Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 24
Dourado


Notas iniciais do capítulo

Olha a surprezinha aqui!

Falei que tinha acabado, mas não acabou!
Ou melhor, acabou.. mas bateu aquela vontade de escrever novamente e eu a abracei haha

Esse é um capítulo Bônus, algo que evidentemente é um fato ocorrido após o término da história central de Um tal Cavaleiro.

Espero que gostem, dessa vez é uma despedida real.



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Quando acordei, estava deitado sob peles de animas nobres, sob o céu aberto, coberto por pesadas colchas feitas de um material grosso, mas que lembrava a seda. Não me lembrava do motivo de estar ali. Não me lembrava do que havia feito para chegar lá. Se quer, lembrava-me de meu nome.

Como sinos ribombantes, vozes me atingiram, fazendo-me encolher em minha cama sob o céu.

Eram gritos, algumas, enquanto outras eram doces palavras. Cânticos ao fundo, a minha volta, em toda a parte.

Que diabos era aquilo? Pensava sem conseguir me mexer, atordoado, caído ali.

Talvez estivesse sob o efeito de alguma erva, planta, ou mesmo vapor mágico. Sabia que a feitiçaria era uma arte desconhecida e, perigosa. Rapidamente pensei na Bruxa. Se fosse ela, eu estava perdido. Ela havia me encontrado. E fugir, não teria sido a opção ideal.

Ao menos, acreditei de coração, que havia poupado a vida deles, em Estherburg.

Tinha raiva, mas não a mesma raiva que tive nos meus últimos dias na cidade. Ou das campanhas do norte, ou qualquer outra.

O fato era que minhas cicatrizes queimavam, meus olhos ardiam e meu coração tentava saltar de meu peito. Não era o mesmo medo, que sentia antes. Isso aqui era pavor, algo que genuinamente, eu havia sentido poucas vezes nada vida.

Apesar disso, não recomendaria a ninguém.

Seja lá o que for àqueles sons, pareciam vozes se aproximando. Demorei a entender, mas quando compreendi, foi um golpe no estomago.

Cairia se já não estivesse encolhido, feito criança medrosa.

Silhuetas escuras chegavam perto à velocidade de passos calmos. Romperam a linha das árvores e vinham até a minha direção. Sentia-me observado. Não, penetrado, quase dissecado por seus olhares penetrantes.

Mas quem disse que eu via seus olhos?

Lembrei-me de conselhos que recebia quando novo, sobre o chamado dos Deuses. Minha mãe, uma sacerdotisa, como todas as mulheres de minha tribo eram, falava muito sobre isso. Às vezes alguns são chamados por aqueles maiores que nós. E que devíamos acolher suas decisões, como as nossas próprias, fosse receber mil fortunas, ou dar nossas vidas.

Esse era um bom conselho. Um bom conselho para quem acreditava que aquilo era só uma história. É um péssimo conselho.

Péssimo Conselho, ok? Nada de dar a vida.

"Você"— Uma das figuras falou. Ou pareceu falar. Sua voz estava nos meus ouvidos, seus olhos estavam no meu peito, e seus apontar, fictício, já que não o via, furava-me o corpo todo. Eu já não tremia, estava paralisado, completamente submisso aquilo.

Fossem Deuses, Demônios, ou qualquer coisa. Estava a mercê de suas vontades.

"Você"— Outra figura falou. Ou pareceu falar. Sua voz estava nos meus ouvidos, seus olhos estavam no meu peito, seu apontar, fictício, já que não o via, acalentava minha pele com cuidado. Eu já não tremia, estava paralisado, completamente entregue ao calor bondoso e acolhedor.

Outras figuras estavam lá, mas não pareciam se intrometer. Trovões, sinos, raios, sons que jamais saberei tomar em palavras. Uma tempestade de ecos inimagináveis, que em certos momentos se tornavam cores, gostos e sensações, hora um, hora outro, hora tudo de uma vez.

Sentia o tempo mitigar minha sanidade, minha saúde. Mas ainda que eu sentisse meu corpo definhando, como em uma sangria lenta e quase indolor, minha mente apenas me trazia boas memórias, de meus amigos mais próximos e, até mesmo aqueles, que eu apenas considerava um estorvo.

É, ele mesmo, o babaca do Jhon Lander.

Aquilo era tão estranho, que começava a considerar um sonho. Péssimo timmig para supor as coisas, conclui um instante depois.

Uma das figuras, não tinha uma forma masculina ou feminina, era apenas sua forma, próxima a nossa, ou não. A sensação de cuidado aflora em toda a parte. Aquele manto de escuridão, provindo da noite, não existia ali. Era quase luz, quase tátil.

Não tenho como explicar, era tudo junto, mas também tudo separado.

"Você"— Falou novamente. Senti tudo novamente. Exceto o toque, vez quente, vez frio, mas inenarravelmente prazeroso, em meu rosto. Como uma mãe cuidadosa, ou um pai orgulhoso. Aquilo cuidava de mim e, acho que compreendi o que queria dizer. Dizia que estava tudo bem, que a vida é um suspiro curto, composta por altos e baixos. Que há mal, há bem e, há o homem, que trilha seu caminho e cruza ambos os opostos. Agradecia, por isso. Mesmo eu, tão errado, tinha feito algo importante, algo que, por ele, ou ela, não ter permissão para agir, não pode fazer.

Logo entendi. Era como se ao seu toque eu entendesse. Maldita bruxa. Maldita feitiçaria, pensei.

Um gemido de dor. Deuses sentiam isso? Algo varou o peito daquele que cuidava de mim. Para minha surpresa, sangue jorrou. Para todo o lado, par cima de mim.

A dor, o medo, tudo veio tão forte que eu apaguei.

Acordei em uma barraca de campo, com alguns outros soldados. Estava em uma cama comum, feita de palha, me cobria com peles, como o de costume.

Haviam se passados alguns bons anos, mas acordei com o coração na boca. Estávamos em campanha, a Brigada do Lobo, tinha sido contratada para lutar um guerra a quatro anos, fora das fronteiras de Dantália.

Seus rostos, sorrisos, e palavras voltaram a minha mente, como se eu os tivesse visto ontem mesmo. Era de certa forma reconfortante, já que não havia boas lembranças desde os dias que parti de Estherburg.

Suspirei, olhando em volta. Era noite ainda, apenas uma tocha estava acesa, numa viga central que sustentava a barraca. Nossa água ficava lá perto, bebi uma caneca.

Então senti algo em meu rosto. Era estranho. Achei que fosse uma sensação boba quando acordei, mas agora parecia escorrer. Estava frio, então era pouco provável que fosse água.

Sangue. A consistência era de sangue. Mas eu não estava ferido. Logo não era meu. Saguei um punhal, peguei a tocha com a outra mão. Chama Crua estava ao lado de minha cama, distante de mim no momento.

Não havia ninguém. Só meus companheiros de alta patente. Todos dormiam, respiravam em paz.

Baixei o punhal. Até que notei algo estranho no cabo, na minha mão. Pensei que era por conta da tocha, refletindo na cor escarlate do sangue. Mas não.

Cheirava como sangue, tinha consistência de sangue. A tocha caiu, assim como o punhal. Olhei para cima, para os lados.

Minha mão, meu rosto, meu peito. Eu estava manchado de sangue Dourado.

"Preciso voltar" - Falei olhado para o nada, na penumbra da tocha caída. "Preciso voltar para casa".


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Notas finais do capítulo

Tcham!

Uma pequena expandida no universo do conto. Mas uma certeza também, não é?

A questão é: Dancan já passou por muita coisa, desde que se foi, e agora pensa em voltar. Mas.. voltar será fácil? E, o que ele vai encontrar ao chegar?

Ser um Cavaleiro tem suas vantagens, mas, e ai?

Espero que vocês tenham gostado desse último episódio, que era meio secreto, mas que veio no impulso.

Estou marcando como terminada a história agora.
Mas abrirei novamente quando for o momento certo.

Por isso em nenhum momento, escrevi FIM :v

Um beijo e um abraço pra todo mundo que veio aqui ler nesse tempo todo, obrigado pela atenção dada, vocês me ajudaram muito!

Até breve, com outras histórias, contos, ou textos estilo 'one-shot'.



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