Tarja Preta escrita por Maya
Gabriela tinha acabado de chegar em casa depois de um teste estressante de matemática. Chateada, a garota foi até a cozinha procurar um remédio para dor de cabeça, quando deu de cara com Ana.
— Oi querida. – a mulher falou beijando-a na testa. - Como foi o teste de matemática? Acha que foi bem?
- Fui mais ou menos, só que não quero falar sobre provas agora. – respondeu. – Aqui tem dipirona?
— Não, mas vou passar na farmácia depois do trabalho. Quer mais alguma coisa?
— Algo para cólica. – ela respondeu sentando-se na mesa da cozinha. – Estou de TPM e exausta.
— A prova foi tão desgastante assim? – Gabriela respondeu que sim com a cabeça. – Tenta tomar um banho e comer alguma coisa.
— Tem o que para comer?
— Biscoito e pão com ovo.
— Mãe, isso não é almoço... – ela resmungou se espojando na cadeira. – Eu estou faminta, queria comida de verdade, não esses lanchinhos.
— Então faça você mesma! Estou atrasada para o trabalho, não posso demorar mais para sair. – respondeu a mulher olhando para o relógio de pulso. - Tome cuidado, não abra a porta para ninguém, se for sair leve o celular e tranque a casa toda, ok?
— Tá. – Gabriela respondeu observando a mãe sair de casa. Chateada, a garota se levantou e abriu o armário, vendo que este estava praticamente vazio a não ser por dois pacotes de biscoito. – Mamãe poderia deixar dinheiro para que eu pedisse pizza, mas não... – resmungava consigo mesma. Vencida pela fome, ela pegou um biscoito e colocou um pouco de refrigerante num copo.
— Eu adoro essa marca! – disse Daniel aparecendo na janela, fazendo a amiga gritar e derrubar tudo no chão. – Te assustei?
— Por que está aqui? – gritou ela ainda ofegante, colocando a mão no peito. - Acabamos de nos ver na escola!
— Fiquei com saudades. – respondeu ele enquanto entrava. Gabriela revirou os olhos quando o garoto se abaixou e pegou um biscoito do chão, comendo-o logo em seguida.
— Você é nojento. – resmungou ela.
— Só um pouco. – ele sorriu. – Ah, eu trouxe o Ed também. - disse quando a campainha tocou.
— Você também poderia ter entrado pela porta...
— Mas eu gosto de sentir adrenalina!
Bufando, Gabriela saiu da cozinha deixando Daniel comendo os biscoitos e foi atender a Edgar, que buzinava em parar.
— Já ouvi, inferno! – ela gritou abrindo a porta.
— E aí? O que tem para almoçar? – Edgar perguntou entrando antes mesmo de ser convidado. – O Daniel já chegou?
— Minha mãe não fez comida. – respondeu Gabriela seca. – E o idiota já chegou sim.
— Ei! – Daniel gritou indo em direção aos amigos. – Eu não sou idiota!
— Aqui não tem comida? - lamentou-se Edgar. – Eu disse para comermos naquele restaurante chique!
— Iriam almoçar fora e não iriam me chamar? – Gabriela gritou.
— Nós? – Daniel perguntou fingindo não saber nada. – Claro que não!
— Já que aqui não tem nada para comer, pode ir com a gente se você quiser. – respondeu Edgar.
— Ficou maluco? – Daniel perguntou com a boca suja de chocolate. – Ela come muito, não podemos chamá-la! Quando a levei naquele restaurante eu saí falido!
— Como é que é? – Gabriela perguntou empurrando o amigo, mas discussão foi interrompida pelo toque do celular da garota. – Sorte a sua que preciso atender. – ela falou fuzilando Daniel com o olhar. - Alô?
— Gabi! – Cláudio gritou do outro lado da linha.
— Cláudio! Onde você esteve esse tempo todo?
— Bom dia para você também! – respondeu ele rindo. – Como você está?
— Vá para merda! Não vai me dizer por que não respondeu minhas mensagens ou retornou minhas ligações?!
— É que estou sem tempo esses dias. Sabe, minha avó está caducando, estou tendo que cuidar dela.
— Como assim?
— Ela vai fazer comida, mas esquece que colocou o feijão no forno e quase coloca fogo na casa, ela vai ao banheiro, vê que não tem papel higiênico, vai buscar um, mas esquece que queria cagar e acaba cagando nas calças... Sabia que ela está penteado o cabelo com uma escova de dente?! Eu já não sei o que fazer...
— Espera aí! – ela gritou. – Você me disse que iria viajar para a Holanda! Sua avó é Holandesa, por acaso? Porque se for, interna ela num asilo!
— Por que esse mau humor todo? – perguntou Cláudio desconversando e com medo da garota descobrir o real motivo pelo qual ele se afastou.
— Você ainda não respondeu!
— Calma! – ele suspirou dando uma pausa. – Ok, eu não estou com minha avó...
— Disso eu já sabia. Desembucha logo!
— Gabi, acontece que eu tenho namorada. – ele falou envergonhado depois de alguns segundos.
— O quê?! – a garota gritou com a voz embolada.
— Eu não estou na Holanda, estou na cada da Lola. Por isso não pude te ligar com frequência... Ela é um pouco ciumenta. Você entende, não é?
— Quando você pretendia me contar isso?!
— A gente só ficou algumas vezes, não vi motivos para contar. – ele riu. – Não achou que iriamos namorar, achou?
— Seu filho da puta! – Gabriela desligou antes que ele pudesse dar alguma outra resposta.
— O que aconteceu? – Daniel e Edgar perguntaram curiosos.
— O Cláudio... – ela estava com tanta raiva que era difícil de pronunciar qualquer palavra. – Aquele infeliz me enganou esse tempo todo! Ele mentiu dizendo que iria para a Holanda, mas na verdade está na casa da namorada...
— Namorada? – Daniel franziu a sobrancelha. – Oh não...
— Isso mesmo. – Gabi disse sentando-se no sofá e colocando as mãos no rosto. – Ele ficou comigo mesmo namorando outra garota...
— Ele é um cretino! – Edgar rosnou. – Eu poderia ter acabado com ele, poderia ter deixado a cara dele mais deformada do que o normal! Está vendo Gabriela?! Eu te disse que ele era um ordinário, mentiroso, desgraçado, pestilento...
— Edgar, cala a boca... – falou Daniel, mas o amigo continuava falando adjetivos negativos sobre Cláudio. – Você não está melhorando as coisas.
— Aonde foi que eu estava com a cabeça?! Agora ele deve estar se achando... Que merda! - Gabriela gritou tentando extravasar sua frustração.
— Pensa no lado positivo. – Daniel começou abraçando a amiga, que apoiou a cabeça nos ombros dele. – Pelo menos você está livre desse cafajeste.
— Aquele covarde! – Edgar rosnou. – Mas o Dani tem razão, imagina se você estivesse no lugar na namorada dele?
— Calma... – Daniel sussurrou no ouvido dela quando a garota começou a chorar no ombro dele. - Sabe o que você está precisando?
— O quê? Suruba? – Edgar perguntou piscando os olhos como se fosse um garotinho inocente.
— De açúcar. – respondeu Daniel revirando os olhos. – Quem quer sorvete?! – todos levantaram as mãos. – Ótimo, podem pagar o meu!
— Eu já deveria saber que você iria falar alguma merda. – Gabriela riu enxugando as lagrimas. – Sinto em dizer, mas você que irá pagar o nosso, Dan! – o menino soltou um muxoxo.
— Cara, você é rico! – Edgar falou cruzando os braços. – Você ganha 400 reais de mesada toda semana, além do dinheiro do lanche! Deixe de se casquinha!
— Ok, ok... Mas só porque a Gabi merece! – disse beijando-a na bochecha, fazendo-a corar levemente.
— Obrigada. – ela sorriu.
— Eba! – Edgar gritou começando a bater palmas. – Eba, eba, eba, eba... – dizia ele o caminho todo, até chegarem à sorveteria.
— Bom dia. – disse Daniel quando finalmente chegaram. - Quero um sorvete de maçã com pêra!
— Não temos esse sabor, senhor. – respondeu o atendente.
— Tem de quê, então?
— Napolitano, castanha, creme com passas, amendoim e chocolate.
— Eu quero de amendoim. – disse Gabriela.
— Eu quero de chocolate. – respondeu Edgar.
— E o senhor? – perguntou o atendente olhando para Daniel.
— Quero de maçã com pêra. – respondeu como se fosse a coisa mais obvia do mundo.
— Não temos esse sabor, senhor... – O atendente respondeu novamente, dessa vez com um pouco de impaciência.
— Mas eu quero o meu de maçã com pêra... – Daniel repetiu começando a ficar nervoso.
— Não tem maçã com pêra, você é surdo? – gritou Gabriela.
— Como não tem?! Que pobreza! Atendimento horrível! Vou comer na concorrência! – então Daniel saiu puxando os amigos.
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