Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes
Hoje teve ensaio de dança, não de teatro. Por isso fiquei depois do trabalho na igreja fazendo artes neutras, apesar dos convites das meninas para a quadra, onde Bruninho também estaria com elas ensaiando. Aproveito para emendar a noite ficando para a Terapia.
— Olha quem veio pra Terapia! — diz a obreira Bia. Atrás dela as outras jovens da dança chegam: Kawane, Duda e Julia, e Bruno no maior papo com elas. Logo atrás chega Felipe.
— Meck na Terapia? — diz Felipe; mas sua voz é tão alta que parece ter gritado.
— É pra glorificar em pé! — Bruno grita e arranca gargalhadas das três meninas. Kawane ainda lhe dá um soquinho no ombro.
Sou convidado para a roda de oração, um pouco antes de começar a reunião. Entregamos o ensaio, o projeto, nossas vidas, e tudo ao Senhor. Ao abrirmos os olhos, algumas pessoas estão passando por nós, membros que vieram para a reunião. Entretanto, meus olhos são atraídos para uma moça coberta de cores quentes; além dos belos cabelos acobreados, um vestido bordô rodado marcando sua cintura com um leve decote nas costas chama a atenção, bem como um salto vermelho estiloso. Não demoro (muito) para lembrar da rebatida no olhar, mas quando este chega nos jovens que, mesmo a oração tendo terminado, ainda permanecem na roda, todos olham para mim.
— Meck, Meck — Bruno exclama. Finjo não ter ouvido. Agora eu fico com o rosto coberto de vermelho.
Bruno vai para seu lugar, as meninas perto dele. Vou ao bebedouro, e alguém mais se aproxima.
— Oi — Thalia diz com um sorriso contido mas inocente, como criança, enquanto pega um copo.
Desta vez não fico olhando para ela. Tiro dela o foco para me preparar para a palestra, mas sua imagem fica. Pela primeira vez a vi com roupas mais femininas. Isso é um bom sinal. Sua autoestima está mais alta.
O pastor fala sobre paredes (sim, na Terapia! Eu já ergui paredões ao redor do meu coração, então estou certo, eu acho). E depois tem a roda de oração dos jovens. Antes de eu ir embora, Thalia é a única que vem atrás de mim para dizer tchau, já que eu saio sem me despedir de ninguém. Da porta ainda olho para dentro, pois ela volta para falar com a obreira. Admiro o movimento do tecido vermelho. É muito bonito seu vestido. Ou talvez eu só o ache tão bonito por causa dela, a pessoa que o está vestindo.
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