Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 23
Um tal cavaleiro


Notas iniciais do capítulo

Tá tudo muito bom (Não tá não)
Tá tudo muito bem (bem também não tá)

Nesse último capítulo de Um tal Cavaleiro, Dancan percebe que as vezes, não há uma forma de resolver os problemas que surgem.

Espero que vocês gostem desse capítulo e do conto como um todo.
Boa leitura!



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A noite anterior tinha sido uma provação difícil de compreender. Acordei em minha cama, tomado por uma sensação pesarosa. Mãos tremulas, respiração difícil. Não me lembrava de quando fui, ou como dormi, mas a quantidade de álcool que tomei para que aquilo fosse possível era desproporcional para mim.

Lembrava-me de Luppa, a capitã da Quarta Legião, me dando os parabéns. Ela era uma das responsáveis por tudo aquilo, pelo acesso a Chama Crua, pelo fim da influência do Leão Vermelho. Bebemos juntos. Mas há todo momento me perguntava se ela era quem dizia ser.

Aquela dúvida ficaria comigo para sempre? Era uma pergunta que me fazia ali, sentado em minha cama.

"Dancan...?"— A voz de um babaca. Eu ouvi. E quando o olhei me deparei com Jhon Lander, apoiado sob meu colchão. "Onde estou?"— Ele falou, enquanto eu me perguntava que tipo de erro absurdo eu teria cometido ontem.

Se Jhon Lander fosse a bruxa, eu me sentiria melhor.

A porta do quarto se abriu Pharvra entrou. Ela parecia bem, ainda que seus olhos mostrassem algo diferente. As duas canecas fumegantes em sua mão roubam minha atenção. O cheiro me atraia. É minha bebida preferida.

Ela explica que levou o Comandante para meu quarto, quando notou que ele estava bêbado demais na noite anterior. Segundo a Capitã Pharvra, ele bebeu demais, tentando apagar os dias difíceis da cabeça.

Como eu fiz e, a julgar por suas olheiras, Pharvra também.

"Esqueça o que te disse ontem, certo?" — Ela falou enquanto me entregava à caneca. A vi saindo e as memórias foram voltando pouco a pouco. A noite foi intensa, mas não da forma que eu gostaria, ou não gostaria.

Uma nobre guerreira, vinda de uma infância difícil, ela chegou ao topo da hierarquia das formas armadas. Agora como Capitã, ela não precisava de proteção, ajuda, sequer, conselhos. Nasceu para aquilo.

Lander saiu do quarto, me olhando novamente com a expressão receosa. Não o culpei, assim como não o culpo desde então.

Ellunarum estava por aqui. Podia estar no forte, podia estar na cidade, podia estar em qualquer lugar. Era como o coração partido e as lembranças do passado, estão onde você está, querendo ou não. Se apresentar para mim como aquele mercador, como Perligan e, então sumir, logo depois foi uma jogada de mestre. Deixou-me sem defesas. Deixou aqueles que amo expostos.

Estado de eterno alerta.

Quando falei que achava que deveria sair de Estherburg, o álcool em Pharvra falou mais alto. Mesmo com Luppa concordando comigo, quando disse que ser um Cavaleiro me permitia ajudar a todo o reino. Minha ex, agora Capitã, apontou seu dedo para mim, como sempre fazia, e cuspiu mil verdades. Era meu dever defender Estherburg, por Houser, Maurice, por Andal, por todos que contavam comigo, por honra e dever, pelos mais fracos e incapazes. Meu juramento a espada, era proteger quem se ama.

Naquele momento havia muito vinho em meu corpo e Jhon Lander balbuciava coisas sobre seus ancestrais a todos, e os demais nobres e soldados pareciam adorar. Fiz o que deveria ter feito? Talvez sim, talvez não, mas fiz.

Beijei-a, arrancando um largo sorriso da Capitã da Quarta legião.

Pharvra não fugiu. Já havíamos nos beijado antes, mas não daquela forma. Assim que separamos nossos corpos ela perguntou se eu há deixaria para trás. Eu não sabia o que responder. Mas, dentro de mim, algo dizia que eu deveria. A bruxa estava lá. Ela havia me dito que estava lá por mim, me observando, jogando comigo. Por isso, eu colocava todos ali em risco. E não queria por ninguém em risco.

Eu não sabia se deveria abandona-la.

E, ali no quarto, bebendo meu chocolate quente, pensava sobre essa lembrança, que agora já parecia tão distante.

Agora era um Cavaleiro, quase um nobre, segundo Lander. Não estava mais preso a amarra das forças armadas, era dono do meu destino. Ou quase isso. Alimentava os cavalos do estabulo, quando um homem me abordou. Demorei a notar que falava comigo, minha atenção tinha nome e personalidade forte.

“Ei você “- O homem falou outra vez”. Olhei para ele saindo do transe momentâneo. "Você conhece UM TAL CAVALEIRO chamado Dancan?" — Ele olhou para os lados gesticulando. Só ai que notei suas vestes, roupas de frio, armadura de couro. Ele não era dali, mas era bem familiar. "Me disseram que ele estaria por aqui"— Falou com ânsia na voz.

"Bem..." — Disse tirando o feno das mãos. "Dancan sou eu"— E o encarei estendendo minha mão para cumprimenta-lo. "Como posso ajuda-lo"— Fiz a pergunta.

 E vocês sabem a pergunta certa te transporta para o lugar certo. Perguntas erradas te ensinam lições para que sejam feitas novas perguntas, certas, dessa vez.

Eu não sabia, mas vê-lo sorrindo, aquele maldito sorriso, mudaria minha vida completamente. Para bem ou para o mal. Aquele homem, o Barão de Verth, Suzain Varilon, me ofereceu um trabalho. Meus feitos, dos quais eu duvidava se eram realmente algo para se orgulhar, chegaram às terras do norte.

Falou-me sobre os conflitos com os Trugos de lá. Sobre a possibilidade de feitiçaria e, como poucos tinha a experiência necessária para lidar com tudo aquilo. Todos, exceto Dancan White, também conhecido como: eu mesmo.

Claro, meu ego foi até uma das quatro luas. Era o motivo ideal. Deixaria a Bruxa longe de quem era importante para mim. Daria-me mais experiência. Deixaria-me mais rico. Daria-me mais tempo para planejar algo, criar uma estratégia, para dar um fim aquela sensação de medo constante.

Suzain comentou que se surpreendeu que um Hiivt fosse o responsável por tudo aquilo. Ele era de uma tribo próxima às terras do meu povo. Então sabia das histórias. Era surpreendente para ele quão longe um homem do povo branco chegou. O sobrenome fazia mais sentido depois que lhe contei minha descendência. Mas tudo fazia sentido, ele disse, após saber de tudo. Reforçou a oferta e, na verdade, ainda a tornou mais atraente.

Atraente demais.

O governador aprovou assim que soube, eu seria o herói da cidade e seria ele quem teria o canal direto comigo, me requisitando caso fosse necessário. Jhon Lander aprovou assim que soube, eu seria um problema a menos, uma possível ameaça que estaria distante. Luppa e Andal também aprovaram a primeira, via honra e ouro no chamado, a segunda via paz, de todos os tipos com minha partida.

Apenas uma pessoa não aprovou. Ou melhor, se Houser ainda estivesse ali, ele também não aprovaria.

Pharvra foi me ver partir, prostrada como uma estátua, um baluarte de certezas. Agora ela tinha que se mostrar forte como eu sempre disse que era exigido de mim. Entreolhamo-nos uma última vez quando cruzei o portão principal de Estherburg montando em um cavalo na pequena caravana do Barão de Verth.

Os soldados vestiam roupas vermelhas. Era a homenagem das formas armadas para um cavaleiro que partia em missão.

Não admiti que partia por medo de falhar. Enchi-me de motivos poderosos, motivos que carregavam verdades.

Fiz-me acreditar que o horizonte guardava aventuras e soluções para meus fantasmas. E então fui.

"Minha história não terminou assim" - Ele Diz enquanto ergue sua caneca fumegante com um cheiro peculiar. "Ela só estava começando".


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Notas finais do capítulo

Acabo-ouu-ou-ô!
A-ca-bou!

Ou não, não é?

Ninguém ali será o mesmo. Mas não ser o mesmo não implica em ficar pior. Caminhos são tomados, mas as vezes eles levam de volta a origem.

Eu espero do fundo do coração que tenham gostado da leitura, obrigado por perderem seu tempo aqui, comigo, com o Dancan e, com a galera toda.

Até mais (:



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