou.
— AGORA!
— Parque! – Edney se irritou e saiu puxando a irmã pelos cabelos até o parquinho da praça.
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— O papai está tão orgulhoso... – disse João abraçando Gabriela. – Sabia que minha maior nota quando eu tinha sua idade era 6?
— Então tive sorte ao puxar a mamãe... – respondeu ela. – Já que a minha menor nota foi 8, você tem a obrigação de me fazer um favor!
— O que você quer? – ele perguntou desconfiado.
— Na verdade, se trata do que eu não quero... – ela forçou um sorrisinho.
— Não! – ele disse antes mesmo que ela acabasse. – Já sei o que irá me pedir, e a resposta é definitivamente não!
— Mas pai...
— Gabriela, você vai para o aniversario da Lúcia e ponto final!
— Mas eu não quero! – ela gritou cruzando os braços. – Isso não é justo! Não pode me obrigar a gostar daquela...
— Olhe a boca suja! – ele esbravejou antes que ela terminasse a frase.
— Vai ser tão chato! – Gabriela choramingou.
— Como você sabe?
— A aniversariante vai ser a Lúcia!
— Precisa aprender a gostar dela, Gabriela!
— Mas não é só isso... – a menina agora estava implorando. – Só vai ter velho, não terá ninguém da minha idade!
— Vai ter o Caué!
— Ele tem só 5 anos, pai!
— Ok, ok, ok... – João suspirou. – Filhos adolescentes são um saco!
— Então pra que vai ter outro?!
— Shii! – ele disse começando a se irritar. – Pode chamar seus amigos se quiser... – falou de mau gosto.
— Mas eu também não quero levar eles! Qual parte de “eu não quero ir” o senhor não entendeu?
— Te vejo no sábado. – ele resmungou. – Se você não for, terá consequências, está ouvindo? Não irei mais tolerar suas exigências! Não sou sua mãe, não vou ficar mimando você. – o homem saiu de casa, deixando a filha sozinha e extremamente chateada.
Como não tinha mais nada para fazer, Gabriela decidiu ir até a casa de Edgar. Estava magoada pelas palavras que João havia dito e chateada pela situação, afinal, ela odiava Lúcia e sabia que nunca iria gostar da nova madrasta.
— Oi. – disse Gabi quando o amigo a recebeu. – Por que está com essa cara?
— Meu pai me bateu por causa do boletim. – ele respondeu sem graça. – Você também não parece feliz.
— É uma longa historia. – ela suspirou enquanto abria a geladeira do amigo, pegando uma cerveja.
— Essa é de meu pai, devolve! – ele falou, fazendo a menina revirar os olhos. – É sério, meu pai é insuportável!
— Eu sei, eu sei... – respondeu ela colocando a bebida no lugar. – Falando nisso, onde está a sua grande família?
— Mamãe está no hospital, parece que ela vai ficar de plantão a noite inteira. Como meu pai não queria ficar sozinho com todos os filhos, ele foi para casa de minha tia e levou a Janaina e o Edvando. – ele deu de ombros. - O Edney está lá em cima, trancado no banheiro há horas... Ele acha que não sabemos o que ele está fazendo!
— Uau. – disse ela desanimada. – Então vamos sair? Liga para o Dani e chama ele! Abriu uma boate bem legal perto do shopping.
— Não estou no clima... – respondeu ele.
— Por quê?
— Meu pai me chamou de burro inútil. – choramingou ele se jogando do sofá. – Disse que sou a vergonha da família, só porque tenho vinte anos e ainda não concluí o ensino médio...
— Mas isso é verdade! – Gabi riu, mas o amigo começou a chorar. – Edgar! Fala sério! Para com isso!
— Eu quero encher a cara!
— Legal, então vamos sair!
— Mas estou com preguiça... – ele parou de chorar e olhou para Gabriela. – Além do mais, não posso deixar o Edney sozinho!
— Leva ele, ué!
— Ele só tem 16 anos!
— Arranjamos uma identidade falsa para ele também! – Gabi riu. – Liga logo para o Dani! – Edgar pegou o telefone e ligou para o amigo, mas este não atendeu.
— Ninguém atende. – suspirou ele tentando novamente.
— Alô? – uma voz chorosa atendeu do outro lado da linha.
— Pimpinho? – Ed perguntou.
— Oi Ed... – Daniel respondeu. – O que foi?
— Vamos sair?
— Não dá cara, estou ocupado... Mamãe e papai marcaram um psiquiatra para mim. – ele sussurrou. – Estou falando no celular escondido, aqui não pode utilizar aparelhos eletrônicos...
— Como assim? Por que eles fizeram isso? Você está bem? Está no consultório agora?
— Sim, estou escondido atrás da mesa. Tenho que desligar... – então a linha ficou muda.
— Que foi? – Gabi perguntou preocupada notando a expressão confusa de Edgar.
— Parece que os pais daquele jegue notaram finalmente que ele tem alguns probleminhas e resolveram mandá-lo para um consultório psiquiátrico!
— Não fala assim dele! – resmungou Gabi. – O que vamos fazer então? – como resposta, Edgar pegou todas as cervejas do pai e jogou tudo no sofá.
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