Tarja Preta escrita por Maya


Capítulo 12
Boletins e Psiquiatras.




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— Não acredito! – a mãe de Edgar gritou pegando o boletim do filho.

— Não acredita em quê, mulher?! – o pai do rapaz perguntou colocando a mão no coração. – Você sabe que tenho problemas cardíacos e ainda sai me dando esses sustos! Quer que eu morra?!

— Cala a boca, Edson! – gritou a mulher. – Olha o boletim do nosso filho!

— Opa... – disse Edney, irmão mais novo de Edgar. Ele tinha 16 anos e sempre tentava não estar presente quando os seus pais viam o boletim do irmão mais velho.

— Edney, chame seu irmão. – falou Edson.

— EDGAR! – o menino gritou.

— Se fosse para gritar, eu mesma gritava! – Jéssica, mãe do garoto, falou irritada.

— Então por que não gritou?!

— Edney, se comporte! – um choro de bebê começou a entoar por toda a casa. – Está vendo? Acordou seu irmão! Vá pegar o Edvando!

— Mas mamãe... – Edney começou. – Eu não quero trocar a frauda do Edvando! Ele é nojento!

— Vá logo! – Edson gritou, fazendo o garoto sair correndo até o quarto do irmão caçula, que tinha apenas 1 ano.

Edgar apareceu sonolento na escada e arregalou os olhos quando notou que seu boletim estava na mão do pai.

— Eu juro que tentei! – gritou ele antes mesmo de alguém falar alguma coisa. Uma garotinha loira, única que puxou a mãe, desceu as escadas. Ela era a penúltima mais nova, tinha 10 anos e estava melada de chocolate.

— Vai apanhar! – ela começou rir enquanto tentava escalar Edgar.

— Cala a boca, Janaina! – gritou ele para a irmã.

— Não fale assim com a Jana! – gritou Jéssica. – Minha querida... – falou olhando para a única filha mulher. – Vá brincar no seu quarto.

— Não quero! – nesse mesmo momento, Edney apareceu na sala segurando Edvando que ainda berrava.

— Leve essa porcaria fedida daqui! – gritou Edgar se referindo ao irmão caçula. – Será que não se tem sossego nesta casa?!

— Não fale assim com o bebê, seu burro inútil! – Gritou Edson se levantando da cadeira de balanço.  – Com vinte anos e ainda no ensino médio... Ainda tem coragem de aparecer com esse boletim imundo!

— Perdeu em três matérias! – Jéssica falou interrompendo o marido.

— Pensa pelo lado positivo, mãe... – Ed falou choroso. – Ano passado perdi em todas.

— Esse é o exemplo que dá para seus irmãos mais novos?! – Edson berrou, tentando fazer a voz sair mais alta do que o choro de Edvando.

— Mãe, ele está vomitando! – Edney gritou enquanto o bebê gorfava.

— ECA! – Janaina berrou. – Bebê mau, muito mau!

— JÁ CHEGA! – Edson gritou quando bebê vomitou novamente. Irritada, Jéssica tomou Edvando da mão de Edney e levou o filho para o quarto.

— Edney, leve Janaina para brincar no parque! – Edson mandou. – Quero conversar a sós com o Edgar.

— Ah, fala sério! – o garoto rosnou.

— AGORA!

— Parque! – Edney se irritou e saiu puxando a irmã pelos cabelos até o parquinho da praça.

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— O papai está tão orgulhoso... – disse João abraçando Gabriela. – Sabia que minha maior nota quando eu tinha sua idade era 6?

— Então tive sorte ao puxar a mamãe... – respondeu ela. – Já que a minha menor nota foi 8, você tem a obrigação de me fazer um favor!

— O que você quer? – ele perguntou desconfiado.

— Na verdade, se trata do que eu não quero... – ela forçou um sorrisinho.

— Não! – ele disse antes mesmo que ela acabasse. – Já sei o que irá me pedir, e a resposta é definitivamente não!

— Mas pai...

— Gabriela, você vai para o aniversario da Lúcia e ponto final!

— Mas eu não quero! – ela gritou cruzando os braços. – Isso não é justo! Não pode me obrigar a gostar daquela...

— Olhe a boca suja! – ele esbravejou antes que ela terminasse a frase.

— Vai ser tão chato! – Gabriela choramingou.

— Como você sabe?

— A aniversariante vai ser a Lúcia!

— Precisa aprender a gostar dela, Gabriela!

— Mas não é só isso... – a menina agora estava implorando. – Só vai ter velho, não terá ninguém da minha idade!

— Vai ter o Caué!

— Ele tem só 5 anos, pai!

— Ok, ok, ok... – João suspirou. – Filhos adolescentes são um saco!

— Então pra que vai ter outro?!

— Shii! – ele disse começando a se irritar. – Pode chamar seus amigos se quiser... – falou de mau gosto.

— Mas eu também não quero levar eles! Qual parte de “eu não quero ir” o senhor não entendeu?

— Te vejo no sábado. – ele resmungou. – Se você não for, terá consequências, está ouvindo? Não irei mais tolerar suas exigências! Não sou sua mãe, não vou ficar mimando você. – o homem saiu de casa, deixando a filha sozinha e extremamente chateada.

Como não tinha mais nada para fazer, Gabriela decidiu ir até a casa de Edgar. Estava magoada pelas palavras que João havia dito e chateada pela situação, afinal, ela odiava Lúcia e sabia que nunca iria gostar da nova madrasta.

— Oi.  – disse Gabi quando o amigo a recebeu. – Por que está com essa cara?

— Meu pai me bateu por causa do boletim. – ele respondeu sem graça. – Você também não parece feliz.

— É uma longa historia. – ela suspirou enquanto abria a geladeira do amigo, pegando uma cerveja.

— Essa é de meu pai, devolve! – ele falou, fazendo a menina revirar os olhos. – É sério, meu pai é insuportável!

— Eu sei, eu sei... – respondeu ela colocando a bebida no lugar. – Falando nisso, onde está a sua grande família?

— Mamãe está no hospital, parece que ela vai ficar de plantão a noite inteira. Como meu pai não queria ficar sozinho com todos os filhos, ele foi para casa de minha tia e levou a Janaina e o Edvando.  – ele deu de ombros. - O Edney está lá em cima, trancado no banheiro há horas... Ele acha que não sabemos o que ele está fazendo!

— Uau. – disse ela desanimada. – Então vamos sair? Liga para o Dani e chama ele! Abriu uma boate bem legal perto do shopping.

— Não estou no clima... – respondeu ele.

— Por quê?

— Meu pai me chamou de burro inútil. – choramingou ele se jogando do sofá. – Disse que sou a vergonha da família, só porque tenho vinte anos e ainda não concluí o ensino médio...

— Mas isso é verdade! – Gabi riu, mas o amigo começou a chorar. – Edgar! Fala sério! Para com isso!

— Eu quero encher a cara!

— Legal, então vamos sair!

— Mas estou com preguiça... – ele parou de chorar e olhou para Gabriela. – Além do mais, não posso deixar o Edney sozinho!

— Leva ele, ué!

— Ele só tem 16 anos!

— Arranjamos uma identidade falsa para ele também! – Gabi riu. – Liga logo para o Dani! – Edgar pegou o telefone e ligou para o amigo, mas este não atendeu.

— Ninguém atende. – suspirou ele tentando novamente.

— Alô? – uma voz chorosa atendeu do outro lado da linha.

— Pimpinho? – Ed perguntou.

— Oi Ed... – Daniel respondeu. – O que foi?

— Vamos sair?

— Não dá cara, estou ocupado... Mamãe e papai marcaram um psiquiatra para mim. – ele sussurrou. – Estou falando no celular escondido, aqui não pode utilizar aparelhos eletrônicos...

— Como assim? Por que eles fizeram isso? Você está bem? Está no consultório agora?

— Sim, estou escondido atrás da mesa. Tenho que desligar... – então a linha ficou muda.

— Que foi? – Gabi perguntou preocupada notando a expressão confusa de Edgar.

— Parece que os pais daquele jegue notaram finalmente que ele tem alguns probleminhas e resolveram mandá-lo para um consultório psiquiátrico!

— Não fala assim dele! – resmungou Gabi. – O que vamos fazer então? – como resposta, Edgar pegou todas as cervejas do pai e jogou tudo no sofá.


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