Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 36
36 - Felipe




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Combinei com um colega das antigas de nos encontrarmos no shopping para conversarmos sobre trabalho. Mesmo ainda sem meu filho de volta, consigo me manter de cabeça erguida. As contas não param de vir. E meu voto com Deus não pode ser cancelado por nada deste mundo; nem mesmo família.

Cheguei muito cedo, e aproveito para bater uma boquinha. Compro um hambúrguer que dá direito a refrigerante a vontade (haja Sprite!) e me sento numa mesa bem no meio da praça de alimentação. A praça está lotada. Sem querer bato na cadeira de uma moça gordinha que está na mesa ao lado.

— Aí, foi mal…

Ao ver quem é, nós dois sorrimos.

— Aôo, Valéria, tudo beleza? — grito com um cumprimento rápido.

— Felipe, tudo bem? Como tá?

— Tá tudo na boa — respondo ao virar a cadeira de lado. — E você? Faz tempo que você tá sumida.

— Na correria. Bom, agora peguei umas feriazinhas… Tá sabendo que eu vou…?

Ela acaricia a própria barriga.

— É? Cara, arrebentou! Quem é o paizão?

— Meu ex sumiu. Ainda bem, aquele menino, por mais lindo que fosse, não queria nem saber do Michaelzinho. Acredita que o cara de pau pediu pra eu tirar o bebê?

Um homem de gravata de outra mesa olha para nós entre uma mordida e outra. Eu rio para ele, que desvia o olhar.

— Olha, vai ter bebê? Sabia que eu tenho um também?

— Ah, é? Casou, então?

— Casei, nada! Culpa sua — brinco —, que falou que eu não ia casar com ninguém se não com você!

Valéria olha para seu prato por um momento.

— Ih, ficou com vergonha? Pensa que eu não sei?

— Ah, é passado — ela diz e volta ao semblante neutro. — Eu era tontinha. Bom, hoje você tá… bem, olha aí; mas fala sério, antes era aquele magrelão desajeitado, quem ia gostar de você?

— E você também não tá uma Marian de Ipanema! — digo com a lembrança do único nome de modelo famosa magra que me lembro, e toco de leve sua barriga de grávida. — Pô, Valéria, você podia ir no Conexão amanhã com a gente. Não sabe o quanto estamos com saudades de você.

Valéria abaixa a cabeça de novo. Continuo falando, mesmo sem contato visual:

— Você arrebentava nos teatros. A Bia fala direto de você, a gente combina de te visitar, quase nunca dá certo, mas…

Valéria se levanta da mesa e quase derruba seu refrigerante.

— A Bia ainda é a líder? Como pode? Ela é uma ladra!

O senhor de gravata olha outra vez para nós, bem como todos das mesas ao nosso redor. Eu fico em pé também e tento dar meio abraço na Valéria.

— Que ladra, o quê? O que ela roubou? Vamos lá, Valéria, amanhã a tarde, você não tem nada pra fazer!

— Olha, gostei de te rever, Felipe, mesmo! Mas não posso. E… e amanhã a tarde tem jogo do meu timão, beleza? Dá licença!

Valéria leva na mão o finalzinho do hambúrguer e o copão de refrigerante. Bia ladra? O que essa menina tem na cabeça? Não importa, ela vai voltar, ô se vai! Aí vai arrasar!

Quando Valéria some da minha vista, uma mão pousa em meu ombro. Outro rapaz de camisa social me estende a mão para um aperto. Finalmente.

— E aí, cara, demorei mas cheguei! Vamos ver lá o serviço?


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