Seu...                                                  Namorado?

Todos olhávamos pra ela com dúvidas e, dessa forma, Karin apenas decidiu explicar.

— Bem, ontem eu e o Sasuke-kun tivemos uma... Noite especial. – AH NÃO. Olhei para Sakura e por um momento achei que ela fosse desmaiar, Naruto e Sasuke estão com cara de que não sabem nem o próprio nome e Karin sorri de orelha a orelha.

— Como saberemos que você está dizendo a verdade se todos sabem que o Sasuke-kun não se lembra de nada da noite passada? – Sakura tentava se agarrar a alguma esperança enquanto Karin apenas ajeitou os óculos. Eu não sei nem o que pensar.

— Impossível ele não se lembrar de nada. Mesmo que não lembre, ele sabe que, no quarto dele, tem algumas gotas do meu sangue na cama, tem um abajur quebrado de quando ele me pegou no colo, tem alguns pedaços de pano da minha roupa que ele rasgou tão ferozmente. – Isso parece algum conto erótico para adolescentes, mas o mais interessante é que, enquanto ela falava, Sasuke fazia uma cara de chocado que comprovava cada palavra dela.

Sakura quis rebater, mas ao ver a expressão do Uchiha, eu mesma pude ver o mundo dela quebrar. Naruto colocou a mão no ombro dele e o puxou por um momento, sumindo da minha vista. Acho que era pro Sasuke voltar a si.

Realmente o Uchiha tinha que estar muito bêbado pra pegar a Karin, pois ela é muito doida quando se trata dele e as marcas de mordida no corpo inteiro não ajudam. Acho que até a Sakura e sua testa gigante são mais aceitáveis, mas ele preferiu rejeitar ela e.... PERA, O FILHO DA PUTA ME REJEITOU ONTEM PRA PEGAR A KARIN?

Isso só pode ser algum tipo de brincadeira. Não que eu tenha algo contra ele pegar qualquer pessoa que seja, ele até precisa disso, por sinal. Deve ter teia de aranha dentro das calças.... Mas CARALHO UCHIHA, OLHA PRA MIM! Se me rejeitasse pra pegar a Ino, eu até te daria os parabéns, MAS NÃO... Vai me rejeitar pra pegar a Karin? Isso é muita humilhação.

É isso! Ele fez de propósito. Foi pra me humilhar! Ele gosta de me provocar. E eu quase caí nessa.

Ao voltar a mim, percebi que as duas me encaravam em silêncio. Como se aguardassem eu dizer algo. Devo ter ficado um bom tempo alheia. Olhava de Sakura pra Karin e não sabia o que fazer ou dizer. As duas são apaixonadas pelo Uchiha desde criança, o que é estranho, mas eu não conheço muito bem a Haruno.

Não entendo muito bem esses tipos de sentimentos, e não sei se o que a Karin sente é amor, obsessão ou os dois. Digo o mesmo pela outra que já foi atrás dele várias vezes, mesmo correndo risco de vida. Será que o amor te torna burra? Ou será que elas não o amam?

Sakura sorri pra Karin e se afasta sem dizer uma palavra. Acho que ela precisa de um tempo sozinha pra entender que o Sasuke voltou pra Konoha, mas não voltou pra ela. Karin parece confiante e vê a outra se afastar num misto de orgulho e piedade por sua rival. Mas só por que ela transou com o Sasuke eles ficam juntos? As coisas funcionam dessa forma em Konoha?

— Karin? – Ela me olhou e aguardou minha pergunta. – Só porque você transa com alguém, significa que estão namorando?

— M-mas é claro! – Puta merda! Vou ter que sair de Konoha por um tempo pra terminar com algumas pessoas. Acho que Karin continuou falando e quando tornei a prestar atenção, ela me encarava irritada. – Você sempre faz isso.... Ouve o que os outros dizem até onde te convém.

— Era apenas responder sim ou não, eu não pedi um monólogo, Karin.... Às vezes você fala demais. É por isso que eu andava com o Sasuke e não contigo. – Mas se agora os dois estão namorando, isso significa que pra andar com o Sasuke eu terei que andar com a Karin? Sasuke anda muito popular.

Desde que matou o velho não ficamos mais sozinhos. Não que eu queira ficar sozinha com ele como a Karin ficou, seria estranho. Pra quem eu estou me justificando?

— Se prestasse mais atenção à sua volta, Orochimaru teria confiado mais em você e te dado alguma autonomia, ao invés de estar sempre sendo vigiada. – AH VACA VOCÊ NÃO DISSE ISSO.

— Quer mais confiança do que viajar com ele e o Kabuto a vida inteira? Você era descartável, Karin. Eu, não.

— Eu era a responsável por uma ala inteira – “Blá blá blá eu sou mais responsável que você...”

— Que você deixou o Sasuke libertar.

— VOCÊ DEIXOU O SASUKE MATAR ELE. – É. Você tem um ponto, maaas....

— Mas depois ele trouxe de volta.

— Mas você não tinha como saber que ele o traria de volta, nem ele mesmo sabia. Libertar os prisioneiros era a decisão mais lógica com o Orochimaru morto.

— E se aliar ao cara que matou ele também era a decisão mais lógica, Karin? E a vingança?

— Também não lembro de você ter tentado se vingar do Sasuke pela morte do Orochimaru.

— MAS PELO MENOS EU NÃO DEI PRA ELE!

— PORQUE ELE NÃO QUIS! – O QUE?

— Tá insinuando que eu tenho algum interesse no Uchiha e que ele resistiria se eu tivesse, Karin?

— Eu não disse nada, quem entendeu isso foi você. Então tire suas conclusões. – Hoje eu te mato, desgraçada.

— Você está querendo brigar então, é isso? Quer resolver como nos velhos tempos?

— Caso eu me lembre, já te dei várias surras. Não é porque você descobriu que também é uma Uzumaki que eu vou pegar leve.

— Até onde eu sei, Karin.... Essas “surras” que você diz foram ainda antes do Sasuke chegar e treinarmos juntos. Se eu consigo dar uma surra até no seu namorado aleijado, posso te matar em menos de 30 segundos.

Já sentia meu corpo quente pelo chakra da Kyuubi quando a Karin deu um passo em minha direção, e logo eu só via poeira e a escutava tossindo, o que era prova de que não havia sido qualquer golpe dela. Que porra aconteceu aqui? Olhava para os lados e conforme a terra e a poeira se dissipavam, conseguia distinguir as pessoas novamente.

Foi quando eu o vi parado um pouco à nossa frente.... Aos poucos conseguia distinguir melhor suas características e ao reconhecê-lo foi como se o mundo estivesse em câmera lenta para que eu o olhasse ainda mais.

O cabelo dele balançava com o vento que ele mesmo criou ao correr tanto, e ainda não apresentava o mínimo sinal de suor ou cansaço enquanto seu corpo definido e suas mãos calejadas cobertas por faixas eram apenas alguns sinais do quão intenso eram seus treinos. Lee tinha tudo para ser um ninja ideal em Konoha, mas...

Eu já vi algumas pessoas de Konoha comentando sobre as suas sobrancelhas, mas elas nem me incomodam, o problema é outro.

— Naruko! – Ele sorriu pra mim e fez um sinal positivo. O mesmo sorriso que atormenta os meus pesadelos. Como um ninja pode ser tão.... Tão....

Expressivo? O Naruto é uma múmia perto desse cara. Preciso ir embora antes que ele converse comigo, ou PIOR, antes que chegue a versão mais velha dele, porque já não basta ter um ninja saltitante em Konoha, tem que ter DOIS.... Pensa Naruko, pensa. Você precisa ir embora sem ser grossa, você deve ser legal, seja educada.

— LEE! Já conhece a Karin? – Karin me olhou com uma expressão confusa. – É a primeira vez dela em Konoha e ela queria conhecer, mas eu tenho um compromisso muito urgente agora, pode acompanhá-la, por favor?

— Claro! – Ele sorriu, fazendo meu corpo inteiro ter um arrepio involuntário. Terei pesadelos hoje. Logo que ele tencionou dizer algo, eu me despedi e corri dali, mas corri muito. De todos os habitantes de Konoha eu tinha que encontrar justo o Lee? Sério mesmo?

Parei em uma praça destruída e me sentei em uma pedra dos destroços. Eu estava prestes a brigar com a Karin... Como eu sou idiota. Não devia deixá-la me provocar tão facilmente, sou uma ninja altamente treinada, mas ela consegue me irritar taaanto. Parece que eu sempre sou uma criança quando estou perto dela. Será que é assim com o Naruto e o Sasuke? Então isso significaria que.... A Karin é minha amiga?

Nesse caso.... Eu devia estar feliz por ela estar feliz, né? Afinal, ela está com o Sasuke agora, que é o que ela sempre quis. Acho que esse era o sonho dela.... Ela me disse algo sobre isso uma vez....

Fazia pouco tempo que o Sasuke morava conosco quando a Karin veio nos ver. Ela que era sempre tão centrada e séria parecia outra pessoa perto do Uchiha, sempre educada e prestativa com ele, tentando chamar sua atenção, enquanto o idiota não parecia nem perceber que ela existia. Na verdade, ele sempre pareceu olhar pra alguém que não estava lá, ignorando todos que estivessem próximos. Não sei se ele olhava pro passado que deixou em Konoha ou pra sombra de seu irmão que o atormentava, mas não importa... Eu só via o quanto a Karin estava feliz enquanto eu não sabia o que sentia, olhando pra trás, acho que tinha inveja dela por conseguir expressar seus sentimentos de forma tão aberta.

Enquanto ela estava feliz por ter conseguido o Sasuke, eu sentia raiva dele por ter antecipado a morte do Kimimaro. Ficava pensando que, talvez se tivéssemos mais tempo, teríamos encontrado uma forma de curá-lo.

Foi numa dessas noites que a Karin esteve conosco que ela veio dormir em meu quarto. Eu sabia que, na verdade, ela não estava ali por mim.

— Não é justo você dormir ao lado do quarto do Sasuke! – Eu a ignorava enquanto ela procurava algum buraco, rachadura ou qualquer brecha que a permitisse espionar o quarto ao lado.

— Não vai encontrar nada. Eu mesma verifiquei todas as falhas do quarto quando o filhote de Uchiha chegou.

Karin ficou emburrada por um tempo, mas depois começou a falar e não lembro a conversa toda, mas era sobre o Sasuke e algo sobre ele ter salvo ela.

— Desde então, o meu maior sonho é poder vê-lo sorrindo de novo. – Essa é a única frase que lembro daquela “conversa”, e não porque achei importante ou interessante, mas sim porque ela falava com uma voz e uma expressão tão apaixonada que eu nunca vou esquecer que aquela foi a primeira vez que senti compaixão.

Não tive pena dela por sua vida difícil ou nada parecido, mas justamente por não acreditar que o tal “sonho” pudesse vir a se tonar realidade. Não conseguia pensar em qualquer possibilidade que fizesse aquele garoto arrogante e prepotente sorrir algum dia. E, durante quatro anos, eu estive certa.

Apenas há dois dias meus pensamentos se mostraram errados e pude, pela primeira vez, ver o Sasuke sorrir. Pensando agora, até dá pra entender um pouco esse desejo da Karin, é algo tão raro de se ver que dá até um pouco de vontade de ver mais vezes.

Como a Karin reagiria se soubesse que o Sasuke sorriu há dois dias e ela não viu? Ou pior, se soubesse que o motivo do sorriso dele não foi ela. Ela tenta há tantos anos e tão desesperadamente alcançar esse sonho que se tornou patética.

Não é possível nem contar o número de vezes em que Karin se humilhou só pro Uchiha se dignar a olhar pra ela. Acredito que ela lamberia o chão que ele pisou apenas pra sentir o gosto da sola dele. Quando a vejo dessa forma, sinto falta de como ela era antes do revoltado se unir a nós pra matar o irmão.

De qualquer forma, talvez eu não esteja assim tão errada. Talvez aquele arrogante nunca irá sorrir... Pra Karin... Ou pra mim.

Que? Mas que porra de pensamento foi esse? Desde quando eu ligo pro que aquele idiota faz? Pra quem Uchiha Sasuke sorri, com quem ele sai, ou quem ele transa não me importa. Ele sempre foi um companheiro de treino e nada além disso. Devo estar muito cansada pra estar começando a implicar com essas coisas. Ou pode ser o ar de Konoha, deve ter alguma droga aqui que torna as pessoas sentimentais ou algo assim. Tanto que o idiota só sorri dentro desse território. Que merda, pra que fui pensar nisso de novo? Esquece, tenho coisas mais importantes a fazer.

Ou melhor... Tinha.

Olho à minha volta e tudo que vejo é uma Vila sendo reconstruída pós-guerra. Não a minha Vila, ou a minha casa, ou aqueles que conheço e convivi. Apenas mais uma Vila, sem nada de especial. Se não fossem as poucas pessoas daqui que tenho alguma consideração, não daria a mínima falta caso esse lugar deixasse de existir.

Cada ninja está retornando à sua própria aldeia e, pelo menos por enquanto, ficarei aqui... Até porque, nem tenho mais pra onde ir. Todos os laboratórios foram esvaziados, Sasuke ficará em Konoha, Karin ficará com ele e sua equipe, só Hagoromo sabe o que Kabuto fará de agora em diante, já que eu acho que ele não segue mais ao velho, e nem tem mais pra onde segui-lo já que Orochimaru-sama deve ir preso.... Mas e eu?

O que eu faço agora?