Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 10
Rosa Escarlate


Notas iniciais do capítulo

O povo e a ignorância podem mudar as prioridades de uma cidade toda.
Dancan tem um dever, mas as lacunas da Verdade ainda não foram preenchidas.



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Uma carta chegou a Estherburg endereçada ao caçador de monstros. Ela causou um alvoroço, pois parecia ser um aviso, e foi lida em meio a praça central da cidade. Plebeus, guardas, o clero e os nobres demonstraram diferentes emoções. Os mais céticos negaram, os religiosos fizeram suas preces, os mais abertos, temeram.

A carta apareceu cravada no quadro de recados da praça. Ela tinha uma caligráfica rica e bem desenhada, algo que apenas um nobre ou um erudito poderiam fazer. O papel era antigo, como os das bibliotecas do antigo templo para o deus da Justiça, antes de pegar fogo a doze anos. A linguagem rebuscada indicava alguém estudado e, alguém de idade avançada.

Houser me puxou pelo braço. Ele me queria para ajudar a conter a multidão que estava começando a entrar em histeria coletiva. Juntamos os soldados disponíveis e seguimos para a praça, cercados da pressão popular a gritos de 'nos salvem' e 'o que está acontecendo?'. Os guardas estavam perdidos, também aturdidos pelas palavras que só mais tarde eu viria, a saber.

O capelão do templo das quatro luas segurava a carta contra o peito quando chegamos ao centro da praça. Ao nos ver ele se ajoelhou aos nossos pés e com a voz fragilizada implorou, pela benção do seu deus, que nós salvássemos seu clero e, apenas ele.

Houser riu, enquanto eu me mantive focado na situação. Segurei-o pelos braços, o erguendo. Peguei a carta com calma, enquanto meu companheiro o acalmava juntamente da multidão com um discurso simplório e clichê.  

Não sei se me sinto bem por todos terem aceitado ou fico irritado com a ignorância geral por isso.

Os soldados aos poucos foram expulsando os civis da praça, enquanto Houser mostrava todo seu talento na oratória. Enquanto isso, eu segurava a carta, sem abri-la, ouvindo todos os pedidos do arauto do Lord Esther, que chegará um pouco antes da gente. Ele exigia uma tomada de ação, proteção reforça explicações e, principalmente, maior segurança para ele e sua família em seu pequeno castelo.

O arauto era um homem de meia idade, de atitude mesquinha e arrogante. Seus trajes de gala, de corte fino e cuidado impressionante me irritavam. Ele me lembra de Jhon Lander, mas agregavas defeitos muito mais impactantes. Nessas horas, eu me sentia feliz, tendo o comandante que tinha.

Voltamos para o forte com muitas coisas a preparar. Houser sugestionou a lermos a carta antes de entrega-la ao comandante. Sabíamos que ele a tomaria para si, sendo o bom babaca de sempre e não nos permitiria ler ou sequer opinar sobre sua decisão posterior.

Pegamos um caminho seguro, uma ala do forte pouco usada, geralmente onde se guardavam provisões. Abrimos a carta e começamos a ler a luz de uma única e vacilante chama de vela.

Alguém estava irritado, segundo o que lia. Exigia o pagamento de 15 mil Grifos Dourados. Um valor realmente elevado, quando pensávamos que nosso salário como capitão era simples 5 deles, a cada mês. Os Esthers não deviam ter essa quantia.

Se tivessem, com certeza estariam fazendo negócios escusos longe da visão de todos.

 Mas não parava por ai. Exigiam que parassem de louvar o deus das quatro luas, algo que não me parecia tão ruim, dada demonstrações de seus sacerdotes em ocasiões passadas. Pediam sacrifícios, pediam que os infiéis fossem queimados em nome de ninguém.

 Até ai, nada de estranho para uma carte ameaçadora, mas o último pedido me aturdiu.

Exigiam que a Rosa Escarlate de Murmoth fosse entregue. Houser parecia não saber exatamente o que era, mas desde o encontro no 'Olho do Bosque' com Lady Arthurya, e os acontecimentos envolvendo-a, pesquisei algumas coisas. A Rosa Escarlate era um manto vermelho, simples, mas trançado com pétalas das rosas embebidas no sangue dos sacrifícios antigos. Um item fantasioso, que era dito possuir um poder misterioso.

Arrepiei-me a cada pensamento que surgia em minha memória.

Houser um pouco surpreso me pergunta o que acho sobre aquilo. Se for algo para se levar a sério. Demorei a responder, buscando a afirmação correta.

Ainda estava arrepiado e devidamente apavorado com a possibilidade daquilo ser real.

Digo que parece ser, mesmo que tenha algumas exigências um pouco fantasiosas demais. Ele me olha, notando meu receio. E questiona o motivo daquilo. Apenas respondo que não gosto dessas coisas de sacrifícios. É bem compreensível, ele responde, mostrando os pelos do próprio braço totalmente arrepiados como os meus.

"Temos que tomar alguma providência, afinal os Esthers ordenaram nossa intromissão"— Comento, enquanto fecho a carta e começo a andar. Houser me segue, concordando. Seguimos direto para o gabinete de Jhon Lander, que está cercado pelos outros capitães.

Ele está claramente irritado com a nossa demora. Coloquei o papel em sua mesa e me dirigi a uma das cadeiras vagas. Como imaginávamos, ele a pegou e nos dispensou, dizendo que tomaria a decisão ideal para as informações que contivesse o documento.

Na sala, sozinhos, nós, os capitães, nos entreolhamos. Todos nos encaravam. Até que, passados exatos dois minutos de silêncio, Andal apontou para nós: "Eu sei que vocês leram aquela carta de cabo a rabo. Por isso demoraram". Todos concordaram com a cabeça, alguns rindo, outros mais sérios.

Tentei fingir que não era comigo, mas meu companheiro não pode conter-se e riu, confessando que tínhamos, sim, lido tudo.

Bufei Houser, como você era idiota, pensei.

Os olhos de todos brilharam em busca do conteúdo. Contamos. Na verdade, Houser contou, eu apenas confirmava tudo. Ele repetiu minhas palavras gerando reações adversar, mas contidas dos demais capitães. Enquanto isso em meus pensamentos me perguntava se Lady Arthúria era uma vítima, ou peão ou de alguma forma, a arquiteta de toda aquela situação.

Eu deveria contar sobre ela para os outros?


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Notas finais do capítulo

It is the end. My only friend, is the end.

Ok, não acabou, daqui a alguns dias volto a postar. As coisas estão ficando tensas, e as histórias tendem a se conectar hora ou outra.

Até o próximo!



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