Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 40
40 - Felipe




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— AÔO, PAULINHO!

Grito com toda força para os quatro sentidos da esquina. A essa hora da noite não tem muita gente na rua, mas um casal passa de braços dados quando dou mais um grito. Sorrio para eles, que se abraçam e cortam a volta.

A igreja já fechou, mas não quero ir para casa ainda. Deus, onde está o Paulinho? Tento refazer o caminho que fazíamos. Nada interessante, no máximo uma pequena casa de jogos eletrônicos. Se bem que Paulinho gosta disso, mas ele não tem dinheiro para gastar. Continuo andando, passo minha casa e continuo até o fim da rua. Depois da última esquina minha calça fica gelada em contato com a beira da plantação de milho que se estende por centenas de metros.

Meus olhos pesam mas continuo caminhando pela última rua do leste de Marazul, deixando o cheiro da plantação preencher meus pulmões. Vejo alguém bem pequeno passar na outra calçada.

— Paulinho? Ô!

Ele para, levanta o rabo, aponta os olhos brilhantes para mim, solta um miado e salta para dentro do quintal da casa mais próxima. Meu sangue ferve e sobe até os olhos.

Outro gato passa na minha frente e, num ímpeto de raiva com frustração, chuto o animal com toda a força. O gato mia forte e cai metros a frente com dificuldade para andar. Aproximo-me dele, e a cada passo meu coração bate mais forte, minha visão fica mais nítida, a respiração barulhenta e o corpo mais duro. A última coisa que consigo ver são minhas mãos pegando o animal inocente. Uma bola de pelos machucada fica na minha memória.

*

Quase vinte pessoas olham para mim quando abro os olhos e recupero o foco. Minhas mãos estão sujas. Está escuro, nem a lua brilha hoje, por isso demoro a perceber o que acontece.

O que é isso? Tem sangue nas minhas mãos! Meu Deus, o que aconteceu aqui? A alguns metros está aquele animalzinho, machucado e com o pelo cheio de sangue também. Tá amarrado! Isso de novo? Eu não aceito isso! Seja amarrado!

Deixo as pessoas e o animal e corro para casa. Entro sem cumprimentar o vizinho e me ajoelho ao lado da cama.

Deus, em nome de Jesus, queima esse espírito, esse desgraçado que tá querendo voltar pra mim; que seja queimado, amarrado. Sai da minha vida, sai do meu caminho, agora!

Demoro para dormir, pois fico relembrando meu passado. Sei por que o Paulinho não gosta de mim. Desde criança sou diferente, pois gostava de pegar insetos e colocá-los num pote com gasolina. Claro que morriam, mas eu não ligava. Fui crescendo e comecei a pegar uns animais de rua, mas quando ninguém estava olhando, eu dava comidas venenosas para eles. Quando morriam, ficava triste, mas sabia que a culpa era minha. Mas eu fazia essas coisas sem querer. Não era para matar, era apenas uma diversão. Isso que eu pensava, mas hoje sei que era um demônio. E esse demônio quer voltar para mim. Esse mesmo que está escondendo o Paulinho. Mas ele já está amarrado! E eu vou mudar. Todos verão. A obreira Bia verá. O Paulinho também. E Deus, principalmente. Aí, sim, vai arrasar.


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