Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 41
41 - Bia




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Preciso me entregar ainda mais. Hoje evangelizamos na praça de frente à marina desde manhã até pouco antes do Conexão, e deu ainda menos jovens que nos sábados anteriores. Apesar disso, não olho para a quantidade. Essas poucas almas foram as que Deus confiou a mim, e fiz a reunião de todo meu coração, e tenho certeza que elas foram abençoadas.

*

Faz só umas três semanas, mas parece uma eternidade que estou ficando no apartamento da obreira Mokado. Apesar de ela ser tão relaxada, foi quem me acolheu desde que fui expulsa de casa.

Relaxada é pouco. Como pode uma moça deixar a pia com louça para lavar no dia seguinte? Ou deixar a toalha molhada sobre a cama? É até um pouco difícil jantar na casa dela, pois fico imaginando se ela é como o Bruninho com o nariz.

— E aí, como foi o grupo jovem hoje? Foi top? Encheu?

Engulo seco o macarrão sem sal. Um de seus gatos fica em pé apoiado na minha perna. Outros dois ficam nos rodeando.

— Sim, sim… Arrebentou.

— Os jovens tão firmes? Eles ajudam limpar a igreja depois?

— Sim, ajudam, alguns. Não posso obrigar todos a ajudarem.

Depois do jantar, antes de irmos dormir, assistimos a um programa de obreiros pela internet. Seus gatos nem chegam perto agora que não estamos comendo. Mokado fica alternando abas de bate-papo, e nem deve prestar atenção ao programa. Eu deveria aprender a usar o meu próprio computador!

O bispo passa a palavra, faz uma oração, e a obreira continua mandando mensagens. Não fico olhando para ler o que é, nem para quem é, mas isso é uma tremenda falta de respeito, na minha opinião. É um sacrifício, mas preciso fazer nossa convivência aqui dar certo, enquanto não tenho meu próprio lar.

— Na segunda vou aproveitar minha folga e andar logo cedo, quer vir comigo?

— Vai aonde, Bia?

— Vou ver algum apartamento ou casa pra mim. Não que aqui esteja ruim, não, mas não posso ficar aqui pra sempre, certo? E não aceito voltar pra casa da minha mãe enquanto ela não se converter, não me pedir perdão.

Na mesma hora lembro de uma palavra; é o próprio Deus me repreendendo: Perdoe para ser perdoada.

— Não foi isso que quis dizer — falo sem olhar nos olhos da obreira Mokado.

Ela sorri, o que faz seus olhos puxados ficarem praticamente fechados.

— Tudo bem, ninguém é perfeito, Bia. Você tem seus erros…

Relaxo é um defeito grave, obreira Mokado. E suas roupas também não são exatamente um exemplo. Nunca vi isso: obreira com blusa de alcinha e shortinho. Tudo bem que está dentro da sua casa, mas isso não é certo.

Antes de fechar o computador, damos uma olhada nos classificados. Várias casas e apartamentos estão completamente fora do meu alcance em relação ao meu salário. Mas um deles chama sua atenção por outro motivo.

— Esse vendedor eu conheço. É do grupo jovem da igreja de Jakra. Bonitinho, não é?

— Hã? Como assim, obreira?

— Uai, Bia, você já tá passando dos seus vinte e cinco, passou da hora de casar!

— Só quando for a vontade de Deus. Quando ele achar que eu estou pronta, ele manda alguém que vai ter a mesma visão que eu.

Vou dormir sem continuar a conversa. Só procuro uma roupa mais leve no roupeiro dela, e fico surpresa com várias blusas com transparência e vestidos bem abertos e decotados. Mas quem sou eu para julgar? Tenho minha vida para cuidar, incluindo com quem vou me casar. Isso não é com Mokado nem ninguém. É entre mim e Deus.


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