Acordei as 4 horas. Sempre acordo antes de todos. Tiro as cobertas de cima de mim e me sento na cama. Pego o relógio de bolso de baixo do travesseiro e vejo que são 04:02. Coloco minhas roupas e deixo as luvas brancas no bolso. Preciso ir para cozinha preparar o café do Senhor Greenfield e de Sophie.

Chegando na cozinha, vejo que o café da manhã já está pronto em duas bandejas. Maldição! Esqueci completamente que o novo mordomo chegaria hoje! Olho ao redor procurando por ele, mas não vejo ninguém. Nas bandejas tem um sanduíche cortado diagonalmente no prato e uma xícara de chá de laranja. Quando vou pegar a bandeja, escuto alguém desesperado do corredor.

—Não! Solta! É do Mestre!

Quando deixo a bandeja na mesa e me viro, vejo um rapaz mais novo que eu. Cabelos pretos lisos e com roupas de mordomo da casa. 

—Ah... Oi... Eu sou o novo mordomo dos Greenfield. Pode me chamar de Peter - Disse esticando a mão para que eu o cumprimentasse com um grande sorriso. - E você é?

—Wallace. - O cumprimentei de volta. - Wallace Chrisholm, o mordomo dos Greenfield.

—Que prazer te conhecer! Cara, eu to muito animado! Acabei de sair da academia e já consegui esse emprego!

—Acabou de sair? Tem quantos anos?

—17.

Fiquei por um momento olhando aquele jovem animado e não pude deixar de me comover um pouco. Nele eu vi um pedaço de mim: Começo de carreira jovem, empolgação, animo. Um pedaço que eu perdi com o tempo.

—Bem... Tenho que levar isso até o quarto do Mestre. Pode levar a outra bandeja para o quarto da garota?

—Certamente.

Conforme íamos andando pelo corredor que levava aos quartos, questionei Peter.

—Os sanduíches são de que?

—Presunto cru, alface, tomate, orégano e queijo camembert derretido com manjericão.

—Impressionante...

Abri a porta do quarto de Sophie, ela estava acordada.

—Ouvi passos. Quem é?

—O novo mordomo.

—Quem?!

—O... Seu pai não falou nada sobre?

—Não! - Disse jogando as cobertas para o lado e saindo enfurecida do quarto, quase me fazendo derrubar a bandeja.

Quando saiu da porta e olhou para em direção ao quarto, ficou parada por alguns minutos. Quando finalmente olhou para mim de volta, disse.

—Cade ele?

—Como assim?

—Não tem ninguém no corredor.

—Eu to aqui atrás!

Sophie deu um grito de susto com a voz repentina e virou rapidamente para olhar.

—Quem é você e o que tá fazendo ai?

—Eu sou Peter, o novo mordomo.

—Eu não gosto de você!

Sophie voltou para o quarto e bateu a porta. Sentou-se na cama e pegou a bandeja de café da manhã.

—E então? O que você fez para mim hoje?

—Foi Peter quem fez o café da manha.

—Wall. - Disse colocando a bandeja de lado e se levantando para olhar nos meus olhos. Mesmo de pé ela teve que olhar para cima. - O que tá acontecendo?

—Como assim?

—Ele chegou hoje, você tá aqui faz dois anos. Ele acordou mais cedo e fez um café antes de você?

—Sim.

—E você não se sente mal de ouvir isso?

—Muito.

—Eu to com um mal pressentimento sobre aquele... aquele lá, Wall!

—E o que quer que eu faça?

—Supere ele!

Sophie entrou no closset e começou a se trocar. Quando peguei a bandeja da cama e me virei para sair do quarto, perguntei:

—Não vai comer nada?

—Não que não tenha sido feito por você!