Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 67
67 - Valéria




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Tenho cinco meses ainda de licença. Mesmo assim vou aos finais de semana limpar a casa que cuido, para ganhar um extra. Minha patroa Carmen, apesar de trouxa, não é mão de vaca, e além disso tem a língua pesada até para o marido. Ela pode até não ser feliz no amor, mas é cheia da grana.

Porém hoje, plena terça-feira, recebo a visita do marido dela.

— Vim para ver como está essa gracinha — ele diz e tenta fazer um cafuné no Michael, que afunda o rosto em meu colo.

Dou dois passos para trás, antes que Michael comece a chorar. O homem sorri para mim e volta a chegar perto. Diferente do Elton, este é cheiroso, faz a barba e penteia o cabelo. E tem dinheiro, por tabela. Tem tudo para ser um homem de verdade, menos o mais importante: fidelidade. Por isso não adianta ele chegar perto ou tentar qualquer coisa. Na verdade, não sou besta. Vou para perto da porta por onde ele entrou, que ficou aberta, e vou aos poucos trazendo-o para fora, à vista da vizinha. Qualquer coisa que ele fizer, até sua esposa saberá antes de tudo, graças à rede de fofocas dessa vizinhança.

— Nossa, como você fica linda no sol — ele diz, cortando totalmente o assunto do bebê e chegando pertinho.

— Ouse chegar mais perto para ver o que lhe faço! Tá achando o quê? Que sou mais uma das suas biscatinhas? Se liga, seu idoso!

A estratégia funciona. A vizinhança sai para o quintal para saber o que está acontecendo, e isso deixa o velho intimidado. Graças a Deus esse inútil vai embora e me deixa o resto da tarde em paz.

*

— Vê lá quem é, Karla!

A mulher não mexe um músculo. Deve ter morrido na frente da televisão. Eu mesma passo na frente dela, que nem me nota, e saio para atender a campainha.

— Oi, Valéria. Não foi mais na igreja buscar cestas? Conseguiu um trabalho melhor?

— É, não preciso mais da ajuda de vocês. Obrigada.

Quase consigo sair de costas, mas Bia fala com Michael, e o pequeno, em vez de chorar como fez hoje mais cedo com aquele velho idiota, começa a rir da obreira. Ela continua fazendo gestos de brincadeiras e meu filho se anima mais. Que lindo seu sorrisinho inocente. Não me contenho e também sorrio, contra minha vontade, na frente da Bia. Que lindo. E que raiva!

— Tudo bem, então. Qualquer coisa, conta comigo, certo? Tchau.

Na verdade, preciso muito da cesta, mas não quero ter que ouvir toda vez a Bia chamando para ir à igreja. Para quê? Na minha cabeça só passa a ideia de ficar com o patrão, pois ele paga bem. Não, que isso? Prostituição? Meu Deus, o que faço?

Troco de canal para tirar o foco desses pensamentos sujos. (Onde foi que aprendi essa tática de trocar de canal mesmo?) Pego meu telefone para ver só agora duas mensagens. Uma da Bia, de antes de ela ter vindo, perguntando se eu estava em casa. Outra do corno do marido da minha patroa, perguntando a mesma coisa, mas com uma carinha safada no final. Um infeliz desse acha que tem chance comigo! (Mas com a grana que tem, até me faz pensar) Não! De novo esse pensamento?

Meu Deus, tira essa ideia da minha cabeça, porque eu não estou conseguindo. Por favor, me ajude. Dá um sinal.

Chega outra mensagem do infeliz. Em seguida uma da Bia. Ambos me chamando para sair, cada um para um lugar. Parece que cada lado da minha cabeça pende para um dos dois, e agora não consigo decidir! Ô, desordem!


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