Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 68
68 - Meck




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— Rapaz… Acabou a vigília? — pergunta o pastor Carlos, de chinelo e sozinho no salão da igreja a portas fechadas.

— O pastor lá atrasou um pouco a vídeo, mas já vamos — responde a obreira Bia, um pouco atrás de mim, saindo da porta da cozinha.

Hoje os Mídias foram chamados para a reunião de líderes, mas não sabíamos que demoraria tanto. São quase dez da noite, um horário perigoso para andar na rua com meus equipamentos, apesar da boa segurança nacional. Mas não tenho escolha.

Sigo sozinho pelo caminho que pensei ser o mais movimentado, mas me enganei bonito. Apesar de as ruas terem uma boa iluminação, não há uma alma viva no caminho. A brisa da noite move algumas folhas caídas sob o farfalhar de copas verde-amareladas. Uma arrancada de motor ecoa ao longe. Minha mochila faz barulho a cada passo.

Volto da igreja sozinho há anos e Deus sempre me guardou, mesmo eu estando longe dele. Agora que estou me aproximando, com certeza estou seguro. Ando de cabeça erguida. Mas os olhos continuam se esgueirando pelos cantos escuros.

O ronco de motor está mais alto. Uma moto dobra a esquina, com dois jovens sem capacete. Onde está a polícia que não os viu? E as câmeras de segurança municipais? Subo na calçada, tento sumir na sombra; pois quem sabe se esse piloto sabe pilotar?! Mesmo assim, a moto vem para meu lado. Acelero o passo, pois faltam apenas trinta metros para chegar à esquina, onde a iluminação está melhor.

— Ei, cara, você aí, ajuda a gente?

Sem virar a cabeça, só os olhos, continuo andando.

— Cara, ajuda a gente aí. Tem um celular pra ligar pro bombeiro?

Ignoro os motoqueiros. Mais vinte metros. O motor ronca e os dois dão a volta. E param a moto na minha frente, na calçada. Paro de entender o que os dois falam, mas o garupa pega minha mochila e quase me derruba no chão ao puxá-la.

— Não, meu trabalho, tá…

Eles saem com o motor em alta rotação. O garupa aponta o cano da arma para trás, e eu só observo enquanto fogem com meu notebook.

Todo o meu trabalho. Minha fonte de renda. Minha chance de crescer financeiramente e finalmente ter o que oferecer para minha futura companheira. Poderia me abrir com a Thalia. Poderia ajudar mais na obra.

Todas as fotos e artes da FJ. As fichas dos projetos. O último backup foi feito logo que entrei no projeto; faz tempo. Relatórios e tudo que a obreira Bia pedia para armazenar cópias fora do seu e-mail particular.

Fotos minhas. De família. Passeios. Eventos. Fotos antigas. Raridades. Fotos de mim montado. Todas as fotos que já tirei.

Tudo que eu tinha. Minhas chances com a Thalia. Meu material de trabalho para a obra. Meus segredos. Tudo estava ali.

E se foram.

Deus não protegeu. Será que depois de tudo ele não é comigo? Será que, se aquele bandido tivesse atirado, não viriam anjos para buscar minha alma? Eu perderia a Salvação?

Claro, ouço em minha mente. Tudo isso que você faz, ou é para a Thalia, ou para a obreira Bia. Para mim você dá o resto.

Chego em casa tremendo. A voz falando comigo me tirou o chão dos pés. Abro a porta da frente, passo por meus queridos pai e mãe sem cumprimentá-los e me tranco no meu quarto.

Senhor, hoje eu vi a morte de perto. Isso não foi o pior. Naquela hora eu vi que a morte não era o pior, mas a segunda morte, que estava certa. Quase me vi longe do meu primeiro amor. Não me deixa morrer essa morte. Senhor, perdoa minha insegurança, minha incredulidade, minha negatividade; tira essas coisas de mim, Senhor. Também me perdoa por eu não conseguir tirar a Thalia da minha cabeça, por isso faço as coisas pensando nela, quando, na verdade, não é a minha intenção. Eu quero agradar ao Senhor. Quero voltar ao primeiro amor. Não me deixa só. Se o Senhor voltar agora, me leva contigo. Senhor, tenho medo de perder a chance de viver para sempre com o Senhor. Me salva de mim mesmo; dessa incredulidade; dessa falta de fé. Das minhas vontades, as que fazem mal e me afastam do Senhor. Me salva, pois me entrego a ti de verdade.


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